BD PORTUGUESA TRILHA NOVOS CAMINHOS
Jornal de Notícias, 29 de Março de 2013
F. Cleto e Pina
Nos últimos meses têm-se multiplicado os livros de banda desenhada lançados pelos próprios autores ou por pequenos selos editoriais, enquanto se dão pequenos passos na edição online. São formas de os quadradinhos nacionais contornarem a crise e os seus efeitos.
Face a um mercado em recessão e aos altos custos que a distribuição acarreta, são cada vez mais os autores que optam por editarem os seus próprios livros aos quadradinhos ou por o fazerem online ou em projectos editoriais associativos ou de pequena dimensão. O que traz a vantagem acrescida de terem total controlo, em termos criativos e de qualidade do produto final, algo que nem sempre acontece nas editoras tradicionais.
Inimaginável há poucos anos, isto só se tornou possível graças às facilidades que as novas tecnologias trouxeram para a edição, permitindo livros de boa qualidade com preços reduzidos e baixas tiragens. Por isso, muitos dos livros de BD nacionais recentes não passam das duas ou três centenas de exemplares, que são divulgados de boca-em-boca ou nos sites e blogs dedicados aos quadradinhos e vendidos de mão em mão, nas lojas especializadas ou em eventos dedicados à BD, como os festivais de Beja ou da Amadora, que se revelam épocas por excelência para o aparecimento deste tipo de edições.
“Biogra Fria – O pequeno outro” é apenas um dos exemplos. Obra de tom autobiográfico, balizada pelos carros e namoradas que o autor teve, é um lançamento de Topedro, que conta já vários títulos no seu “catálogo” auto-editado. O mesmo caminho seguiu o cartoonista Mário José Teixeira, que se estreou com “’Tamos tramados”, posfaciado por Manuel Freire [e Zé Oliveira], que recolhe cartoons de crítica social.
A um outro nível, registam-se os “Cadernos” de José Abrantes, um autor com mais de duas dezenas de álbuns infanto-juvenis publicados, que optou igualmente pela auto-edição para divulgar histórias dispersas por diversas publicações bem como trabalhos inéditos.
A Chili Com Carne, com um trajecto já longo na área da BD alternativa e de autor, acaba de apresentar “Kassumai”, um diário de viagem de David Campos, que ilustra os seis meses que passou na Guiné-Bissau, num projecto de uma O.N.G. de apoio à população local.
(Caixa à parte)
Financiamento prévio
Com cerca de quatro anos de vida, o projecto Zona (www.zonabd.blogspot.com), que aposta na divulgação dos novos valores da BD nacional, tem-se destacado pela sua dinâmica pois já leva editadas uma dezena de antologias aos quadradinhos.
Com títulos reveladores dos conteúdos – “Zona Negra”, “Zona Fantástica”, “Zona Gráfica”, “Zona Monstra” ou “Zona Nippon” - para editar o “Zona Desenha” optou por recorrer ao crownfunding – algo que pode ser traduzido como “financiamento público” (mas não institucional!) – um sistema em crescimento que funciona como uma espécie de assinatura prévia.
O valor recebido, dependendo da dimensão do projecto, serve para financiar a edição, distribuição e/ou o trabalho dos autores. Os financiadores, em função do dinheiro investido (que obedece a uma tabela prévia) recebem apenas a edição ou extras como outros livros, desenhos autografados ou mesmo originais.
Em preparação, abertos a colaboração, estão o “Zona Nippon” #2 e o “Zona Gráfica” #3.
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PRÉMIOS PROFISSIONAIS DISTINGUEM BD PORTUGUESA
Jornal de Notícias, 2 de Abril, 2013
F. Cleto e Pina
Criados em 2012, os Prémios Profissionais de BD (PPBD) têm como objectivo distinguir as melhores obras portuguesas de banda desenhada publicadas no ano civil anterior. O anúncio dos primeiros vencedores terá lugar em Maio.
Organizada por pessoas ligadas ao jornalismo e à edição, divulgação e comercialização de BD, a iniciativa pretende igualmente tornar-se uma montra e um motor permanente do que de melhor é feito aos quadradinhos em Portugal.
Nesta primeira edição, os PPBD estão a analisar mais de três dezenas de títulos editados durante 2012, através de um Grande Júri constituído por 25 personalidades ligadas a esta área, entre autores, editores, jornalistas, investigadores e divulgadores. Este júri, numa primeira fase, tem como tarefa definir os nomeados em cada uma das categorias que contemplam os PPBD: Álbum, Argumentista, Desenhador, Colorista, Legendador, Design de Publicação, Antologia e WebComic. O seu anúncio será feito num evento público, durante o mês de Abril, seguindo-se numa avaliação pelo Grande Júri.
Os vencedores dos Prémios Profissionais de BD serão conhecidos no dia 11 de Maio, durante uma cerimónia que decorrerá na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, em Lisboa, durante o Festival AniComics, onde estarão expostas as obras nomeadas.
As obras vencedoras serão expostas no Festival Internacional de BD de Beja, em Junho, e na livraria Kingpin Books, em Lisboa.
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