sexta-feira, 3 de junho de 2011

BDpress #263: AS MESAS REDONDAS SOBRE QUADRINHOS ORGANIZADAS PELA EDITORA BRASILEIRA COMPANHIA DAS LETRAS

Damos um salto ao Brasil (via site Impulso HQ), para ver como param as coisas por lá, em matéria de HQs, mas não sem antes vos convidar a visitar o blogue Leituras de BD do Bongop, onde podem ler (e ver as fotos) do texto sobre o primeiro fim-de-semana do Festival de Beja, AQUI.


No dia 21 de Maio, aconteceu na Livraria Cultura, em São Paulo, Brasil, o 1º encontro Quadrinhos na Cia, organizado pela editora Companhia (Cia) das Letras, evento que reuniu quatro mesas-redondas que abordaram diversos temas pertinentes ao mercado de quadrinhos e contou com a curadoria e mediação dos gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon.

Foi um sábado dedicado a troca de informações sobre quadrinhos e no final do evento os gêmeos anunciaram que estão trabalhando na adaptação do livro “Dois Irmãos”, lançado em 2000 pela Cia das Letras e escrito pelo amazonense Milton Hatoum.

Aqui fica o texto sobre uma das mesas-redondas, acerca de quadrinhos autobiográficos, que tem o seu interesse, quem quiser ver mais, pode ir AQUI.

Fábio Moon e Gabriel Ba

Impulso HQ, 3 Junho 2011

Por Alexandre Manoel

MESA REDONDA QUADRINHOS AUTOBIOGRÁFICOS: COMO FOI

Que o mercado de histórias em quadrinhos vem crescendo no Brasil ninguém duvida. A constância de um edital governamental em incentivo à linguagem, o cada vez mais crescente aumento de editoras estreando no segmento e o número de bons lançamentos que aumentam a cada mês são provas cabais disso.

No dia 21 de maio, em São Paulo onde, a Companhia das Letras inaugurava as comemorações dos seus 25 anos com uma série de mesas-redondas dedicadas aos quadrinhos com curadoria e mediação dos gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon, no evento 1º Encontro Quadrinhos na Cia.


Pelo sempre ruim trânsito de São Paulo, que mesmo no sábado é horrível (e para piorar, a equipe do Impulso HQ chegou ao local na mesma hora que a tropa de choque da policia militar soltava bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os participantes de uma passeata pela legalização da maconha – que péssimo dia para usar a minha camiseta do Capitão Presença) não pudemos estar presentes nas duas primeiras mesas redondas do dia: uma sobre adaptações literárias (com a presença de Spacca e Wander Antunes) e outra sobre o mercado internacional (com Joe Prado e Marcelo Lelis).

Felizmente conseguimos fazer a cobertura da mesa redonda que abordou os quadrinhos autobiográficos e contou com a presença de Caeto (Memórias de elefante), Eduardo Medeiros (Sopa de salsicha) e Lourenço Mutarelli (que dispensa apresentações).


Gabriel Bá, num breve discurso de apresentação do tema, disse: “A autobiografia encontrou nos quadrinhos um solo muito fértil porque a maioria dos autores é tímida, introvertida e a saída é colocar no papel as suas idéias. Mas ao mesmo tempo também são bem corajosos por se exporem assim”.

Lourenço Mutarelli, já no final do encontro, retomando o tema inicial disse: “No fundo, somos muito mais antissociais do que tímidos, no fundo todos nós temos problemas em seguir padrões”.

A mesa-redonda se desenvolveu com os gêmeos fazendo perguntas, ora generalizadas, ora específicas aos autores. No final houve o tradicional espaço para o público fazer suas perguntas e ter um contato mais próximo com os quadrinistas.

Moon relembrou que o tema já faz parte do cenário a muito tempo: “No início dos anos noventa era natural ver quadrinistas que se colocavam como personagens, a exemplo do ‘Angeli em crise’”.


Caeto foi mais distante no tempo ao citar o underground americano como influência: “Crumb, Pekar e Los três amigos são os responsáveis por eu fazer quadrinho autobiográfico”.

Mas houve quem discordasse do termo: “São muito poucos os quadrinhos autobiográficos. Na minha obra tem muitos fatos que eu vivi, mas a autobiografia em si eu nunca fiz”, disse Mutarelli.

Questionados se quadrinho biográfico era mais fácil de fazer, pelo fato de já ter um personagem pronto e não precisar começar do zero, Caeto comentou: “Por conhecer a história, eu poderia contá-la de forma não linear, se fosse inventada talvez eu não conseguisse isso, mas não sei se é mais fácil do que criar a partir do zero, preciso experimentar”.

Moon citou uma experiência sua que, quando planejava um personagem para uma de suas HQs, percebeu que ele, o personagem, se assemelhava muito com Mutarelli e começou a usá-lo como referência.“Eu me perguntava como o Mutarelli reagiria às situações que o personagem enfrentava e repassava isso ao papel”, revelou.

Dentro desse aspecto da autobiografia de usar personagens reais, Bá comentou: “É mito mais corajoso colocar outras pessoas reais numa HQ biográfica do que colocar a sua própria opinião”, pensamento que foi completado por Moon: “Eu fico preocupado em encontrar o Caeto e depois sair numa HQ dele”, brincou.

Mutarelli contou-nos sua experiência em usar pessoas reais como referência: “Na trilogia do Diomedes eu utilizei meus amigos como vilões, pedi que cada um me enviasse uma foto de frente e outra de perfil para traçar uma linha para o personagem”.

Outra vantagem da autobiografia foi revelada por Edu Medeiros: “Quando tu vai numa balada, numa festa ou qualquer coisa assim, tu pensa: Se tudo der errado, pelo menos eu tenho história para contar”.

Alguém na platéia perguntou qual tipo de história é boa para ser contada, Moon respondeu: “Você tem que contar a história que você acredita, que diz alguma coisa para você e sobre a qual você tem um ponto de vista. Senão, vira só uma simples história que acontece”.
Caeto e Moon, depois de algumas declarações, chegaram a conclusão que quando se faz uma história biográfica que ocorreu a muito tempo, ela adquire ares jornalísticos, como Persépolis. “Quando você faz uma história que esta ocorrendo na hora, não sabe muito bem aonde esta indo”, como revelou Caeto.

Questionados sobre em que momento em seus processos criativos eles pensam no público, Mutarelli disse: “Não costumo pensar no público porque isso me travaria”. Bá completou, encerrando a mesa-redonda:“Pensar no público é importante, mas nunca pode ser mais importante do que pensar na história”.

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