A Banda Desenhada Portuguesa vai estar, a partir de hoje, em alargada exposição no Museu Colecção Berardo, mostrando 41 autores/desenhadores. Trata-se de uma feliz iniciativa de Pedro Vieira Moura, para trazer à ribalta um género que anda pelas ruas da amargura em termos de público – como aliás se verificou no último Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, em que a falta de público foi estarrecedora, comparativamente a 2009, por exemplo.
Para já, fica aqui o texto de Carlos Pessoa, no Público de hoje, sobre a exposição Tinta nos Nervos e o convite geral para a inauguração.
Público, 10 Janeiro 2011
BD PORTUGUESA NO MUSEU COLECÇÃO BERARDO
AUTORES MOSTRAM O QUE VALEM
Por Carlos Pessoa
Autores de diferentes filiações e estilos gráficos mostram as suas criações.
Dois são históricos Bordalo Pinheiro e Carlos Botelho os restantes são contemporâneos
É a primeira vez que a banda desenhada portuguesa entra no Museu Colecção Berardo e quando o faz é com esta dimensão: quase 600 originais de 41 artistas modernos e contemporâneos de várias gerações, lado a lado na demonstração de uma pluralidade de estilos, capacidades criativas, experiências e vivências que é, de uma forma geral, mal conhecida do público.
Tinta nos Nervos é o nome da exposição, que será inaugurada hoje ao fim da tarde e fica aberta até 27 de Março. O título, pedido emprestado a Húmus, do escritor português Raul Brandão, é assim explicitado por Pedro Vieira de Moura, comissário da exposição: "As sensações que estes trabalhos provocam, as noções que eles fazem vibrar e questionar, a verve com que se impõem face a uma atitude mais consolidada - mas não por isso mais forte - sobre a banda desenhada, fazem-nos acreditar que a tinta que nos lançarão nos nervos nos fará ficar mais alertas, abrangentes e exigentes com esta arte, tão velha e já familiar quanto nova e ainda estranha."
A mostra quer dar a conhecer o "outro lado" do fenómeno de massas que tem o seu expoente nos personagens e aventuras conhecidos de todos, de Astérix a Tintin, de Batman a Calvin e os mil e um heróis que estão de várias formas presentes no nosso quotidiano. Por outras palavras, é uma exposição de autores, acrescenta Vieira de Moura, lembrando que a banda desenhada portuguesa, "em vez das escolas, e apesar de existir uma rede de colaborações, esforços conjuntos e até mesmo famílias criativas, é fortalecida por valores plenamente individuais".
Ficam assim estabelecidos o objecto e a finalidade desta exposição - apresentar ao público que habitualmente frequenta os museus e galerias de arte "os autores que empregam a banda desenhada como um meio de expressão mais pessoal, ou uma disciplina artística aberta a experimentações várias, informadas pelos discursos contemporâneos", escreve o comissário da exposição no catálogo.
Chegar até aqui nem sequer foi difícil. Em Janeiro de 2010, Pedro Vieira de Moura apresentou o projecto a Jean-François Chougnet, director do Museu Colecção Berardo. Foi bem acolhido. A ideia foi fazendo o seu caminho e a luz verde para avançar chegou em Setembro; seguiram-se os contactos com os autores - Pedro Vieira de Moura só não conhecia pessoalmente Victor Mesquita -, a selecção dos trabalhos e, finalmente, a sua organização no espaço de exposição.
À excepção de Rafael Bordalo Pinheiro e Carlos Botelho, "dois autores históricos, experimentais na sua época", os restantes 39 artistas expostos estão vivos e caracterizam-se por "procurar elevar a banda desenhada a uma linguagem adulta e inovadora artisticamente", diz Vieira de Moura. Há autores com uma carreira comercial relevante e bom acolhimento por parte da crítica - caso de José Carlos Fernandes, António Jorge Gonçalves, Nuno Saraiva, João Fazenda, Miguel Rocha ou Victor Mesquita. Outros abordam problemáticas mais fracturantes através de uma banda desenhada de registo convencional, como Ana Cortesão ou Pedro Zamith. Noutro quadrante, que não é consensualmente aceite como banda desenhada, mas que "emprega elementos passíveis de aproximação a uma leitura ampla da banda desenhada", estão artistas como Eduardo Batarda, Isabel Baraona ou Mauro Cerqueira. E há ainda os que levam mais longe o seu labor, traduzido em outros objectos: estão nessa categoria os bonecos moldados de Zamith, as animações de Filipe Abranches, Daniel Lima, João Fazenda e Cátia Serrão, os peluches de Alexandre Baudoin a partir dos desenhos de André Lemos ou os crachás de Jucifer, refere o comissário da exposição.
À lista de autores seleccionados poderiam juntar-se outros nomes. Pedro Vieira está ciente disso e defende-se dizendo que a sua escolha não foi ditada por um critério de exclusão mas, pelo contrário, procurando incluir autores cujo trabalho "é forte, válido e vincado". De uma coisa tem a certeza: "São todos merecedores de serem conhecidos por um público mais alargado."
Tinta nos Nervos - Banda Desenhada Portuguesa
Museu Colecção Berardo Praça do Império, Lisboa De 10 de Janeiro a 27 de Março Domingo a sexta - das 10h às 19h Sábado - das 10h às 22h. Entrada gratuita
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Marco Mendes e Maria João Worm
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