segunda-feira, 30 de abril de 2012

JOBAT NO LOULETANO – 9ª ARTE – MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (XL e XLI) – NO CENTENÁRIO DE RAUL CORREIA (5 e 6) – por Jorge Magalhães


Terry e os piratas, de George Wunder


9ª ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA
(XL - XLI)


O Louletano, 5 a 10 de Janeiro de 2005

NO CENTENÁRIO DE RAUL CORREIA (5)

por Jorge Magalhães

A homenagem do Jornal do Cuto

Em meados dos anos 50, depois de uma voluntária "travessia do deserto" que se seguiu ao desaparecimento d'O Mosquito, a sua pena reapareceu inesperadamente n'O Pimpão, modesto e efémero jornal que tentou re­viver a ima­gem do Avozinho (talvez à espera de colher alguns benefícios). Mas o públi­co d'O Pim­pão era ou­tro... e os tem­pos também tinham mu­dado, anteci­pando o mo­vimento de li­berdade juvenil, sem tutelas paternalistas, por mais bem intencionadas que fossem, a que se assistiu nos anos 60. Ou seja, a relação dos jovens com os jornais que liam e cuja orientação seguiam, tomou-se menos unilateral, operando-se o fenómeno inverso. Os hábitos e as tendências juvenis influenciaram radi­calmente a cultura ocidental, originan­do o movimento pop, com profundas im­plicações em todos os mass media e até na identidade dos heróis de BD. 

Nos anos 70, em que essa corrente co­meçou a mudar de rumo, o Jornal do Cuto, dirigido por Roussado Pinto, enveredou com outro fôlego pela senda da nostalgia, reeditando praticamente o melhor d’O Mosquito. Raul Correia, cuja prosa resistira com brio à passagem dos anos, teve assim uma espécie de tardia consagração, que a sua modéstia encarou com humildade e surpresa. Alguns artigos em que desfiou saudosamente memórias esparsas e um livro de versos ilustrado a pre­ceito por Jobat (o mesmo José Baptista que orienta esta ru­brica), culminaram esse novo ciclo e a fervorosa ho­menagem que Roussado Pin­to (outro antigo Colaborador d’O Mosquito) quis prestar ao seu mestre e amigo, prolongando-a na co­lecção Gaio de Ouro, onde fo­ram reeditadas três longas no­velas: "Os Ca­valeiros da Espada", "O Filho da Selva" e "O Sete de Espadas".

Mas as obras que o Jornal do Cuto e posteriormente o Mundo de Aventuras (que eu nessa altura co­ordenava) deram à estampa não fo­ram um verdadeiro regresso de Raul Correia às lides novelísticas. Insta­do algumas vezes por mim a escre­ver mais narrativas de aventuras, declinou sempre o convite, por causa dos laços profissionais que manti­nha com os Amigos do Livro. A sua faceta de tradutor, em que teve acti­vidade absorvente – segundo reve­lou numa entrevista, traduziu mais de 600 livros de todos os géneros, incluindo 24 volumes das aventuras de Tarzan para a Portugal Press e diversos romances de Zane Grey para a Agência Portuguesa de Revistas, sem contar as centenas de histórias aos quadradinhos publicadas em diversas revistas como Mosquito, Colecção de Aventuras, Pimpão, Mundo de Aventuras, Ciclone, Condor Popular, Jornal do Cuto e muitas mais –, dominava nessa época a faceta criativa, por razões puramente eco­nómicas, embora fosse um trabalho que, nalguns casos, lhe dava também intenso prazer. 

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O Louletano, 11 a 17 de Janeiro de 2005

NO CENTENÁRIO DE RAUL CORREIA (6)

por Jorge Magalhães

Já perto do fim da sua vida (morreu em Março de 1985, com 80 anos, duas semanas depois de Roussado Pinto), os Amigos do Livro editaram uma sumptuosa "História de Jesus" e alguns volumes de contos do Avozinho, com ilustrações do pintor e desenhador Carlos Alberto Santos, que se tornou o seu mais próxi­mo colaborador e amigo na últi­ma etapa de uma longa e frutuosa carreira... em termos artísti­cos que não ma­teriais, pois en­contrei-o em 1973, na primeira visita que lhe fiz, vivendo mo­destamente num andar de Benfi­ca e trabalhando numa pequena sala mobilada com espartana simplicidade. Chefe de famí­lia com oito fi­lhos – quatro ra­pazes e quatro raparigas –, as dificuldades devem ter sido grandes, mesmo na época de maior desafogo d’O Mosquito, em que se ocupava também da gerência do hotel Avenida Palace, em Lisboa.

Os acordes finais dessa carreira foram para saudar o reapareci­mento do estóico insecto, renascido pela quarta vez em 1984, por obra e graça do também saudoso Dr. Chaves Ferreira e da Editorial Futura – embora esse voo acabasse por ser tão curto, em números redondos, como os das anteriores ressurreições. Numa breve nota de abertura, em que afloram o saudosismo e a modéstia, o 1º número dessa 5ª série traz um curioso testemunho literário daquele que, sob o familiar e poético apelido do Avozinho, foi durante muito tempo o princi­pal elo de liga­ção do seu ilus­tre ante­passado com os leitores: “Numa pequena história de ‘O Mosqui­to’ que o meu querido Amigo Roussa­do Pinto quis que eu contasse , entre os n°s 20 e 24 do seu ‘Jornal do Cuto’, lembro-me de que terminei a narrativa – muito mais emocional do que exacta nos pormenores – dizendo que o velho jornal não tinha de facto morrido... tinha apenas desaparecido como o grande Charlot no belo final de ‘O Circo’. Acrescentarei agora que aconteceu o mesmo ao pequeno Simão Infante, protagonista de um episódio a que Eduardo Teixeira Coelho e eu chamámos ‘O Caminho do Oriente’. Quis o acaso que eu não me tivesse enganado: ‘O Cir­co‘ não morreu porque é eterno, Simão Infante reapareceu há pouco e o velho ‘Mosquito’ reaparece uma vez mais.

Quis também o acaso que, ao longo de uma longa vida de quase oitenta anos, tendo exercido vários ofícios cumulati­vamente, eu me fixasse naquele que sem­pre preferi a todos os outros. Refiro-me ao ofício de escrever. Traduzi centenas de livros – uns melhores do que outros – e ‘cometi’ centenas de originais – uns piores do que outros. Mau grado os meus quase oitenta anos, continuo a escrever. Perdi sem dúvida uma certa vivacidade, ganhei talvez uma certa maturidade, mas nunca ul­trapassei e agora é tarde para sonhar – os limites do medíocre. Tanto pior, embora isso me não importe demasiadamente.

Vem todo este desarrazoado a propó­sito de ‘O Mosquito’ que recomeça a vi­ver. Para mim é todo um passado de mais de cinquenta anos que revive. Outros tem­pos? Sim, com certeza, mas espero bem que, mercê de Deus, sejam também o tem­po de agora, ligado ao passado, olhando o futuro que lhe desejo longo e próspero.”

Assim, Raul Correia e o jornal que preencheu os anos mais criativos e fecun­dos da sua vida – os anos em que a aven­tura, o humor e a poesia foram os seus motes preferidos – continuaram umbili­calmente ligados para além do tempo... e da própria memória! ■


Jornal do Cuto, onde, nos anos 70, foram republicadas as melhores séries ilustradas e de texto, do bi-semanário O Mosquito.

Quinta e última tentativa de publicação do jornal O Mosquito, nos anos 80.

Raul Correia, foto publicada n'O Mosquito, 5ª série, nº 1 - Abril 1984, no qual esta foto ilustra um entrevista de António Dias de Deus com Raul Correia que, para não alongarmos em demasia este post, republicaremos aqui amanhã na integra.

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A MALDIÇÃO BRANCA (1 - 2)
Por José Garcês



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Para ver as imagens em tamanho maior, clique em cima das ditas com o botão da direita do rato e escolha “Abrir link num novo separador” – dê atenção ao topo do seu monitor porque este novo separador aparece por trás da página do Kuentro.

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sábado, 28 de abril de 2012

APRESENTAÇÃO EM LISBOA DA REVISTA BANZAI #2 – AMANHÃ DIA 29 NA FNAC CHIADO



APRESENTAÇÃO EM LISBOA 
DA REVISTA BANZAI #2 

AMANHÃ DIA 29 NA FNAC CHIADO 



 Joana Rosa Fernandes

 Kuroneko, de Cristina Dias

Pandora Song

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sexta-feira, 27 de abril de 2012

BDPRESS #340: DAMPYR REGRESSA A PORTUGAL (2) e ENTREVISTAS COM GIOVANNI ECCHER E MAURIZIO DOTTI


O recorte que se apresenta abaixo foi recolhido no Tex Willer Blog e trata-se de um texto, revisto e amplidado, de Pedro Cleto já apresentado AQUI no Kuentro. Esta nova versão, além de apresentar a capa do livro e duas pranchas, acrescenta entrevistas com o argumentista e o desenhador de Tributo di sangue.

DAMPYR REGRESSA A PORTUGAL 
ENTREVISTAS 
COM OS AUTORES DA HISTÓRIA: GIOVANNI ECCHER E MAURIZIO DOTTI


Abril 23, 2012

Por Pedro Cleto*

A zona vinícola do Douro e as caves de Vila Nova de Gaia, vão ser palco de uma aventura aos quadradinhos de Dampyr, “Tributo di sangue”, a publicar em Junho, em Itália, no número 147 da revista mensal com o seu nome.

A história, que “faz parte do ciclo dedicado a Thorke, um demónio da Dimensão Negra que leva os seus seguidores ao canibalismo”, segundo o argumentista, Giovanni Eccher (ler mais abaixo a entrevista com ele), “faz referência a vários aspectos histórico-geográficos do local em que é ambientada: o vinho do Porto e as caves de Vila Nova de Gaia, a especificidade cultural de Miranda do Douro e as perseguições aos judeus perpetradas pela população cristã e pela Inquisição portuguesa no século XVI”.

A escolha desses locais fica a dever-se, segundo Eccher, ao facto de ter ficado “impressionado com eles durante uma belíssima viagem a Portugal”. Apesar de só conhecer a zona ribeirinha “como turista que passou ali alguns dias”, considera-a “espectacular do ponto de vista cenográfico”, tendo imaginado “no local uma cena de acção na ponte Luís I”, que depois inseriu no seu argumento, que inclui diversas personagens portuguesas e mesmo “um fantasma que se manifesta com um traje típico mirandense”.

O desenho esteve a cargo de Maurizio Dotti (também entrevistado mais abaixo), que confessou nunca ter tido “o prazer de visitar a zona ribeirinha do Douro”, embora a considere “certamente belíssima, a julgar pelas fotos” cedidas pelo argumentista, nas quais se baseou para a desenhar, tendo sido a sua maior dificuldade “tornar os lugares e itinerários reconhecíveis”.

Protagonista de histórias fantásticas de terror, cujas primeiras 12 revistas foram distribuídas em Portugal, na versão brasileira da Mythos Editora, em 2005, Dampyr (designação de um filho de uma humana e de um vampiro) é uma personagem da Sergio Bonelli Editore, responsável também pelos grandes sucessos dos fumetti (BD popular italiana) que dão pelo nome de Tex e Zagor.

De seu nome Harlan Draka, foi criado por Mauro Boselli e Maurizio Colombo em 2000, dedicando-se a caçar vampiros e demónios, sendo a segunda vez que isso o traz até Portugal, pois em 2006, em “Lo sposo della vampira” (Dampyr #75), já tinha passado por Trás-os-Montes.

(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 14 de Abril de 2012) 




ENTREVISTA A GIOVANNI ECCHER


De que trata esta história de Dampyr?

Giovanni Eccher - O volume faz parte do ciclo de histórias dedicadas a Thorke, um demónio da Dimensão Negra que leva os seus seguidores ao canibalismo. Como é tradição em Dampyr, a trama faz referência a vários aspectos histórico-geográficos do local em que é ambientada: o vinho do Porto e os exportadores de Vila Nova, o enclave cultural de Miranda do Douro, as perseguições aos judeus perpetradas pela população cristã (o massacre de Lisboa) e pela Inquisição portuguesa no século XVI.

Porquê situá-la no Porto e em Gaia?

Giovanni Eccher - A história começa no Porto mas depois desloca-se para todo o vale do Douro: parte das construções de Vila Nova de Gaia e chega a Miranda do Douro, para depois voltar para os vinhedos dos produtores do Porto no meio dos quais se imagina que há um mosteiro que, embora inventado, é graficamente inspirado em vários conventos e mosteiros portugueses, como o Convento de Cristo em Tomar e o Mosteiro de Santa Maria em Alcobaça.

O motivo por que a trama é ambientada nesses lugares é muito simples: eu fiquei impressionado durante uma belíssima viagem a Portugal. Além disso, como a minha namorada é dona de uma enoteca em Milão, ela foi a minha guia entre os exportadores de Vila Nova de Gaia, que nos acolheram com muita cortesia e nos permitiram visitar as suas caves e provar os seus produtos – rigorosamente fora dos percursos turísticos. Desde então sou cliente da Quinta de Ervamoira de Ramos Pinto.

Na história também há um fantasma que se manifesta num trajo típico mirandense, um traje que achei realmente inquietante: quase tanto quanto os próprios mirandenses! Brincadeiras à parte, é gente muito hospitaleira. Só um pouco estranha.

Conhece então as cidades de Porto e Vila Nova de Gaia?

Giovanni Eccher  -
 Conheço tanto quanto pode conhecer um turista que passou alguns dias ali. Por não ter um conhecimento aprofundado, eu contentei-me em usá-las como cenários.Trata-se de cidades muito espectaculares do ponto de vista cenográfico: por exemplo, há uma cena de acção que acontece na ponte Luís I, que eu imaginei no local e depois inseri no roteiro quando regressei a Itália. 

Algum português tem intervenção relevante na história?

Giovanni Eccher - Há mais de um! À parte as personagens pertencentes à série (Harlan, Maud Nightingale e Dean Barrymore), todas as outras são portuguesas. Temos um exportador de vinhos de ascendência inglesa, uma corajosa estudante de Coimbra, o espírito de uma locandeira marrana do século XVI e outras personagens coadjuvantes. Quais são os seus papéis específicos, não posso dizer para não estragar a surpresa. 

Tem planos para novas aventuras de Dampyr em Portugal?

Giovanni Eccher - Como as aventuras de Harlan e dos seus parceiros acontecem em todo o mundo, é possível que um dia eles voltem a Portugal, numa história minha ou de outro autor (e esta também não é a primeira vez: Harlan já tinha estado em Portugal no número 75, “Lo sposo della vampira“, de Boselli e Bocci). Pessoalmente, não tenho programada outra história portuguesa, mas nunca se sabe.

ENTREVISTA A MAURIZIO DOTTI 


De que trata esta história de Dampyr?

Maurizio Dotti - A trama, ambientada entre a cidade do Porto, Vila Nova de Gaia e Miranda do Douro, começa com a aparição de um fantasma inquieto, testemunha de um terrível passado distante, do século XVI, feito de inquisição e minoria judaica, que aparece à boquiaberta e sensitiva Maud Nightingale, que fica bastante curiosa. Na tentativa de descobrir quem é a pessoa que se esconde por trás da aparição fantasmagórica, os nossos heróis conhecerão a terrível verdade ligada a Torke e aos seus truculentos rituais antropofágicos que, como uma aura de morte, paira sobre uma importante e antiga cave vinícola. É o que eu posso dizer, o resto é um mistério.

Conhece as cidades de Porto e Vila Nova de Gaia?

Maurizio Dotti - Não! Infelizmente nunca tive o prazer de visitá-las, mas pelo que as fotos me mostraram, são certamente cidades belíssimas.

Que documentação utilizou para as retratar na BD?

Maurizio Dotti - Eu recebi do óptimo Giovanni Eccher uma grande quantidade de imagens realmente muito bonitas, escolhidas com o gosto formal de um realizador de um filme, coisa que afinal ele é.

Quais as maiores dificuldades que enfrentou para a desenhar?

Maurizio Dotti - Uma dificuldade é a de tornar os lugares e itinerários reconhecíveis. Nem sempre as fotos, por mais bonitas que sejam, mostram com clareza o que se deve desenhar. Eu tenho uma certa dificuldade em realizar graficamente as figuras fantásticas, por isso sou sempre muito crítico e hesitante, quando tenho de as fazer. 

Que relação existe na história entre os produtores de vinho e os extraterrestres?

Maurizio Dotti - Mais que de extraterrestres, eu falaria de figuras evanescentes, aparições fantasmagóricas. De todo modo, eu não posso responder a essa pergunta, seria como revelar quem é o assassino num romance policial, não acha?

Que outra cidade portuguesa gostaria de desenhar?

Maurizio Dotti - Certamente Lisboa. Eu creio que ali há muitos lugares interessantes para reproduzir. Eu sinto-me fascinado pelas cidades cheias de história. Eu tive a oportunidade de visitar muitas delas no meu distante passado de actor teatral andarilho e, naquelas ocasiões, eu gostava de captar os melhores ângulos com papel e aguarela. Odeio desenhar as cidades modernas: eu sou um verdadeiro dinossauro!

Maurizio Dotti no seu atelier

*Este texto e as respectivas entrevistas não teriam sido possíveis sem a inestimável colaboração de José Carlos Pereira Francisco, para os contactos com os autores e a Sergio Bonelli Editore, de Gianni Petino e Julio Schneider, para a tradução das questões e das respectivas respostas. Aos três o meu muito obrigado.

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quinta-feira, 26 de abril de 2012

BDpress #339: HISTÓRIA DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DO PORTO EM BD



TRIPINHAS NA SANTA CASA 

A HISTÓRIA DA MISERICÓRDIA 
DO PORTO CHEGOU À BD


VISÃO – Sete, 12 Abril 2012

Miguel Carvalho

O padre Américo Aguiar, da diocese do Porto, teve a ideia. António Tavares, o mais novo provedor da história da Santa Casa da Misericórdia do Porto, apoiou. O jornalista Germano Silva escreveu. E o portuense Pedro Pires ilustrou. A memória de uma das mais antigas instituições da Invicta - 513anos de existência - já não está condenada a ser objeto de arquivos a cheirar a mofo e estudiosos encartados. Agora, em nacos de 125 anos cada, serão lançados até ao final do ano quatro volumes em banda desenhada com a história da Santa Casa. «Quando uma instituição como esta deixa de ser percebida e entendida, é mau sinal. Temos de chegar aos jovens», explica o vigário geral da diocese do Porto, que também batizou a personagem Tripinhas, guia e narrador da BD e para o qual estará reservado maior protagonismo num futuro próximo.

A receita é mais simples do que parece. «A linguagem fácil do Germano juntou-se um ilustrador de prestígio», explica António Tavares. «Depois, são distribuídos gratuitamente quase 12 mil exemplares pelas escolas do ensino básico do Porto e não faltam pedidos para comprar», adianta o provedor. O terceiro sairá antes do final do ano letivo e o quarto lá para novembro. Nessa altura, as crianças poderão levantar o último exemplar na própria sede da Misericórdia, na Rua das Flores, desde que apareçam com os três volumes anteriores. Será o pretexto para conhecerem os cantos da Santa Casa guiados por um Tripinhas... de carne e osso.



HISTÓRIA DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DO PORTO
de Germano Silva e Pedro Pires
À venda na loja da Santa Casa da Misericórdia do Porto, Rua das Flores, 5 T. 22 207 4.
€ 5 (cada volume)




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Imagens de Central Comics

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quarta-feira, 25 de abril de 2012

38 ANOS DO 25 DE ABRIL E ÀS QUINTAS FALAMOS DE BD NO CNBDI


38 ANOS DO 25 DE ABRIL 

ÀS QUINTAS FALAMOS DE BD NO CNBDI
A 38 anos do 25 de Abril de 1974, as coisas parece que aconteceram numa outra vida...
Deixo-vos aqui a cópia do original do cartaz que realizei em 1992 (faz 20 anos) e que foi a proposta vencedora do concurso realizado pela Câmara Municipal de Almada para as comemorações da data nesse ano.




Depois, a BD e o 25 de Abril – existem, apesar de tudo, poucas bandas desenhadas sobre o 25 de Abril. Aqui ficam alguns indícios.



Textos de João Ramalho Santos e João Miguel Lameiras - Desenhos de José Carlos Fernandes
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UMA REVOLUÇÃO DESENHADA : O 25 DE ABRIL E A BD
Autor(es) João Miguel LAMEIRAS; João Paulo Paiva BOLÉO; João Ramalho SANTOS

Editora Bedeteca de Lisboa ; Afrontamento ; Centro de Documentação 25 de Abril ; Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra

Ano de Publicação 1999
Número de Páginas 96 p.
Impressão a cores

Comentário Livro catálogo que inclue uma investigação de todas as relações possiveis entre o 25 de Abril de 1974 e a banda desenhada. A exposição esteve patente em Coimbra e Lisboa de 1999 e teve foi realizada com o alto Patrocínio da Comissão para as Comemorações Oficiais dos 25 Anos do 25 de Abril.



Para além de uma bibliografia de álbuns dos anos 70, assinada por Carlos Bandeiras Pinheiro, é composto também por 18 bd’s realizadas por autores de bd de gerações bastante diferentes como Filipe Abranches, José Carlos Fernandes, Pedro Cavalheiro, Pedro Massano, Luís Diferr, Rui Lacas, Rui Ricardo, Miguel Rocha, Diniz Conefrey, Fernando Relvas, Pedro Brito, José Abrantes, etc…

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25 DE ABRIL - O RENASCER DA ESPERANÇA
Manuel de Sousa (arg.), Ernesto Neves (des.)

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Depois o “Às Quintas Falamos de BD” que se realiza amanhã no CNBDI e conta com Manuel Freire (músico, cantor, que musicou e cantou - e canta - o poema “Pedra Filosofal”, de António Gedeão), João Paiva Boléo (investigador e crítico de Banda Desenhada) e João Miguel Lameiras (crítico e divulgador de BD, sócio proprietário da Livraria Dr.Kartoon – especializada em BD – em Coimbra). Registe-se que Manuel Freire é um devorador de Banda Desenhada e fidelíssimo leitor do BDjornal e João Miguel Lameiras é colaborador do BDjornal desde o #1 e, por via do que escreve sobre BD no Diário As Beiras, largamente republicado nos recortes do BDpress aqui no Kuentro. Portanto, presumo de que se vai tratar de uma grande conversa sobre Banda Desenhada portuguesa (e talvez não só), mas com música...





Manuel Freire

João Paiva Boléo

João Miguel Lameiras


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terça-feira, 24 de abril de 2012

BDpress # 339 – OS HERÓIS QUE HERGÉ CRIOU POR ENCOMENDA – Eurico de Barros no Q.I. do DIÁRIO DE NOTÍCIAS + JÁ HÁ CARTAZ PARA O FESTIVAL DE BD DE BEJA 2012




OS HERÓIS QUE HERGÉ CRIOU POR

ENCOMENDA 

Por Eurico de Barros

Em 1936, a revista católica 'Coeurs Vaillants' pediu ao 'pai' de Tintin uma série para-as crianças e as famílias da classe média belga. E assim nasceu 'Jo, Zette et Jocko', que Hergé abandonaria apos três aventuras, divididas por cinco álbuns.

Uma edição integral da Casterman junta-os.

No início da década de 60, Hergé pediu ao seu colaborador e distinto autor de banda desenhada Bob de Moor que transformasse o argumento de Tintin, et le Thermozéro, uma aventura de Tintin que abandonara e que tinha a assinatura de Michel Greg (1), numa história da série Jo, Zette e Jocko, que se chamaria simplesmente Le Thermozéro. Hergé tinha vontade de retomar a série, cujo último álbum, La Vallée des Cobras, tinha saído em 1957, mas o projeto acabou por ser posto de parte porque Bob de Moor (2) teve de ajudar o criador de Tintin, a modernizar o álbum A Ilha Negra, e Hergé nunca mais voltou a pegar em Jo, Zette e Jocko.

Os cinco álbuns da série, que correspondem na realidade a três aventuras, já que as duas primeiras histórias foram remontadas, coloridas e divididas em quatro álbuns por razões editoriais, foram finalmente reunidos num só volume pela Casterman, intitulado Les Aventures de Jo, Zette et Jocko, e que inclui Le Testament de M. Pump e Destination NewYork (sob o titulo geral Le StratonefH 22), Le "Manitoba" ne pond Plus e L’Eruption du Karamako (sob o titulo geral Le Rayon du Mysre) e La Vallée des Cobras (esta chamou-se originalmente, nos anos 30, Jo et Zette au Pays du Maharadjah e a sua publicação ficou incompleta na altura). A esta edição falta, no entanto, o aparato histórico e crítico, bem como o material de arquivo que habitualmente encontramos nas "integrais" dos heróis da banda desenhada franco-belga, o que a empobrece aos olhos do leitor e do colecionador.

Ao contrário de Tintin, e de Popol e Virginie e Quick et Flupke, a série Jo, Zette e Jocko foi a única criada por Hergé que resultou de um pedido. Em 1936, os diretores da revista católica para jovens Coeurs Vaillants solicitaram a Hergé que pensasse na criação de uma aventura cujos protagonistas não vivessem, como Tintin, num vácuo familiar, biográfico e profissional, e com os quais as famílias e as crianças da classe média belga se pudessem identificar. Hergé recordou a Numa Sadoul (3), no seu livro de entrevistas Tintin et Moi, a génese de Jo, Zette e Jocko: "A direção da revista [Coeurs Vaillants] disse-me mais ou menos isto: 'Sabe, o seu Tintin não está nada mal, não senhor. Gostamos todos muito dele. Mas não ganha a vida, não vai a escola, não tem pais, não come, não dorme... Não é muito lógico. Não podia criar uma personagem cujo pai trabalhe, que tenha uma mãe, uma irmã, um animalzinho de estimação?".

Nessa altura, Hergé estava a fazer um trabalho publicitário para uma firma de brinquedos e tinha vários em casa para se inspirar. Entre eles estava um chimpanzé de peluche chamado Jocko. E foi a partir dele que o autor criou a família Legrand, composta pelo pai, engenheiro de profissão, pela mãe, dona de casa, pelos irmãos Jo e Zette, de 11e dez anos, respetivamente (vestem-se sempre da mesma maneira, a exemplo de Tintin e das outras personagens da sua "família"), e pelo chimpanzé Jocko, que fala consigo mesmo, tal como Milou, mas não com os humanos. Jo e Zette tiveram como antecedentes um duo de irmãos, Antoine e Antoinette, que Hergé criou para serem os heróis de seis pranchas publicitárias da marca de chocolates belgas Antoine, que não foram assinadas pelo autor nem datadas. Curiosamente, esta aventura publicitária levava como titulo... A Bola de Cristal. Antoine e Antoinette tinham também animais de estimação, um cão, Plouf (no qual se reconhecem traços de Milou), e um papagaio chamado Dropsy.

Segundo conta Benoît Peeters (4) no seu monumental Le Monde d'Herge, "apesar de toda a sua boa vontade, Hergé nunca se sentiu muito confortável com esta série, por causa da multiplicidade de constrangimentos que lhe eram impostas e da artificialidade da construção do conjunto". Hergé explicou assim a situação a Numa Sadoul, no livro citado: "Foi preciso antes de mais arranjar uma profissão ao pai, uma profissão que o fizesse viajar: muito bem, engenheiro servia bem. Mas, além disso, o papá e a mamã passavam a maior parte do tempo a soluçar e a interrogar-se sobre a sorte dos seus queridos filhos que desapareciam em todas as direções. Era então preciso fazer viajar toda a família: era uma maçada! Decidi então desistir... Tintin, pelo menos, é livre! Feliz Tintin! Recorda-me a frase de Jules Renard (5): 'Nem toda a gente tem a sorte de ser órfão'."                                                                                                                                    
Mesmo assim, Hergé ainda desenhou cinco aventuras de Jo, Zette e Jocko entre 1936 e 1954, sendo que a versão para álbum da última, La Vallée des Cobras, foi em grande parte da responsabilidade de Jacques Martin, o criador de Alix, com uma ajudinha de Bob de Moor.

Apesar de ter sido criada para a Coeurs Vaillants, a série passou depois para o suplemento juvenil Le Petit Vingtième, do diário Le Vingtième Siécle, a "casa" de Tintin, sendo mais tarde também publicada nas páginas do Tintin belga. Mesmo tendo em conta o enquadramento convencional em que surgiram, Jo, Zette e Jocko apresentam varias características interessantes, e as suas aventuras são uma combinação de elementos, personagens e situações feitas clássicas das histórias juvenis de banda desenhada da sua época, e do génio criativo de Hergé e das estruturas narrativas que ele privilegiava, e que se harmonizam de forma bem mais feliz do que alegam alguns dos que menosprezam esta série como sendo menor na obra do "pai" de Tintin.

'Les Aventures de Jo, Zette et Jocko'
de Hergé
Casterman, 272 págs.
TSBN-978-2-203-01611-8
23,75 euros, na amazon.fr


Mesmo dependendo da ajuda dos pais e dos adultos em geral para se saírem bem das complicações em que se envolvem, sempre relacionadas com a profissão do pai, Jo e Zette são também heróis inteligentes, voluntariosos e corajosos, que usam estas qualidades para levarem a sua avante, o que faz com que se desenvolva uma forte identificação entre eles e os leitores.

Tal como sucede nas histórias de Tintin, as de Jo, Zette e Jocko contêm elementos de aventura tradicional, de espionagem e de ficção científica, ambientando-se muitas vezes em regiões distantes. Benoît Peeters nota que nelas encontramos coisas para que Hergé "não arranjou espaço nas aventuras de Tintin". Mas há também outras que não estariam deslocadas nas histórias deste, nomeadamente a tecnologia (Le "Manitoba" ne Répond Plus e L'Eruption du Karamako são particularmente inventivos neste aspeto). E também o sentido de humor de Hergé e o seu gosto pelos gags bem concebidos estão por toda a parte nas aventuras de Jo, Zette e Jocko (ver tudo o que se refere à figura do milionário norte-americano Pump, fanático da velocidade e que acaba por ser vitima de si mesmo em Le Testament de M. Pump). E ainda, tal como Milou, também o chimpanzé Jocko se mete em confusões paralelas às dos seus donos, muitas vezes com outros animais. Hergé não resistiu a fazer pequenas piscadelas de olho ao universo de Tintin nas histórias de Jo, Zette e Jocko. Por exemplo, o observador mais atento não deixara de reparar no retrato do capitão Haddock pendurado na parede da sala da família Legrand em Le Testament de M. Pump.

Em 1972, a longa-metragem animada Tintin e o Lago dos Tubarões foi buscar ideias a Le "Manitoba" ne Réponds Plus e L'Eruption du Karamako. Em Portugal, Jo, Zette e Jocko chamaram-se Joana, João e o Macaco Simão, e estrearam-se na revista Zorro em 1964. As suas cinco aventuras, traduzidas como O Testamento do Sr. Pump, Destino Nova Iorque,O 'Manitoba' não Responde, A Erupção do Karamako e O Vale das Cobras, foram editadas pela Verbo na década de 80. Ao que parece, existe nos arquivos da Fundação Herge um esboço completo do álbum Le Thermozéro feito por Bob de Moor.

Notas:

(1) Michel Greg (193l-1999) foi um dos maiores argumentistas e autores da banda desenhada franco-belga, chefe de redação da revista Tintin e criador de personagens como Achille Talon.

(2) Colaborador muito próximo de Herge, Bob de Moor (1925-1992) era o pseudónimo do desenhador Robert Frans Marie de Moor, que terminou o álbum inacabado de E. P. Jacobs Mortimer contra Mortimer, da série Blake e Mortimer.

(3) Numa Sadoul (n. 1947) é o autor de vários livros de entrevistas com grandes autores de banda desenhada, caso de Hergé, Uderzo ou Franquin, bem como de obras sobre Gotlib e Moebius.

(4) Romancista, crítico e argumentista de banda desenhada, Benoît Peeters (n.1956) é o especialista na obra de Hergé, a que já dedicou vários livros.

(5) Jules Renard (1864-1910) foi um escritor e dramaturgo francês, cofundador da revista literária Mercure de France.

  

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JÁ HÁ CARTAZ PARA 
O FESTIVAL DE BD DE BEJA 2012


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JÁ AGORA
A FEIRA DO LIVRO 
DE LISBOA COMEÇOU HOJE

Na foto: a "cidade" LeYa...

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