Correio da Manhã online, 14 Agosto 2011
O Moleskine de um artista português
Por:Vanessa Fidalgo
Um desenho do ilustrador Ricardo Cabral foi escolhido pela marca italiana para a capa da nova série dos lendários cadernos
Ricardo Cabral anda quase sempre com um caderno Moleskine debaixo do braço, sobretudo em viagem, porque quando o ócio conspira com a inspiração o ilustrador é ‘obrigado’ a trabalhar em desenhos à vista, que depois integram as suas bandas desenhadas. Um tanto ou quanto inesperadamente, graças às maravilhas da tecnologia, que agora permite os concursos on-line, de fã dos lendários caderninhos usados por artistas (como Van Gogh, Picasso, Hemingway, que os celebrizaram) passou a integrante da galeria dos autores das suas capas. E é o primeiro português a alcançar tal proeza.
MEMÓRIAS DE BARCELONA
Os dois cadernos Moleskine assinados por Ricardo Cabral, de 32 anos, serão comercializados juntos a partir de Setembro, com o mesmo desenho reproduzido em cores diferentes.
A imagem escolhida trata-se de uma paisagem de Barcelona, cidade que o jovem ilustrador lisboeta visitou, desenhou e escolheu para enviar para o site da Moleskine. Corria então Abril de 2009, e a marca italiana, num apelo à liberdade de expressão e criatividade do seu extenso séquito de fãs, abriu no seu site da Internet uma galeria dedicada a contribuições externas a que deu o nome de My Moleskine. Foi nesse momento que Ricardo Cabral se lembrou da imensa utilidade que os Moleskine lhe davam e da viagem a Barcelona. "Não foi sequer uma escolha muito pensada. Aconteceu. Era apenas mais um desenho dos que realizo à vista e que depois integram uma narrativa numa banda desenhada", conta o ilustrador.
Mas aquele que era apenas mais um desenho, acabou por destacar-se entre as cerca de 2500 propostas recebidas pela Moleskine dos quatro cantos do Mundo, e vingou ao lado de outras cinco: do mexicano Benjamin Barrios, do britânico Paul Desmonde e do brasileiro Maykel Cordeiro Nunes - cujos trabalhos são apresentados em três cadernos no formato ‘journal’ –, do sueco Mattias Adolfsson e do russo Sergey Bakin (agenda 2012).
De repente, Ricardo viu-se do outro lado. Será agora a sua vez de inspirar outras pessoas, quiçá outros artistas, nas suas deambulações e andanças pelo Mundo, bem ao espírito da Moleskine. "Espero que inspire os outros, do mesmo modo que eu me sinto valorizado e inspirado com este reconhecimento", afirma o desenhador, que quando recebeu um telefonema a avisá-lo do prémio, e sentiu-se particularmente surpreendido.
"Tenho inúmeros Moleskines, em quase todos os tamanhos e feitios e que levo, sobretudo, para as minhas viagens. Infelizmente, só não viajo tanto como desejaria", garante.
Cada artista seleccionado escolheu uma instituição sem fins lucrativos à qual a lendária empresa italiana, de Mario Baruzzi e Francesco Franceschi, dará uma pequena percentagem das vendas, em jeito de donativo. Ricardo Cabral escolheu a Assistência Médica Internacional (AMI). Entretanto, antes de Setembro, os cadernos assinados por Ricardo podem ser adquiridos em alguns sites da especialidade, como o da editora Chronicle Books, que já o tem à venda por 16,95 euros.
Nascido em Lisboa, em 1979, Ricardo Cabral descobriu ainda na infância a paixão pelo desenho. "Desde que me conheço que gosto de desenhar e mostrou-se que esta era a opção a seguir em termos profissionais desde cedo, quando foi necessário escolher uma área de estudos", recorda. Por isso, fez o liceu já na António Arroio, licenciando-se, posteriormente, em Pintura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa.
Trabalha desde 2005 como ‘freelance’, assinando ilustrações, nomeadamente para o ‘Correio da Manhã’. É um dos artistas residentes no The Lisbon Studio, colectivo de autores de banda desenhada, animação, ilustradores, argumentistas e realizadores que partilham um ateliê na zona ribeirinha de Lisboa.
Ricardo Cabral...
... e alguns desenhos seus:
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Imagens da responsabilidade do Kuentro
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