quinta-feira, 8 de outubro de 2015

GAZETA DA BD #49 – NA GAZETA DAS CALDAS: JOSÉ RUY “O ÚLTIMO ARTESÃO DOS QUADRADINHOS” E O SEU LIVRO “ARISTIDES DE SOUSA MENDES – HERÓI DO HOLOCAUSTO”

A Gazeta das Caldas celebrou no dia 1 de Outubro o seu 90º aniversário – foi fundada em 1925. Aqui deixamos hoje o cabeçalho desta edição comemorativa, onde aparece toda a equipa da Gazeta, caricaturada por Bruno Prates. Os nossos parabéns atrasados!

JOSÉ RUY 
“O ÚLTIMO ARTESÃO DOS QUADRADINHOS” 
E O SEU LIVRO 
“ARISTIDES DE SOUSA MENDES
HERÓI DO HOLOCAUSTO”

Gazeta da BD #49 na Gazeta das Caldas
1 de Outubro de 2015

Jorge Machado-Dias

Já que se comemora este ano o septuagésimo aniversário do final da 2ª Grande Guerra Mundial (1939/45), o conflito mais mortífero da história da humanidade (25 500 000 soldados e 58 500 000 civis, o que totaliza cerca de oitenta e quatro milhões de pessoas mortas em cinco anos, entre as quais seis milhões de judeus exterminados pelos nazis), dá-nos a oportunidade de escrever sobre o álbum em banda desenhada “Aristides de Sousa Mendes – Herói do Holocausto”, de José Ruy, editado em 2004 pela Âncora Editora e já em 2ª edição (2007), depois houve edições em inglês para os Estados Unidos, em francês, para o lançamento em França e em hebraico, para Israel.



Aristides de Sousa Mendes era Cônsul de Portugal em Bordéus no ano da invasão da França pela Alemanha Nazi na Segunda Guerra Mundial, Sousa Mendes desafiou as ordens expressas de Salazar, e durante cinco dias concedeu milhares vistos de entrada em Portugal a refugiados de várias nacionalidades que desejavam fugir de França em 1940.

Por muitos considerado um herói, Aristides de Sousa Mendes terá salvo dezenas de milhares de pessoas do Holocausto. Considerado "o Schindler português", Sousa Mendes também teve a sua “lista” e salvou a vida de milhares de pessoas, das quais cerca de 10 mil judeus.

A biografia de Sousa Mendes, editada na internet, pela Fundação com o seu nome, refere que, “ (…) no início de 1940, Aristides foi formalmente avisado por Salazar para não conceder mais vistos a judeus, pois “se o fizer, ficará sujeito a procedimento disciplinar”. Paris, entretanto, caiu ante o avanço das tropas nazis, a 14 de Junho, e, no dia seguinte, Bordéus fica submergida de refugiados. Foi o salve-se quem puder! Bordéus, uma cidade de 200.000 pessoas, passa a ter um milhão! O pânico generalizado…”dir-se-ia o fim do mundo.

O Governo francês recuou também para Bordéus e iniciou negociações com vista a um armistício com a Alemanha, o que veio a ocorrer a 22 de Junho 1940. A 16 de Junho, Charles de Gaulle parte de Bordéus para Londres de onde transmite, através da BBC, o seu célebre “apelo à resistência", a 18 de Julho 1940.

Um telegrama de 21 de Junho, enviado por Aristides de Sousa Mendes ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, este confirma ter ordenado que se passassem vistos “indiscriminadamente e de graça”. O historiador Yehuda Bauer, no seu livro “A History of the Holocaust”, escreve: “o Cônsul português em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes, concede vistos de trânsito a milhares de judeus refugiados, em transgressão às regras do seu governo. Talvez a maior acção de salvamento feita por uma só pessoa durante o holocausto”. A 19 de Junho, Aristides segue para o Consulado em Bayonne, onde continua a maratona de concessão de vistos, na própria rua, uma vez que as escadas do edifício poderiam não suportar o peso de tão grande fila de espera. Vai depois para Hendaye/Irun e continua de um lado para o outro, salvando pessoas nas estradas do sul de França, nas estações de caminhos-de-ferro, conduzindo mesmo um grupo de refugiados através dos Pirenéus, a pé e de automóvel.

Segundo os registos da polícia política PVDE (depois PIDE), entraram em Portugal, só nos dias 17, 18 e 19 de Junho de 1940, cerca de 18 000 pessoas com vistos assinados pelo “Cônsul desobediente”. "Os guardas da fronteira de Vilar Formoso não se lembram de ter visto tanto movimento." O Alto Comissariado para os Refugiados da Sociedade das Nações calculou que nesse verão terão entrado, em Portugal, mais de 40 000 refugiados. Esse número é confirmado pela organização judaica “Joint”. Na sua casa em Cabanas de Viriato, Aristides recebeu dezenas de refugiados, sobretudo no Verão de 1940, nomeadamente as famílias dos Ministros belgas, no exílio, Albert de Vleeshchouwer e Van Zealand, um alto responsável das finanças belga, assim como muitas freiras e outros religiosos conhecidos do seu tempo de Louvain (…)”

É portanto esta história que José Ruy conta no seu livro “Aristides de Sousa Mendes – Herói do Holocausto”. Acrescento que o autor, nascido em 1930 (tem portanto agora uns vetustos, mas joviais e incrivelmente produtivos 85 anos), tem no seu currículo uma série impressionante de histórias publicadas desde os anos de 1940 em revistas especializadas em BD e, desde 1972, cerca de 45 álbuns editados até hoje. Carlos Pessoa, ex-jornalista do Público, chamou-lhe, num artigo publicado em Outubro de 1001, “o último artesão dos quadradinhos”. Falaremos mais de José Ruy num futuro próximo.



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