segunda-feira, 30 de setembro de 2013

CONVOCATÓRIA – 352º ENCONTRO DA TERTÚLIA BD DE LISBOA – AMANHÃ NO SÍTIO DO COSTUME!


CONVOCATÓRIA 

352º ENCONTRO
TERTÚLIA BD DE LISBOA
AMANHÃ NO SÍTIO DO COSTUME!

Foto do Encontro 350, de 6 de Agosto de 2013
1 de Outubro de 2013 
Convidado Especial: Miguel Costa Ferreira 

Amanhã, dia 1 de Outubro, ocorrerá mais uma Tertúlia BD de Lisboa no local habitual. 
O Convidado Especial é o Miguel Ferreira, 
argumentista do álbum "Psicose" desenhado por João Sequeira e editado pela El Pep. 
Temos também mais um Tertúlia BDzine com uma BD da mesma dupla. 
Apareçam!


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domingo, 29 de setembro de 2013

GAZETA DA BD (14) NA GAZETA DAS CALDAS – O CNBDI – CENTRO NACIONAL DE BANDA DESENHADA E IMAGEM



GAZETA DA BANDA DESENHADA (14)
NA GAZETA DAS CALDAS

in Gazeta das Caldas, 27 de Setembro de 2013

O CNBDI
CENTRO NACIONAL DE BANDA DESENHADA E IMAGEM
Jorge Machado-Dias

O CNBDI – Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem foi criado na Amadora, pelo então director do Festival Internacional de Banda Desenhada, Luís Vargas. Em primeiro lugar, para se desenvolverem actividades bedéfilas entre festivais, criando uma continuidade lógica, que tornasse a cidade da Amadora numa espécie de Angoulême cá do burgo – para quem não saiba, realiza-se nesta cidade francesa o maior festival de banda desenhada do mundo, durante apenas quatro dias (e não quinze como o Festival da Amadora), anualmente no final de Janeiro.

A própria designação CNBDI, é uma cópia do seu congénere francês. Mas vejamos, o Centre National de la Bande Dessinée et de l'Image, em Angoulême, foi formado sob a égide do então presidente Mitterrand e a batuta do ministro da Cultura Jack Lang, possuindo uma bedeteca, uma mediateca, e o museu de banda desenhada, tendo sido instalado num antigo edifício industrial, entretanto alvo de um projecto arquitectónico de recuperação notável, do arquitecto Roland Castro. Em 2008, o CNBDI foi extinto como tal, associando-se ao Laboratoire d'Imagerie Numérique (L.I.N.) – Laboratório de Imagem [impressa] Digitalizada –, à Escola Superior Europeia da Imagem e ao Atelier-Museu do Papel. Tudo isto para dar lugar a uma entidade muito mais abrangente, a Cité Internationale de la Bande Dessinée et de l'Image.

Bom, nada disto tem a ver com o CNBDI português, como podemos perceber. No entanto realizou-se neste o que é possível, e fazer-se alguma coisa neste campo, mesmo com alguns erros de casting à mistura, é algo de positivo. Um Centro deste género é fundamental para preservar o historial da BD portuguesa e também para incentivar as novas gerações à leitura e à prática desta disciplina. No entanto os sucessivos cortes orçamentais, por via dos problemas económico/financeiros que vivemos actualmente, têm vindo a fazer decair a actividade do CNBDI, dependente por inteiro da Câmara Municipal da Amadora, para níveis confrangedores.

Um dos erros de casting que referimos acima, e que tem dado origem às maiores polémicas: a palavra Imagem, que integra a designação do Centro e, como explica José Ruy em texto que publicámos em kuentro.blogspot.com, refere-se à fixação da banda desenhada em suportes digitais ou até mesmo o desenho animado. Este reparo tem a ver com a errada escolha de temas, por parte do CNBDI/Amadora, em pelo menos dois dos seus programas, que se pretendem tertulianos, intitulados Às Quintas Falamos de BD, primeiro aquele que se debruçou sobre Imagens da Guerra Colonial, com projecção do documentário de Diana Andringa, As Duas Faces da Guerra (31 de Maio de 2012) e o outro sobre Abril na BD - O Canto de Intervenção em Portugal e no Mundo (19 de Abril de 2013). Isto, como é lógico, não tem qualquer cabimento, mesmo que se queira falar nestas tertúlias, da relação da banda desenhada com “outras coisas”.

Contudo, o Centro teve na sua génese desenvolvimentos muito positivos, como a construção do famoso “bunker” para preservar os já cerca de 15.000 originais doados por diversos autores, – não só os clássicos nacionais, como também os modernos –, ou a constituição da bedeteca, abarcando cerca de 13.000 livros de e sobre BD. Ao longo dos muitos Festivais, autores portugueses e estrangeiros foram oferecendo livros de sua autoria que, com os adquiridos pelo próprio Centro atingiu um número considerável. Contudo a importância desta Bedeteca não o é apenas pela quantidade, mas sobretudo pelo seu conteúdo. A maior parte desses livros são hoje raridades, pois trata-se de edições de reduzidas tiragens e sem hipótese de reimpressão. Portanto, são praticamente livros únicos, consultados permanentemente e com todo o cuidado por investigadores e até editores, que dessa maneira puderam recolher para edições especiais, histórias franco-belgas há muito publicadas. Em muitos casos, nem as editoras de origem possuem hoje exemplares desses títulos.

No entanto, quando da inauguração da Biblioteca Municipal da Amadora, não havia livros de banda desenhada nas prateleiras previstas para o efeito. Então houve a brilhante ideia de ir buscar ao CNBDI dez mil livros dos treze mil lá existentes. Seria só para a inauguração da Biblioteca e que em breve voltariam para o Centro. Até porque os livros ali em exposição são raridades, e deviam estar em resguardo. Só que os ditos nunca mais regressaram ao CNBDI, até hoje. Tratou-se portanto de uma verdadeira destruição da bedeteca do CNBDI por parte da Biblioteca Municipal o que é completamente inconcebível.

Mas a actividade do CNBDI tem outras componentes, como a actividade editorial com a criação da colecção NonArte, os Catálogos das exposições, os Boletins de Informação e depois, a concepção e montagem de exposições na Galeria do Centro.

Acrescentemos que a organização do Festival de BD esteve sempre sedeada nas instalações do Centro até há poucos meses, quando se mudou para as instalações dos Recreios da Amadora, ficando no CNBDI apenas a sua directora, uma designer gráfica e uma funcionária de recepção. É, obviamente, “quase ninguém” para dar a esta instituição a actividade que necessitaria. Mas voltaremos a este tema em breve.

 O Centre National de la Bande Dessinée et de l'Image, em Angoulême

 O Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem, na Amadora

O piso -1 do CNBDI. Em cima o famoso “bunker” onde se arquivam cerca de 15.000 originais de BD. Em baixo, aspecto da exposição “Peregrinação de Fernão Mendes Pinto”, actualmente em cartaz.

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sábado, 28 de setembro de 2013

BDpress #389: FILIPE AZEREDO LANÇA A REVISTA DE TERROR (COM MATERIAL DOS ANOS 1950) “CALAFRIOS!” – GRATUITA ONLINE



FILIPE AZEREDO LANÇA A REVISTA DE TERROR 
“CALAFRIOS!”
(COM MATERIAL DOS ANOS 1950) 
GRATUITA ONLINE

Público, suplemento Ípsilon, 27 de Setembro de 2013-09-27

TERROR NO TABLET

Ler banda desenhada no computador ou num tablet já não é (salvo seja) novidade para ninguém. O que não faltam são webcomics (alguns de qualidade muito razoável) ou sites que, a conta-gotas, vão disponibilizando livros completos. Mas não é todos os dias que se divulgam, em formato digital, obras de culto da história da banda desenhada. Festeje-se por isso o nascimento da Calafrios!, revista on-line de Filipe Azeredo, que resgata um dos períodos mais infames desta arte: os horror comics que, entre os anos 1940 e meados dos anos 1950, chocaram as mais respeitáveis instituições dos EUA. O primeiro número inclui três pequenas BD assinadas por autores consagrados. São eles Alex Toth (com Hugo Pratt, o outro "filho" de Milton Caniff), Reed Crandall e Basil Wolverton (uma influência na obra de Robert Crumb). Mencionem-se o anonimato dos argumentistas, o humor das histórias (que excluem a violência explícita), a exuberância do desenho e das cores, a ousadia dos temas. Produzidas antes das leis impostas pela Comics Code Authority, proporcionam uma boa introdução à golden age da cultura de massas e podem ser descarregadas no blogue http://afilactera.com. Enquanto se adensa o mistério à volta do segundo número.
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Nota do Kuentro

Já verificámos, no blogue da Filactera (basta clicar no link em Os Blogues que Recomendamos, aqui à direita), onde podem ser descarregadas gratuitamente as versões CBR, PDF ou ler online em versão ISSUU. Trata-se de cópias restauradas e traduzidas, de revistas Out of the Shadows, da Standard Comics e Weird Mysteries, da Key Publications. Excelente iniciativa de Filipe Azeredo.



As revistas originais - anos 1950

Duas páginas da Calafrios!:

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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

BDpress #388: 75 ANOS DE SPIROU CELEBRADOS COM QUALIDADE


Diário de Notícias (Q:), 14 de Setembro de 2013

CELEBRAR COM QUALIDADE
OS 75 ANOS DE SPIROU

Continuam a suceder-se as edições comemorativas dos 75 anos da revista Spirou, e da personagem criada para a mesma por Rob-Vel (pseudónimo de Robert Velter), que atingiu a sua expressão máxima quando foi desenhada por André Franquin. Desta vez, é a revista Beaux Arts que lança um completíssimo álbum sobre o paquete mais famoso da banda desenhada, que se tomará rapidamente num objeto de coleção, já estando à venda em Portugal. São 128 páginas que procuram esgotar o tema em questão, com textos de vários especialistas, nomeadamente Pierre Sterckx e Philippe Capart, este sobre Franquin. Nas últimas páginas são reproduzidas as capas dos 53 álbuns de Spirou publicados até agora, e há ainda uma bibliografia selecionada sobre a revista e sobre Spirou, acompanhada por uma lista dos eventos comemorativos até ao final do ano.


Vários Autores

Spirou a.75 Ans - Les Aventures d'un géant de la BD

BeauXArts
8,40 euros.


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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

ÀS QUINTAS FALAMOS DO CNBDI NO KUENTRO (24) – A FÁBRICA DA CULTURA JÁ FOI DEMOLIDA – AS FOTOS + AMIGOS DO CNBDI (17) por José Ruy


ÀS QUINTAS FALAMOS DO CNBDI (24)

A FÁBRICA DA CULTURA JÁ FOI DEMOLIDA
AS FOTOS 

Segundo o site da Câmara Municipal da Amadora, o Parque da BD (que irá incluir figuras das personagens do brasileiro Maurício de Sousa) está quase pronto a ser inaugurado! Assim, as fotos que inserimos abaixo (excepto a primeira) são as que constam no dito site da CMA, documentando a demolição da antiga Fábrica da Cultura (antigas instalações da Cometna). Naquele espaço realizaram- se nove Festivais Internacionais de Banda Desenhada da Amadora, de 1992 a 2000, deixando uma imagem indelével na memória dos frequentadores do Festival nessa época – devido ao ambiente que ali se criava todos os anos e nunca mais foi repetido. Em 2001 o FIBDA seria realizado já na Escola Intercultural da Amadora.



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AMIGOS DO CNBDI (17)
por José Ruy

A razão porque não chegaram até hoje originais das Histórias em Quadrinhos do António Cardoso Lopes, o Tiotónio, diretor artístico de O Mosquito, deve-se ao facto de nos anos 30 e 40 do Século XX, ele desenhar sobre «papel cromo» (uma espécie de papel de seda gomado de um lado) onde se aplicava uma tinta preta litográfica para ser «transportado» diretamente para a chapa de zinco Offset. Dessa maneira, após a estampagem na chapa, a base do desenho desfazia-se ficando só o traço na chapa de zinco. Por isso esses originais nunca puderam ser expostos.

Este processo evitava a despesa da reprodução e só depois de passado ao zinco, era possível tirar uma prova, que figurava então como «original», tal e qual o que acontece hoje com o desenho em computador, cujo «original» será uma prova scanerizada, após o seu acabamento. Mesmo quando existem originais a tinta-da-china que são moldados nos programas informáticos, a arte final é sempre uma reprodução digital. Isto tem criado grandes dúvidas entre os «puristas» que não consideram as provas como originais, chegando a não aceitar essas bases para exposições.

Mas mesmo quanto ao nosso trabalho analógico todo executado sobre papel, a Arte Gráfica impôs sempre o modo como tínhamos de fazer a execução. Desenhávamos ao dobro do formato da publicação, porque o processo Offset (impressão indireta) engrossava o traço, devido à tintagem da chapa de zinco no cilindro da borracha, que por sua vez ia estampar no papel. A redução fotográfica permitia tornar o traço bastante fino sem perder a opacidade, devido ao nitrato de prata da composição da emulsão, compensando o que ia engrossar na impressão.

Com o evoluir do processo da reprodução fotográfica e das máquinas impressoras esse problema foi sendo ultrapassado e foi-nos permitido começar a desenhar em dimensões menos grandes, embora fazendo-o maior que o tamanho da impressão. Isso deu-nos a vantagem de beneficiar da redução para melhorar o traço.

O mesmo passando-se com as cores. Enquanto que primitivamente estas eram desenhadas diretamente nas chapas de Offset separadas umas das outras, desde o aparecimento da fotolitografia passámos a poder colorir as páginas sobre papel, mas ainda sem serem sobrepostas ao traço negro. A seleção era feita fotograficamente. A partir dos anos 1980 o constante aperfeiçoamento do parque gráfico permitiu que a aguarela pudesse ser executada mesmo sobre o original a tinta-da-china. A entrada em funcionamento desse novo processo (para as HQ) deu-se na oficina da ASA, e coube-me a mim testá-lo com o livro «Levem-me Nesse Sonho», a História da Amadora, pois o diretor Américo Augusto Areal sabendo da minha formação gráfica e da constante atualização, achou que era mais prudente ser eu a começar. E tinha razão, pois embora a tinta-da-china que tem na sua composição goma laca, em princípio não devesse alastrar depois de seca no papel, o facto é que se trabalharmos com a aguarela um pouco diluída os traços negros esborratam sujando as cores, chegando a inutilizar os originais. Prudentemente, passei a usar a aguarela com o mínimo de água evitando tocar nos contornos. Avisei assim os meus colegas desse pormenor. Tínhamos no entanto ganho um grande avanço. Onde havia mais perigo, era nas grandes manchas de tinta-da-china aplicadas no desenho, mananciais para derramar sujidade nas cores mais próximas. Então pensei em aplicar nessas manchas com marcadores de tinta preta a álcool que haviam surgido no mercado. Esses não se diluíam com água. Mas com o tempo, seis meses ou um ano, esse negro começa a perder intensidade, principalmente se o original estivar exposto à luz.

O debate dessa «Quinta-Feira no CNBDI» foi muito interessante, pois conseguiu-se mostrar que outros caminhos estavam a ser iluminados, permitindo aos autores que utilizam os recentes processos gráficos, uma abertura para os seus originais serem aceites nos Festivais da modalidade.

Em Fevereiro de 2012, foi apresentado um tema que havia sido já preparado desde o ano anterior…

(continua...)

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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

BDpress #387: AMANHÃ COM O PÚBLICO - O ARQUEIRO VERDE REGRESSA À COLECÇÃO DC COMICS – J.M.Lameiras no Público


  
Público, 20 de Setembro de 2013

O ARQUEIRO VERDE
REGRESSA À COLECÇÃO DC COMICS
João Miguel Lameiras


Super-Heróis DC Comics -Volume 12
ARQUEIRO VERDE: OS CAÇADORES 
Argumento - Mike Grell 
Desenhos - Mike Grell e Lurene Haines 
Quinta, 26 de Setembro Por + € 8,90

Depois de ter aparecido ao lado do Lanterna Verde, num punhado de histórias clássicas assinadas por Neal Adams e Denny O'Neil, o Arqueiro Verde regressa à co­lecção DC Comics pela mão de Mike Grell, em Os Caçadores, a mini-série que ajudou a redefi­nir a personagem, nos finais dos anos 80 e cujo sucesso possibili­tou o aparecimento de uma nova revista mensal que Grell escreveu e, por vezes, desenhou, durante mais de 10 anos. Criado em 1941, por Mort Weisinger e George Papp, o Arqueiro Verde surgiu inicialmen­te como uma espécie de cruzamen­to entre o Batman e Robin Hood, um justiceiro mascarado equipado com um arco e com uma série de flechas cheias de gadgets. Talvez de­vido ao seu carácter derivativo, o Arqueiro Verde nunca se conseguiu afirmar o suficiente para ter direito à sua própria revista, mesmo quando foi desenhado por Jack Kirby, li­mitando a sua presença a histórias curtas e às participações na Liga da Justiça.

Mesmo a etapa gloriosa de Denny O'Neil e Neal Adams, em que o arqueiro esmeralda dividiu o protagonismo com o Lanterna Verde, que tivemos o privilégio de descobrir nesta colecção, durou pouco mais de um ano e não teve continuidade imediata. Seria preciso Mike Grell, um piloto militar, que redescobriu a BD durante a Guerra do Vietname, pegar na personagem, reduzindo-a aos seus elementos essenciais para o sucesso regressar. Grell transfor­ma o super-herói num caçador ur­bano, que enfrenta o crime, não na fictícia Star City, mas em Seattle. Em Os Caçadores, os elementos típicos das histórias de super-heróis dão lugar a uma intriga policial realis­ta e sangrenta, numa história em que desaparecem as flechas com truques e os adversários fan­tasiados e o Arqueiro Verde enfrenta traficantes de dro­ga e Shado, uma misteriosa arqueira em busca de vin­gança, que se revela um ad­versário à altura do gladia­dor Esmeralda. 

É o início dessa fase, que influenciou a recente série Arrow, que levou o Arqueiro Verde à televisão com grande su­cesso, que este volume recupera.


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domingo, 22 de setembro de 2013

COM O ZÉ DAS PAPAS (de Bordallo Pinheiro) 32 – A INQUISIÇÃO E A "DIETA ALIMENTAR"


Auto de Fé de la Inquisición - quadro de Goya (pintado entre 1812-1819)

 ZÉ DAS PAPAS 32

in Gazeta das Caldas, 20 de Setembro de 2013

A INQUISIÇÃO E A "DIETA ALIMENTAR"

Passou, há muito, o tempo de jejum e abstinência, próprios da quaresma. Já fomos à espiga e, sem saber bem porquê, ou talvez sabendo, pois o jejum e a abstinência são hoje o dia a dia de muitos, lembrei-me de que há matéria alimentícia a justificar o enquadramento da gastronomia com a Inquisição.

Acerca da alimentação dos encarcerados nas masmorras da Inquisição, Camilo Castelo Branco dá algumas indicações, baseado num livro de 1688, "Re­lation de l'Inquisition de Goa", acrescentando ser a mesma em todas as prisões inquisitoriais do território português.

Assim: os presos comem três vezes ao dia; almoço às seis horas da manhã, jantar às dez, e ceia às quatro horas da tarde.

Aos pretos dão-lhes canja de arroz ao almoço; ao jantar e ceia, dão-lhes peixe e arroz. Os brancos passam melhor: de manhã dão-lhes um pão fresco de três onças e peixe frito, fruta e uma linguiça, se é domingo ou quinta feira; e nestes dias, ao jantar dão-lhes carne, um pão como o do almoço, e um prato de arroz e algum guisado com farto molho, para adubar o arroz, que é cozido simples­mente com sal; nos demais dias dão peixe frito, arroz, e guisado; carne é que nunca lá se come à noite.

Conclui Camilo: "Presume o desconhecido autor que a abs­tinência da carne leva em vista evitar indigestões. Aqueles higiénicos sujeitos poupavam os corpos salutarmente, no intento de lhes purificar [depois] as almas no fogo. Em Lisboa prevalecia a mesma piedade".

Já os senhores inquisidores, apaniguados e demais funcio­nários do aparelho do santo ofício, esses, não davam mos­tras de falta de apetite antes e durante os monstruosos espec­táculos que encenavam. Talvez até o cheiro a carne humana queimada lhes fosse estímulo para o luxo de iguarias e doces com que se banqueteavam.

Extraio da «Despesa dos gastos do auto de fé que se celebrou em 18 de Novembro de 1646 em Lisboa», transcri­to por António Baião, alguns exemplos:

"De linguados, salmonetes, safios, abróteas, taganas, mu­gens e sardinhas que para sexta feira e sábado antes do auto [de fé] se deram aos Srs. inquisidores, de­putados, promotores, notários, meirinho, alcaide, solicitadores e mais oficiais e se fizeram em empadas para a ceia do sába­do e se deu aos guardas para comerem no cárcere, como é costume por não irem a suas casas, 27$096.

De vinho que se comprou a 160 réis a canada que se gastou nos 15 dias antes do auto na Mesa e secreto e se deu a Fran­cisco de Almeida para o jantar do auto e padres da Companhia, 2$120".

Vítima dos "tratos de polé" da Inquisição foi António José da Silva, "O Judeu", nome maior das letras portuguesas da pri­meira metade do século dezoi­to, consagrado autor de "Guer­ras do Alecrim e Mangerona".

Mas António José da Silva, por si, merece mais prosa.

João Reboredo
joaoreboredo@gmail.com

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Nota do Kuentro:
A INQUISIÇÃO EM PORTUGAL

Foi pedida inicialmente por D. Manuel I de Portugal, para cumprir o acordo de casamento com Isabel de Aragão e Castela e após a morte desta, com a irmã, Maria de Aragão e Castela. A 17 de Dezembro de 1531 o Papa Clemente VII pela bula Cum ad nihil magis instituiu-a em Portugal, mas um ano depois anulou a decisão. Em 1533 concedeu a primeira bula de perdão aos cristãos-novos (judeus convertidos) portugueses. D. João III, filho de D. Manuel I e da mesma Maria de Aragão e Castela, renovou o pedido ao Papa e encontrou ouvidos favoráveis no novo Papa, Paulo III que cedeu, em parte por pressão de Carlos V de Habsburgo – também Carlos I, rei de Castela, Aragão, Galiza, Navarra, etc. e primo direito de D. João III.

Em 23 de maio de 1536, por outra bula em tudo semelhante à primeira, foi instituída a Inquisição em Portugal. A sua primeira sede foi em Évora, onde se encontrava a corte. Tal como nos outros reinos ibéricos, tornou-se um tribunal ao serviço da Coroa.

A bula Cum ad nihil magis foi publicada em Évora, onde como se disse atrás, então residia a Corte, em 22 de outubro de 1536. Toda a população foi convidada a denunciar os casos de heresia de que tivesse conhecimento – mas claro que a coisa visava sobretudo os cristãos-novos. No ano seguinte, o monarca voltou para Lisboa e com ele o novo Tribunal. O primeiro livro de denúncias tomadas na Inquisição, iniciado em Évora, foi continuado em Lisboa, a partir de Janeiro de 1537. Em 1539 o cardeal D. Henrique, irmão de D. João III de Portugal e depois ele próprio rei, tornou-se inquisidor geral do reino.

Mas tudo isto tem a ver com a “cedência” de D. Manuel I que, ao querer casar com a Princesa Isabel de Aragão e Castela (uma vez que não queria “ficar atrás” do anterior herdeiro da coroa, D. Afonso, filho de D. João II, que morreu em Julho de 1491, num acidente perto de Santarém e que havia sido casado com a mesma Princesa), teve que ceder às pretensões da coroa de Castela/Aragão e pedir a instituição da inquisição ao Papa da altura – que foi instruido, ao que parece, pelos agentes do rei português para não a conceder. Tudo isto por causa da numerosa população judaica existente em Portugal na altura, que a Princesa não queria ver no reino de que viria a ser rainha. D. Manuel I, que não queria o reino sem as lucrativas actividades do capital judaico, arranjou um subterfúgio ao ordenar o baptismo forçado de grande parte dos judeus, que se tornariam nos “cristãos novos”, inventores das alheiras (por exemplo), para mostrarem que também comiam “chouriços” como os outros cristãos “normais” – só que as alheiras não tinham carne de porco, claro.

O primeiro auto de fé realizou-se em 1540, tendo sido condenados a morrer na fogueira quatro homens e uma mulher. A execução teve lugar em finais de Outurbo desse ano, no Terreiro do Paço, a que assistiu D. João III e toda a corte, das varandas do Paço.

A Inquisição foi extinta gradualmente ao longo do século XVIII, desde que o Marquês de Pombal proibiu os autos-de-fé, embora só em 1821 se dê a extinção formal em Portugal numa sessão das Cortes Gerais. Porém, para alguns estudiosos, a essência da Inquisição original, permaneceu na Igreja Católica através de uma nova congregação: A Congregação para a Doutrina da Fé, de que por exemplo, o Papa Ratzinger (Bento XVI) foi secretário antes de ser eleito Pontífice.

Jorge Machado-Dias

Execução de condenados no terreiro do Paço (o Paço Real ao fundo)

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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

ÀS QUINTAS FALAMOS DO CNBDI NO KUENTRO (23) – COLECÇÃO NonArte CADERNOS DO CNBDI (2) + AMIGOS DO CNBDI (16) por José Ruy

ÀS QUINTAS FALAMOS DO CNBDI - 23

Depois dos posts dedicados ao projecto da Associação de Autores, voltamos ao material do CNBDI, desta vez com o Catálogo de Autores de Banda Desenhada Portuguesa, de Nelson Dona e Cristina Gouveia – o 6º volume, editado em 2003, alterando nós aqui a ordem destes “Cadernos”. Mas acontece que este “Catálogo” vem talvez na sequência do Dicionário dos Autores de Banda Desenhada e Cartoon em Portugal, de Leonardo De Sá e António Dias de Deus, o 2º volume da colecção, editado em 1999 e postado aqui no Kuentro em 2 de Maio de 2013. De referir que este “Catálogo” nos parece um pouco despropositado nesta colecção do Centro, uma vez que o Dicionário dos Autores é muito mas completo, contendo as biografias e principais obras de cerca de 550 autores. O “Catálogo”, além de catalogar as obras de apenas 77 autores, ficou obviamente limitado às obras publicadas até 2003 (pelo que o seu interesse é diminuto), numa edição quase luxuosa, a cores. Isto para não falar das várias gralhas e algumas incorrecções que nele encontrámos. 

COLECÇÃO NonArte 
CADERNOS DO CNBDI (2)
CATÁLOGO DE AUTORES 
DE BANDA DESENHADA PORTUGUESA



Catálogo de Autores de Banda Desenhada Portuguesa
Nelson Dona e Cristina Gouveia
Formato 23 x 35, 88 págs a cores
2003, CNBDI – Câmara Municipal da Amadora

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AMIGOS DO CNBDI (16)

José Ruy

Na quarta e última sessão de 2011que se realizou no CNBDI, na rubrica «Às Quintas Falamos de BD», o tema escolhido pela direção foi: «Novos Caminhos para a BD».


Poucos meses antes, tinha sido convidado pelo professor Paulo Guinote a fazer uma sessão sobre o meu trabalho pedagógico em «Quadrinhos», numa escola da Baixa da Banheira.

Quando me veio buscar ao ateliê, acompanhava-o um jovem que se me apresentou: era o Luís Cruz Guerreiro, autor de Histórias em Quadrinhos, mas com uma particularidade muito curiosa.

As suas aventuras não eram desenhadas em papel, como tradicionalmente, nem em suporte digital, processo mais atual, mas sim sobre painéis de azulejo. Isso mesmo. Cada prancha era concebida em superfícies de conjuntos de seis azulejos de formato normal, desenhada com contornos a preto e colorida com as tintas próprias da azulejaria para irem à mufla cozerem. A grande dificuldade no colorido, está em que as tintas são à base de cinzentos, e só depois da temperatura do forno se transformam nos vermelhos, nos amarelos, azuis e outras cores. Eu desconhecia este artista e a sua arte. Fiquei fascinado, até porque ele não se limitou a fazer uma experiência ou uma história curta, tinha já uma aventura com 18 «páginas» que completava o primeiro episódio de uma série de cinco, a publicar até 2015, em que se encontrava a trabalhar. Essa história tinha-a já impressa em papel de ótima qualidade, formando uma revista com 28 páginas, envernizada, o que lhe emprestava o aspeto do vidrado do azulejo. Dentro, uma separata desdobrável com a reprodução de um painel de 36 azulejos.

Ainda mais curioso, é que o Luís Guerreiro não aproveitou a esquadria de cada azulejo para delimitar as vinhetas. Desenhava à vontade, contrariando as uniões. Essa revista foi impressa no Rio de Janeiro, por «Arquimedes Edições».

No sonho deste amigo, a que ele próprio apelida de utopia, estava o de conseguir uma «encadernação» em couro dos originais, num livro gigante. A história é aliciante, passada noutras galáxias, numa antecipação científica cheia de movimento e aventura.

Pensei logo que seria uma novidade para incluir na sessão do CNBDI, com o tema: Novos caminhos para a BD. Participei à diretora do Centro, que acolheu esta novidade com muito agrado e às 21 horas do dia de 26 de Maio de 2011 fez-se essa sessão memorável.

Participaram O Luís Guerreiro, o João Amaral, o José Pires e eu, todos autores de narrativas gráficas ou quadrinhos. Quando o Guerreiro apresentou a base em que trabalhava as suas Historias o espanto foi geral. Não era de supor antes, que um original de BD pudesse ter um tal suporte. Depois ele explicou todo o desenvolvimento do processo, para delícia da assistência.

O João Amaral apresentou um Power Point onde demonstrou o seu processo de dar a cor digitalmente, depois do desenho a traço da construção das figuras, feito a tinta-da-china em papel, começando por aplicar os tons mais fortes e depois sobre essas zonas, a sobrepor as tonalidades mais claras, afinal na técnica da pintura tradicional do óleo sobre tela ou madeira.

Ao contrário da aguarela, que começa pelos tons mais claros e suaves sobrepondo-se-lhe os mais escuros. E isto digitalmente. O José Pires que foi pioneiro entre nós a usar o Photoshop para colorir as suas histórias, mostrou os originais a tinta-da-china sobre papel vegetal das diversas personagens, que trabalha isoladamente, para as reunir em cada vinheta, depois de digitalizadas, e já no computador. De resto chegou-se à conclusão de que tanto o João Amaral como eu, tínhamos sido aliciados e iniciados no digital pelo José Pires. Pela minha parte, devo também muito aos ensinamentos amigos do arquiteto Leonardo De Sá, no que hoje consigo realizar neste «novo caminho da BD».

Foquei a minha intervenção na observação dos «muitos caminhos que têm vindo a ser usados na BD» através do tempo, e não apenas nos atuais, a que chamamos «novos». Desde que comecei a fazer Histórias em Quadrinhos, na década de 1940 até 2011 (na altura desta sessão), assisti e trabalhei nos vários processos em evolução constante, considerando que afinal tem sido a Arte Gráfica a impor sempre o modo como se tem trabalhado os originais da narrativa gráfica. É ela que tem marcado o caminho que se discutia naquela sessão no CNBDI.

Perguntei aos presentes se sabiam a razão porque não existem hoje originais do Tiotónio, das personagens Zé Pacóvio & Grilinho publicadas n’O Mosquito. Estava à vontade porque privei com ele e assisti ao seu processo de trabalho durante anos pois era vizinho dos meus pais na Amadora. Ninguém soube responder, mesmo os participantes nas palestras. Expliquei então o «mistério» porque logo após a publicação dos seus desenhos os originais desapareciam.


(continua...)

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