terça-feira, 15 de setembro de 2015

GAZETA DA BD #48 – NA GAZETA DAS CALDAS – “NAU NEGRA – THE LAST BLACK SHIP” DE FERNANDO RELVAS


FERNANDO RELVAS 
FEZ QUARENTA ANOS DE CARREIRA
E PUBLICOU AGORA 
«NAU NEGRA – THE LAST BLACK SHIP»
Gazeta da BD #48 - na Gazeta das Caldas

Gazeta da BD #48 – na Gazeta das Caldas
11 de Setembro de 2015

Jorge Machado-Dias

Kurofune (navio negro), era o nome que os japoneses davam às grandes naus portuguesas, que desde 1550 faziam a viagem do “trato do Japão”, entre Goa e a ilha de Kyushû – onde os portugueses fundariam a cidade de Nagasaki em 1570 –, no sul do país do sol nascente. O negro das naus devia-se a que os seus cascos eram pintados com pez, para calafetagem. A última viagem do “trato do Japão” terá sido realizada em 1693, quando o shogunato de Tokugawa decretou a política de isolacionismo do país, o Sakoku (em japonês "país bloqueado"), na sequência de uma rebelião atribuída à influência do cristianismo trazido pelos estrangeiros. O Japão só aboliria o Sakoku em 1854, devido à chegada de navios de guerra americanos, exigindo a abertura do país ao comércio estrangeiro.

É neste contexto histórico – na fase final das viagens do “trato do Japão” – que decorre a acção da novela gráfica Nau Negra – The Last Black Ship, de Fernando Relvas, lançada no passado dia 15, na El Pep Store & Gallery em Lisboa.

Fernando Relvas, um dos mais profícuos autores portugueses de banda desenhada, iniciou a sua carreira em Janeiro de 1975, no jornal-fanzine "O Estripador", tendo portanto atingido este ano o quadragésimo aniversário da sua actividade. No entanto, é muito difícil encontrar livros de Relvas nas livrarias. Isto porque o seu trabalho se desenvolveu sobretudo para jornais e revistas ao longo de muitos anos, tendo ganho notoriedade a partir da colaboração com a revista "Tintin", depois no jornal "Se7e" e mais tarde em "O Inimigo", de Júlio Pinto, com muitas outras publicações à mistura.

Fernando Relvas, fotografado por Dâmaso Afonso

Nau Negra nasceu do interesse do autor no livro de Charles Boxer, O Grande Navio de Amacau, a sua “principal fonte de inspiração e, sobretudo, uma ampla fonte de informação”. Neste livro o historiador britânico relata, como diz Relvas no texto de apresentação do livro: “o destino trágico da nau Madre de Deus capitaneada por André Pessoa e destruída à saída de Nagasaki, depois de três dias de luta, em Janeiro de 1610, e as peripécias registadas por Richard Cocks, feitor inglês de Hirado, da nau Nossa Senhora da Vida, capitaneada por Lopo Sarmento de Carvalho, oito anos depois”.

“Boxer, nas suas obras, dá-nos mais do que uma possível interpretação das informações que colheu. Para este enredo, criei mais uma. A ideia de um aventureiro japonês surgiu ao deparar com uma fugaz referência à presença de japoneses entre os corsários de Argel, nas primeiras décadas de 1600, escondida numa nota de rodapé em “O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico” de Fernand Braudel.

Não sabia eu, então, que a presença de japoneses nos mares dessa época era muito maior do que uma ideia enraizada, a do Japão-país-fechado, nos faz crer. Porém, a ideia do japonês aventureiro, o barqueiro da história, talvez tivesse sido esquecida ao fim de algum tempo se eu não transportasse comigo, na bagagem, uma antiga publicação sobre os biombos namban do Museu Nacional de Arte Antiga. Foram as imagens dos biombos que me mantiveram agarrado, durante anos, à ideia de fazer esta história”.

Convém dizer que o autor optou por publicar o livro com o texto em inglês, talvez num convite à sua internacionalização no mercado.

Fernando Relvas trabalhou nesta história desde 2009, ainda com o título Nau Negra – One Boatman, Two Ships, até chegar à versão agora publicada. Nesse ano o autor estava, como costumo dizer auto-exilado na Croácia, desde 2003, regressando a Portugal em 2010.

Nau Negra – The Last Black Ship, de Fernando Relvas, 86 págs., € 17,00. Edição El Pep, 2015

  

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