sábado, 7 de janeiro de 2017

BDpress #471

Banda desenhada vai ter museu em Portugal
Na Revista “E” do jornal Expresso, 24/12/2016

Nuno Galopim

A criação de um museu dedicado à banda desenhada vai fazer de Beja um polo ainda mais activo no panorama da banda desenhada nacional. Ainda em fase de projeto, mas com um local ja destinado a acolhê-lo no centro histórico da cidade, o museu surge ao cabo de alguns anos de um trabalho que tem sido desenvolvido entre a BDteca local e o Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, cuja 12ª edição decorreu este ano. Apesar de não haver ainda uma data prevista para a inauguração deste novo equipamento, "há já muito trabalho feito", explica ao Expresso Paulo Monteiro, o responsável do projeto que a autarquia tem em marcha.

Muito desse esforço a que se refere Deve-se à "teia de relacionamentos'' que o festival permitiu desenhar nos últimos anos, envolvendo "autores, colecionadores, especialistas em banda desenhada e jornalistas". A colecção que está na génese do "acervo muito confortável" do museu que vai nascer surge precisamente desses relacionamentos. Por causa do festival, explica Paulo Monteiro, têm passado por Beja "autores de banda desenhada, tanto portugueses como de muitos outros paises", e entre eles foram sendo reunidas; pranchas, desenhos originais, que, juntarnente com as publicações, revistas e álbuns que estão já em arquivo, permitirão contar a história da banda desenhada em Portugal desde 1850 até ao ano 2000, havendo oportunidade para conhecer depois alguns dos autores e das obras do século XXl atraves de mostras temporárias. A BD estrangeira estará também representada tanto nas colecções como nas exposições do museu, embora não seja esse o foco central da sua atenção.

Apesar de haver BDtecas e festivais de banda desenhada no pais, não havia até aqui um museu dedicado à nona arte, observando Paulo Monteiro que há países europeus com uma história bem mais reduzida no seu relacionamento com a banda desenhada, mas que têm já museus. A história da BD portuguesa inicia-se em 1850 com um primeiro trabalho de António Nogueira da Silva, que é "inspirado na BD francesa", observa o responsável pelo projecto do museu, vincando que fomos um dos primeiros países do mundo a ter uma criação nesta área, se bem que adquira a maior expressão um pouco mais tarde, corn Rafael Bordalo Pinheiro, nome que alguns vêem como sendo o “verdadeiro pai da banda desenhada portuguesa".

Esses dois autores são assim pioneiros de um universo que foi acolhendo, depois, trabalhos de Stuart Carvalhais, Cottinelli Telmo, Carlos Botelho, Eduardo Teixeira Coelho, José Ruy (ainda ativo) e, mais tarde, autores como Vítor Mesquita, Dinis Conefrey, Filipe Abranches, Filipe Melo ou Miguel Rocha, entre muitos outros.

A instalação do museu no ediffcio que lhe esta destinado fará transferir para ali não só eventos do festival de BD mas também a própria BDteca de Beja. Ou seja, a biblioteca já existente e os ateliês que ali decorrem passarão a habitar o espaço do museu. O trabalho na área edição, que conta já com o apoio da autarquia, "que tem lançado revistas de BD e o catálogo do festival", continuará a ser um dos objetivos principais deste relacionamento com a nona arte, pelo que não deixará de haver "uma publicação frequente de autores de BD da região e do resto do pais".

Paulo Monteiro defende que "estava na altura de aparecer um projeto deste tipo" entre nós, que permitirá assim cobrir o que era um espaço em falta na museografia "da história da arte em Portugal". O museu, com a sua exposição permanente e as propostas a realizar para exposições temporárias, "cumprirá essa função e ao mesmo tempo ajudará a conferir estatuto á BD e aos autores que poderão ver ali exposta a sua arte".


O museu vai ser instalado num edifício propriedade do município e situado na rua Dr. Afonso Costa, vulgarmente conhecida como rua das Lojas, no centro histórico de Beja. Neste sentido, a criação do Museu da Banda Desenhada vai também “ao encontro” da estratégia da Câmara de Beja de promoção, dinamização e valorização económica do centro histórico da cidade, frisou o autarca, referindo que o município está a trabalhar no projeto e ainda não definiu o investimento necessário nem uma data para a criação do museu avançar no terreno.

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