quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

WATCHMEN - RORSCHACH E O DR. MANHATTAN, OS PROTAGONISTAS DESTE VOLUME 2

RORSCHACH E O DR. MANHATTAN
OS PROTAGONISTAS DESTE VOLUME 2


Watchmen – Doomsday Clock Vol 2 – Watchmen: Temível Simetria
Argumento – Alan Moore
Desenhos – Dave Gibbons
Sábado, 22 de Fevereiro

Por+9,90€


Texto de João Miguel Lameiras

BDpress #535 Recorte do artigo publicado no Público de 15/02/2020

Depois de no primeiro volume desta colecção termos acompanhado a investigação de  Rorschach para descobrir quem matou o Comediante e conhecido o passado dos Homens Minuto, bem como de alguns dos membros que constituíram o primeiro grupo de super-heróis da América, neste segundo volume da série premiada de Alan Moore e Dave Gibbon o foco é outro, mais centrado em duas personagens principais.

Essas personagens que sobem agora à ribalta e assumem o protagonismo são Rorschach, o temível vigilante que assumiu a tarefa de desvendar o homicídio do Comediante e pôr a nu as contradições e hipocrisias dos super-heróis da sua América natal, e Jonathan Osterman, o estranho e poderoso homem de pele azul agora conhecido pelo nome de Dr. Manhattan. Duas personagens que não podiam ser mais distantes, mas que encarnam a lucidez fria e implacável deste universo criado por Alan Moore a partir das personagens da editora Charlton.

Inspirado em Questão, um dos heróis da Charlton Comics comprados pela DC, Walter Kovacs, Rorschach é um indivíduo claramente perturbado, vítima de uma inlancia traumática, que procura fazer justiça pelas próprias mãos. Alguém que é profundamente humano nos seus traumas e neuroses, mas que, apesar de não ser alguém minimamente recomendável, se tornou a mais popular personagem dos Watchmen, algo que deixou Alan Moore entre o divertido e o preocupado.

Já Jon Osterman, o Dr. Manhattan, apesar de ser inspirado no Capitão Átomo, da Charlton, é mais um arquétipo do Super-Homem nietzschiano que Moore volta a explorar depois de Miracleman. Alguém mais do que humano, liberto das limitações da humanidade e que, por isso mesmo, se vai distanciando gradualmente dessa mesma humanidade, que para ele é cada vez mais um simples objecto de estudo.

Essa dicotomia é apenas um dos aspectos que a história explora, pois Watchmen é uma história cativante, muitíssimo bem contada e com personagens muito bem construídas.

Mas o ponto mais alto de Watchmen, e que é bastante evidente neste volume, é a forma como explora as imensas possibilidades narrativas da banda desenhada de forma extremamente inovadora e eficaz. Veja-se a utilização da história dentro da história nos Contos do Cargueiro Negro, a sangrenta história de piratas que um jovem negro está a ler no quiosque e cuja narrativa pontua e dialoga com a história principal. Contos do Cargueiro Negro que servem a Alan Moore para homenagear uma das mais importantes editoras da história dos comics americanos, a E.C. Comics, e um dos seus principais criadores, Joe Orlando, cujo estilo Dave Gibbons mimetiza na perfeição, muito ajudado pelas cores ácidas de John Higgins. A escolha de uma história de piratas, em vez de super-heróis, também tem toda a lógica, pois a E.C. nunca publicou super-heróis e, num mundo em que os super-heróis existem e foram ilegalizados, é natural que outros géneros de banda desenhada, como as histórias de piratas,
sejam bem mais populares.

Mas, em termos narrativos, um dos momentos mais espantosos de toda a série é o capítulo V, "Temível simetria", que como alude o título extraído do poema de William Blake, citado no final, é construído de forma simétrica.

Deste modo, a estrutura da primeira página funciona como espelho da última e assim sucessivamente até culminar naquela que é a única página dupla de toda a série, em que Adrian Veidt ataca e neutraliza o homem que o tentou matar. Um de muitos exemplos de como, também em termos narrativos, Watchmen é a mais importante novela gráfica de sempre.







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