O ESPIÃO ACÁCIO
DE FERNANDO RELVAS
LANÇADO NO XIV FESTIVAL DE BD DE BEJA
Edição Turbina/Mundo Fantasma
120 págs – 24 x 32 cm – € 26,29
Depois de uma conversa com Fernando Relvas, no Festival da Amadora de 2010, abordei o José Manuel Vilela, alfarrabista com estaminé montado numa loja das escadinhas da Calçada do Duque, para lhe pedir emprestados todos os exemplares da revista
Tintin que continham
O Espião Acácio. Eram 57 revistas do
Tintin publicadas de 15 de Julho de 1978 a 15 de Março de 1980, tendo sido interrompida por três vezes com histórias de Corto Maltese. Iniciei, logo no início de 2011, a digitalização de todas as páginas d’
O Espião, prosseguindo depois com a morosa limpeza digital das mesmas.
A previsão era editar aquilo tudo em livro, num formato igual aos de
Asterix.
A certa altura, tinha eu feito um largo intervalo na limpeza e restauração das páginas – já estavam concluídas 75 – propus ao Rui Brito a edição d’
O Espião Acácio em álbum, numa edição conjunta da Polvo e Pedranocharco. Mas acabámos entretanto por saber que a Mundo Fantasma, do Porto, ia editar brevemente o livro.
Assim
O Espião Acácio foi apresentado no XIV Festival Internacional de BD de Beja, pela Mundo Fantasma/Turbina. Capa dura, 24,5 x 32 cm – 120 págs. Na minha opinião, apesar da excelência da edição, a impressão em papel ligeiramente amarelado reduz um bocado o contraste apresentado em relação ao preto e branco original.
Lendo todas as páginas d’
O Espião Acácio montadas em livro, não podemos deixar de notar a coerência gráfica de Relvas na produção desta história, ao ritmo de duas pranchas por semana, ao longo de cerca de dois anos.
Aqui fica a apresentação do livro.
Página de apresentação:
APRESENTAÇÃO
Nascido em 1952. Fernando Relvas chega ao 25 de Abril de 1974 com a simbólica idade de 20 anos. Se não foi com ele que se deu o 25 de Abril da BD Portuguesa – esse chegara seguramente com a revista Visão – foi dele então o seu "processo revolucionário em curso" e não será fácil. portanto. separar a obra do homem e das circunstâncias em que foi produzida.
Dono de um traço esfuziante e experimentador insatisfeito. era também dotado de conteúdos e ideias: tinha olhar crítico e uma escrita mordaz. ironia e lucidez. olho clínico e diagnóstico rápido. Tinha verve e humor. acidez e ternura. acutilância e descontracção e foi com estas qualidades que Relvas espalhou pranchas por todas as publicações que souberam aceitar a sua imensa liberdade e a sua enorme independência intelectual. O que tinha que dizer, dizia-o e sabia fazê-lo, fosse o que fosse, saltava sempre à vista o seu grande talento e o explosivo e inebriante prazer da criação.
Desde as primeiras experiências no Estripador. na revista ecológica a Urtiga, ou no Chico – que desenhou para o semanário de esquerda "A Gazeta da Semana" – passando por este icónico e mítico Espião Acácio. e chegando ao irrequieto Cevadilha Speed e ao prodigioso Karlos Starkiller, ou à inconfundível Violeta, ou a dezenas de personas "relvianas" com que nos inquietou e seduziu, o autor produziu (instigado por uma jorna e uma paga semanal) centenas e centenas de páginas de uma banda desenhada aguçada, actual. e inovadora. Do policial negro à ficção científica, do humor desenfreado à candura dum traço destinado ao olhar infantil; da sua imensa paixão pela história (que ocasionou algumas das suas obras mais planeadas e mais sofridas) à caricatura do momento, da sátira politicamente incorrecta ao nonsense mais nonsense que qualquer outro nonsense. o autor a tudo nos sujeitou. a tudo se sujeitou, a tudo se entregou e tudo nos entregou.
Assim, Relvas trilhou um caminho que ainda hoje é raro na BD Portuguesa, foi o profissional único e indiscutível que atravessou o fim dos anos 70 e as prodigiosas décadas de 80 e 90 e, desde então, resistiu o mais que pode ao deserto, experimentando e criando os seus oásis. Nunca abdicou do acto corajoso e visionário de procurar viver da sua arte. Numa luta permanente pela dignificação da sua profissão – e esse foi o seu feito maior: combinou uma vida bem vivida com uma obra intensa e imensa no seu significado simbólico e desbravador para a BD em Portugal.
Fernando Carlos Nunes de Melo Relvas foi, é e será, infindavelmente, um autor de uma imensurável qualidade, deixando escrito na História de Portugal o seu maior testemunho: a sua múltipla obra (ainda hoje, por alguns, pouco conhecida e valorizada) que urge redescobrir e divulgar no infinito do seu legado.
Júlio Eme + Margarida Mesquita
Prancha 1 - pág. 8 do livro
Pág. 30
Bibliografia do autor:
BIBLIOGRAFIA FERNANDO RELVAS
1975 participação no fanzine-revista "O Estripador" e publicação do fanzine "O Gorgulho"
1976
Chico no semanário
Gazeta da Semana, publicado posteriormente em livro com o título
Gazeta da banda – Água Mole, Sociedade Cooperativa. SCARL
1977
Uki, o Pequeno Esquimó ·
Espaço 99112 ·
Chin Lung, o Justiceiro do Rio Amarelo revista
Fungagá da Bicharada
1978
As Cabras de Isaac na revista ecológica
A Urtiga
1978-80
O Espião Acácio na revista
Tintin
1980
Viagem ao Centro da Terra ·
Rosa Delta Sem Saída, na revista
Tintin. Esta última publicada em álbum, incluindo também
Slow Motion, com edição da Polvo em 2013 ·
O Controlador Louco ·
O Povo de Ferro, revista
Mundo de Aventuras
1981
L123 ·
Cevadilha Speed, na revista
Tintin, recolhidos em 1998 num álbum publicado pela Associação do Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto
1982
Slow Motion ·
Kriz 3, revista
Tintin ·
Os Planetas Mostram-lhe o Misterioso Mundo da Astrologia revista
Pão Com Manteiga
1982·83
Concerto para Oito Infantes e Um Bastardo no semanário
Sete, republicado parcialmente em 2002 com o nome do personagem
Jaca na revista
Comix da Devir
1983
Niuiork ·
Sabina, no semanário
Sete
1983-84
Ai, Este Chavalo Seria Tão Barilo Se... ·
Herbie de Best ·
Sangue Violeta ·
Tax Diver, no semanário
Sete. As duas últimas e
Sabina recolhidas em álbum da EI Pep em 2012
1984
VAST em
O Mosquito (53 série)
1984-85
Karlos Starkiller ·
A Sombra de Xizhakt Rabin, no semanário
Sete, republicado em álbum pelas Edições Baleia Azul e Bedeteea de Lisboa em 1997
1985 Participação na colectiva
As Fantásticas Aventuras de Godofredo Leitefresco no jornal
Pau de Canela
1985/86
Nunca Beijes a Sombra do Teu Destino no semanário
Sete
1986
A Noite das Estrelas ·
Soviet Sex, no semanário
Sete
1987
O Diabo à Beira da Piscina, no semanário
Sete
1987
Edgar, O Mistério da Travessa dos Meninos de Deus ·
A Costa do Marisco ·
Karlos Starkiller & El Papagaio ·
A Perversa Sobranceria do Hermetismo no Saber ·
O Atraente Estranho ·
A Missão, no semanário
Sete
1988
O Umbral Lumioso, no semanário
Sete
1989
O Rei dos Búzios, na revista
Sábado, retomado e republicado em 1999 em CD·Rom, editado por Boa Memória Produções Multimédia e incluído na revista
Biblioteca publicada pela Câmara Municipal de Lisboa
1990
África Nossa no jornal
O Combate
1991
Gulf Stream na revista
LX Comics
1993
Em Desgraça Edições Asa
1993/94
Fecho de Emissão na revista
TV Guia
1994
Testos Torres Contra Cara Dread ·
Cacilda, O Regresso do Hipopótamo, no jornal
O Inimigo. A primeira foi remontada e republicada na revista
Quadrado em 1995
1995
O Nosso Primo em Bruxelas, Livros Horizonte ·
Çufo, Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses ·
O Ananás que Ri auto-edição
1997 Retoma
O Ananás que Ri no
Diário de Notícias
1998 Participa na exposição que representou a Banda Desenhada Portuguesa no Festival de Angoulême. No respectivo catálogo publica-se uma prancha inédita:
Malubambu Chez Marreco no jornal
GrandAmadora, republicados posteriormente em 2001 na
Phylactêre, newsletter da Livraria Dr.Kartoon
1999
Pai, pisa? participação no livro comemorativo dos 25 anos da revoluço ·
Uma Revolução Desenhada o 25 de Abril e a BD, editado pelas Edições Afrontamento, Bedeteca de Lisboa, Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra e Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
2000 publica uma história sem título na revista
Selecções BD
2001
Palmyra publicação em print-on·demand na Lulu, de uma história inédita anteriormente designada
Iva Jau e o Dr. Manga Ink Flow ·
O Urso Vai a Espanha (novela) ·
The Green Fish, The Hanging Man, Gospodin Sofer e Skarpin, na revista Costa, tudo publicações originais em blogs e depois publicadas em print-on-demand na Lulu
2003 Fernando Relvas parte para a Croácia com a artista plástica croata Nina Govedarica – com quem havia casado em 2002
2008
The Chinese Master Spy e
The Persian Ambassador, também publicações originais em blogs, depois reunidas e publicadas em print·on·demand na Lulu com o título
Li Moon Face, em 2010 e editado em 2011 em português pela Pedranocharco
2010 Regresso a Portugal para realizar a curta metragem
Fado na Noite
2010
The World of Miss Li – web comic
2012 Realização da curta de animação
Fado na Noite
2014
Nau Negra – The Last Black Ship, álbum publicado em inglês pela El Pep
Links para matérias sobre Fernando Relvas publicadas aqui no Kuentro2:
http://kuentro.blogspot.com/2017/04/gazeta-da-bd-71-herois-da-bd-portuguesa.html
http://kuentro.blogspot.com/2017/11/morreu-fernando-relvas-1954-2017.html
http://kuentro.blogspot.com/2017/12/gazeta-da-bd-86-na-gazeta-das-caldas-em.html
http://kuentro.blogspot.com/2017/12/ainda-sobre-relvas-resposta-de-viriato.html
http://kuentro.blogspot.com/2017/11/o-regresso-do-urso-entrevista-com.html
http://kuentro.blogspot.com/2014/05/fernando-relvas-para-uma.html
http://kuentro.blogspot.com/2017/01/reportagem-retrospetiva-fernando-relvas.html
__________________________________________________________________