Retomo hoje as lides, com uma referência ao trabalho actual, semanal, de José Carlos Fernandes (e isto desde que deixou de realizar BD) na revista Time Out sobre música Clássica e Jazz que esporadicamente acompanho.
SOBRE JOSÉ CARLOS FERNANDES...
NA REVISTA TIME OUT
16 DE MAIO 2018
Jazz&Clássica
Cristãos, mouros e judeus
A história do Reino de Granada é contada através de música por Jordi Savall, com La Capella Reial de Catalunya e Hesperion XX.
José Carlos Fernandes convida a uma viagem no tempo ao al-Andaluz* das "Três Culturas".
Para lamentar as manifestações de intolerância religiosa do nosso tempo, há quem evoque a idílica convivência entre diferentes credos e culturas no al-Andaluz da Idade Média. Porém, se é verdade que os conquistadores islâmicos permitiram que cristãos e judeus mantivessem as suas religiões e o auto-governo das suas comunidades, é excessivo imaginar que os governantes do al-Andaluz eram multiculturalistas na acepção moderna, ou que entre as três crenças não havia atritos.
Nem sequer no seio de cada crença reinava a harmonia: foram as dissensões internas que, em 1009, levaram à desagregação do Califado de Córdova em múltiplas entidades políticas – as taifa. Uma das mais importantes foi o reino de Granada, fundado em 1013 e que conheceu um período de florescimento nas artes, ciências e ideias, interrompido em 1090 pelos Almorávidas.
Os reinos taifa, enfraquecidos por incessantes quezílias, tinham pedido auxílio a estes Berberes do Norte de África para fazer face às hostes cristãs, mas, após suster o avanço de castelhanos e aragoneses, os Almorávidas acabaram por subjugar aqueles que tinham vindo ajudar, a pretexto de estes se terem afastado da fé islâmica.
Os Almorávidas instauraram um regime fundamentalista que seria suplantado pelos Almóadas, também berberes e adeptos de uma interpretação estrita do Islão.
Granada caiu nas suas mãos em 1157 e o acréscimo da intolerância trazido pela sua governação fez muitos cristãos e judeus buscar refúgio nos (pouco tolerantes) reinos cristãos.
A pressão cristã acabou por causar a desintegração do Califado Almóada, permitindo que em 1230 surgisse o Emirado de Granada, governado pela dinastia Nasrida, que iria ver o seu território encolher gradualmente até à capitulação final perante os Reis Católicos em 1492. Savall poderia ter fechado aqui o arco da sua narrativa, mas, nos primeiros anos sob os Reis Católicos, os mouros de Granada foram tratados com benevolência, podendo manter credo, tradições e propriedades e reger-se pela lei
islâmica.
Só em 1499 se iniciaram as perseguições, que culminaram em 1502 com a imposição aos granadinos de escolher entre a conversão à fé cristã e a expulsão – e foi esta a data que o maestro catalão escolheu para termo do fascinante CD Granada 1013-1502 (Aiia Vox), em que se mesclam tradições cristãs, islâmicas e judaicas, maginativamente recriadas por La Capella Reial de Catalunya e pelo Hesperion XX e pelos músicos do Norte de África e Médio Oriente que têm vindo a participar nos projectos transculturais de Savall a mesma equipa olímpica que agora se apresenta na cidade que já se chamou al-Ushbuna**. •
* al-Andaluz: a Península Ibérica sob ocupação moura (islâmica/mauritana) – nota do Kuentro.
** al-Ushbuna: a Lisboa moura – nota do Kuentro.
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Adams, Holst, Strauss
As trips pelo espaço sideral estão mais associadas ao rock psicadélico, à kosrnische e ao trance, mas desta vez poderá experimentar-se a sensação de imponderabilidade e de viagem astral no ambiente mais formal do Grande Auditório da Fundação Gulbenkian e com o concurso da orquestra da casa. "Uma Odisseia em HD", programa com direcção de Robert Ziegler, articula duas peças com conotações cósmicas, directas - a suíte sinfónica Os Planetas, de Gustav Holst – e indirectas – o poema sinfónico Assim Falava Zaratustra, de Richard Strauss, que foi usado por Kubrick na banda sonora de 2001: Odisseia no Espaço. Os Planetas foi composta em 1916, o que explica que tenha só sete andamentos: a Terra não conta e Plutão só seria descoberto em 1930 (de qualquer modo, seria despromovido a planeta-anão em 2006).
A música é complementada pela projecção de imagens da Terra vista do espaço e o programa inclui ainda Short Rideina Fast Machine, composto em 1986 por John Adams, que, não possuindo vinculas espaciais, merece ser ouvida e cuja exuberância e brilho orquestral combina com as duas obras de Holst e Strauss. • JCF
Fundação Gulbenkian. Sex 21.00h, Sáb 19.00h, 15·30€.
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