domingo, 26 de julho de 2015

GAZETA DA BD #46 NA GAZETA DAS CALDAS – O CLUBE PORTUGUÊS DE BANDA DESENHADA (CPBD) TENTA SAIR DA LONGA LETARGIA DOS ÚLTIMOS 20 ANOS

Gazeta da BD #46
Na Gazeta das Caldas, 24 de Julho de 2015

Jorge Machado-Dias

GAZETA DA BD #46 NA GAZETA DAS CALDAS

O CLUBE PORTUGUÊS DE BANDA DESENHADA (CPBD) 
TENTA SAIR DA LONGA LETARGIA 
DOS ÚLTIMOS 20 ANOS


Logótipo do CPBD desenhado por Franklin Ferreira da Silva

O Clube Português de Banda Desenhada (CPBD) foi criado a 28 de Junho de 1976, por iniciativa de quatro colecionadores de revistas de Banda Desenhada, na altura cheios de genica e com desejo de completar as suas colecções, mas também com intenção de divulgar a banda desenhada em Portugal, sobretudo às gerações mais jovens. O primeiro objectivo – contactar outros colecionadores de revistas de BD e completar as suas colecções particulares – era o principal motivo do Clube. O resto veio por acréscimo e talvez devido à iniciativa de novos sócios, para quem as colecções de revistas de BD (nessa altura já em rápido declínio), não teriam grande interesse, suponho eu. Depois de uma angariação de sócios, o CPBD veio a deslocar-se a Lucca (cidade italiana onde se realizava todos os anos um Festival de Banda Desenhada), na pessoa de um dos membros do Clube e a convite de Vasco Granja, para ali apresentar uma série de diapositivos com um estudo sobre a Banda Desenhada Portuguesa.

O Clube começou por iniciar, em Março de 1977, a publicação do seu órgão informativo, o “Boletim do CPBD” que, com os seus 139 números já publicados (o último foi em Março de 2015), é o fanzine mais antigo em publicação em Portugal. Ao longo dos anos este fanzine viria a lançar nas suas páginas muitos trabalhos de novos desenhadores, sócios ou não do CPBD, interessados em ver as suas histórias de Banda Desenhada publicadas. Uma pré-seleção de todo esse material, permitia que embora a sua qualidade gráfica não fosse das melhores, a impressão era feita a stencil, pelo menos tentava apresentar o que de melhor era criado pelos jovens autores. Com o passar dos anos, a qualidade gráfica do “Boletim” foi melhorando, não só acabaria por surgir com algumas páginas a cores, como a qualidade de impressão era melhorada de ano para ano. Actualmente, digo eu, o boletim precisará de uma remodelação mais ou menos profunda, não só para modernizar graficamente toda a sua imagem, como publicar temas mais actuais para captar o público jovem.

O CPBD chegou a publicar também os álbuns de BD “O Neto de Cartouche” de Victor Péon (1976) e “O Suave Milagre” de Eduardo Teixeira Coelho (1977) com a chancela do CPBD e mais tarde duas brochuras, uma com as aventuras de “Quim e Manecas” (1988) de Stuart e outra com a história “34 Macacos e Eu” de Fernando Bento. Mas a sua principal actividade foi sempre a apresentação de exposições, começando em 1978 com “100 Anos de Histórias aos Quadradinhos em Portugal” enquadrada na Exposição Filgráfica Filescola, no antigo edifício da FIL, na Junqueira. Depois “A Banda Desenhada e a sua Acção Pedagógica” no edifício da Sociedade Nacional de Belas Artes.

Contudo a mais conhecida e visível iniciativa do clube foram os Festivais de Banda Desenhada de Lisboa, ocorrendo o primeiro durante a Exposição Nauticampo, também na FIL em Março de 1982. Seguiram-se mais catorze Festivais anuais, repartidos entre a FIL, Espaço Poligrupo da Rádio Renascensa, Fórum Picoas e Palácio da Independência, até Setembro de 1996. No segundo Festival foi criado o prémio “O Mosquito”, para distinguir as individualidades com maior destaque no campo da BD.

Na minha opinião, o fim dos Festivais de BD de Lisboa teve talvez a ver com o início e a pujança alcançada pelos Festivais da Amadora que começou a dar cartas no panorama bedéfilo português e que em 1996 tinham já um nível de apresentação “profissionalizado”, ao contrário dos amadores Festivais do CPBD e porque a organização do FIBDA (Festival Internacional de BD da Amadora) foi sempre assumida pela autarquia local, obviamente com outros meios financeiros.

Mas a actividade do CPBD passou também pela organização de dois Salões de Banda Desenhada na Feira Popular e uma série de exposições, no Palácio Foz, na Estufa Fria, na Câmara Municipal de Lisboa, etc… Organizou também Concursos Nacionais de BD, Feiras de Fanzines, Exposições-venda de BD, colaborou com vários jornais através de páginas sobre Banda Desenhada, instituiu o prémio “Vinheta” para o melhor fanzine em Portugal, enfim, um manancial de actividades que, a partir de 1996 parou quase completamente.

Contudo, ao longo de quase quarenta anos de existência, o Clube nunca conseguiu resolver o problema da sede. Tendo passado por três instalações precárias, por empréstimos de amigos, ocupando sempre um espaço ínfimo e que serviram, na maior parte das vezes apenas para guardar algum espólio e com a possibilidade de realizar uma espécie de Tertúlia semanal, as “célebres” reuniões aos sábados. Actualmente, através de uma parceria (em negociações) com a Câmara Municipal da Amadora, em que se prevê a cedência ao Clube das instalações que foram ocupadas pelo extinto Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem, na Avenida Brasil 52-A, Falagueira/Amadora, o CPBD estará eventualmente “perante o abrir de um novo ciclo, com todas as iniciativas que agora se propõe levar a cabo”, segundo consta numa circular da direcção divulgada recentemente. Desconhecemos quais serão essas iniciativas e colocamos algumas reservas quanto ao modo como irão ser ocupadas e activadas aquelas espaçosas instalações. Mas isso será outra história.



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domingo, 19 de julho de 2015

HISTORIAL DO CLUBE PORTUGUÊS DE BANDA DESENHADA


HISTORIAL 
DO CLUBE PORTUGUÊS 
DE BANDA DESENHADA

Por Carlos Gonçalves (CPBD)

O Clube Português de Banda Desenhada foi criado a 28 de Junho de 1976, mercê da iniciativa de quatro colecionadores e interessados na Banda Desenhada, na altura cheios de boa vontade e com desejos de completar as suas coleções e, talvez, tentar divulgar a 9ª arte no nosso país. A primeira iniciativa era a principal e as outras vieram por novos conhecimentos que viriam a adquirir e a desenvolver. Depois de uma angariação de sócios, o CPBD veio a deslocar-se a Lucca (cidade italiana onde se realizava todos os anos um Festival de Banda Desenhada), na pessoa de um dos membros do Clube e a convite do Vasco Granja, para ali apresentar na forma de diapositivos um estudo sobre a Banda Desenhada Portuguesa. Estávamos no final desse ano.

Os primeiros números do Boletim do CPBD

Uma das principais iniciativas do CPBD e que ainda hoje continua a ser um marco na sua história, foi o de publicar a partir de Março de 1977, o seu órgão informativo, um fanzine intitulado “Boletim do CPBD”. Ao longo dos anos este fanzine viria a lançar nas suas páginas muitos trabalhos de novos desenhadores, sócios ou não do CPBD, interessados em ver as suas histórias de Banda Desenhada publicadas. Uma pré-seleção de todo esse material, permitia que embora a sua qualidade gráfica não fosse das melhores, a impressão era feita a stencil, pelo menos tentava apresentar o que de melhor era criado pelos jovens autores. Com o passar dos anos, a qualidade gráfica do “Boletim” foi melhorando, não só acabaria por surgir com algumas páginas a cores, como a qualidade de impressão era melhorada de ano para ano. Também as informações prestadas nesse fanzine, não só através de artigos sobre a 9ª arte, como de anúncios de sócios que queriam fazer as suas trocas de revistas, eram um modo de comunicação acessível a todos os interessados. Deste modo melhoravam as suas coleções, adquiriam conhecimentos sobre o material que colecionavam, souberam as datas das revistas, obtiveram conhecimento dos seus suplementos, e a numeração de cada coleção, além de qual o melhor modo de conservar cada revista.

 
 

Estudos exaustivos têm sido ali apresentados, como a história da revista “O Mosquito” e outros sobre personagens de sucesso na Banda Desenhada, como o caso de “Sexton Blake” e outros. Devido à quotização ser pequena, só foi possível oferecer aos sócios gratuitamente o “Boletim” a preto e branco. Quando o mesmo foi renovado e melhorou bastante o seu aspeto gráfico, tal tornou-se inviável, até porque alguns sócios não mantinham as suas quotas em dia.

Por esta altura seriam também publicados dois álbuns de Banda Desenhada com trabalhos de Victor Péon, “O Neto de Cartouche” (1976) e de Eduardo Teixeira Coelho, “O Suave Milagre” (1977) com a chancela do CPBD. Cada um deles teria a numeração do sócio e eram oferecidos.

A 10 de Fevereiro de 1978 e até 19 do mesmo mês, apresentou no antigo edifício da FIL, uma vasta Exposição de reprodução de imagens da 9ª Arte, subordinada ao título de “100 Anos de Histórias aos Quadradinhos em Portugal” (Um Panorama da Banda Desenhada Portuguesa) e enquadrada na Exposição “FILgráficaFILescola”. Esta primeira Exposição irá tornar-se itinerante e depois de se ter deslocado ao Funchal/Madeira em Fevereiro de 1979, seria exposta em Aveiro, Viseu, Portalegre e outras cidades de Portugal, nomeadamente Guimarães. A partir de 17 e até 30 de Abril do mesmo ano, seria criada uma nova Exposição intitulada “A Banda Desenhada e a Sua Acção Pedagógica”. A sua realização teria lugar no edifício da Sociedade Nacional das Belas Artes. O CPBD viria a colaborar também numa Exposição de Banda Desenhada, numa realização da Secretaria de Estado e Cultura na Galeria de Arte Moderna de Belém em Agosto de 1979. Nesta fase de divulgação e expansão do CPBD serão vários os trabalhos solicitados, quer para Liceus (onde efetuou Exposições) quer como júri de alguns Concursos de Banda Desenhada, a nível nacional, inclusive os “VideOsDITOS”, patrocinado pela TV.

 
 
 




A 20 de Julho de 1980 inicia uma colaboração frutuosa com o jornal “Correio da Manhã”, que se manteria ativa durante 18 anos, através da publicação semanal nas suas páginas, de um suplemento intitulado “Correio da Banda Desenhada”, onde além de notícias do que se passava no Mundo da Banda Desenhada, passariam a ser entrevistados muitos dos desenhadores portugueses que até aí, eram quase uns ilustres desconhecidos. Ainda em finais de 1980 realizará uma mini-Exposição sobre a figura de Camões na Banda Desenhada, na antiga Fil. Também o jornal “O País” oferece as suas páginas ao CPBD, a partir de Junho de 1981, para a publicação de um suplemento intitulado “O País Jovem na Banda Desenhada”, mais tarde simplificado para “Banda Desenhada, que durou até ao fecho do jornal.

Mas o maior salto qualitativo nas atividades do CPBD será a criação do “I Festival de Banda Desenhada de Lisboa”, igualmente realizado na FIL, durante a Exposição “Nauticampo” em Março de 1982. Seguir-se-ão os II (1983) no mesmo local, tendo este a particularidade de pela primeira terem sido criados os prémios “O Mosquito”, que irão distinguir as individualidades que mais se destacaram no campo da Banda Desenhada, o III (1984) e o IV (1985).



Em 1985 numa ligação com o antigo FAOJ (mais tarde Instituto da Juventude), foram instituídos Concursos Nacionais de Banda Desenhada com prémios pecuniários. Este seria outro ano onde o CPBD colaboraria em várias Exposições, uma delas no Palácio Foz. No ano seguinte, em 1986, será também na Feira Popular de Lisboa, que se realizará uma Exposição e Venda de Banda Desenhada. A colaboração do CPBD em jornais estendeu-se ao “Diário Popular” onde, em 21 de Setembro de 1985, apareceu o suplemento o “Tablóide”, que durou um ano. Seria substituído a partir de 25 de Setembro de 1993 por uma coluna da 9ª Arte, que se transformará mais tarde numa página e em várias ao longo dos anos, inclusive colaborando no seu suplemento “Pimba”, com três e quatro artigos semanais. Tal colaboração manter-se-ia durante cinco anos, até ao desaparecimento do jornal e do seu suplemento.



Os Festivais continuarão todos os anos ainda na FIL (1986), até que durante o VI (1987), deixou de haver a possibilidade de continuarmos nesse espaço e o Fórum Picoas cedeu-nos as suas instalações, para em Dezembro de 1987 (18/27), ali realizarmos o acontecimento. Neste Festival seria criada pela primeira vez, mais um prémio “A Vinheta” que premiava fanzines. Todos os anos o CPBD continua a organizar Concursos de Banda Desenhada. O VIII Festival (Dez. 1989) será realizado neste ano, nas Instalações da Rádio Renascença/Espaço Poligrupo. O IX (17/23 Fev. 1990) será realizado de novo no Fórum Picoas. A partir do X Festival (20/26 de Nov. 1991) até ao XV (4/7 de Setembro de 1996) e último, passarão a ser realizados nas instalações do Palácio da Independência. Em Abril de 1992 realiza uma Exposição de Banda Desenhada na Câmara Municipal de Lisboa (Praça do Município), sobre novos desenhadores portugueses.



Entretanto serão também realizadas Feiras de fanzines na Estufa Fria, num total de três, ao longo dos anos. O “Jornal da BD” durante um ano teve também uma página com a colaboração do CPBD. Em 1994 realiza também um “2º Salão de Banda Desenhada” de novo na Feira Popular. Ao finalizar este longo período de grande atividade do CPBD, editou ainda mais duas brochuras, uma com as aventuras de “Quim e Manecas” (1988) de Stuart e outra com a história de “34 Macacos e Eu” de Fernando Bento. A partir daqui a inércia acompanha as atividades do CPBD, resultando unicamente na continuação da publicação do seu Boletim, o fanzine mais antigo que se publica em Portugal.



Encontram-se agora reunidas as condições para ultrapassar esta situação e tentar encontrar novos sócios que acreditem neste projeto, para no futuro serem planeadas novas iniciativas, mais ou menos ambiciosas, para a sua continuidade como entidade acreditada na divulgação da Banda Desenhada, quer portuguesa quer estrangeira.

Crédtios: Algumas imagens enviadas por Carlos Gonçalves e outras "emprestadas" dos blogues https://ogatoalfarrabista.wordpress.com/, de Jorge Magalhães e http://divulgandobd.blogspot.pt/, de Geraldes Lino


A SEGUIR

FESTIVAL DE BANDA DESENHADA DE LISBOA 
ORGANIZADO PELO CPBD EM 19 MARÇO 1982
EVENTO PIONEIRO NO GÉNERO EM PORTUGAL
por Geraldes Lino

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sexta-feira, 17 de julho de 2015

AMANHÃ (18/07/2015) – TRIBUTO A ESTROMPA – APRESENTAÇÃO DO NÚMERO ESPECIAL DO FANZINE SHOCK DE TRIBUTO A ESTROMPA


AMANHÃ (18/07/2015)
TRIBUTO A ESTROMPA
APRESENTAÇÃO DO NÚMERO ESPECIAL 
DO FANZINE SHOCK 
DE TRIBUTO A ESTROMPA 

Sábado 18 de Julho - das 18:00h - 21:00h
El Pep books
LX Factory 
Rua Rodrigues Faria 103, 1300-501 LISBOA 


João Estrompa [1942-2014]

Apresentação do Shock de tributo ao Mestre Estrompa, um ano após o seu desaparecimento.

Foi um dos autores mais emblemáticos da Banda Desenhada portuguesa, tendo-se destacado principalmente pelas aventuras subversivas do seu personagem Tornado, uma paródia policial/chunga com o humor brejeiro bairrista, do Torpedo de Bernett. 

Foi também criador da mais bizarra, disfuncional e obscena Família Darling, do gato Pink e do cão Smaile.

Neste número especial do SHOCK - Tributo a Estrompa, colaborações de:

Pepedelrey
Outro Nuno
Jorge Coelho
Marco Peixoto
Rui Gamito
Rui Lacas
António José Lopes
José Lopes
Marcos Farrajota


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quinta-feira, 16 de julho de 2015

HOJE ÀS 19:30H – INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO VIRIATO NA BANDA DESENHADA – NO ESPAÇO INOVINTER EM MOURA

HOJE ÀS 19:30H
INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO 
VIRIATO NA BANDA DESENHADA
NO ESPAÇO INOVINTER EM MOURA


GABINETE DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS


EXPOSIÇÃO NO ESPAÇO INOVINTER, EM MOURA

“Viriato na Banda Desenhada”

“Viriato na Banda Desenhada” é o nome da exposição que será inaugurada amanhã, dia 16 de julho, às 19:30, no espaço Inovinter, na cidade de Moura.

A mostra é uma coprodução da Câmara Municipal de Moura e do Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu (Gicav), com colaboração da Câmara Municipal de Viseu, Junta de Freguesia de Viseu, Instituto Português do Desporto e Juventude e Inovinter – polo de Moura.

Trata-se de uma exposição composta por 15 quadros que incluem todas as adaptações em banda desenhada sobre a figura de Viriato. Estão 13 desenhadores representados nesta exposição, nomeadamente, 11 portugueses – Artur Correia, José Garcês, Fernando Bento, Victor Mesquita, Crisóstomo Alberto, José Ruy, José Salomão, Eugénio Silva, Baptista Mendes, João Amaral, Pedro Castro – e dois espanhóis – Chuty e Manuel Gago.

A exposição “Viriato na Banda Desenhada” pode ser visitada de 16 de julho a 2 de agosto, nos seguintes horários: sexta-feira, 17, das 17:30 às 20:00; durante o fim de semana, 18 e 19, das 10:00 às 13:00 e das 18:30 às 22:30. Nos restantes dias das 17:30 às 20:00.

Moura, 15 de julho de 2015


O GABINETE DE COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PÚBLICAS
DA CÂMARA MUNICIPAL DE MOURA

Praça Sacadura Cabral 7860-207 MOURA Tel.: 285 250 400 Fax: 285 251 702 E-mail: gabinete.comunicacao@cm-moura.pt

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domingo, 12 de julho de 2015

GAZETA DA BD #45 NA GAZETA DAS CALDAS - VINTE ANOS DEPOIS DA MORTE DE HUGO PRATT CORTO MALTESE REGRESSA COM NOVOS AUTORES


Gazeta da BD #45
10 de Julho de 2015

Jorge Machado-Dias

VINTE ANOS DEPOIS DA MORTE DE HUGO PRATT
CORTO MALTESE REGRESSA 
COM NOVOS AUTORES


Há quem diga que, sobre Hugo Pratt, já tudo foi dito e escrito. Que nada mais haverá a acrescentar! No entanto a nostalgia leva-nos sempre a relê-lo e, quer queiramos, quer não, a escrever de novo sobre a sua obra e a sua vida. E o que nos encanta sobretudo, é descobrir, a cada abordagem, que a sua vida é ainda mais empolgante que a sua obra, por muito grandiosa que consideremos esta. Chegamos sempre à conclusão que Corto Maltese é um pálido retrato de Hugo Pratt. Mesmo que na altura, como escreveu Umberto Eco, no jornal l’Espresso de 4 de Setembro de 1995, nos tivéssemos que conformar porque, se Hugo Pratt desaparecera, restava-nos ainda Corto.

E passaram já quase vinte anos desde que, em 20 de Agosto de 1995, Pratt morreu de cancro num hospital de Pully, perto de Lausana, aos 68 anos. Mas nestes vinte anos, nem Corto nos fez esquecer o seu criador.

Lembro-me que foi um choque quando li, a 21 ou 22 de Agosto de 1995, no jornal Público, que Pratt havia morrido. Primeiro porque estava a aproveitar as férias para ler De l’autre côté de Corto, um livro com as entrevistas que Dominique Petitfaux foi fazendo a Pratt durante quatro anos, entrelaçando a obra na vida do autor, num testemunho impressionante, ainda para mais, acompanhado de dezenas de fotografias e desenhos inéditos. E nesse livro, onde Hugo Pratt me soava com uma voz límpida, fluente e um discurso desassombrado, passando em revista a sua vida, de repente (quando consegui retomar a leitura, passadas semanas) assumiu a perspectiva de uma voz lúgubre, de além túmulo, de alguém que, penitentemente e a muito custo se confessa.

Desde a descoberta de Corto Maltese na revista Tintim portuguesa, que acompanhei muito esporadicamente e, para ser sincero, sem muito interesse, durante sete ou oito anos da década de setenta (se não estou em erro, a revista Tintim começou a publicar O Segredo de Tristan Bantam no Verão quente de 1975, quando me encontrava na tropa e a situação política do país não era a ideal para ler banda desenhada), depois passando pela revista (A Suivre), e de seguida com os álbuns das Edições 70, onde li então na íntegra os episódios anteriormente publicados na Tintim e aos quais não tinha prestado grande atenção. Diga-se que não prestara grande atenção nem, sinceramente, me agradara muito o traço. Mas, do traço de Hugo Pratt, pode dizer-se o mesmo que um conhecido anúncio dizia da cerveja Sagres: primeiro estranha-se, depois entranha-se.

Mais tarde (1986/87), como desenhador gráfico das Edições 70, teria o prazer de legendar A Casa Dourada de Samarcanda, Tango Argentino (sempre me opus a este Argentino ridículo no título, mas não era eu que mandava) e A Juventude de Corto Maltese, para além de alguns álbuns da série Escorpiões do Deserto.

Desde então coleccionei tudo o que era publicado de e sobre Pratt e, verdade seja dita, acabei por perder quase tudo. Curiosamente o único livro que me restou (se calhar por causa do seu estado lastimável), foi um exemplar da primeira edição portuguesa de A Balada do Mar Salgado, de 1982, edição Bertrand. Esse exemplar servira como prova, para emendas ao texto, com vista a uma 2ª edição que nunca veio a ser feita pela Bertrand e encontra-se literalmente coberto de apontamentos a lápis, pelo revisor.

Hugo Eugenio Pratt nasceu em 15 de Junho de 1927, perto da praia do Lido de Ravenna perto de Rimini, onde os seus pais costumavam passar o Verão. Era filho de Rolando Pratt um francês de origem inglesa e da italiana Eveline Genero, de Veneza. Hugo contou que durante a infância em Veneza, com quatro ou cinco anos, costumava acompanhar a avó de visita a uma amiga, Bora Lévy, que habitava uma muito antiga casa no Velho Ghetto de Veneza. É das recordações desta vivência e dos posteriores conhecimentos que Pratt adquire, que será construído o lado esotérico de Corto Maltese, os seus conhecimentos da Cabala, da Gnose, os nomes terríveis das sete portas... É da janela da cozinha da senhora Bora Lévy, que o jovem Hugo vê o velho pátio coberto de ervas e de musgos, chamado o Pátio Secreto, dito do Arcano e que aparecerá, muitos anos mais tarde, em Fábul
a de Veneza.

Respondendo a uma pergunta de Dominique Petitfaux no livro atrás citado, a resposta de Pratt foi clara: “Não me choca nada que um dia, alguém possa voltar a desenhar Corto Maltese” – disse certa vez Hugo Pratt.

E assim, exactamente vinte anos depois da morte de Hugo Pratt, o marinheiro solitário retorna agora ao serviço. Por ironia do destino, são dois ibéricos os escolhidos para ressuscitar o herói do mestre italiano: o castelhano Juan Díaz Canales (nascido em Madrid, 1972), argumentista de Blacksad e o desenhador catalão Ruben Pellejero (Badalona, Barcelona, 1952), ilustrador de Dieter Lumpen, que não nos parece sair-se nada mal no confronto com o estilo característico de Hugo Pratt.

O novo álbum Corto Maltese, Sous le soleil de minuit, deverá estar à venda em França a 30 de Setembro de 2015.

A primeira prancha de Corto Maltese, Sous le soleil de minuit


Juan Diaz Canales e Ruben Pellejero, Barcelona, Janeiro 2014

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