sábado, 31 de dezembro de 2011

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Não falemos hoje de Banda Desenhada porque pode dar ainda mais azar do que ela já tem neste país.

Fiquemos com algumas imagens

 Aconselhamos a começarem o ano com um hambúrguer "tugológico", que é como quem diz, português e biológico. Um imperdível: o de alheira de Mirandela... 
Ver AQUI!!!

Depois, preparem-se para o filme do ano:








  



 Com este, vamos levar o ano todo!!! 


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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

BDpress #309: BURNE HOGARTH O MAIOR DESENHADOR DE TARZAN NASCEU HÁ 100 ANOS

 
Jornal de Notícias, 25 Dezembro 2011

HOGARTH NASCEU HÁ 100 ANOS

MAIOR DESENHADOR DE TARZAN NOS QUADRADINHOS 
ERA FILHO DE UM CARPINTEIRO

Pedro Cleto

Por muitos considerado o maior desenhador de Tarzan nos quadradinhos, o norte-americano Burne Hogarth nasceu há exactamente 100 anos. Natural de Chicago, revelou cedo a tendência para o desenho, o que levou o pai a poupar para investir na sua educação.

E foi assim que o pai de Hogarth, um simples carpinteiro, conseguiu inscrevê-lo no Art Institute of Chicago onde foi admitido aos 12anos, tendo aprofundado os seus conhecimentos de arte, anatomia e ciências. Três anos depois, devido ao falecimento do pai, Hogarth teve que começar a trabalhar em publicidade. Em 1929, teve o primeiro contacto com os quadradinhos, na tira diária Ivy Hemmanhaw, de pouco sucesso.

Como consequência da Grande Depressão, mudou-se para Nova Iorque e começou a trabalhar para o King Features Syndicate em1934 onde após ter desenhado uma série de piratas, Pieces of Height (1935), sucederia a Hal Foster (futuro criador do Príncipe Valente) na prancha dominical de Tarzan, onde se estreou a 9 de Maio de 1937. A mudança de artista trouxe progressivamente alterações gráficas à série, na qual Hogarth empregou os seus conhecimentos de anatomia e de are, combinando classicismo e expressionismo, para obter pranchas de uma grande plasticidade e extremamente dinâmicas, de um esplendor barroco, com um retrato realista e selvagem do herói e dos indígenas e dos animais com quem se cruzava e que Portugal viu pela primeira vez no Diabrete #101,de 5 de Dezembro de 1942.A sua ligação ao rei da selva, que revolucionou a forma de narrar aos quadradinhos e lhe valeu o epíteto de "Miguel Ângelo da BD", prosseguiria até 1950, com um ligeiro interregno (1945-1947) durante o quaI se dedicou ao desenho de Drago, uma obra pessoal.

Paralelamente, Hogarth começou a ensinar desenho na School of Visual Art; tendo passado a dedicar-se inteiramente ao ensino após abandonar Tarzan, devido a desentendimentos sobre questões monetárias e de direitos de autor. O apelo da selva e de Tarzan far-se-ia ouvir de novo já na década de 70, quando recriou em BD dois livros baseados na personagem de Edgar-Rice Burroughs que pela sua qualidade e inovação, lhe valeram diversos prémios.

A morte encontrou-o em Paris, a 28 de Janeiro de 1996, um dia após a justa homenagem no festival de Angoulême.

Ver também no blogue As Leituras do Pedro e AQUI no Kuentro: Os Tarzans de Hal Foster (anos 1920) e de Burne Hogarth (anos 1940)

 Burne Hogarth no seu estúdio.






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Imagens da responsabilidade do Kuentro

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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

BDpress #308: BLANKETS, ROMANCE GRÁFICO DE CRAIG THOMPSON, EM PORTUGUÊS – EDIÇÃO DEVIR


Jornal de Notícias, 19 Dezembro 2011

ROMANCE GRÁFICO "BLANKETS" EDITADO EM PORTUGAL

DATADA DE 2003, É UMA OBRA AUTOBIOGRÁFICA EM QUE O AUTOR SE EXPÕE AO LONGO DE 600 PRANCHAS

Pedro Cleto

"BLANKETS" RETRATA O PERCURSO DE CRAIG THOMPSON A PARTIR DA ADOLESCÊNCIA

Já está disponível nas livrarias nacionais "Blankets", um romance gráfico da autoria do norte-americano Craig Thompson, agora disponibilizado em Português pela Devir. Datada de 2003, esta é uma obra autobiográfica, em que o autor expõe, de forma honesta, pudica e contida a sua infância e adolescência no seio de uma família e de uma comunidade extremamente religiosa.

No decurso das quase 600 pranchas que compõem esta longa banda desenhada, Craig Thompson recorda a rígida educação que recebeu dos pais, os abusos que sofreu da ama, a relação conflituosa e distante com o irmão, a sua luta interior com a religião e a religiosidade, o intenso primeiro amor adolescente com Raina e como finalmente encontrou no desenho a sua forma de afirmação e a sua razão de viver.

"Blankets", cujo título poderia ter sido traduzido por "manta de retalhos", uma alusão a um presente dado a Craig Thompson por Raina, que o marcou especialmente e o acompanhou ao longo de vários anos, conquistou inúmeros prémios, incluindo três Harveys e dois-Eisners, os mais significativos galardões norte-americanos, e teve grande impacto mesmo fora dos círculos habitualmente relacionados com BD.

Natural de Traverse, no estado do Michigan, onde nasceu, em 1975,Craig Thompson, que esteve presente como convidado no V Festival Internacional de BD de Beja, há dois anos, acaba de lançar "Habibi", outro monumental romance gráfico, com 700 pranchas, que o ocupou durante os últimos sete anos, onde se reconhecem de novo traços autobiográficos e em que aborda questões como a sexualidade e a culpa, a par de uma análise comparada entre o Cristianismo e o Islão.




À venda também na loja Devir online (VER AQUI) por € 34,99

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Imagens da responsabilidade do Kuentro

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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

PROTOCOLO ENTRE O GRUPO BEDÉFILO SOBREDENSE E JUNTA DE FREGUESIA DA SOBREDA – NOVAS PERSPECTIVAS PARA O SALÃO DE BD DA SOBREDA

PROTOCOLO ENTRE O 
GRUPO BEDÉFILO SOBREDENSE 
E JUNTA DE FREGUESIA DA SOBREDA



 Solar dos Zagalos, Sobreda de Caparica, onde têm decorrido os vários Salões de BD. 
Em baixo, aspectos do Salão de 2001:



No seguimento da política seguida por este executivo de estabelecer protocolos de entendimento com entidades com sede social na freguesia, foi assinado no passado dia 06 de Dezembro protocolo de colaboração com o GBS - Grupo Bedéfilo Sobredense, instituição sem fins lucrativos e que tem levado o nome da Sobreda e do munícipio de Almada, um pouco por todo o mundo, graças ao trabalho desenvolvido na criação e exposição da nona arte, na qual a Sobreda/BD, salão internacional de Banda Desenhada, foi e esperemos que volte a ser, o grande encontro de todos quantos se revem nesta forma de arte, público e/ou artistas*.

Do protocolo assinado, para além do apoio logístico e material na melhoria das actuais instalações da sede social, a funcionar na antiga Escola Primária, consta um conjunto de actividades a desenvolver ao longo de 2012, nomeadamente: exposições/salões de banda desenhada; revista de colectivo de BD; mostra de trabalhos, ateliers ao vivo a desenvolver em diversos espaços da freguesia, que se pretende abertos à população em geral e em particular em articulação com a comunidade escolar, nomeadamente nos cursos de vocação artística.

O protocolo consiste de um apoio financeiro de 3.000 euros/ano por parte da junta de freguesia, sendo o seu pagamento faseado em três tranches, repartidas de igual valor ao longo do ano, em cumprimento do plano de actividades estabelecido e acordado entre as partes. O protocolo é estabelecido para o ano civil de 2012 ficando a renovação do presente condicionada à disponibilidade de ambas as entidades.

Última edição dos Cadernos Sobreda BD, de 2010, dedicado a Fernando Bento.

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(*) NOTA DO KUENTRO – E a mania que eles têm de persistir em chamar “artistas” aos autores de banda desenhada! Que diabo, “artistas” é um termo tão degradado que nem com a arte tem já alguma coisa a ver – são autores, caramba! Quem produz BD são os autores! Quando ouvimos ou lemos esta palavra, só nos vem à memória o “artista da TV e disco e da cassete pirata”....


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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

BDpress #307: BANDA DESENHADA NAS PAREDES DE BRUXELAS

Um recorte de Outubro passado, que foi ficando guardado na gaveta, serve agora para distrair os olhos, mas também para motivar alguém a descobrir em Lisboa, paredes, empenas, passagens subterrâneas, muros de obras (ou não), que mereçam uma intervenção semelhante. Como toda a gente sabe, já existe muita pintura urbana em Lisboa, mas raramente usando temas de BD.





Fugas, suplemento do Público, Sábado, 22 de Outubro 2011

A BD TAMBÉM SE VÊ NAS PAREDES

BRUXELAS

NA PISTA DE TINTIN E COMPANHIA

Bruxelas viu nascer Tintin e os Schtroumpfs, heróis de banda desenhada agora ressuscitados por Hollywood. Os filmes são mais um chamariz para a cidade belga, promovida a capital mundial da Nona Arte. Luis Maio (texto e fotos) visitou perto de quarenta murais, mas também museus e estações de metro que celebram a herança BD na mesma medida em que estão a rejuvenescer o centro histórico da cidade.

Chamam-lhes bandes dessinées (abreviatura BD) por oposição aos cartoons norte-americanos. Nasceram na Bélgica impulsionadas pelas revistas de Spirou (1938) e de Tintin (1948), publicações juvenis que se tornaram grandes sucessos editoriais no pós-guerra, pelo menos à escala europeia. Centradas nas figuras que lhes deram nome, essas revistas serviram ao mesmo tempo de plataforma de lançamento para toda uma galeria de heróis singulares - de Ric Hochet a Gaston Lagatfe, passando por Lucky Luke e Blake e Mortimer. Heróis em geral mais terra-a-terra e ao mesmo tempo mais fantasistas do que os super heróis norte-americanos.

Esta escola que veio a ser chamada franco-belga e identificada por uma certa precisão de traço - que também lhe valeu a etiqueta de "linha clara" -, adoptou Bruxelas como principal centro criativo, mas também frequente fonte de inspiração. Ou seja, é uma relação que tem funcionado nos dois sentidos: a capital belga como musa da banda desenhada, a banda desenhada como mola da vida cultural da primeira.

Daí os museus, os murais, as estátuas e demais intervenções urbanas que se vem multiplicando um pouco por toda a parte na cidade. Bruxelas era já uma Meca para aficionados de BD e jovens alternativos, mas agora Tintin e os Schtroumpfs (Estrumpfes em português, Smurfs na versão inglesa) assomaram a Hollywood.

Há uma empena pintada na Rue de L'Etuve com Tintin, Milu e Capitão Haddock a descerem por uma escada de serviço, que reproduz um quadradinho do álbum O Caso Tournesol. Será o primeiro ou mesmo único fresco de banda desenhada que a maior parte dos turistas hoje vislumbram, uma vez que fica mesmo em frente do principal ícone da cidade, a célebre estatueta do Maneken Pis. Mas se As Aventuras de Tintin com a assinatura Steven Spielberg/Peter Jackson se tornar no previsível sucesso planetário, quem sabe se esse equilíbrio de forças não se irá inverter? “O Maneken Pis?", perguntarão os turistas. "Sim, é aquela estatueta engraçada do puto a mijar, que fica em frente ao espectacular mural de O Caso Tournesol."

HUMOR RENOVADOR

Percursos BD e um roteiro que integra meia centena de murais e intervenções similares no espaço público de Bruxelas e arredores. Está organizado como um itinerário turístico de descoberta da cidade e continua a crescer a uma média de dois novos frescos por ano, ao mesmo tempo que há trabalhos de conservação nos mais antigos. Na origem, porém, não tinha nada a ver com turismo. Assumido pela edilidade e idealizado em colaboração com o Centro Belga da Banda Desenhada, o programa arrancou há precisamente vinte anos com o propósito de homenagear personagens/autores nascidos na capital belga e ao mesmo tempo embelezar/dissimular vazios urbanos em pleno centro da cidade. Parêntesis: uma parte substancial do centro histórico de Bruxelas virou cidade fantasma nos anos 70, uma situação de degenerescência urbana que ainda agora não está por completo resolvida.

Serve de aviso a navegação. Descobrir Bruxelas através dos murais BD também significa passear por bairros completamente marginais as excursões usuais (eles dizem pourris, ou seja, podres), urbanizações brutalistas onde há andares completos incendiados, vidros partidos e mantas no lugar de cortinas nas janelas. Refúgio de emigrantes do Terceiro Mundo, é nesses quarteirões mais frequente ouvir falar egípcio ou árabe sudanês do que francês. Compreende-se então a operação dos murais BD como um ensaio de renovação urbana, por isso também centrado nas empenas (eternos vazios horizontais), não tanto nas fachadas dos edifícios.

É nesses bairros geograficamente centrais, mas socialmente periféricos, que se encontram os frescos mais antigos, datando de uma época em que a filosofia da operação era dar a conhecer autores de banda desenhada belgas de gema, mas pouco conhecidos. Ou seja, tratou-se de empregar os murais como uma operação de charme urbano, mas também de promoção autoral. O primeiro a ser pintado em 1991 serve de exemplo: representa Broussaille na companhia da sua amiga Ragebol na Plattesteen, isto é, no próprio local que o mural foi aplicado, e é da autoria de Frank Pé.

BroussailIe nunca foi um caso de popularidade e o mural que o representa é capaz de ser mais conhecido que os seus próprios livros. Tem, de resto, outros traços que o tornaram num guião para outros autores de murais: mistura ficção e realidade, uma vez que reproduz os prédios e a própria rua em que se encontra, mas nela faz correr o Senne, o rio da cidade entretanto canalizado e aterrado. Ao "desenterrar" o rio, por outro lado, Frank Pé está a fazer um comentário politico, incompreensível para os de fora, mas muito óbvio para quem vive em Bruxelas.

Alguns murais mais conseguidos são, na realidade, estritamente belgas e requerem descodificador. É o caso por excelência do lindíssimo fresco de Monsieur Jean, que transplanta o personagem parisiense para as ruas de Bruxelas (Rue des Bogards), mas também do céu cheio de pecadores de Stuf e Janry (Rue des Minimes), ou de Poje, típico herói copofónico, nada por acaso pintado à entrada de uma loja de bebidas (Rue de L'Ecuyer). São, em qualquer dos casos, heróis de uma BD "linha clara", quase sempre optimista e bem-humorada, na maior parte anterior à moda dos graffitis e tags que vandalizam as empenas em que aqueles são pintados. A banda desenhada franco-belga, agora institucionalizada pelo percurso de murais, é certamente mais velha que a arte de rua, mais suja, inquietante e soturna, que paralelamente se multiplica por iniciativa privada em Bruxelas.

FANTASIA A CADA ESQUINA

A medida que Percursos BD se popularizou e cresceu foi-se naturalmente expandindo para fora da cintura do Pentágono, vindo a ganhar uma série de empenas e mesmo de fachadas em bairros de Laeken, decoradas com imagens de heróis como o Pequeno Spirou e Titeuf, e de Audeghem; onde as estrelas são os desconhecidos noutros lados Gil Jourdan e Le Scrameustache. Outra consequência da expansão do projecto foi a admissão de figuras da BD nascidas noutros países, mas que por uma razão ou por outra mantém afinidades com a escola belga. O supracitado Titeuf pintado em Laeken é de naturalidade suíça. Mas também o italiano Corto Maltese à beira do Senne e o francês Asterix numa escola secundária da Rue de la Buanderie.

Já noutro espírito, mais próximo do turismo do que da renovação urbana, as empenas nas proximidades da Grand Place têm vindo a ser ocupadas pelos maiores sucessos da banda desenhada belga. Alem do supracitado Tintin na Rue de L'Étuve, há Gaston Lagaffe na Rue de L'Ecuyer, Olivier Rameau na Rue du Chêne e as visões das Cidades Obscuras de François Schuitten na Rue du Marche au Charbon. Essas mesmas ruas do centro histórico têm agora também duas placas identificadoras: a azul com o nome verdadeiro e a branca com o nome e o boneco de uma personagem BD.

Um aspecto em que o projecto se mantém inalterado é na metodologia de trabalho: cada mural começa com uma encomenda a um autor, ao qual são propostas uma série de empenas como suporte para essa criação. No caso de autores já desaparecidos, uma prancha já publicada é escolhida para o mesmo efeito, inclusive retocada com a prestação de colaboradores, como a do jovem marinheiro Cori Le Moussaillon, concluída pelo filho de Bob de Moor, desenhador tal como ele (Rue des Fabriques).

A imagem é então projectada na empena escolhida pela companhia Art Mural, que depois se encarrega de a pintar em acrílico. No final aplica-lhe um verniz protector contra as intempéries e os tags, que não impermeabiliza totalmente, mas pelo menos facilita a limpeza dos mesmos.

ESPECIAL HERGÉ

Alem de Tintin frente ao Manneken Pis, há outro fresco com a assinatura Hergé no centro de Bruxelas: são os miúdos traquinas Quick & Flupke (em português Quim e Filipe), invocados na esquina da Rue Capucins com a Rue Haute, no velho bairro de Marolles. Em comum com muitos outros pólos da promenade BD, os murais Hergé apostam no efeito teatral - no tromp l'oeil que faz a fantasia irromper na realidade. Um efeito especialmente conseguido em Marolles com as miúdos pintados numa das paredes da esquina a espreitarem o polícia que os persegue na outra - polícia que por sua vez parece andar à pergunta deles, espreitando para o interior do edifício.

As criações de Hergé fazem parte de Percursos BD, mas também é possível fazer um itinerário de descoberta do capital belga exclusivamente dedicado ao mais célebre autor belga. A diferença é que já não é um roteiro oficial, nem apontado a uma clientela generalista, mas um programa mais especializado para os turistas da Nona Arte. Algumas moradas funcionam como uma extensão do roteiro de murais, sobretudo quando se trata de espaços públicos, como estações de comboio ou de metro. É o caso do fresco junto da porta Horta da Gare du Midi, que representa um quadradinho do álbum Tintin na América na versão a preto e branco. Foi ampliado ao ponto de ocupar 64m2, o que o certifica como um dos maiores espaços públicos no mundo ocupados por um personagem BD.

Igualmente impressionante, ou mesmo delirante, é a estação de metro Stockel, terminal da Linha1, com as suas duas paredes de 135 metros de comprimento pintadas com 140 personagens das aventuras de Tintin. Foi o próprio Hergé quem realizou os esboços, trabalho depois concluído por Bob de Moor para a inauguração da estação, em 1988. Há também um Hergé na estação de metro Luxemburg, interessante quando ilustra a sua faceta menos conhecida de ilustrador, neste caso a soldo de um grande armazém da cidade. Trata-se de uma cerimónia de boas-vindas em honra de São Nicolau, integrando uma fanfarra de sopros com Quim e Filipe na assistência.

Outras marcas de Hergé em Bruxelas são para aficionados de BD ou mesmo só para fãs hardcore do desenhador. Há sítios que faz sentido visitar pelas conotações biográficas, como as célebres Galerias Saint-Hubert, onde Hergé conheceu Edgar "Black e Mortimer" Jacobs, ou o Museu da África Central de Tervuren, onde o autor se inspirou para o polémico Tintin no Congo. Há depois uma longa lista de lugares em Bruxelas que serviram de cenário às aventuras do seu herói mais famoso. Sítios como a Place du Jeu de Balle, feira da ladra onde decorre a sequência inicial de O Segredo do Licorne, ou o Parque de Bruxelas (frente ao Palácio Real), onde Tintin encontra a mala na base da intriga de O Ceptro de Ottokar.

Convém acrescentar que Hergé não é o único autor de BD chamado a decorar o metro de Bruxelas. Fernand Flaush introduz o universo dos comics americanos na estação de Ribaucourt, enquanto na Porte de Hal cabe a Schuitten projectar a três dimensões algumas das mais inquietantes visões futuristas das suas Cidades Obscuras.

MUSEUS AOS QUADRADINHOS

O roteiro Percursos BD pede por complemento directo uma visita ao Centro Belga da Banda Desenhada. É também uma etapa natural para os amantes de Tintin que, no entanto, não terão completado a peregrinação sem rumar ao novo museu dedicado a Hergé.


O Museu Hergé

O Centro é uma associação não lucrativa dedicada a divulgação da Nona Arte. Fundado em 1984, tem desde então sido dirigido por autores de tanto prestígio quanto Bob De Moor e Jean Van Hamme. Está, desde 1989, sediado nos antigos armazéns Waucquez, inaugurados em 1904 e desenhados por Victor Horta, o nome mais emblemático da escola Arte Nova de Bruxelas. O edifício é, de facto, soberbo e a sua arquitectura feérica funciona como uma perfeita moldura para o recheio BD.

O hall de entrada só por si vale a visita, com os seus bolbos luminosos, grelhas de ferro forjado e escadarias sinuosas, típicas do vocabulário Arte Nova, a contracenar com bustos de heróis animados, um super Citroën 2CVe uma fantástica réplica do foguetão em que Tintin foi à lua. O museu propriamente dito fica no piso superior. Explica todo o processo criativo das bandas desenhadas e resume a sua história desde a publicação de comics nos jornais norte-americanos de finais do século XIX, para depois se concentrar nas revistas belgas de BD e na sua galeria de heróis clássicos. Uma parte substancial dos 4000 metros quadrados de espaço disponível é reservada a exposições temporárias, que vão de retrospectivas de autores belgas a colectivas de autores manga. A biblioteca conta com mais de 7000 publicações.

Se o Centro Belga da Banda Desenhada é bastante consensual, já o Museu Hergé não faz o gosto de toda a gente. Para começar, não fica em Bruxelas, mas em Louvain-La-Neuve, cidade universitária cerca de 30 quilómetros a sudeste da capital. É incómodo para os visitantes sem carro, que para lá chegar devem apanhar o comboio na Gare du Nord e depois fazer quase uma hora de trajecto em composições quase sempre lotadas de estudantes. Desagrada seguramente a muitos "tintinófilos" de Bruxelas, que se sentem de algum modo defraudados pela fuga para o subúrbio do que, para todo o efeito, consideram seu património. Uma certa má vontade que tem muito a ver com o que tem sido a gestão da viúva Fanny Rodwell, criticada por excesso de zelo na defesa dos direitos autorais e pela gestão estritamente mercantil do legado Hergé.

Sejam ou não fundadas as censuras, a verdade é que o museu, que custou 15 milhões de euros e foi desenhado pelo francês Cristian de Portzanlparc, é mesmo espectacular. Implantado num pequeno bosque, o edifício assume a forma enigmática de um prisma, rasgado por grandes janelas, que se alinham à maneira de tiras debanda desenhada. No interior, o enigma resolve-se quando se percebe que o prisma abriga quatro torres organizadas em torno de um vasto espaço de circulação: essas torres integram as oito salas de exposição, entre si ligadas por pontes suspensas sobre o hall. Toda a composição sugere o universo lúdico da BD, mas evita estritamente a tentação figurativa, solução de uma enorme depuração que abona tanto a favor da arquitectura de Portzamparc como deve irritar os fãs que vão à espera de um parque temático Hergé.

Na fachada principal há uma imagem gigante de Tintin contemplando o mar, mas de costas, olhando na mesma direcção que o público. A imagem dá o tom à visita, proposta num tom de cumplicidade, de experiência de partilha do universo Hergé. Arranca com a juventude do desenhador realmente chamado George Remi, que se estreou a desenhar 'Totor", herói que, tal como ele era escuteiro, documenta depois os seus inícios profissionais como desenhador publicitário, antes de apresentar Tintin e toda a sua galeria de heróis.

Há uma sala tão reveladora como divertida sobre as influencias cinematográficas de Hergé, demonstrando acima de qualquer dúvida que várias sequências dos seus livros foram tiradas de filmes como King Kong, Capitão Blood e Uma Noite na Ópera, dos irmãos Marx. O melhor fica, no, entanto, reservado para o final, com a exploração da ligação de Hergé ao mundo das viagens, das culturas do mundo e sobretudo da investigação científica. Pelo meio há um documentário em que o filósofo Michel Serres classifica Hergé como uma das maiores figuras das letras e das artes do século XX. É nessa qualidade que o museu de Louvain-La-Neuve lhe presta inteira justiça.

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Mais algumas pinturas em Bruxelas:






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Algumas pinturas urbanas em Lisboa:




Lisboa recebeu uma peça do criador Aryz (Palo Alto, 1988), a convite da Montana Shop & Gallery, contando com o apoio da Galeria de Arte Urbana (GAU) da Câmara Municipal de Lisboa.



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Imagens da responsabilidade do Kuentro

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