GAZETA DA BD #42 – NA GAZETA DAS CALDAS
O REGRESSO DE “JIM DEL MÓNACO”
TOZÉ SIMÕES E LUÍS LOURO
VOLTAM À BANDA DESENHADA
Gazeta da BD #42 - na Gazeta das Caldas
15 de Maio de 2015
Jorge Machado-Dias
Agora, em 2015, vinte e dois anos depois do último álbum publicado e comemorando o 30º aniversário do personagem, a dupla Simões & Louro regressa com Jim del Mónaco (Louro está a finalizar a história), num álbum com o título O Cemitério dos Elefantes, eventualmente a ser lançado durante o 26º Festival Amadora BD.
Mas no princípio, em Novembro de 1985, havia apenas as seis pranchas de O Souvenir, publicadas nas páginas da secção Tablóide do "Sábado Popular", suplemento do desaparecido Diário Popular. É uma curta história que ocorre no regresso a África do europeu Jim del Mónaco, acompanhado pelo seu criado negro Tião, cuja truculência verbal remata as mais rocambolescas situações e pela escultural Gina, uma loura um pouco fútil que não perde a menor oportunidade de se atirar ao explorador, com poses a fazerem recordar Jane, uma célebre personagem dos comics ingleses. Esta história será o início do primeiro álbum publicado pela Futura em 1986. Jim del Mónaco é uma personagem inspirada nos comics Jim das Selvas (de Alex Raymond) e no Fantasma de Lee Falk, mas também nas séries de cinema interpretadas por Johnny Weissmuller (Tarzan – entre 1932 e 1948. Jim das Selvas – em 1948). No fundo trata-se de uma paródia ao modo como os colonizadores europeus encaravam os seus territórios africanos, num ambiente característico dos anos de 1930/40, veiculado sobretudo nos filmes que referimos anteriormente.
Fazendo lembrar o estilo gráfico dos valencianos Mique Beltrán e Daniel Torres, tendo até como referência o do português Fernando Bento, no entanto com um traço inicial um pouco anguloso e ainda "duro", Luís Louro evolui depois para uma expressão mais plástica e flexível, marcada pelos inequívocos sinais de uma riqueza de detalhes e de uma composição de personagens e cenários, ainda mal esboçados nos primeiros episódios. Depois, comprovar-se-á que os autores vão ganhando fôlego e confiança, atrevendo-se a ultrapassar a fronteira da história curta rumo a episódios mais longos e, por fim, a histórias de álbum inteiro, inclusivamente fora do "habitat" natural do herói (no caso de A Grande Ópera Sideral – de 1991).
Digamos também que Jim del Mónaco começou a tomar forma depois de uma visita dos autores ao Festival de Barcelona em 1985, sendo que nessa altura, os grandes sinais de vitalidade no domínio da ficção na BD vinham de Espanha e de Itália. Isto depois de a banda desenhada franco-belga se ter tornado demasiado reflexiva e auto-crítica, fechando-se progressivamente sobre si própria, dizendo a crítica especializada que faltavam argumentistas à altura da geração de talentosos desenhadores que dominava o mercado, lamentando-se mesmo o fim da banda desenhada infanto-juvenil. Em Portugal, a BD tinha-se tornado, sobretudo, numa área especializada do género histórico-documental.
À esquerda: Jim del Mónaco, 1985, suplemento “Tablóide” do “Sábado Popular. À direita: O Dragão Vermelho, Edições ASA, reedição a cores, 1992.
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