quinta-feira, 16 de junho de 2011

A “MISSÃO” DE TINTA NOS NERVOS, SEGUNDO JOÃO RAMALHO SANTOS NO JL - PARTE 2


Este post é uma ligação a 
Bongop, o autor-editor do blogue Leituras de BD, que muito estimo, colocou aqui no Kuentro um comentário ao texto de João Ramalho Santos sobre a exposição Tinta nos Nervos, publicado originalmente no JL e no seu blogue “As Sequências Rebeldes” e que republiquei aqui no passado dia 7 de Junho, comentário esse que foi respondido de imediato por um insulto anónimo, sem qualquer sentido. O que levou o autor a retirar o dito comentário. Daí que se tenha reinstaurado o controlo de comentários no Kuentro e pedido a Bongop que republicasse o seu comentário.

Ele assim o fez. No entanto, como esse post já vai longe e atendendo à importância do assunto (não tão importante, claro, como a crise económico-financeira, a novela do novo governo, ou a eleição de um oportunista privado para a presidência da Assembleia da República...) resolvi chamar à primeira página esse comentário e... comentá-lo eu próprio, logo de seguida, esperando que alguma discussão se acenda por estas bandas.

Eis o Comentário de Bongop:

Eu tenho a minha opinião sobre o assunto e sobre a exposição, que vai exactamente contra a filosofia que presidiu a esta exposição. Gosto do Pedro Moura enquanto pessoa e como amante de BD, embora os gostos dele não sejam de maneira nenhuma os meus. Mas acho que quando se organiza uma exposição de BD se deve ter em conta os gostos de toda a gente, e o "comercial" deve estar bem representado, pois é esta parte que puxa mais gente para a BD, e não o género dito ou chamado "alternativo". Acho que há lugar para tudo, mas quando uma exposição tem apenas autores históricos da nossa BD (que eu aprecio) e o restante é tudo praticamente alternativo, a exposição passa a ser apenas para um círculo restrito de pessoas que gostam do género... quando falei em "orgia alternativa" não foi com intenção de ofender nem autores, nem o Pedro Moura! Pretendia apenas com essa expressão dizer que quase tudo eram autores desse segmento da BD, o que é curto e não representativo da nossa BD. Onde estão os autores emergentes, e que chatice... comerciais, se é que se pode dividir as coisas assim?

Um colega meu comprou há pouco tempo um livro de BD com um CD, e veio-me perguntar se em Portugal as pessoas não sabiam desenhar!

O que se passa é isto!

Se querem ter uma BD saudável em português têm de atrair o público geral, e não vale a pena chamar a "essa gente" de ignorantes! É essa gente que tem o poder de pôr a BD portuguesa em pé, e "essa gente" gosta de "desenhos bonitos", gosta de ver representado um cão como ele é e não a "alma" desse cão, que não tem nada a ver com a representação dele física! Porque para haver BD alternativa forte e de qualidade a vertente comercial tem de estar saudável. E garantidamente esta exposição não serviu para chamar e fazer gostar o grande público (que anda completamente alheado da BD) da nossa BD.

Podem-me dizer que teve milhares de visitantes, não sei, nem sequer acho isso importante neste momento, porque há muita gente que só vai a este tipo eventos "para parecer bem", e que se calhar não tem um único livro de BD em casa, e nem sequer está a pensar em comprar algum. É como o Amadora BD dizer que tem não sei quantos milhares de visitantes, mas a maior parte são crianças da escola em passeio, com o professor a puxá-los com força porque se quer despachar e está a apanhar uma grande seca.

É claro que posso estar completamente enganado e esta exposição tivesse como objectivo um público mais restrito e sabedor do assunto.

Mas mesmo que esse fosse o propósito, acho que estas oportunidades raras devem ser aproveitadas para propagandear a BD junto das massas e não afastá-las, com o estigma do "é só para intelectuais".

Não pretendo ofender ninguém! Estavam lá autores muito bons representados, apenas expressei a minha opinião, se eu tivesse os conhecimentos e as ligações certas (e dinheiro quanto baste) faria uma exposição de maneira completamente diferente.

Querem um exemplo muito bom de casamento entre a vertente alternativa e comercial?

Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja!

Neste festival há lugar para tudo! Por isso eu acho, neste momento, que é o melhor festival português de BD!

Quem tem o poder e a oportunidade que chame o "povo" para a BD.

Eu não tenho. Apenas escrevo, ou tento escrever, num blog tentando divulgar o mais possível a BD que por aí se faz. Não consigo fazer mais que isso.
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A opinião do editor do Kuentro:

Apesar de ter dito pessoalmente, que concordo com algumas das coisas que o Bongop diz neste texto, não quero dizer que concordo com o texto como opinião sobre a exposição Tinta nos Nervos – o que é substancialmente diferente.

Para começar, o Bongop diz que a sua opinião “vai exactamente contra a filosofia que presidiu a esta exposição” e não me parece, pelo que diz a seguir, que se tenha preocupado em ler o que fosse sobre essa filosofia. E ela está explícita nos textos de Pedro Moura, no Catálogo, no Programa desdobrável distribuido na exposição e até no seu blogue LerBD.

E o que diz Moura? No programa define logo ao que vem: “Apesar da sua historia e diversidade, a sua legitimação cultural não tem conhecido a mesma fortuna que áreas como as da fotografia ou do cinema, dado que a percepção social sobre ela lhe lança um denominador comum básico, assimilando-a à literatura de massas, ao entretenimento infanto-juvenil, ao escapismo, etc..” e depois, “Tinta nos Nervos é uma mostra de 41 artistas portugueses, na sua larga maioria ainda hoje activos, que exploram esta arte de um modo particularmente pessoal, expressivo e atento a questões estéticas contemporâneas. Em consonância com um número substancial de artistas internacionais, estes são alguns dos nomes na cena nacional que contribuem para uma contínua expansão e diferenciação enriquecedora das potencialidades artísticas do campo da banda desenhada. Mais ou menos afastados de um certo consenso da banda desenhada comercial: "de entretenimento", etc.. estas são obras que poderemos considerar como "bandas desenhadas de autor". A leitura poderá não ser completa, mas o acesso à arte original será uma forma de dar a conhecer um panorama alargado e diversificado, e estimular os visitantes a procurar as suas bandas desenhadas.” E isto resume, de maneira clara, o texto mais alargado, um pouco maçudo e mais académico, do Catálogo. Ou seja resume as intenções do organizador da exposição, sobre o que quis mostrar.

Já li num qualquer comentário crítico, que Tinta nos Nervos poderá ser até considerada “complementar” das que foram organizadas na Fundação Gulbenkian em 1997 e 2000 por João Paiva Boléo e Bandeiras Pinheiro, mas do que discordo em absoluto, uma vez que essas foram exposições “do Percurso Histórico” da BD portuguesa. Pedro Moura quis fazer-nos olhar para outra coisa: a “banda desenhada de autor”, que é feita, logo à partida, sem grandes intuitos comerciais. Aquilo a que poderemos chamar a banda desenhada adulta (não confundir com “para adultos”). E Moura foi buscar dois autores já falecidos (Bordallo Pinheiro e Carlos Botelho), exactamente porque “procuraram elevar a banda desenhada a uma linguagem adulta e inovadora artisticamente”.

Também não gosto de alguns dos autores escolhidos, mas posso perfeitamente discutir isso, porque os gostos também se discutem, ao contrário da falácia corrente, que serve apenas para encobrir certos tipos de ignorância geral – assim como existe a “cultura geral”, também existe a “incultura geral” e esta é muito mais generalizada que a primeira –, uma vez que os gostos se educam, podendo ser, aqueles que se adquirem sem qualquer suporte formativo (ou informativo), perfeitamente educados. E aí discordo do Bongop, porque não será nunca "o público em geral" - “essa gente a pôr a BD portuguesa de pé”, como ele diz. Isto com todo o respeito que me merecem os seres humanos em geral, mesmo aqueles que compram toneladas de revistas sobre tricas sociais, literatura de meia-tigela do tipo Margaridas Rebelo Pinto, Paulos Coelho e outros do género, que compram jornais desportivos em vez dos de informação geral, que passam fins-de-semana inteiros no Shopping e que levam os filhos a passear ao domingo aos Festivais de BD (a ver “bonecada para crianças e adolescentes”), quando não têm mais nada à mão e já estão um bocado cansados dos passeios no Shopping, e até dizem “ai que giro”, mas que depois passam pelas bancas de livros com ar de enfado, ou mesmo aqueles que compram banda desenhada com "desenhos bonitos", mas que seriam completamente incapazes de comprar American Splendor, Footnotes in Gaza, Persepolis ou Blankets (se tudo isto existisse em português, obviamente), por exemplo. E porquê?

Eu advogo que, para trazer o público português para a banda desenhada, é preciso mostrar TODA a banda desenhada que se produz neste país – mostrar que se produz também banda desenhada adulta e não apenas “bonecada para crianças, adolescentes e passadistas nostálgicos agarrados, agora como sempre, aos bonecos da adolescência”.

Claro que não quero colocar a tónica das escolhas de Pedro Moura num hipotético academismo, erro em que se cai, sabendo-se que ele é lincenciado em Estudos Portugueses, Mestre em Filosofia Estética (com a tese “Memória e Banda Desenhada Francófona Contemporânea”), porque isso seria limitar o campo de percepção e ignorar as ilações a que se pode chegar quando se analisa a banda desenhada portuguesa no seu todo. E esse todo passa obviamente pelo mercado. Contudo, não é pelas afirmações de Bongop que passa a solução do problema do mercado.

E sobre esta questão do mercado, leiam o texto de Sara Figueiredo Costa no Catálogo de Tinta nos Nervos, e até o meu humilde texto sobre Tinta nos Nervos, no BDjornal #27.

Como suporte, ou mesmo complemento ao texto de Pedro Moura no referido Catálogo, também aconselho a leitura do que lá escreveu Domingos Isabelinho. E talvez, lendo todos estes textos, se fique a perceber alguma coisa do que quis dizer acima.

Claro que sobre o Festival de Beja, especialmente sobre o deste ano, que considero um semi-fracasso, terei também alguma coisa a dizer. Mas isso será no BDjornal #28 e depois de falar, como sempre, com Paulo Monteiro.

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12 comentários:

  1. Machado
    Eu não tenho nada contra a BD "adulta", "alternativa", enfim, tudo o que quiserem rotular.
    O que me chateia é que este tipo de mostras de BD, em lugares de primazia cultural são SEMPRE deste género. Desde que voltei à Banda Desenhada são estas as exposições que ganham este tipo de espaços e visibilidade. Eu tenho muitos livros desta vertente de BD, também gosto quando é REALMENTE bom, e compro!
    Sabes como é que eu voltei à BD?
    Foi com a tabacaria do Centro Comercial das Galerias do Alto da Barra em Oeiras. Porquê?
    Porque tinham em lugar cimeiro comics da Devir! Comprei alguns, e tive curiosidade de saber o que se passava naquela altura com aquela telenovela pegada que são os comics "mainstream" Norte-Americanos. Se nessa altura eu tivesse ido ver uma exposição do género, com certeza que não era iso que me levaria a comprar nada. Não é apelativo. Eu disse não é apelativo, não disse falta de qualidade.
    Como sou consumidor de BD gosto de ter as minhas séries sempre actualizadas com os números seguintes... normalmente e infelizmente isso não acontece muitas vezes, porque são suspensas por falta de vendas. Portanto é preciso levar as pessoas a comprar!
    É minha opinião que estas exposições não levam o público geral para a BD.
    Quando não estás de acordo que as pessoas que compram a Maria e vão passear ao centro comercial ao fim de semana nunca iriam comprar BD, não acho verdade. Compram quando vêm certos títulos à venda. Porque acham "giro". Porque podem dar uma boa gargalhada lendo "aquilo". Já vi acontecer mais que uma vez. As editoras precisam de uma boa base financeira (leia-se vendas) para continuar a edição, e se não se conseguir ganhar esta gente nunca haverá BD a sério em Portugal, seja ela alternativa ou comercial.
    Eu não estou propriamente contra a exposição em questão, nem contra o organizador ou autores... longe de mim uma parvoíce dessas.
    O que eu estou contra é que é sempre mais do mesmo! As grandes exposições em lugares privilegiados são sempre deste género!
    E não acho que isso traga grandes mais valias à BD. Vou explicar...
    Primeiro as pessoas têm de comprar, depois de comprarem e gostarem daquilo que é mais óbvio, podem passar à fase seguinte de "educação" na BD. E depois de terem o "bicho" todo vão querer experimentar títulos bem mais arrojados tanto graficamente, como ao nível da escrita.
    Neste caso estamos a começar com a educação pelo telhado e não há alicerces...

    Quanto à exposição propriamente dita tem trabalhos e autores de que eu gosto, outros (talvez mais de metade) de que eu não gosto... foi feita num excelente local e estava bem organizada.

    Mas a minha luta neste momento é fazer com a que as pessoas de que falas atrás COMPREM! E gostaria que as pessoas que gostam de BD e que têm as ligações certas fizessem exposições muito mais "leves" e apelativas para o público em geral.

    Espero não ser mal interpretado.

    Abraço
    Nuno Amado

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  2. Machado
    E claro que essas pessoas nunca iriam comprar American Splendor, Footnotes in Gaza, Persepolis ou Blankets... nem eu esperava tal...
    Apenas espero que comprem qualquer coisa de BD que lhes agrade, e que depois continuem a comprar, e após algum tempo crescem e comecem a comprar obras mais sérias e emblemáticas da BD mundial.
    Talvez com o passar dos anos tivéssemos a BD comercialmente viável e até com o dinheiro destes possíveis compradores permitisse a publicação em português destes grandes clássicos que enumeraste. Esses e outros.

    Nuno Amado

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  3. E entendam estes meus comentários como desabafos, e não "o estar contra" a exposição em si. Apenas gostaria que se fizessem outras nos mesmos lugares com outro tipo de filosofia, o que não acontece...

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  4. O que eu percebo de ler isto tudo é que nenhum dos dois parece perceber o que é o objectivo da banda-desenhada.

    Um rapaz de 8 anos a pegar num livro dos avengers e a ler as suas aventuras enquanto salvam mais uma vez no mundo puxando assim a sua imaginação, esse sim é o objectivo.

    Alguém a pegar num livro muitas vezes com a pior arte possível escrito por alguém que não lê BD "mainstream" e feito com o propósito de parecer intelectual isso não é o objectivo da BD, é uma forma de masturbação mental que a pessoa faz para ficar satisfeita com o seu suposto nível de cultura...


    Suma,o objectivo da Banda-desenhada é o divertimento despreocupado pelos 20 minutos que demora a ler uma revista, não tentem torná-la em algo mais

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  5. Aiai...a eterna discussão :) tem de haver de tudo e para todos. Sempre foi esse o lema usado por estas bandas, tanto nos fanzines (Pax-Fanzine, Lua de Prata e Venham +5)como no Festival, e porquê? Porque temos pessoas com gostos e sensibilidades para tudo isso, desde as mangakas, passando pelos fãs de sci-fi e fantasia, ou ilustradores de poemas... e eu! Que gosto de tudo e já fiz quase todo o género de BD possivel! Não vale a pena discutir o que não tem discussão. Apartir do momento em que temos um Pedro Moura à frente de uma exposição, não podemos estar à espera de ver pranchas do pessoal que tá a fazer BD de qualidade. Ou deveria dizer, vendável! Ou... sei lá :)

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  6. Olá Machado!

    Ultrapassámos mais uma vez o número de visitantes e, pela primeira vez, a meta dos 8.000 (por um triz, é certo, mas nunca tinhamos tido tanta gente). Vendemos muitas centenas de títulos, no valor de alguns milhares de euros (mais para a frente posso dar-te os valores exactos)e tivémos críticas muito positivas (algumas fantásticas). A cobertura nos media também não foi má (televisão, rádios, jornais nacionais, etc.). E acho que toda a gente ficou contente (não só no primeiro fim-de-semana, que é habitualmente dos "forasteiros", mas ao longo dos 15 dias de Festival). Foi também a edição do Festival em que se fizeram mais lançamentos, o que é sempre um sintoma positivo. Semi-fracasso foi o tempo, que nem sempre ajudou à festa (tivémos cheias e tudo!)

    Um grande abraço! Cá fico à espera das tuas perguntas.

    Paulo

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  7. Hallo, Paulo!

    Desculpa lá esta do "semi-fracasso" que eu devia ter colocado mesmo entre aspas, porque até pensei que a minha "percepção" de menor afluência, poderia ter sido um engano de "paralaxe", eh, eh! Isto porque a tenda (que no meu entender foi um belo progresso, como calculas, porque conheces as minhas opiniões de há anos sobre o assunto) me induziu em erro, uma vez que levou à dispersão dos visitantes por um espaço maior. Mas, claro, pode-se sempre atribuir essa minha frase, meio infeliz, ao estado tempo.

    Grande abraço.

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  8. Eu compreendo a paixão do Bongop e a sua preocupação em ter um país de gente com gosto pela BD e, já agora, talvez mais importante, que comprem BD aos magotes, sem complexos. Por isso, talvez para jogar pelo seguro, o Bongop defenda uma exposição eclética de BD.

    Há, ou deveria haver, lugar e espaço para tudo. O Ecletismo é pernicioso. Se todos optassem por este método não haveria grandes avanços na sociedade. Tudo seria muito mais agradável, conciliador, menos discutível, uma grande seca. Não quero com isto dizer que não seja aconselhável aplicar o método em certas circunstâncias. No caso da cultura não acredito que deva ser utilizado, pelo menos na esmagadora maioria dos casos.

    Os gostos e preferências de todos são muito diferenciados uns dos outros (felizmente), podendo ser demarcados, entre outras, por questões de cultura, formação académica e educação parental, ou não. Mas, como escreve o Machado, podemos educar gostos e podemos discuti-los, atrevo-me mesmo a escrever "devemos", pelo menos com determinadas pessoas, pois com outras é um exercício fútil e deveras desgastante. O ditado popular "gostos não se discutem" converge para outro, "quem ama o feio, acha-o bonito". Mas a Estética tem muito que se lhe diga, o Povo (essa gentalha) é simples!

    Eu gosto de alguma BD Alternativa que se faz, não de toda. O mesmo serve para a BD dita comercial.

    Eu, embora não tenha um especial prazer intelectual (do tipo "orgásmico") em exposições do género da "Tinta nos Nervos", acredito que tenha cumprido objectivos importantes: a de divulgar e, mais importante, de educar. Suponho que para melhor se entender o monstro que Hitler foi e como ascendeu ao poder tenhamos que conhecer a República de Weimar e ler, com muito custo, a “Mein Kampf”. Não é uma comparação no estilo ou género, mas na estucha que é.

    Eu gosto muito de Jackson Pollock (e não, não tenho a presunção de saber analisar ou interpretar uma pintura deste pintor, apenas gosto dos gatafunhos), também gosto muito de Goya e também de Dali. Não têm nada a ver uns com os outros, a não ser no facto de terem sido pintores e os seus quadros valerem mais do que eu sonharia ter na minha conta bancária. O estilo que eu mais gosto é, sem dúvida pessoal, o Expressionismo Abstrato. Se eu tivesse apenas ido ver exposições Expressionistas, o que é que eu poderia dizer do Impressionismo, do Neoclassicismo, do Romantismo, do Surrealismo, do Dadaísmo, e outros "ismos"?

    Se pudesse...AH, se pudesse...teria nas paredes de minha casa apenas Pollocks, Mirós, Kandinskys, Gorkys, Koonings!

    Ainda bem que o Pedro Moura fez esta exposição; ainda bem que se discute a exposição; ainda bem que existe diversidade de gostos. Se eu gostei da esmagadora maioria dos trabalhos nela expostos? Não. Posso mesmo dizer que abominei alguns e chamá-los de BD é uma ignomínia. Serviu para minha educação cultural. Talvez a Bauhaus tenha tido a mesma critica no início do séc. XX, por parte de muitos.

    Quanto ao comentários do caro Machado acerca da Amadora BD e dos papás enfadados que não foram ao shopping: Ainda bem que não foram ao shopping e foram ao Amadora BD; se estão enfadados, temos pena(!), sempre gozamos a figura. Vá lá Machado, deixa lá os papás e respectivo prol de pipoqueiros! hehehe! Tira-lhes umas fotografias e elege o melhor enfadado da edição deste ano...o pessoal vai-se fartar de rir. Talvez eu seja eleito! hehehe.

    Um grande abraço.

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  9. Olá Machado!

    Sim, nós também ficámos com essa sensação, no início. Talvez por o espaço ser bastante maior... As pessoas andavam mais dispersas. O tempo também nos fez recear uma diminuição no número de visitantes (esteve quase sempre horrível). Felizmente correu tudo muito bem e acabou por vir mais gente do que no ano passado - Apesar da chuva e do vento frio. Para o ano será melhor, se o S. Pedro ajudar :) Um grande abraço!

    Paulo

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  10. Caro refemdabd,

    Até que enfim, alguém percebeu o que eu disse. Desde que haja um, ainda por cima que defende a posição como tu o fazes, já é bastante bom.

    Quanto aos “papás enfadados” , a que eu chamo, com uns modos um bocado “assassinos”, de “papalvos”, se calhar essa ideia de os fotografar até nem é má de todo, e até, se ganhares, recebes publicamente a medalha de “papalvo” do ano, prometo! Eh, eh, eh!

    Agora um pouquinho mais a sério: eu tenho dezanove anos de experiência nos Festivais da Amadora – estive em todos desde 1992! E depois de, em 1997, ter tido um stand próprio e montado três exposições, a partir de 2004 passei a ter sempre stands no FIBDA. E isto, se fizerem as contas a oito horas diárias em cada fim-de-semana de festival (mais o feriado), são mais de cinquenta horas de presença por Festival – o que dá mais de trezentas horas de presença, só nos seis anos em que tenho stand, fora os anteriores, que não consigo contabilizar. O que quer dizer que se não conhecesse o comportamento (e até, só de olhar para determinados aspectos, a afluência) do público, de cor e salteado, é porque era ceguinho. Daí que, quando eu digo, mais ou menos uma hora depois da abertura, num qualquer dia: hoje é dia de “papalvos”, é certo que nesse dia as vendas caem para os 20% (ou menos) em todos os stands, e nunca falhei.

    Daí o meu interesse em analisar todas estas questões sobre a Banda Desenhada, em números – quantos autores, quantos são mainstream (ou comerciais), quantos são underground (ou alternativos), quanto se edita, quanto se vende e de quê, quantos visitantes, etc... – lutando contra o que João Miguel Lameiras chamou (já agora fazendo eco daquilo que eu próprio digo) o “segredo de Estado” dos editores quanto aos números das edições – quanto exemplares editados, quantos exemplares vendidos. E a não existência desse “segredo” poderia resolver alguns problemas da BD portuguesa, na questão das vendas.

    Mas isto é um bocado complexo de explicar em meia dúzia de palavras, até porque envolveria a abordagem de outros problemas.

    Portanto acho que devemos ir “botando faladura”, a ver se a gente se vai entendendo. Ou não, nunca se sabe...

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  11. Fosga-se Machado, à conta da eventual possibilidade de ganhar esse troféu, ainda por cima com entrega pública, este ano não vou!
    hehehe!

    Tens razão, a experiência fala alto. Tive alguma no caso da Feira do Livro de Lisboa em anos há muito idos, sei do que falas. Quanto ao "segredo de Estado", muitas vezes pergunto-me se as editoras terão esses números, concretamente (falo pela tal experiência ida). Na época dos computadores e stocks automáticos acredito que os terão. Se esses números mostrariam um desnorte dos editores? Bem, isso seria uma conversa interessante, em que a tua experiência concreta teria um peso especial. Sabemos bem que certas editoras têm nas suas carteiras títulos e géneros que num ápice largariam; não o podem e não o querem fazer, por razões contratuais e outras de nicho de mercado, mesmo que esse nicho seja um antro. Mas a questão das marés e dos marinheiros é muito influente; uns pagam os outros e ainda sobra para, afinal, gastar mais algum. Isto sendo benévolo, e acreditando na alma do negócio... (!)

    Certo é que as Editoras continuam por aí, e por muito mal que digam do negócio este ainda prolifera.

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  12. Sendo a banda desenhada algum do nosso real e um pouco do nosso imaginário (sendo tanto um como o outro infinitos) não se podem colocar limites de qualquer espécie nem aos meios, nem às formas, nem aos assuntos, nem às abordagens,nem aos leitores, aliás Bongop, muito menos aos leitores, para que se faça então a maior divulgação (proveitosa) do que tanto nós gostamos e que tanto pretendemos.
    Estou a fazer uma tese de mestrado sobre uma banda desenhada. Só com esse facto já consegui chamar a atenção de várias pessoas da minha faculdade e não só. Sei que são agora pessoas que estão com mais atenção e mais sensíveis para a sua leitura. Passa-se o mesmo com os livros, ditos de literatura (não quero discutir se a bd é literatura) e aquilo a que chamamos literatura de cordel, com os filmes de autor ou cinema de consumo fácil ou até telenovelas. Em todos os casos há uns com qualidade e outros sem qualidade.
    Moro no interior. Há ciclos de cinema de autor todas as terças feiras no cinema. Vou eu e mais 4 ou 5 pesssoas. As sessões são grátis. Quem as organiza é teimoso ao ponto de saber isto e continuar, porque acha que eu e os outros que gostam temos o direito de ter acesso ao que gostamos, e ao mesmo tempo tem esperança que mais alguém adira.
    Parece-me que o Bongop se está a esquecer que a banda desenhada também tem uma história e não passa só por um conjunto de desenhos juntos aos quadradinhos. Os desenhos tornam a leitura diferente. Comecei a ler aos 5 anos para poder ler banda desenhada. Não conseguia perceber nada de Blake and Mortimer. Hoje considero as histórias interessantissimas e já reli a série mais que uma vez.
    A banda desenhada trata e retrata os tempos, a sociedade, o local em que vive o desenhador e o argumentista, as vivências e os gostos de cada um. E nós também mudamos como leitores. Eu não tenho que gostar de todos. Ninguém tem, não é? Coitadinho do azul se toda a gente gostasse do amarelo... :)

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