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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

BANDA DESENHADA - PORQUÊ "NONA ARTE"?

Usamos a designação "nona arte" para a banda desenhada, mas, muita gente não saberá porquê. Deve-se tudo ao Manifesto das Sete Artes, do italiano Ricciotto Canudo, publicado em 1923:

MANIFESTO DAS SETE ARTES

O termo sétima arte para designar o cinema foi dado por Ricciotto Canudo* no Manifesto das Sete Artes, em 1911 (publicado apenas em 1923). Essa referência é apenas indicativa, cada uma das artes é caracterizada pelos elementos básicos que formatam a sua linguagem e classificadas da seguinte forma:

• 1ª Arte - Música (som);
• 2ª Arte - Dança/Coreografia (movimento);
• 3ª Arte - Pintura (cor);
• 4ª Arte - Escultura (volume);
• 5ª Arte - Teatro (representação);
• 6ª Arte - Literatura (palavra);
• 7ª Arte - Cinema (integra os elementos das artes anteriores mais a 8ª e no cinema de animação a 9ª).

Há uma certa dúvida se a ordem colocada estaria correcta, porém um maior número de pessoas concorda com a ordem encontrada, apenas criando uma grande dúvida na posição do teatro e da literatura.
Outras formas expressivas também consideradas artes foram posteriormente adicionadas ao manifesto:

• 8ª Arte - Fotografia (imagem);
• 9ª Arte - Banda desenhada (cor, palavra, imagem);
• 10ª Arte - Jogos de Computador e de Vídeo (alguns jogos integram elementos de todas as artes anteriores somado a 11ª, porém no mínimo, ele integra as 1ª, 3ª, 4ª, 6ª, 9ª arte somadas a 11ª desde a Terceira Geração dos Videojogos);
• 11ª Arte - Arte digital (integra artes gráficas computorizadas 2D, 3D e programação).

Banda desenhada, BD, história aos quadradinhos ou história em quadradinhos, quadrinhos, gibi, HQ, comics, tebeos, historietas, fumetti, mangá, manhwa, etc... é uma forma de arte que conjuga texto e imagens com o objetivo de narrar histórias dos mais variados géneros e estilos. São, em geral, publicadas no formato de revistas, livros, ou em tiras publicadas em revistas e jornais. Também é conhecida por arte sequencial, definição atribuida por Will Eisner (ver em DICIONÁRIO UNIVERSAL DA BANDA DESENHADA - pequeno léxico disléxico, de Leonardo De Sá).

A banda desenhada é portanto, chamada "Nona Arte" dando sequência à classificação de Ricciotto Canudo. O termo "arte sequencial" (traduzido do original sequential art), criado pelo autor norte americano Will Eisner com o fim de definir "o arranjo de fotos ou imagens e palavras para narrar uma história ou dramatizar uma ideia", é comummente utilizado para definir a linguagem usada nesta forma de representação. Uma fotonovela e um infográfico jornalístico também podem ser considerados formas de arte sequencial.

A banda desenhada é conhecida por comics nos Estados Unidos, bande dessinée em França, fumetti na Itália, tebeos em Espanha, historietas na Argentina, muñequitos em Cuba, mangás no Japão, manhwas na Coréia do Sul, manhuas na China e por outras várias designações pelo mundo fora.

(*) Ricciotto Canudo, [Gioia del Colle (Itália), 1877 – Paris, 10 de novembro de 1923] foi um teórico e crítico de cinema pertencente ao futurismo italiano. Estudou no «Instituto Tecnico Superiore de Bari», onde se licenciou em física e depois línguas orientais e estudos bíblicos, na Universidade de Florença.



Papagaio nº122 - Tim-Tim no Oriente (1937/08/12)

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2 comentários:

  1. Estas definições são um pouco tacanhas. Faltam ali umas tão antigas como a Música, a Pintura e a Escultura. A Arquitectura, o Design e o Erotismo.

    A Arquitectura e o Design não devem suscitar grande contorvérsia. As suas existências na Pré-história são indiscutíveis. O Erotismo, encarado aqui como o processo de excitação do outro (algo nem todos conseguem fazer com sucesso ou que nunca sequer tentaram) é tido como algo desprovido da “nobreza” que todas as outras grandes “artes” mencionadas na lista detêm. O Erotismo muito dificilmente será considerada uma “arte” porque para além do motivo “incompetência” (temos de ser nós próprios os autores) é praticamente impossível de materializar num objecto. Qualquer tentativa de o fazer é logo englobada numa dessas formas de “arte” listadas numericamente, considerada reles e classificada de pornografia. E esta depreciação tem algum fundamento porque a esmagadora maioria dos produtos porno são abaixo de cão. E a Pornografia acaba por ser sempre um expoente bastante limitado do Erotismo. É paga.

    O Erotismo nunca será encarado como forma de “arte” porque se envolver mais do que duas pessoas num ambiente privado, passa a manifestação pornográfica. Por acaso na Internet é a “arte” mais apreciada, mas como poucos admitirão apreciá-la...

    Voltemos àquela lista numerada reveladora de uma grande sensibilidade “artística” e abertura de palas do seu autor e seguidores.

    A própria listagem das “artes” é à partida um tiro no pé. Quem se lembrou disso deve ter uma noção muito limitada daquilo que considera “arte”, ou por absurdo, “artes”.
    Todas essas “artes” estão sempre interrelacionadas. A Pintura tem muitas vezes ritmo e usa ou sugere volume, a Escultura pode ter cor ou som, a Dança depende da Música, pode ter Pintura, manipula volumes e facilmente se torna teatral. O Teatro usa a Pintura, a Escultura, a Dança, a Literatura, o Design e a Arquitectura. A Arquitectura engloba... Ah, essa não existe por ali. O Design também não... A Literatura, coitadinha, acaba por ser a mais limitada e isolada das outras. Aparece secundarizada no Teatro, no Cinema e na Música.

    Também não faz qualquer sentido o Cinema aparecer antes da Fotografia.

    A classificada como 10ª, os Jogos Vídeo, parece-me bastante vaga. Quem é o artista aqui? O tipo que programou o jogo e todas as suas interactividades, o que desenhou ou modelou os cenários, as personagens e as bazucas ou o jogador solitário pela sua perícia?
    Mais uma vez por aqui se vê que quem se deu ao trabalho de chafurdar naquela lista olha para as coisas por um minúsculo orifício. É algo ainda mais imbecil do que classificar o Desporto ou o Futebol e outros combates de arena como “arte”.

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  2. (continuação do testamento começado acima)

    A Banda Desenhada parte de várias daquelas manifestações artísticas compartimentadas na lista do poste. Sustenta-se numa história (escrita o não), materializada por desenhos sequenciais, incluindo partes escritas ou não e andando a par com a lógica e estrutura teatrais/cinematográficas.

    Se algum maluquinho neurótico um dia se lembrou de a colocar na nona estante e a coisa pegou, tá bem pronto.

    Já agora, porque a insistência em classificar a BD como “arte” independentemente do seu lugar no pódio? Para mostrar ao mundo que a BD é uma coisa muito séria e digna de respeito? A esmagadora maioria da BD à venda é feita a metro, em série, por equipas de funcionários despersonalizados. É muito má. Tal como a maioria das obras de Cinema, Literatura, Pintura, manifestações de dança, etc...

    A “arte” encontra-se ou surge em qualquer acto intencional realizado com sucesso perante outros, que a apreenderão e a aceitarão. Nunca se pode dissociar a "arte" da comunicação.

    Eu tenho algo a comunicar a alguém. Opto por um código comum a ambas as partes, escolho uma forma de expressão, expresso-o e se o interlocutor entender a minha mensagem e daí tirar gozo estético ou erótico, deu-se a “Arte”.

    Aquilo que se exibe emoldurado em galerias e com o preço por baixo, designado por elevados entendidos por “Arte” poderá não o ser.
    Mas fica bem dizer que é. Passamos por uns gajos cultos.

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