quarta-feira, 5 de julho de 2017

Gazeta da BD #74 – Heróis da BD Portuguesa 6 – Tónius o Lusitano – de Fernando Tito e José André


Gazeta da BD #74 – 23 de Junho de 2017
Heróis da BD Portuguesa – 6
Tónius o Lusitano
de Fernando Tito e José André

Com argumento e cores de Fernando Manuel Tito e desenhos de José Ferreira André, Tónius o Lusitano – A Truta de Ouro, surgiu em Abril de 1979 na 2ª série da revista Spirou. Tratava-se de uma tentativa de criar um herói mais ou menos semelhante a Asterix, mas cujas aventuras decorriam na Lusitânia visigótica, depois da invasão islâmica (já por volta de 716). Com esta intenção, os romanos foram substituídos pelos mouros, havendo o cuidado de evitar os paralelismos, o que talvez tenha sido em parte conseguido.

Claro que nem Tito possuía o génio de Goscinny, nem André a destreza gráfica de Uderzo. Mas a experiência parece não ter corrido mal de todo. Apesar de se tratar de uma “imitação” de Asterix, as aventuras de Tónius eram um bocado diferentes, como não podiam deixar de ser – tanto na construção dos argumentos, na utilização gráfica interessante dos balões e das legendas, no aproveitamento da sonoridade das palavras e de alguns anacronismos como fonte de humor. Contudo partilhava com o pequeno guerreiro gaulês alguns pontos base, como o facto de viver numa aldeia (o castro de Pedróbriga), que resistia aos invasores – neste caso os mouros – a quem os lusitanos distribuiam “castanhadas” sempre que possível. Tónius era hábil no manejo da funda (arma que não existe em Asterix) e tinha como parceiro de aventuras, um encorpado apreciador de trutas, de nome Chicolindus, contraponto de Obelix, o apreciador de javalis. Havia também Videntius, um bruxo vidente como o nome indica, a contrapor ao druida Panoramix de Asterix e o chefe da aldeia, um tal Herminius, que não mandava grande coisa – tal como sucedia com o chefe gaulês... Mas as semelhanças ficavam-se por aqui. Refira-se que os nomes dos lusitanos apresentam todos sonoridade latina, uma vez que na época visigótica era a língua usada – o latim vulgar, ou tardio.

Depois de A Truta de Ouro ter sido publicada até ao nº 22 da revista Spirou, o herói regressaria com Uma Aventura nas Astúrias, que seria publicada apenas em álbum, primeiro em edição simultânea belga e neerlandesa, pela editora flamenga Het Volk e pela holandesa CentriPress, com os títulos De Gouden Forel (1980) e De Asturiers (1981), sendo também editado pela editora finlandesa Lehtimiehet Oy, com o título impenetrável Kultainen Taimen (1981). Em Portugal seria editado em 1981 pela Editorial Futura.

Devo dizer que a única história que li de Tónius foi mesmo esta, Uma Aventura nas Astúrias, em que o enredo me pareceu basicamente frágil e muito linear. Tónius vai com Chicolindus, Tigagus e Tintus, a pedido do asturiano Recesvindo, servir de escolta a este, até à sua terra, Astorga, nas Astúrias. Após alguns acidentes de percurso, ouvem o “fado” em Aeminium (a Coimbra antiga) e, depois de mais alguns incidentes e alguns encontros com mouros pelo caminho, lá chegam a Astorga. Portanto, tudo muito pouco imaginativo, embora a história se leia com algum interesse. Mas nada que possa sequer parecer-se com as características subtilezas e o humor da obra prima de Goscinny e Uderzo.

Na Bélgica e na Holanda seria ainda publicada uma terceira história, A Invasão dos Alfas, até hoje inédita em Portugal. As duas primeiras histórias foram reeditadas no Jornal da BD (1984/1985), tendo os autores deixado incompletos dois outros projectos, A Pedra do Norte (argumento completo, parcialmente desenhado) e Tónius e as Sete Maravilhas (apenas com a ideia base esboçada).

Tónius, apesar da carreira breve ainda protagonizou, com amigos e adversários, um jogo de loto cuja base eram caricas de Sumol!

Dos autores podemos dizer que Fernando Manuel Tito nasceu a 27 de Setembro de 1943, no Vidago.
Começou a trabalhar em banda desenhada de parceria com José Ferreira André, publicando as suas primeiras pranchas na revista Visão, em 1975. Seguiu-se Tónius o Lusitano, mas devido a divergências com a editora, Tito e André abandonaram o seu herói, em favor do mais rentável trabalho em arte-final e publicidade para as revistas da Abril-Morumbi, com material das Walt Disney Productions. Jose Maria Ferreira André nasceu a 9 de Julho de 1939, em Lisboa. Frequentou um curso industrial e fez depois o serviço militar na Força Aérea. Começou a trabalhar no campo da banda desenhada também na revista Visão, em 1975. Viria a desenhar ainda para Fungagá da Bicharada, falecendo em 1993.



 
  
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TÓNIUS O LUSITANO
UMA AVENTURA NAS ASTÚRIAS














































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