domingo, 14 de março de 2010

BDpress #118 – MANUEL CALDAS EDITA “O CORVO” DE EDGAR ALAN POE ILUSTRADO POR GUSTAVE DORÉ E TRADUZIDO POR FERNANDO PESSOA…

João Miguel Lameiras (no Diário “As Beiras” de 13 de Março) e João Ramalho Santos (no JL de 11 de Fevereiro) escrevem sobre mais uma iniciativa de Manuel Caldas: O CORVO (Tha Raven) de Edgar Alan Poe, ilustrado por Gustave Doré e traduzido por Fernando Pessoa. Fico à espera da habitual newsletter de M. Caldas para vos dar a conhecer mais alguns pormenores sobre este livro.

Capa original do livro (1884)...

Diário “As Beiras”, 13 de Março 2010

João Miguel Lameiras

Manuel Caldas junta Poe e Doré em “O Corvo”

Ao contrário do que é habitual neste espaço, dedicado à banda desenhada (BD), o livro que motiva este texto, embora publicado por uma editora que se tem dedicado a recuperar clássicos da BD, a Librimpressi, de Manuel Caldas, não é BD. É um poema de um grande escritor americano, trazido por um dos nossos melhores poetas, ilustrado por um mestre da gravura.

O grande escritor é o mestre do fantástico e do macabro, Edgar Alan Poe, a tradução é de Fernando Pessoa e as gravuras são de Gustave Doré. Três grandes nomes, reunidos numa cuidada edição, com o rigor a que Manuel Caldas nos habituou.

Se os contos de Poe já têm sido adaptados aos mais diversos suportes, do cinema à BD, no caso concreto do poema “The Raven”, encontramos adaptações ao teatro, ao cinema, à música, à animação e à BD. Do filme homónimo de Roger Corman (muito vagamente inspirado pelo poema), a músicas de Lou Reed e dos Alan Parsons Project, passando por séries de televisão como os Simpsons, a “Vincent”, o primeiro filme de Tim Burton, com narração de Vincent Price, que recita parte do poema, até à adaptação à BD feita por Richard Corben, na mini-série “Haunt of Horror: Edgar Alan Poe”, são inúmeras as homenagens ao poema de Poe, mas nenhuma ultrapassa a força do texto original, acompanhado pelas ilustrações de Gustave Doré, notável pintor e ilustrador francês, cujas ilustrações acompanharam alguns dos maiores textos da literatura mundial, da Bíblia, à “Divina Comédia” de Dante, passando pelo “Dom Quixote” de Cervantes, até “The Rime of the Ancient Mariner”, de Samuel Taylor Coleridge, ou “Paradise Lost”, de Milton.

Último trabalho de Doré, que morreu antes de ser publicada a edição de “O Corvo” com as suas ilustrações, esta obra revela um Doré com um traço mais expressionista e perfeitamente adequado ao ambiente opressivo do poema, que devia ser bastante próprio do estado de espírito do próprio Doré, a braços com uma depressão que se viria a revelar fatal.

Publicada simultaneamente em Portugal e Espanha, numa versão trilingue, em que o texto original em inglês, surge acompanhado pela tradução portuguesa de Fernando Pessoa e pela tradução castelhana de Juan António Pérez Bonalde, esta edição de Manuel Caldas, tendo em conta a qualidade da impressão, o prestígio dos autores e o preço acessível, tem tudo para ser um sucesso.

Esperemos que assim seja e que o sucesso comercial de “O Corvo” permita a Manuel Caldas continuar com o seu trabalho na recuperação dos clássicos da BD.

(“O Corvo”, de Edgar Alan Poe e Gustave Doré, Librimpressi, 64 pags, 13,00 euros)

Os textos de João Miguel Lameiras podem ser lidos no seu blogue POR UM PUNHADO DE IMAGENS


JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias, Quinta-feira, 11 de Fev de 2010

João Ramalho-Santos

AFINAL DE CONTAS...

Antes de mais, e por "sugestão" de diversas entidades responsáveis e reguladoras, venho por este meio clarificar que, independentemente de outras considerações (eventualmente feitas sob o efeito de substâncias que me aconselharam a não discutir publicamente) considero a minha gratificação como crítico de banda desenhada no JL mais do que adequada à função que desempenho. Faço-o por missão, pelo prazer infinito de iluminar as massas e converter hereges. Esta questão está pois encerrada. Já agora, se me deixassem ir embora para casa ou, pelo menos, afastassem um pouco a pistola da minha nuca ficaríamos todos um nadinha mais felizes. Obrigado. O quê? Só depois de por uma posta? Está bem, que remédio.

O JL tem sido um vício por diferentes motivos.

Primeiro porque o leio. E aprendo. Com a Leonor Nunes ou a Maria João Martins, com o Manuel Halpern ou o Rodrigues da Silva. Sobretudo aprendi muito sobre cinema com este último, e por um motivo muito simples: estava quase sempre em profundo desacordo com ele. É a melhor maneira.

Segundo, porque de vez em quando encontro nos sítios mais inesperados do mundo alguém que lê o JL, geralmente através de uma assinatura institucional. Acho isso profundo, como encontrar um monumento a um "cowboy" português no meio do nada dos EUA. Ou um vestido minhoto no Museu Etnográfico de Honululu. O único outro periódico que descobri em circunstâncias similares foi "A Bola" (sem desprimor, apesar de não consumir jornalismo desportivo, como todos os maus intelectuais adoro futebol).

Terceiro, porque no JL, ao contrário daquilo que sucede em muitos outros locais, não prego (espero eu...) só a convertidos. E tenho oportunidade de falar sobre Banda Desenhada a um público que, desconfiando/desprezando (sim, sei bem como é...) até pode ser que arrisque alguma coisa num ou outro livro discutido. Na mistura profundamente subtil de códigos, de palavras e imagens. Ou às vezes só de imagens.

A propósito, seguem-se dois textos sobre livros que vale a pena descobrir. Dois textos sobre livros sem texto. Um deles, Caminhando com Samuel, foi mesmo um dos mais surpreendentes do ano passado.
Antes que me esqueça: há-de aparecer nas Livrarias (da Libri Impressi de Manuel Caldas) O Corvo. Poema de Edgar Allan Poe, com ilustrações de Gustave Doré. E traduzido para português por um tal de Fernando Pessoa. Não é BD, é um livro ilustrado. Isto é apenas uma constatação de formato, não de qualidade. Seja ou não BD é Bom.

Os textos de João Ramalho Santos podem ser lidos também no seu blogue AS SEQUÊNCIAS REBELDES


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