segunda-feira, 31 de outubro de 2011

22º AMADORA BD 2011 - AS FOTOS DO SEGUNDO FIM-DE-SEMANA E OS PREMIADOS DOS PRÉMIOS "NACIONAIS" DE BANDA DESENHADA (NÃO SABEMOS O QUE A ILUSTRAÇÃO ESTÁ AQUI A FAZER, MAS ENFIM...)

Antes das fotos, ficam aqui as imagens das capas do Programa e do Catálogo deste FIBDA'2011


AS FOTOS 
DO SEGUNDO FIM-DE-SEMANA 
DO 22º FESTIVAL AMADORA BD'2011

  Se no primeiro sábado o público quase ensurdeceu com o cante alentejano, no segundo ensurdeceu mesmo, com as gaitas de foles e os tambores do grupo Bombrando, da Brandoa a tocarem naquele parque de estacionamento com cerca de 3 metros de pé direito... foi de fugir...


 Até a máquina fotográfica quase fechou o "olho", já que os "ouvidos" não estavam ligados...

  Os stands estavam mais ou menos animados...

  ... mas cá fora, nem por isso...

 A "sala de fumo", da esquerda para a direita: Joana Afosno (ia a passar), Hugo Teixeira em conversa com Paulo Monteiro e Carlos Pascoa (de costas), Luís Beira encostado ao varandim, e João Amaral...


 A "exposição" sobre a Pedranocharco, no stand da mesma...

 No domingo de manhã houve a Festa da Caricatura...

Aqui, Zé Oliveira em plena laboração... depois a máquina ficou sem bateria... esperemos pelas fotos do Osvaldo de Sousa, para completar esta secção...


 Nos Aufótragos, estiveram Hugo Teixeira...
 Eric Maltaite...
 João Martins...
 José Ruy...

  Nelson Martins tentava animar alguém ...

 André Caetano...
 João Spacca de Oliveira, aufotragando um dos BDjornalecos, já que não havia livros dele...
 Victor Mesquita lia um romance enquanto esperava "de balde" por um pedido de aufotragos...
... e Xaquin Marin ia desenhando numas folhecas...
 Derradé e Spacca...
 ... Luis Gê...
 ... Shannon Wheeler...
 ... Rui Lacas...
... Filipe Andrade...
 ... Geral e Derradé...

E a Conferência dos cartoonistas, com bastante público, como se pode ver...

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PRÉMIOS "NACIONAIS" 
DE BANDA DESENHADA
(sacados de DIVULGANDO BD, de Geraldes Lino)

Como se poderá verificar, a legitimidade destes prémios é de partir a rir: a ASA ganha quase tudo, quando de facto NÃO PUBLICA TUDO e depois, até juntou dois prémios para o Ricardo Cabral, (que até os merece), mas onde haveria mais por onde escolher. E depois, que tal o Victor Mesquita com o prémio de "Melhor Argumentista"? - até ele se riu disto. 
Haveremos de falar destes "prémios" na altura própria...

Melhor álbum Português
O Amor Infinito Que Te Tenho
Autor: Paulo Monteiro
(Editora Polvo)

Melhor Argumento de Autor Português
Eternus 9. A Cidade dos Espelhos Autor: Victor Mesquita
(Gradiva Publicações)

Melhor Desenho de Autor Português
Newborn 10 Dias no Kosovo
Autor: Ricardo Cabral
(Edições ASA)

Melhor Álbum de Autor Português em Língua Estrangeiro
Agencia de Viajes Leming
Autor: José Carlos Fernandes
(Editora Astiberri)

Melhor Álbum Estrangeiro editado em Portugal
Blacksad. O Inferno, o Silêncio
Autores: Guarnido (des.), Diaz Canales (arg.) (Edições ASA)

Clássicos 9ª Arte
Astro Boy (nº3)
Autor: Osamu Tezuka (Edições ASA)

Melhor Álbum de Tiras Humorísticas
Happy Sex
Autor: ZEP (Edições ASA)

Melhor Ilustração de Livro Infantil (Autor português)
Autora: Ana Afonso
Obra: O Lobo Prateado
(Editorial Caminho)

Melhor Ilustração de Livro Infantil (Autor estrangeiro)
Autora: Marjorie Priceman
Obra: Paris na Primavera com Picasso
(Gradiva Publicações)

Fanzine
Venham+5 (nº8)
Coordenador: Paulo Monteiro
Editora : Câmara Municipal de Beja/Bedeteca de Beja

Juventude
Newborn. 10 Dias no Kosovo
Autor: Ricardo Cabral
Editora: Edições ASA

Troféu de Honra
Zé Manel
(José Manuel Domingues Alves Mendes - Lisboa, Janeiro de 1944) (*)

(*) Zé Manel é o pseudónimo de José Manuel Domingues Alves Mendes (Lisboa, Janeiro de 1944), cartoonista, ilustrador, e criador de banda desenhada.

A revista O Século Ilustrado mostrou os seus primeiros desenhos aos seis anos. Em 1959 publicou as primeiras anedotas em Os Ridículos e, em 1961, estreou-se profissionalmente como ilustrador de cartoons na Parada da Paródia.

Tm o curso de desenhador litógrafo na Escola de Artes Decorativas António Arroio.

Entre as muitas publicações para as quais trabalhou contam-se O Brincalhão, A Parada da Paródia, Jornal do Exército, A Chucha, Rádio &Televisão, O Emigrante, Bomba H, Fungagá da Bicharada, o fanzine Tertúlia BDzine, a obra colectiva Novas 'fitas' de Juca & Zeca, bem como o álbum infantil Os Burros, as Flores e o Sol, que foi editado no Japão.

É filho do criador de banda desenhada António Alves Mendes (Méco).
(Notas biográficas elaboradas pelo CNBDI-Centro Nacional de Imagem/Amadora)

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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

BDjornal' ou BDjornaleco #1 - SAI AMANHÃ NO AMADORA BD UMA VERSÃO INTERCALAR DO BDj + O 1º SALÃO DO BRINQUEDO DE LISBOA

BDjornal (com apóstrofo) OU SIMPLESMENTE Bdjornaleco  
UMA VERSÃO APERIÓDICA E INTERCALAR DO BDjornal 
PARA JÁ NO APOIO AO AUTOR BRASILEIRO SPACCA
 SAI AMANHÃ NO AMADORA BD...


Começou por ser um BDjornal com apóstrofo. Mas alguém lhe chamou Bdjornaleco e, pensamos que o nome assim é mais divertido. Sairá amanhã no Amadora BD o primeiro número, de apoio ao autor brasileiro Spacca, que vem ao Festival sem qualquer livro seu editado em Portugal, para... dar autógrafos. Daí que tenha surgido a ideia de fazer uma publicação deste género, com material dedicado a este autor, publicada no BDjornal #23, de 2008, onde o autor poderá dar autógrafos com um pouco mais de dignidade. Tem oito páginas e estará à venda por 80 cêntimos (€ 0,80) no stand Pedranocharco. Leiam, por favor o editorial... e leiam também, mais abaixo, o anúncio do 1º Festival do Brinquedo em Lisboa - Brinquedos Antigos e de Colecção, que começa amanhã, dia 29.

EDITORIAL

Este é um BDjornal apostrofado. Ou seja, o apóstrofo significa que é em formato reduzido, pretendendo ser uma revisitação da primeira fase desta publicação, quando era, pelo seu formato e orientação editorial, um verdadeiro jornal sobre banda desenhada. Agora é uma revista, com matérias mais “pesadas” e talvez com outro público, mas pensamos que se impõe que haja uma versão mais ágil, para de vez em quando se poderem abordar assuntos que nos pareçam prementes. Daí termos aproveitado a visita de Spacca, para esta primeira edição, como experiência.

No entanto, não é este o verdadeiro objectivo da coisa. O número 2 deste BDjornal apostrofado, sairá no próximo dia 5 de Novembro, debruçando-se sobre uma questão muito mais premente e que carece absolutamente de discussão: o próprio Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora.

Aí, vamos querer questionar o público do Amadora BD. Vamos tentar perceber se este tipo de Festival é do agrado de toda a gente ou não e quais as propostas que poderiam chegar desse mesmo público Gostaríamos de encontrar soluções para que este Festival, que percebemos estar a decair de ano para ano e que é demasiado importante para todos nós, não se afunde também, a pretexto de uma crise que, para a Banda Desenhada em Portugal, não começou só agora, com aquela outra que nos começa a avassalar no dia a dia, sonegando-nos um modo de vida a que, se calhar, estávamos mal habituados.

E talvez até o Amadora BD tenha estado, durante os últimos anos, mal habituado, exibindo uma versão “novo rico” daquela, mais simples e talvez mais eficaz, a que nos habituámos na saudosa e velha Fábrica da Cultura.
 
Mas falemos por ora de Spacca, o autor visitante brasileiro, que nos cai “na sopa”, sem qualquer livro editado em Portugal, apesar de termos ouvido e lido, sobre um livro que deveria ter sido, obrigatoriamente editado por cá, o D. João Carioca – A Corte Portuguesa Chega ao Brasil (1808-1821).

Entendemos que não é saudável, para um Festival de banda desenhada, o convite a autores sem livros editados em Portugal e praticamente desconhecidos dos bedéfilos portuguêses, neste caso, o brasileiro Spacca. Temos que ser francos e também não achamos muito saudável que nenhum editor português, se tenha abalançado a editar por cá, este D. João Carioca – A Corte Portuguesa Chega ao Brasil (1808-1821).

Mas a questão é que João Spacca de Oliveira, que não tem nada a ver com estas pequenas questões, aterrou em Portugal, neste Amadora BD 2011, sem livros para vender e autografar. E só não o conhecem os portugueses que não leram a matéria que sobre ele foi publicada no BDjornal #23.

Daí que tenhamos aproveitado a ocasião, ao lançar este jornaleco, para republicar essa matéria, podendo mesmo servir de base para que Spacca não tenha que dar autógrafos em simples folhas de papel branco.


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1º SALÃO DO BRINQUEDO DE LISBOA
BRINQUEDOS ANTIGOS E DE COLECÇÃO

A nostalgia que nos desperta, a visão de brinquedos que identificamos com a nossa infância, sugere-nos que fomos, nessa fase importantíssima da nossa vida, mais ou menos felizes. Esperemos que num futuro próximo, todas as crianças tenham oportunidade de se tornar adultas e experimentar esta maravilhosa sensação…

Este 1º Salão do Brinquedo de Lisboa foi criado para colmatar a falta de um evento deste tipo (feira de brinquedos antigos e de colecção) no centro de Lisboa e responder ao crescente interesse do coleccionismo de brinquedos antigos. Este tipo de evento não tem fins lucrativos, tem como objectivo a divulgação do tema, reunindo coleccionadores e entusiastas para intercâmbio de peças e conhecimentos. Há um número limitado de mesas disponíveis (que terão que ser reservadas antecipadamente) para os participantes exporem as suas peças, mas todos os visitantes poderão trazer brinquedos que queiram vender ou trocar.

Em paralelo com a feira, vai realizar-se uma bolsa de avaliações, coordenada pelo Engº Arbués Moreira, fundador do Museu do Brinquedo de Sintra. Todos os visitantes podem trazer os seus brinquedos antigos para serem avaliados, sem encargo.

Vai também realizar-se um leilão de beneficência que tem como objectivo angariar fundos a reverter a favor da instituição de solidariedade social “Terra dos Sonhos”. Agradecemos antecipadamente a quem quiser doar peças para o leilão. Alternativamente, quem tiver interesse em vender as suas peças avaliadas, poderá incluí-las no leilão, recebendo o valor final, deduzido da comissão que normalmente uma leiloeira cobraria, sendo que neste caso essa comissão reverte também inteiramente a favor da “Terra dos Sonhos”.

Na prática, as duas iniciativas estão interligadas para facilitar a quem quiser alienar um brinquedo antigo, uma vez que o pode ter avaliado e de seguida vendido num leilão onde potencialmente haverá mais interessados em licitar do que num leilão tradicional, com a vantagem adicional de saber que está a ajudar a “Terra dos Sonhos”.

Para coordenar esta operação de angariação, e animar a festa, contamos com a delegação portuguesa da 501st Legion, grupo de fans Star Wars, vestidos a rigor de personagens “maus” da saga, que certamente irão dar um colorido especial a esta iniciativa. Não se esqueçam de vir munidos de máquina fotográfica ou telemóvel com câmara, pois não é todos os dias que podemos tirar uma foto ao lado de Darth Vader ou de um Stormtrooper !!!!!!!!!

A entrada é livre e contamos com a vossa presença!


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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

BDpress #297: «TINTIN - O SEGREDO DO LICORNE» CHEGA HOJE ÀS SALAS DE CINEMA PORTUGUSAS


TVI24 – CINEBOX, 26- 10- 2011

«TINTIN» FAZ A MAIOR ESTREIA 
DE SEMPRE EM PORTUGAL

«As Aventuras de Tintin - O Segredo do Licorne» chega hoje a Portugal. Com presença marcada em 117 salas de cinema portuguesas, o filme realizado por Steven Spielberg e produzido por Peter Jackson é anunciado pela Warner Bros. como a maior estreia de sempre em território nacional.

A personagem de banda desenhada pelo Hergé chega finalmente ao cinema em apogeu da CGI e em Portugal estará disponível em cinco versões: duas dobradas em português (em 2D e em 3D); duas versões no original em inglês e legendadas em português (em 2D e em 3D); e ainda uma em francês e legendada em português (apenas em 2D).

 Jamie Bell


 
 Jamie Bell e Andy Serkis

 Spielberg explica uma cena a Daniel Craig





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Jornal de Angola, 18 Outubro 2011

TINTIN CHEGA AOS CINEMAS 
AO JEITO DE INDIANA JONES

O filme “As aventuras de Tintin: O segredo do Licorne”, com o qual Steven Spielberg cumpre um sonho antigo, e o ajuda a colocar o intrépido repórter quase no papel de um Indiana Jones, tem a antestreia amanhã, em Bruxelas, informou a Reuters.

O filme só vai ter estreia comercial na próxima semana, em vários países da Europa, onde é exibido a partir do dia 27 em mais de uma centena de salas de cinema. A nova produção só chega no final do ano, por altura do Natal, aos Estados Unidos e Canadá.

“As aventuras de Tintin: O segredo do Licorne” já teve várias exibições especiais, mas no sábado vai ser mostrado em Bruxelas, cidade muito marcada pela banda desenhada, sendo esperadas as presenças dos protagonistas do filme, assim como do realizador, Steven Spielberg.

Considerada uma das grandes estreias da temporada cinematográfica internacional, por juntar os cinetastas Steven Spielberg e Peter Jackson, o filme adapta para cinema três álbuns de banda desenhada de Hergé: “O segredo do Licorne”, “O caranguejo das tenazes de ouro” e “O tesouro de Rackham, o terrível”, publicados entre 1945 e 1946.

A expectativa é por causa da adaptação visual de todo o imaginário criado por Hergé.
O filme foi rodado com actores reais como Jamie Bell, que interpreta Tintin, Andy Serkis, o Capitão Hadock, e Daniel Craig, o pirata Red Rackam, mas o que surge no ecrã é um filme de animação.

Os realizadores Steven Spielberg e Peter Jackson demoraram mais de um ano no trabalho de pós-produção do filme, na transposição dos movimentos reais dos actores para animação.

Visualmente, o filme é exemplar, sobretudo nos cenários, que parecem reais, embora falte alguma vida na expressão facial de Tintin, como escreveram já vários meios de comunicação social europeus que assistiram a projecções para a imprensa. Quem leva nota máxima é o emotivo e resmungão capitão Haddock, interpretado por Andy Serkis.

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C7NEMA, 27 Outubro 2011

TINTIN - UM REPÓRTER PELOS 
“SETE CANTOS DO MUNDO” 
QUE NUNCA ESCREVE!

Paulo Miguel e Helena Francisco

Se aos norte-americanos coube criar marcos como o Super-Homerm (Jerry Siegel/Joe Shuster) ou o Homem-Aranha (Stan Lee e Steve Ditko), os europeus responderam com figuras igualmente de vulto como Astérix (Goscinny/Uderzo) ou Tintin. O repórter aventureiro de Hergé chega aos cinemas em 2011, altura, pois, para passarmos em revista a história, as aventuras e os bastidores que fazem do “rapazinho de popa no cabelo” uma figura de referência da Banda Desenhada mundial.

A primeira aventura

A primeira aventura de Tintin é “Tintin no País dos Sovietes”. Foi publicada inicialmente no jornal “Le Vingtième Siècle”, um diário para onde Hergé foi trabalhar em 1925, no departamento de assinaturas.

Após um interregno de dois anos para cumprir o serviço militar entre 1926 e 1927, Hergé regressa a este jornal belga, onde é incentivado pelo sacerdote Norbert Wallez (na foto à esquerda de Hergé), director do “Le Vingtième Siècle”, a cultivar o seu gosto por banda desenhada. Esta atitude produz os seus frutos e a Hergé, que começa a desenhar, são confiadas mais responsabilidades.

Assim, em 1 de Novembro de 1928, sob a coordenação de Hergé, sai o primeiro número do suplemento infanto-juvenil do “Le Vingtième Siècle” baptizado de “Le Petit Vingtième”. Aí, Hergé assina “Les Aventures de Flup, Nénesse, Poussette et Cochonet”.

Mas é então que, em 10 de Janeiro de 1929, surge no nº 11 do “Le Petit Vingtième” uma nova aventura: “Tintin au pays des Soviets” (“Tintin no País dos Sovietes”). Nascia o herói Tintin, um jovem repórter de cabeça redonda e com uma popa no cabelo, e o seu fiel amigo de quatro patas, o cão fox-terrier Milú.

A primeira missão de Tintin era espinhosa: desmontar toda a falsidade acerca do “milagre soviético”. Durante 69 episódios semanais (até 8 de Maio de 1930) e 138 pranchas depois, com a política a servir de pretexto para a criação de uma narrativa, o destemido repórter Tintin irá viajar de Bruxelas até Moscovo e, em terra dos sovietes, envolver-se numa sucessão de aventuras e gags a um ritmo tão alucinante que às vezes se torna risível.

Pelo facto de o “Le Vingtième Siècle” ser um jornal católico e anti-comunista, a história altamente tendenciosa que surge em “Tintin au pays des Soviets” é muito corrosiva para a sociedade comunista e, em particular, para o Partido Comunista, retratado como um aparelho tentacular e opressor que tudo distorce e controla. Esta exacerbada conotação ideológica acaba por retirar algum valor literário a “Tintin no País dos Sovietes”. No entanto, embora o traço de Hergé nesta obra fosse muito grosseiro e simples, “Tintin no País dos Sovietes” merece relevância– para além de ser a primeira aparição de Tintin – pois adopta a técnica dos balões, algo raro ao tempo mas numa clara influência do estilo usado pelos comics no outro lado do Atlântico.

Um repórter pelos “sete cantos do mundo”... que nunca escreve!

Depois do país dos Sovietes, Tintin viaja numa nova missão para o Congo, uma colónia belga na altura, e, de seguida para a América. Seguem-se outros destinos: Egipto, China, América do Sul, Escócia, Balcãs, deserto africano, Gronelândia, Andes, Suíça, Tibete, Austrália... e lua!!

Segundo o próprio Hergé numa entrevista concedida a Numa Sadoul em 1971 recuperada no recente livro sobre Tintin integrado nos clássicos da BD editado pelo Correio da Manhã e cuja coordenação pertenceu às Edições Devir, “se decidi viajar, não foi só para ver novas paisagens ou para me documentar, mas para descobrir outros modos de vida, outras maneiras de pensar, em suma, para expandir a minha visão do mundo”.

O seu mote é correr o mundo em busca de uma história que acaba sempre por originar uma aventura cheia de mistério e humor (o fim do século XIX e o princípio do século XX são pródigos em narrativas policiais e de espionagem, contexto que ajudou a criar também a figura de Tintin; “Rumo à Lua” e “Explorando a Lua” bebem inspiração em Júlio Verne). Mas um dos aspectos mais pitorescos da personagem Tintin reside no facto de, tratando-se de um jornalista, em nenhuma das suas 24 aventuras se vê Tintin a redigir uma notícia ou a escrever um artigo!

Ainda que seja uma personagem positiva e cheia de bons princípios, de Tintin não se conhece a família. Do mesmo modo, não se sabe que idade verdadeira terá e como é que um simples jornalista consegue financeiramente arranjar sustento para viajar tanto (pelo ar, por terra e por água) e para conhecer tão distantes lugares. São pequenas interrogações à volta de Tintin que em nada lhe ofuscam os traços de personalidade. A esse respeito, ainda na mesma entrevista realizada por Numa Sadoul em 1971 e citada no livro relativo a Tintin editado pelo Correio da Manhã, Hergé questionava se seria “assim tão ridículo fazer uma boa acção, amar e respeitar a natureza e os animais, esforçar-se por respeitar a palavra dada?”.

A resposta a esta questão tem sido dada pelo sucesso de milhões de exemplares de álbuns de Tintin vendidos por todo o mundo e em dezenas de línguas.

Tintin é alguém que se mostra caridoso e intolerante para com as injustiças (socorre um condutor de riquexó chinês que estava a ser esmurrado por um inglês) e acima de tudo nunca se renega a ajudar seja quem for.

Exemplos deste espírito solidário não faltam em todas as suas aventuras: Tintin tenta encontrar a cura para o veneno de Radjaidjah para curar o filho de Wang Jen-Ghié; salva o capitão Haddock do alcoolismo (em “O Caranguejo das Tenazes de Ouro”) e de outras situações complicadas (no espaço, por exemplo, antes que Haddock se torne um satélite do planeta Adónio); salva também Castafiore (em “Tintin e os Pícaros”) e o professor Girassol (em “O Templo do Sol” e “Tintin e os Pícaros”); salva uma criança peruana de seu nome Zorrino que estava a ser maltratada (em “O Templo do Sol”) e o chinês órfão Tchang Tchang-Yen, ainda menino na altura, das águas de um rio (em “O Lótus Azul”).

Aliás, segundo Hergé, a sua mais bela história é “Tintin no Tibete”. Percebe-se o porquê da escolha. Nesta obra, marcada pela actualidade já que por volta da mesma altura da publicação do álbum, uma revolta anti-chinesa é esmagada em Lhasa, capital do Tibete, fazendo um número incalculável de mortos, fala-se de amizade e a tradicional pesquisa jornalística/policial, em Tintin, dá lugar a uma espécie de procura espiritual. Tintin organiza uma expedição de salvamento rumo ao Tibete para tentar encontrar Tchang, um amigo chinês, que ele resgatou de um naufrágio em “O Lótus Azul”, com quem mantinha contacto à distância e que viajava no avião que se despenhara sobre o Tibete.

O mais tocante é que Tchang foi, na realidade, um amigo de Hergé.

A certa altura “Tchang teve de regressar à China, de onde não pôde sair durante muitos anos e Hergé procurou resgatá-lo, pelo menos literariamente, com esta aventura de Tintin. Foi muito graças ao sucesso internacional desta aventura que, com grande dificuldade, o então velho Tchang obteve, em 1981, permissão para voltar à Bélgica e rever o seu velho amigo, ao fim de quarenta anos, esclarece o livro “Tintin - Clássicos da BD” editado pelo matutino Correio da Manhã. A foto em baixo reproduzida documenta esse encontro.

Em Tintin sobressai ainda a sua crença na bondade humana e na possibilidade de conversão das pessoas. Isso aconteceu relativamente ao capitão Haddock (em “O Caranguejo das Tenazes de Ouro”), a Wolff (em “Explorando a Lua”) e a Pablo (em “Tintin e os Pícaros” e em “A Orelha Quebrada”)

Outra faceta nobre em Tintin é empenhar-se pela construção de um mundo melhor: luta contra o tráfico de droga (em “Os Charutos do Faraó”, “O Lótus Azul” e “O Caranguejo das Tenazes de Ouro”); denuncia e combate o tráfico de escravos (em “Carvão no Porrão”); contribui para a prisão de um bando internacional de moedeiros falsos (em “A Ilha Negra”); resolve o problema da falsificação do petróleo e resgata Abdallah, o filho traquinas do Emir (em “O Ouro Negro”) e procura incutir dignidade em momentos de grande perturbação social (em “Tintin e os Pícaros”, Tintin faz depender a sua ajuda ao General Alkazar caso este jure que poupará a vida ao líder que tenciona depor na revolução em marcha, General Tapioca).

Intrépido, corajoso e curioso, Tintin é audaz e revela não ter medo do perigo (não hesita em penetrar no antro dos vilões), passando por situações extremas e até chega a morrer!: em “Os Charutos do Faraó” é fuzilado e enterrado; em “O Templo do Sol” escapa de um valente “churrasco” numa fogueira, graças a um eclipse do sol; sobrevive a fuzilamentos no derradeiro instante (devido ao eclodir de uma revolução tanto em “Tintin e os Pícaros” como em “A Orelha Quebrada” – nesta aventura, o nosso herói trava o primeiro contacto com a República de San Theodoros e com os generais Alcazar e Tapioca).

Desenhos claros e comunicativos

Uma característica de estilo em que Hergé se haveria de especializar seria na criação de desenhos claros e muito comunicativos em que o rigor do detalhe existente (a caracterizar os personagens, a delinear a fisionomia das paisagens ou dos modelos automóveis, por exemplo) nunca perturbaria o fio da narrativa. É, por exemplo, um desafio descobrir sombras nas vinhetas de Tintin. Nos raríssimos casos em que isso acontece, a acção desenvolve-se, curiosamente, de noite!

A própria evolução de uma vinheta em Tintin acontece apenas com o lápis a trabalhar em torno de meia dúzia de traços, como se constata nas imagens seguintes... ... ... ... ... ... ...

LER AQUI O RESTO DO TEXTO

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Ler também em As Leituras do Pedro, o post O TESOURO TINTIN

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Imagens da respondabilidade do Kuentro


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