segunda-feira, 12 de março de 2018

Gazeta da BD #90 – a última Gazeta da BD – COMER BEBER – de Filipe Melo e Juan Cavia


Gazeta da BD #90
9 Fevereiro de 2018
a última Gazeta da BD - na Gazeta das Caldas

COMER BEBER
de Filipe Melo e Juan Cavia 

Apesar do título Comer Beber, os dois episódios da história têm uma sequência inversa. O livro começa com Beber e termina com Comer. Primeiro em volta do champanhe e depois, de uma tarte de maçã...

Beber (Majowsky)

Janeiro de 1917, a cidade de Katowice situava-se perto da fronteira entre o império alemão, ao qual pertencia e o reino da Polónia, entretanto ocupado pelo império russo. Actualmente é a capital da Silésia polaca. Perante a devastação da 1ª Guerra Mundial, a escassez de alimentos levou a que o polaco Majowsky, como todos os habitantes da cidade. tivesse que ir para as filas de racionamento, onde quase só havia batatas para distribuir. Decide partir com a família para Berlim.

Berlim, março de 1935. O bem sucedido restaurante Majowsky é frequentado pela alta sociedade alemã e onde actuava Marlene Dietrich... No entanto, quando em Novembro de 1943 a Alemanha nazi tinha já começado a sucumbir perante as forças aliadas, Franz Majowsky esconde uma garrafa do seu melhor champanhe Dom Pérignon num cofre. A certa altura Franz e a sua mulher Frieda, perante as sirenes de alerta para ataque aéreo têm que se refugiar num dos abrigos antiaéreos, enquanto Berlim é pasto das bombas da aviação aliada. No final, todo o bairro esta em destroços. Majowsky vai às ruinas do seu restaurante e consegue encontrar a preciosa garrafa de champanhe, intacta!

Comer (Sleepwalle)

Yuma County, Arizona, 1948. Lloyd segue no seu carro por uma das estradas inter estaduais típicas dos EUA. Pára numa estação de serviço para reabastecer o depósito e pergunta onde mora Dolores Barrett. O empregado pergunta logo: “o Darren meteu-se em sarilhos outra vez?” Na morada indicada, Lloyd Jenkins pergunta por Dolores a uma moradora que está sentada no alpendre, que responde: “a Dolores está no trabalho. O que se passa? É o miúdo dela, outra vez?”

Não vou referir o encontro de Lloyd com Dolores, nem o final da história para deixar uma ponta de suspense para os eventuais leitores.

Tudo isto resulta do pedido que Carlos Vaz Marques fez a Filipe Melo, depois de lêr Os Vampiros, de uma história em BD para ser publicada na revista literária Granta, de que é o director.

Foi no relato de uma amiga (Nádia Schilling) acerca do episódio familiar em que o seu bisavô, quando ocorreram os bombardeamentos a Berlim pela aviação aliada, correu a esconder a melhor garrafa de champanhe que guardava no restaurante, que Melo pensou de imediato assim que chegou o convite da Granta. Depois foi preciso convencer a amiga a autorizar que a história saísse do reduto familiar e pudesse chegar à casa de desconhecidos.

Carlos Vaz Marques escreve no Prefácio: “Impressionado pelo fôlego narrativo de Filipe Melo e Juan Cavia em Os Vampiros, ocorreu-me de repente que queria ter uma coisa assim na Granta. Até os nossos actos mais generosos nascem, por vezes, do mais puro egoísmo. O Filipe disse-me imediatamernte que sim, falou com o Juan, que também aceitou a ideia, e fiquei à espera.

No episódio seguinte depois de dez partidas de xadrez online vencidas consecutivamente por ele: sem apelo nem agravo ou qualquer consideração pelo seu futuro editor – comunicou-me que não teria apenas uma, mas duas histórias para a Granta.

Resisti um pouco à ideia, não só para poder usar as minhas prerrogativas de director mas porque me apercebi, de repente, de que as dimensões da colaboração da dupla Melo/Cavia, em páginas a cores, fariam disparar os custos de produção da revista.

A persistência do Filipe Melo viria, no entanto, a levar a melhor. Não foi preciso muito, aliás. Bastou-lhe mandar-me os guiões e os primeiros esboços de Cavia. Ficou definido que a colaboração de ambos na Granta dedicada aos temas Comer e Beber apareceria em dois andamentos: no primeiro, a imaginação cinéfila de Filipe Melo transporta-nos para um cenário de filme americano de série B; no segundo, recuamos ao periodo negro da Segunda Guerra Mundial.

Pela primeira vez, Filipe Melo e Juan Cavia pegaram num caso real para o transformar num comovente conto visual. A história do bisavô de Nádia Schilling, uma grande amiga de Filipe, narradas pela sua mãe num diário pessoal. «A minha avó contara-me que, no dia em que a Alemanha ocupou a Polónia, o avô foi buscar a melhor garrafa de champanhe que tinha no seu restaurante e correu a escondê-la, num recanto que só ele sabia. Ninguém era capaz de imaginar, nessa altura, que algo pudesse correr mal.” ·

Comer Beber foi apresentado na Comic Con Portugal, em Matosinhos, e depois na FNAC Chiado, em Lisboa, com a presença do argumentista português e do desenhador argentino. 


As capas alternativas de Comer-Beber

COMER BEBER

Filipe Melo (argumento) com Nadia Schilling em Beber, Juan Cavia (ilustração), legendagem de Pedro Serpa.

Livrinho com 13,6 x 19,3 cm, em capa dura e 72 páginas, editado pela Tinta da China.








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Caríssimos leitores, devido a constrangimentos de espaço, a Gazeta da BD termina na Gazeta das Caldas com este artigo.

Ao fim de cinco anos e 90 artigos, penso que o contributo para uma maior apetência do público de Caldas da Rainha pela banda desenhada não foi mau. Restará saber se foi útil. Para mais, com a republicação de todos os artigos, como “recortes de imprensa” no blogue do BDjornal, o kuentro.blogspot.pt, o nome da Gazeta das Caldas chegou a leitores improváveis por todo o país e outros pontos do mundo, em que que destaco os meus fiéis leitores do Brasil, Angola e Moçambique, além de outros países. Já agora, o Kuentro atinge um universo de cerca de 20.000 leitores, fãs da banda desenhada, espalhados pelo planeta, de Portugal ao Japão.

Claro que poderei voltar a escrever sobre BD (ou mesmo outros temas) aqui na Gazeta, caso haja interesse, embora num formato mais curto e consentâneo com o espaço disponível.

Por agora e a partir de agora, a Gazeta da BD será apenas publicada com matéria original, no Kuentro. 


E aproveitando a garrafa de champanhe de Majowsky resgatada das ruínas, depois do bombardeamento de Berlim, proponho um brinde de despedida aos leitores da Gazeta da BD na Gazeta das Caldas.

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