segunda-feira, 20 de junho de 2016

BDpress #469 – O FUNDO DAS TREVAS – TEXTO SOBRE OS VAMPIROS DE FILIPE MELO E JUAN CAVIA – NO EXPRESSO


BDpress #469
O FUNDO DAS TREVAS

Expresso revista E, 18 de Junho de 2016

Texto José Mário Silva

Filipe Melo e Juan Cavia 
descem aos abismos da Guerra Colonial 
numa novela gráfica exemplar. 

O português Filipe Melo (n. 1977) e o argentino Juan Cavia (n. 1984) formam uma dupla que agitou as águas da BD nacional nos últimos anos, com a publicação dos três volumes de "Aventuras de Dog Mendonça e Pizza Boy" (a que se acrescentou um quarto, com "contos inéditos"). De pendor fantástico, a trilogia punha em cena um lobisomem de meia-idade, um demónio com seis mil anos, a cabeça de uma gárgula e um prosaico entregador de pizzas, em luta contra vários tipos de forças maléficas, tendo a cidade de Lisboa como cenário. A par da agilidade narrativa e desenvoltura dos diálogos, o que mais impressionava era a espantosa qualidade plástica destes livros, a sua exuberância visual, capaz de pedir meças ao que de melhor encontramos, dentro do género, em publicações estrangeiras (e não foi certamente por acaso que chegaram ao mercado americano, com chancela da Dark Horse Comics).

Com "Os Vampiros", Melo e Cavia sobem uma parada que já estava bastante alta. Quer pela temática quer pela abordagem ficcional, esta novela gráfica pode chegar a um público mais alargado, nomeadamente aquele que não tem por hábito comprar banda desenhada. Construído como um filme de ação (fruto talvez da experiência cinematográfica dos autores: Melo como realizador, Cavia como diretor de arte), o livro circula por um território raras vezes abordado pela BD portuguesa: a Guerra Colonial. E se havia um risco evidente na escolha de um tema tão delicado, o certo é que o argumento revela-se à prova de bala. Embora nascido alguns anos após o final do conflito, Filipe Melo documentou-se, pesquisou durante quatro anos, e falou com ex-combatentes, tendo reunido mais de 50 horas de depoimentos. O resultado dessa investigação pressente-se em cada prancha, em cada fala, em cada discussão ou troca de insultos entre os soldados. Isto é, na densidade psicológica e absoluta verosimilhança de todas as personagens. No início, os soldados são nove, a que se soma um guia negro. Em vez de nomes próprios, têm alcunhas: o Fátima (porque vem da terra das aparições), o Totobola (sortudo que escapou várias vezes à morte certa), o cigano, etc. Formam um grupo coeso, sob o comando de um sargento duro, e cabe-lhes cumprir uma missão aparentemente simples: entrar no Senegal, em dezembro de 1972, e localizar uma base do PAIGC junto à fronteira. À medida que se adentram no mato, porém, a realidade da guerra assume os contornos de um horror puro, meio caminho andado para a suspensão dos códigos morais e das distinções entre bem e mal. Aos poucos, o grupo vai sendo dizimado e a corda da loucura estica-se até ao ponto de máxima tensão, levando em particular dois dos militares aos respetivos limites: Agostinho, o médico que se insurge contra as atrocidades (cortar orelhas aos inimigos mortos, por exemplo); e Machado, o homem marcado pelo trauma (a culpa pela perda da mulher e filha pequena) que acaba sendo o fio que cose uma história de deambulação pelo fundo das trevas, essa experiência da guerra enquanto personificação de um monstro que tudo devora e, nas palavras do Padre António Vieira (citadas em epígrafe), "quanto mais come e consome, tanto menos se farta". São vários os sentidos da palavra "vampiro": do nome da companhia de comandos, que operava na Guiné, à letra da célebre canção de José Afonso, mas em última análise é uma metáfora para a desumanização de quem combate sem saber porquê, como as páginas finais, ao colocarem face a face dois homens com histórias e perdas simétricas, tão bem ilustram.

Nota final para a irrepreensível qualidade gráfica desta edição, de capa dura e impecavelmente impressa. Também nesse plano, este livro é um marco na BD portuguesa contemporânea. Esperemos que outros se sigam, porque a fasquia passou a estar lá muito em cima.

OS VAMPIROS Filipe Melo e Juan Cavia Tinta da China, 2016. 228 págs. €:24.90
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Nota do Kuentro
Deixo aqui fotos de algumas pranchas de Juan Cavia ainda sem estarem finalizadas, 
expostas na exposição patente na cafetaria 
do Centro Cultural e de Congressos (CCC) de Caldas da Rainha:







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sábado, 18 de junho de 2016

GAZETA DA BD #59 - OS VAMPIROS - O NOVO LIVRO DE FILIPE MELO (argumento) E JUAN CAVIA (desenhos)


GAZETA DA BD #59
NA GAZETA DAS CALDAS
OS VAMPIROS
O NOVO LIVRO 
DE FILIPE MELO (argumento) 
E JUAN CAVIA (desenhos)
17 de Junho de 2016

Jorge Machado-Dias


A Guerra Colonial teve uma discreta abordagem na BD portuguesa, penso que talvez devido ao trauma da vivência daquela guerra por quase toda a população até ao 25 de Abril, embora as quesílias mentais e físicas se prolongassem por muito tempo depois. A última abordagem ao tema tinha sido o álbum Cinzas da Revolta, com argumento de Miguel Peres e desenhos de João Amaral (Jhion), publicado pela Asa em 2012.

Agora surge o livro com argumento de Filipe Melo e ilustrado pelo argentino Juan Cavia com o título Os Vampiros, tendo sido lançado no passado dia 28 de Maio no XII Festival de BD de Beja. Não é propriamente um livro sobre a Guerra Colonial, mas ambientado nela, mais propriamente na Guiné, talvez o pior teatro da Guerra Colonial. O livro teve também lançamento nas Caldas da Rainha, na livraria Bertrand com sessão de autógrafos, no passado dia 12, tendo-se realizado no Centro Cultural e de Congressos uma sessão de Masterclass com os autores. Até dia 13 de Julho está patente também no CCC, uma exposição sobre este livro.

O músico Filipe Melo já tinha escrito o argumento de “Dog” Mendonça e Pizzaboy (3 volumes), com desenhos de Juan Cavia e cor de Santiago Villa. Os três volumes tiveram enorme sucesso junto dos fâs da BD, com mais de 30.000 exemplares vendidos.

Em Os Vampiros, o registo é bastante diferente. Passa-se na Guiné, em Dezembro de 1972, quando um grupo de soldados portugueses é destacado para uma operação secreta no Senegal. Porém, à medida que vão sendo consumidos pela paranóia e pelo cansaço, esta missão aparentemente simples vai transformar-se num verdadeiro pesadelo. Embrenhados na selva, estes homens terão de confrontar sucessivos demónios – os da guerra e os que trouxeram consigo.

Segundo Filipe Melo, em entrevista com Geraldes Lino, “A primeira versão do guião surgiu em 2010, quando tinha acabado de lançar o primeiro "Dog" Mendonça e Pizzaboy. Tinha uma ideia da narrativa em traços gerais, mas precisava de tempo para fazer o trabalho de investigação. Fui fazendo as coisas com o devido tempo e calma. À medida que fui explorando o tema, fui ficando motivado pela tentativa de fazer uma história diferente das que tinha feito antes, mais ambiciosa. Queria depositar mais confiança no leitor e dar espaço para que tire as suas próprias conclusões. Suponho que a história surgiu devido ao triplo significado da palavra Os Vampiros: é a criatura mitológica, é o nome de um grupo de comandos que combateu na Guiné e é também o nome da emblemática canção do Zeca Afonso. A guerra colonial pareceu-me o cenário ideal para contar uma história que falasse sobre o medo, sobre a paranóia e sobre a natureza cíclica da guerra”. (Em http://divulgandobd.blogspot.pt/2016/05/os-vampiros-de-filipe-melo-e-juan-cavia.html).

Em outra entrevista refere: “Tinha uma curiosidade natural sobre o tema da Guerra Colonial, li muito sobre o assunto e começou a surgir a ideia abstracta da história que queria contar. Inicialmente, o argumento era mais tradicional, era uma história de terror clássica, mas foi-se transformando noutra coisa. É uma reflexão sobre o que se passou nessa guerra e sobre uma geração que viveu uma experiência horrível à força. Não se consegue recuperar. Felizmente, nunca passei por nada assim, não imagino como seria. Queria muito falar sobre o medo, o terror no estado puro, e pareceu-me o cenário ideal. Claro que vi documentários, alguns livros, mas, mais do que tudo realizei cerca de 50 horas de entrevistas com ex-combatentes. Conheci pessoas com histórias incríveis e com visões diferentes do que se passou naqueles anos”.

Os Vampiros é um livro de 232 páginas, com capa dura, editado pela Tinta da China. Contudo devo acrescentar que os quatro volumes de As Aventuras de “Dog” Mandonça e Pizzaboy (os três editados inicialmente e o quarto editado este ano, com a história publicada na revista Dark Horse Presents nos EUA), totalizam 336 páginas.

Filipe Melo é um músico que se dedica também ao cinema e à banda desenhada. Estudou no Hotclube de Portugal e no Berklee College of Music, em Boston. Escreveu, produziu e realizou vários projectos de culto: I’ll See You in My Dreams, vencedor do Fantasporto 2004 e Um Mundo Catita, série de televisão exibida na RTP. Realizou ainda videoclipes, documentários e anúncios publicitários. Actualmente, é professor na Escola Superior de Música.

Juan Cavia trabalha como director de arte para cinema e publicidade, destacando-se a sua participação como set designer no fillme El Secreto de Sus Ojos, vencedor do Óscar para Melhor Filme Estrangeiro em 2010.




  


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terça-feira, 14 de junho de 2016

CLUBE PORTUGUÊS DE BD – REPORTAGEM FOTOGRÁFICA DOS COLÓQUIOS REALIZADOS A 11 DE JUNHO


CLUBE PORTUGUÊS DE BANDA DESENHADA
REPORTAGEM FOTOGRÁFICA 
DOS COLÓQUIOS REALIZADOS 
A 11 DE JUNHO

FOTOS DE DÂMASO AFONSO

O Cliube Português de Banda Desenhada realizou dois colóquios na sua sede, no passado dia 11 sobre OS VAMPIROS o novo livro de Filipe Melo (arg) e Juan Cavia (des) com a presença dos autores e depois COMO CONHECEMOS A PERSONAGEM TEX. Para o colóquio sobre Tex foram conviados José Carlos Francisco, Mário Marques e Carlos Moreira. Prevista para 23 de Junho a 26 de Agosto vai estar patente na Bedeteca da Amadora a exposição de Augusto Trigo, com originais de pranchas, resultantes da sua porfícua colaboração com o argumentista Jorge Magalhães.

Aqui fica a reportagem fotográfica de Dâmaso Afonso nos Colóquios realizados.

 



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domingo, 12 de junho de 2016

REPORTAGEM – 384ª TERTÚLIA BD DE LISBOA – 7 DE JUNHO 2016 – 31º ANIVERSÁRIO


REPORTAGEM
384ª TERTÚLIA BD DE LISBOA
7 DE JUNHO 2016
31º ANIVERSÁRIO
INICIADA POR GERALDES LINO A 4 DE JUNHO DE 1985 

CONVIDADOS ESPECIAIS

JORGE DEODATO Jorge Deodato nasceu em Loures em 1968, e tem o Bacharelato em Novas Tecnologias da Produção pelo Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ). Participou em diversos concursos e exposições de Banda Desenhada como Amadora BD, Comicarte - Porto, Lisboa e Sobreda da Caparica. Publicou banda desenhada, ilustrações textos da especialidade no Banda (1987-93), de que foi co-editor, no Shock Fanzine, Café no Park (1992-93), Mercantologia, Mesinha de Cabeceira, bem como no álbum coletivo Entroncamento de BDs. Foi um dos sócios fundadores da Associação Jogo de Imagens que publicou a revista Azul BD Três e Azul. Fundou a Edições Polvo, Lda com o Rui Brito e o Pedro Brito (1997-2007). Cria a chancela Escorpião Azul em 2013.

SHARON MENDES Nasceu em Toronto em 1992. Licenciou-se em Pintura pela Faculdade de Belas- Artes de Lisboa e tem participado desde 2012 em eventos e exposições colectivas. Ultimamente tem feito exposições individuais cujos temas se baseiam na Vida Natural e no Mundo Orgânico. Considera-se artista plástica ou criadora de imagens, num sentido mais amplo, porque o seu gosto e interesse pessoal interliga-se em vários caminhos diferentes dentro do mundo da Artes Visuais considerando-os todos importantes. Por esta razão, devido a uma recolha de “diversas fontes”, são várias os processos e materiais a que recorre para elaborar os seus trabalhos. No seu caminho artístico insere-se a fotografia, gravura, desenho, ilustração, caricatura e pintura. O gosto em explorar e fazer banda desenhada surgiu relativamente há pouco tempo. Em 2014 ilustra o livro juvenil “ A Batalha de Pedra”,seguido de ”Rafael o Montanhês” do escritor Gabriel Raimundo. Em 2015 publica o seu primeiro livro de banda desenhada “As Aventuras da Família de Craig”.

HISTÓRIAS DO OUTRO MUNDO

A ficção científica nasceu como um subgénero literário na década de 1920, cujos conteúdos se baseiam em supostos feitos científicos ou técnicos que poderiam acontecer no futuro.
Com efeito, muitos autores de ficção científica conseguiram antecipar a criação dos mais variados inventos, como foi o caso de Júlio Verne com os submarinos ou as naves espaciais. Com o tempo, foi-se alargando a diferentes formatos como o cinema ou a banda desenhada. Como tal esta obra quer homenagear este género através de um conjunto de histórias desenhadas por novos autores portugueses de banda desenhada com influências que vão desde o franco-belga, passando pelos comics americanos acabando no manga, uma verdadeira identidade lusa.

Contacto: editora.escorpiaoazul@gmail.com

SOBRESSALTOS

Vinte momentos de horror, outros tantos sustos e “sobressaltos”, nesta antologia de contos de terror por alguns dos melhores autores portugueses de banda desenhada.
Sobressaltos nasceu de um pedido por parte da organização do evento Sustos às Sextas para uma exposição ligada à banda desenhada de terror. Comissariada por Geraldes Lino e por Bruno Caetano, da Comic Heart, essa exposição fez nascer a vontade de criar algo que prestasse homenagem às pequenas histórias curtas de duas páginas apresentadas.

Uma co-edição Comic Heart e Europress

SOBRESSALTOS – TERROR POR AUTORES PORTUGUESES DE BD

Vinte momentos de horror, outros tantos sustos e “sobressaltos”, nesta antologia de contos de terror por alguns dos melhores autores portugueses de banda desenhada.
Sobressaltos nasceu de um pedido por parte da organização do evento Sustos às Sextas para uma exposição ligada à banda desenhada de terror. Comissariada por Geraldes Lino, um dos mais entusiastas fãs de BD de sempre no nosso país, e por Bruno Caetano, da Comic Heart, essa exposição fez nascer a vontade de criar algo que prestasse homenagem às pequenas histórias curtas de duas páginas apresentadas. O resultado foi esta antologia que reúne pequenos episódios, momentos de terror, instantes de humor e pausas para reflexão, desenhadas por vinte grandes desenhadores (com apoio de dois argumentistas): um verdadeiro catálogo do que de melhor se faz em banda desenhada no nosso país! O resultado foi esta antologia que reúne pequenos episódios, momentos de terror, instantes de humor e pausas para reflexão, desenhadas por vinte grandes desenhadores (com apoio de dois argumentistas): um verdadeiro catálogo do que de melhor se faz em banda desenhada no nosso país!

Com histórias de Álvaro, André Oliveira, Andreia Rechena, Bruno Caetano, Carlota Borba, Fernando Relvas, Filipe Alves, Joana Afonso, João Sequeira, José Lopes, José Smith Vargas, Luis Cavaco, Mosi, Nuno Rodrigues, Osvaldo Medina, Pedro Brito, Pepedelrey, Ricardo Drumond, Ricardo Santo, Rui Gamito, Rui Lacas, e Tiago Pimentel. Prefácio de António Monteiro.

A antologia “Sobressaltos” nasce da necessidade de publicar os resultados da exposição homónima, comissariada por Geraldes Lino e Bruno Caetano (Comic Heart), a pedido da organização do evento Sustos às Sextas.
A selecção dos artistas presentes, uns a convite de Geraldes Lino e outros a convite de Bruno Caetano, revelou jovens artistas ao mesmo tempo que apresentou novos trabalhos de nomes bem conhecidos no mercado de banda desenhada nacional, fazendo deste projecto algo que permite a descoberta ao mesmo tempo que nos traz um sentimento de familiaridade em algumas obras.

Dada a visível qualidade presente nos trabalhos apresentados, desenvolveu-se o projecto e procuraram-se parceiros, após algumas barreiras de cariz financeiro, o editor José Hartvig de Freitas foi contactado e, através da sua longa experiência, facilitou o desenvolvimento do projecto através de uma sempre presente coordenação.
Foi então que Carlos Vintém (Europress) mostrou interesse e apostou em co-editar este acervo de obras de terror por autores portugueses e, com a entrada de Hugo Jesus na paginação e António Monteiro (Sustos às Sextas) responsável pelo texto introdutório, o projecto ganhou não só asas como um tamanho ímpeto que só parou no Festival de Banda Desenhada de Beja onde teve o seu lançamento.

Formato: 23 x 32, capa mole, preto e branco.
Uma co-edição Comic Heart e Europress
ISBN: 978-972-559-347-9
PVP: 11,95€
Distribuição:
Europress Editores e Distribuidores de Publicações
Tel. 218 444 340 - geral@europress.pt
www.europresseditora.pt
Comic Heart: bruno@comicheart.com
www.comicheart.com

COMIC JAM


1 - Sharon Mendes
2 - Pepedelrey
3 - Catarina Dantas
4 - Mitsu
5 - Luís Cavaco
6 - Andreia Rechena

FOTOS
(de Álvaro)

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