quinta-feira, 28 de novembro de 2019

APRESENTAÇÃO DA COLECÇÃO BLUEBERRY – ÀS QUINTAS FEIRAS COM O JORNAL PÚBLICO

APRESENTAÇÃO
DA
COLECÇÃO BLUEBERRY
ÀS QUINTAS FEIRAS COM O JORNAL PÚBLICO

  
  
  
  

O protagonista deste clássico da banda desenhada franco-belga, e uma das maiores epopeias do western concebidas pela cultura popular europeia, é um homem que não suporta a injustiça e tem dificuldades em aceitar cegamente a autoridade da hierarquia militar.

Os seus autores, o argumentista Jean-Michel Charlier e o desenhador Jean Giraud, deram ao herói o nome de um fruto produzido por um arbusto (blueberry é mirtilo em inglês). Ao fazê-lo, estabeleceram uma relação bem contrastada entre a dureza, por vezes hostil, dos ambientes representativos do Oeste americano, onde decorre a acção, e a atitude singular e diferenciada do protagonista para manter viva uma centelha de humanidade em ambientes e circunstâncias adversos à manifestação dessa mesma humanidade.

O herói não é uma figura linearmente positiva, mas um outsider – um renegado em muitos momentos da aventura – que tem por companheiros fiéis e incondicionais um alcoólico e um ex-vaqueiro de duvidosa reputação. O que parecia uma fórmula arriscada revelou-se um êxito seguro, cuja popularidade chegou, com todo o mérito, aos nossos dias.

O que ressalta em cada aventura é a luta permanente do homem com os elementos, e também consigo mesmo e os seus semelhantes, num esforço continuo de sobrevivência e, porque não dizê-lo, de transcendência. Notável fresco sobre o espírito da fronteira, Blueberry é um hino ao espírito empreendedor do homem e à aspiração de justiça, assim como um apelo ao respeito das diferentes culturas, desafiando a valorizar o que une e a desprezar o que divide os seres humanos.

Os 10 álbuns que integram esta segunda colecção Blueberry, a distribuir semanalmente (à quinta feira) com o Público, têm a particularidade de dar a conhecer dois ciclos extremados da série – o Ciclo das Guerras Índias (os cinco primeiros episódios da obra), em que o estilo gráfico de Giraud começa a despontar e afirmar-se, e o Ciclo Mister Blueberry (já apenas com a assinatura de Giraud e onde ele leva mais longe a exploração temática e gráfica das suas inovadoras propostas), ambos há muito tempo ausentes do mercado português.

Quando tudo começou, em 1963, foi Charlier que esteve no epicentro desse furacão criativo – era um homem que se desmultiplicava em mil tarefas e paixões, sempre com uma energia que parecia inesgotável. No seu currículo pode ler-se, entre muitas referências, a direcção literária nas Éditions Dargaud, a sua paixão pelos aviões – deixa o nome associado a nada menos do que três séries de banda desenhada sobre este tema – ou a co-fundação da conhecida e marcante revista francesa de banda desenhada Pilote, em 1959.

Todavia, o seu nome está sobretudo associado à criação de heróis, séries e histórias aos quadradinhos a que emprestou o seu talento e imaginação como argumentista.

Basta olhar para as mais populares séries a que esteve de algum modo associado Buck Danny (desenhos de Victor Hubinon ou Francis Bergêse), Jean Valhardi (Eddy Paape), La Patrouille des Castors (Mitacq), Marc Dacier (Eddy Paape), Tanguy e Laverdure (Uderzo, Jijé, Patrice Serres e Alexandre Coutelis), Barba Ruiva (Hubinon, Jijé, Christian Gaty, Patrice Pellerin), Jacques Le Gall (Mitacq), Dan Cooper (AI Weinberg), Jim Cutlass (Giraud e Christian Rossi) ou Os Gringos (Victor de La Fuente) – para se perceber até que ponto a BD europeia perdeu com a morte de Charlier.

Jean Giraud, por seu lado, é um criador que também dispensa apresentações. Como Giraud através do seu alter-ego Moebius, o desenhador de Bluebeny emprestou o melhor do seu talento e inquietação pessoais às muitas obras que deixou para a posteridade.

Blueberry é, indiscutivelmente, uma delas.

Regressemos agora brevemente ao já distante mês de Outubro de 1963, data em que a revista francesa de banda desenhada Pilote surpreendeu os seus leitores ao publicar as primeiras pranchas de Fort Navajo. O grafismo deste western realista era bastante convencional e o herói, um jovem oficial do exército americano que muito se assemelhava ao actor francês Jean-Paul Belmondo, era uma figura ainda pouco estabilizada. Em contrapartida, o argumento já deixava entrever o enorme potencial do projecto: Blueberry não seria apenas mais uma série de índios e cowboys. As décadas seguintes mostraram à saciedade que esta avaliação era justa e certeira. Hoje, é possível afirmar, sem grande risco de ser desmentido, que a criação da dupla Charlier-Giraud é, provavelmente, a melhor que a BD europeia produziu sobre um fenómeno histórico-cultural tipicamente americano.







terça-feira, 26 de novembro de 2019

A ASSEMBLEIA DAS MULHERES Adaptação de Zé Nuno Fraga da peça homónima de Aristófanes

A ASSEMBLEIA DAS MULHERES 
Adaptação de Zé Nuno Fraga 
da peça homónima de Aristófanes 


Um do mais originais e divertidos projectos de banda desenhada nacional dos últimos anos, A Assembleia das Mulheres é uma ambiciosa adaptação de uma peça de teatro grega clássica, Ecclesiazusae (Ἐκκλησιάζουσαι), de Aristófanes, uma das grandes comédias de todos os tempos e considerada como uma das fundadores do teatro moderno.

A 'Assembleia das Mulheres' é uma das onze peças sobreviventes do prolífico autor de comédia antiga grega Aristófanes (447 a.C. - 385 a.C.), cujas obras tinham um impacto societal semelhante ao dos média de hoje em dia, tornando-o temido pelas principais figuras atenienses. Zé Nuno Fraga adapta a peça à banda desenhada, num estilo caricato e rico de expressões cómicas e cores intensas, mantendo também o sabor (e o lado divertido) do texto original.

Aristófanes usa a sua profunda sagacidade sobre a natureza humana para explorar as consequências de uma hipotética ditadura das mulheres, introduzindo a ideia de um verdadeiro comunismo, quer material, quer sexual, e permitindo ao autor ridicularizar a política ateniense do seu tempo. Os efeitos desta revolução são mostrados de forma cómica, através das discussões e querelas entre personagens que se opõem politicamente, enquanto o autor parece nunca tomar partido claro por uma das posições, criando assim uma peça de comentário político mordaz, imparcial e intelectualmente honesto, rara mesmo nos dias de hoje.

Zé Nuno Fraga (MCMLXXXIV, D.C.) cedo manifestou interesse pelo desenho. Passava as aulas a encher os cadernos de sarrabiscos em vez de prestar atenção, e, para desespero do professorado, isso foi-se mantendo quando estudava Engenharia, até que finalmente lá abandonou tudo, incluindo o país, e foi como refugiado artístico para a vizinha Galiza, onde estudou a arte de sarrabiscar. Após realizar algumas obras de BD com as quais percebeu que não tem jeito nenhum para guionista, decide que mais vale adaptar o que gente mais inteligente escreveu, levando por fim à sua primeira BD decente, a brilhante Ecclesiasuzae de Aristófanes.

Considerado o “Pai da Comédia”, Aristófanes foi também um fino crítico da sua Atenas natal e da sua vida política. As suas peças tinham um impacto imenso, suficiente para garantir que ele fosse acusado e processado por difamação e traição por mais de uma vez. Em A Assembleia das Mulheres, critica elementos da democracia ateniense de modo subtil e inteligente, apresentando argumentos a favor e contra, sem nunca explicitamente tomar partido.

56 páginas, cores, capa dura, formato 21 x 27,50
ISBN 978-98-95457-43-4
PVP: 14€











sábado, 23 de novembro de 2019

BLUEBERRY CHEGA A FORTE NAVAJO NO PRIMEIRO ÁLBUM DA NOVA COLECÇÃO DE BD

BLUEBERRY 
CHEGA 
A FORTE NAVAJO 
NO PRIMEIRO ÁLBUM DA NOVA COLECÇÃO DE BD
TEXTO DE CARLOS PESSOA 

BDpress #520, recorte sobre BD, do jornal Público de 23 de Novembro de 2019

Álbum 1
FORTE NAVAJO 
Colecção Blueberry Quinta-feira, 28 de Novembro
Com o jornal Público por + 7,90€

Texto de Carlos Pessoa

O tenente Blueberry é colocado em Forte Navajo, situado em território apache. Durante a viagem conhece o tenente Graig, cujo destino é o mesmo. Ao passarem pelo rancho dos Stantons, encontram-no calcinado e carregado de cadáveres. Os indícios apontam para um ataque dos índios e o tenente Graig decide seguir no seu encalço para libertar o filho dos Stantons, que aqueles terão raptado. A situação, já de si complicada, vai exigir de Blueberry um grande jogo de cintura, pois terá de lidar tanto com a inconsciência e imaturidade de Graig como com o ódio pelos índios de Bascom, braço direito do coronel Dickson no forte. Assim começa Forte Navajo (texto de Jean-Michel Charlier e desenho de Jean Giraud), aventura inicial da colecção Blueberry, que será distribuída com o Público na próxima semana.

Dois anos depois da sua estreia nas páginas da revista Pilote (1963), a história de arranque é publicada em França em álbum, permitindo a um público mais alargado aperceber-se de que esta criação não é apenas mais um western a acrescentar à diversificada lista de obras do género. Blueberry está longe de ser o herói perfeito e sem mácula que enfrenta todos os perigos e ameaças para salvar donzelas ou crianças indefesas em risco de vida, e essa é uma das características que, desde as primeiras pranchas, tomam esta banda desenhada tão interessante e envolvente.

Os dados ficam lançados, e embora Forte Navajo não seja mais do que uma introdução ao tema mais alargado da série, apresenta já uma densidade e intensidade que não passam despercebidas. A responsabilidade maior é de Charlier, exímio (e exigente) argumentista que se entrega totalmente à feitura de um enredo clássico (onde não faltam as figuras identificadoras do género, como as personagens de Graig ou o major Bascom), mas portador em si de todo o potencial que o desenvolvimento da série iria amplamente demonstrar nas décadas seguintes.

Durante as próximas semanas, os apreciadores de boa banda desenhada terão oportunidade de estabelecer contacto (ou reencontrar) uma das mais fascinantes criações europeias de western. Os dez álbuns que integram esta segunda colecção Blueberry, a distribuir semanalmente (à quinta-feira) com o Público, têm a particularidade de dar a conhecer dois ciclos extremados da série – o Ciclo das Guerras Índias (os cinco primeiros episódios da obra, em que o estilo gráfico de Giraud começa a despontar e afirmar-se) e o Ciclo Mister Blueberry (já apenas com a assinatura de Giraud e onde ele leva mais longe a exploração temática e gráfica das suas inovadoras propostas), ambos há muito tempo ausentes do mercado português.

Como já ficou sublinhado atrás, o herói de Forte Navajo não é uma figura linearmente positiva, mas um outsider – um renegado, em muitos momentos da aventura – que tem por companheiros fiéis e incondicionais um alcoólico e um ex-vaqueiro de duvidosa reputação. Muito por força do seu comportamento ao longo das histórias, o que ressalta em cada aventura é a luta permanente do homem com os elementos, e também consigo mesmo e os seus semelhantes, num esforço continuo de sobrevivência e, porque não dizê-lo, de transcendência.

Notável fresco sobre o espírito da fronteira, Blueberry é um hino ao espírito empreendedor do homem e à aspiração de justiça, assim como um apelo ao respeito das diferentes culturas, desafiando a valorizar o que une e a desprezar o que divide os seres humanos.

Os leitores do Público que acompanharem as personagens desta BD pelos caminhos da aventura não darão o seu tempo por perdido.


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

A MALTA É JOVEM - SOBRE "CONVERSAS COM OS PUTOS E COM OS PROFESSORES DELES" DE ÁLVARO


BDpress #520 do jornal i de 18 de Novembro de 2019

A MALTA É JOVEM

Por Ricardo António Alves, no jornal i de 18 de Novembro de 2019

Um cínico diria que o magistério seria uma profissão extraordinária, não fora a existência dos alunos.

Discorda-se do cínico: o problema não está nos discentes, mas na circunstância de alguns trazerem como bónus alguns pais muito pouco recomendáveis à saúde. Também há os simulacros de professores, cuja verdadeira missão é a de ganhar o ordenado enquanto sonham com uma reforma por invalidez. No princípio de tudo, porém, estão burocratas do ministério, entretidos com as suas carreiras e progressões nas ditas, trabalhando para as estatísticas que lhes são impostas pelos políticos de turno.

Destes, uns são comissários do partido e, outros, tipos bem intencionados, com ideias completamente diferentes dos antecessores no cargo, que as porão em prática até chegar quem lhes suceda. Por isso, os estudantes costumam ser as primeiras vítimas deste carnaval, seguindo-se os bons professores e os pais conscientes, espécie ameaçada.

Feito o exórdio, comece-se por dizer que o professor Álvaro é um baril e, houvesse necessidade de filho nosso precisar de explicações de geometria descritiva, Já saberíamos a que porta bater. Mas o professor Álvaro é também autor de BD e cartunista (além de arquiteto de formação) e teve a boa ideia de se inspirar no seu ganha-pão para aplicar o talento que lhe assiste na recriação da sua circunstância profissional – embora tal esteja longe de ser o exclusivo da matéria-prima a que recorre para o trabalho bedéfilo.

Conversas com Putos e com os Professores Deles é o terceiro livro desta série. Deixamos os docentes em paz – os muito bons dificilmente são parodiáveis, os maus são paródia triste – e vamos à maralha de 15, 16, 17 anos e às suas lindezas: do acne, terror das miúdas, à javardolice flatulenta dos rapazes; dos futebóis aos jogos e consolas (ou as gajas); da seca da matéria e da cabulice – as cenas com os alunos passam-se normalmente em contexto de explicação – a temas mais sérios de política e sociedade, sempre com o enviesamento da autossuficiência das opiniões fortes e supostamente definitivas, pois os putos é que sabem ...

Álvaro (Parede,1970) é particularmente feliz na captação das expressões que resultam de diálogos que atingem o mirabolante (por vezes nem se trata de diálogo mas de resmungos, quando não grunhidos): do surpreendido ao irritado, do faccioso ao conformado, do enfadado ao malicioso. Não se pense, porém, que o autor comete a feia ação de fazer nome e fortuna (pelo menos critica) à custa daqueles infelizes. Não, ali há empatia e pundonor profissional, ambos especialmente necessários quando aos professores de hoje (aos bons e até aos maus) é cometida pela sociedade não apenas a importante função de ensinar, mas também, quantas vezes, a ingrata tarefa de educar, competência que mingua a muitos paizinhos, sempre prontos a exigir dos docentes o suprimento do que a eles lhes falha.

VER AQUI: https://kuentro.blogspot.com/2019/09/novo-livro-de-alvaro-conversas-com-os.html o post de apresentação do livro, em 28 Set. 2019




terça-feira, 19 de novembro de 2019

REPORTAGEM DO 426º ENCONTRO DA TERTÚLIA BD DE LISBOA – 5 Novembro 2019 – CONVIDADO ESPECIAL: LANÇA GUERREIRO

REPORTAGEM 
DO 
426º ENCONTRO 
DA TERTÚLIA BD DE LISBOA
5 Novembro 2019
CONVIDADO ESPECIAL: 
LANÇA GUERREIRO 

Matéria “ligeiramente” atrasada, devido ao meu internamento em Sta. Maria, entre 4 e 17 deste mês. 




SOBRE O CONVIDADO ESPECIAL

António Lança Guerreiro

Nasceu no distrito de Santarém, a 31 de julho de 1964.

É professor de Português em Torres Vedras.

O seu encontro com a 9ª arte deu-se na escola primária através das bandas desenhadas de revistas, que passou a ler e a colecionar. No liceu fez alguns desenhos, ilustrações e 80 que publicou em jornais escolares e regionais e participou na criação e edição do fanzine escolar "Preto no Branco" (1982), "O Reguila" (1982, revista do Agrupamento 582 do CNE), nos jornais "O Entroncamento" (1984) e "Aimourol" (1989). Já na faculdade, em Coimbra, para além das caricaturas que fez para os livros de curso dos finalistas, também participou na publicação do fanzine BDMIX (com os então estudantes Fernando Correia e João Lameiras) e na revista "Sic I tu r" (1990), publicada pelo Departamento de Estudos Clássicos da FLUC. Ilustrou também alguns livros de poesia, dos quais se destacam "Ficta Imagem" e "Quasi Encontro" (1992).

"Amadora BD - 28° Concurso de Banda Desenhada", com uma versão de 4 pranchas da história "A grande banhoca dos pergaminhos de Camões".

Com esta mesma BD "A grande banhoca dos pergaminhos de Camões", mas numa versão mais extensa (6 pranchas), foi um dos 37 autores presentes na coletânea HUMANUS, publicada em 2018 pela Editora Escorpião Azul.

Desde 2015, tem participado nas Exposições comemorativas das figuras ilustres da História da cidade de Viseu, organizadas e promovidas pelo GICAV, com ilustrações dedicadas a Viriato (2015), o Infante D. Henrique (2016), o rei D. Afonso Henriques (2017), o pintor Grão Vasco (2018) e Alfredo Keill e "A Portuguesa" (2019).

Em 2017, participou num número especial do fanzine EROS, editado por Geraldes Lino, com uma história curta intitulada "O strip dos sentidos: a audição ..."

Em 2019, também pela Editora Escorpião Azul, é publicado o 1° volume de Homo Inventor – Quando o homem se pôs a inventar, um projeto antigo que o autor agora vê concretizado. 
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COMIC JAM 
realizado na Tertúlia BD de 5 de Novembro

Os autores participantes são:
1. Lança Guerreiro
2. Ana Saúde
3. Pedro Massano
4. Sharon Mendes
5. Filipe Duarte
6. Álvaro 


FOTOS DE ÁLVARO

















 
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