REVISTA DE BANDA DESENHADA
QUE SE PERPETUOU POR 50 ANOS
Gazeta da BD #53 - na Gazeta das Caldas, 22 Janeiro 2016
Jorge Machado-Dias
Comemoraram-se neste mês de Janeiro de 2016 (dia 14) oitenta anos do início da publicação de O Mosquito – o “semanário (depois bissemanário) da rapaziada”. Para assinalar anualmente o aniversário da primeira edição da revista, vem sendo organizado um almoço no segundo sábado de Janeiro, que este ano calhou no dia 16. Trata-se de uma confraternização “almoçarada”, digamos assim, realizada já há alguns anos no Restaurante Pessoa, na Rua dos Douradores, onde comparecem cerca de vinte convivas (por vezes mais), entre coleccionadores, antigos e novos fãs da revista e mesmo alguns dos seus colaboradores ainda vivos e de saúde. Isto segundo uma tradição que remonta a 1986, quando se comemoraram os cinquenta anos do início da publicação, embora nessa altura se tivesse optado por um jantar, na Rua da Rosa, Bairro Alto, perto do local onde a revista, dirigida por Raul Correia e António Lopes Cardoso viu a luz do dia – como relata o jornalista Carlos Pessoa no Diário de Lisboa de 16 de Janeiro de 1986. Talvez não por acaso, essa primeira comemoração coincidiu com a públicação do último número da 5ª série da revista e a extinção definitiva do título.
Ora O Mosquito, revista de “histórias aos quadradinhos”, como então se designava a banda desenhada, iniciou a sua publicação em 14 de Janeiro de 1936 (com o formato de 31x21 cm), concorrendo com as revistas congéneres já existentes, cujos títulos eram igualmente sugestivos: Tic-Tac, O Senhor Doutor, Mickey e O Papagaio. Embora estas revistas se destinassem a um público de faixa etária mais baixa, uma vez que eram consideradas “infantis”, ao passo que O Mosquito se considerava “para rapazes”. Estava-se numa época em que esse tipo de publicações constituía uma das mais populares formas de entretenimento da juventude e as bandas desenhadas publicadas n’O Mosquito possuiam histórias mais complexas e dramáticas, capazes de cativar mesmo um público mais adulto.
Custava cinquenta centavos (ou cinco tostões), menos de um cêntimo no actual Euro e o sucesso foi tal que a revista, no início com periodicidade semanal até ao nº360 e com saída inicialmente às terças-feiras, mais tarde às quintas-feiras, passou a partir de
9 de Dezembro de 1942 com o nº361 a ser bissemanal, com saída às quartas-feiras e sábados.
Atingiu tiragens de 30.000 exemplares por número, o que mostra o estrondoso sucesso da publicação.
Em 1942, no auge da 2ª Grande Guerra, O Mosquito reduziu o formato para metade devido à falta de papel e é no decurso do ano seguinte que Eduardo Teixeira Coelho passa a colaborar na revista com capas, ilustrações e construções de armar. Em 1946 é retomado o formato inicial.
Pelas suas páginas passaram grandes autores de BD estrangeiros, como Colin Merritt, Reg Perrott, Roy Wilson, Percy Cocking, Walter Booth (ingleses); José Cabrero Arnal (aragonês), Arturo Moreno (valenciano), os catalães Angel Puigmiquel, Emilio Freixas Aranguren, Jesús Blasco e os seus irmãos Adriano, Alejandro e a irmã Pili Blasco; Darrel McClure, Harold Foster, John Lehti (americanos); Gigi, Marijac, Paul Gillon (franceses). E muitos outros. Quanto a autores portugueses, foram sobretudo Tiotónio (António Cardoso Lopes), Eduardo Teixeira Coelho, Jayme Cortez (até seguir para o Brasil em 1947), Vítor Peon, José Garcês e José Ruy (que começou por trabalhar na revista no desenho e litografia das cores), a fazerem as “honras da casa”.
Em 1948 dá-se a separação entre Raúl Correia e Cardoso Lopes.
As últimas fases d’O Mosquito caracterizaram-se pelo aparecimento de dois fortes concorrentes, O Mundo de Aventuras e O Cavaleiro Andante. Apesar das dificuldades financeiras por que já passava havia alguns anos, ainda são apresentadas séries inglesas de qualidade como Garth (de Steve Dowling) e Buck Ryan (de Jack Monk), Terry e os Piratas (George Wunder), e autores franceses da craveira de Gigi, Marijac, Paul Gillon e outros. Mas os tempos já não eram os mesmos. A revista saiu pela última vez em 24 de Fevereiro de 1953 com o nº1412, após dezassete anos de publicação.
Existiram, no entanto, quatro tentativas (designadas por “séries”) de ressuscitar O Mosquito. Deixo aqui o registo dessas tentativas, baseado em texto abrevidado de Leonardo De Sá:
2ª Série (1960-1961)
Era editada e dirigida por E. Carradinha e José Ruy, com coordenação também de Roussado Pinto na segunda metade da colecção. Tinha inicialmente 12 páginas e as dimensões 26x17,5 cm. O primeiro número saiu a 16 de Novembro de 1960. O último número foi o 30, publicado a 7 de Junho de 1961.
3ª Série (1961)
O editor e director foi António da Costa Ramos. Tinha 16 páginas e as dimensões eram de 25,5x17,5 cm, o primeiro número foi publicado a 14 de Novembro de 1961. O último foi o nº 4, publicado a 22 de Novembro de 1961.
4ª Série (1975)
Foi publicado um único número, com data de 31 de Dezembro de 1975. Tinha 16 páginas e as dimensões eram de 23,5x17 cm, o seu editor e director foi Fernando de Andrade.
5ª Série (1984-1986)
Inicialmente era bimestral, depois mensal, propriedade de Carlos & Reis, Lda e direcção de José Chaves Ferreira, com coordenação de Jorge Magalhães. Tinha 60 páginas e as dimensões eram de 29x21 cm, o primeiro número foi publicado em Abril de 1984.
Publicou autores e séries como ET Coelho, Jorge Magalhães e Augusto Trigo (“Kumalo”), Antonio Hernández Palacios (“Manos Kelly”), Julio Ribera (“Nunca Estamos Contentes”), Sánchez Abulí e Esteban Maroto (“Zodíaco”), Ricardo Barreiro e Juan Giménez (“Ás de Espadas”), Fernando Relvas (“Vast”), Dan O’Bannon e Moebius (“The Long Tomorrow”), Abulí e Jordi Bernet (“Torpedo 1936”), Victor Mesquita (“Navegadores do Infinito”), Richard Corben (“O Crepúsculo dos Cães”), Yves Chaland (“Freddy Lombard”), Jesús Blasco (“Jack, o Estripador”), Manfred Sommer (“Frank Cappa”), Carlos Trillo e Mandrafina (“Ciclo Vital”), Milo Manara (“Acherontia Atropos”), Hal Foster (“Príncipe Valente”), Muñoz e Sampayo (“Alack Sinner”), Tozé Simões e Luís Louro (“Jim del Mónaco”), Paul Gillon (“Um Homem de Palavra”), Hugo Pratt (“Fort Detroit”), etc.
Houve também quatro almanaques anuais. O último número foi o 12, publicado em Janeiro de 1986.
Brevemente teremos aqui a reportagem do almoço/convívio comemorarivo dos 80 anos d'O Mosquito