CLUBE PORTUGUÊS DE BANDA DESENHADA
EXPOSIÇÃO DOS 80 ANOS D’O MOSQUITO NA BIBLIOTECA NACIONAL
DEBATE SOBRE O CPBD
Só hoje me foi possível colocar aqui esta matéria. As minhas desculpas.
Retomando a questão do Clube Português de Banda Desenhada e aproveitando para deixar aqui algumas fotos da Exposição dos 80 anos d’
O Mosquito na Biblioteca Nacional, publico também as respostas de José Ruy e de Pedro Magalhães Mota (actual presidente do CPBD) às minhas opiniões acerca da exposição sobre os oitenta anos d’
O Mosquito na sede do CPBD.
Os textos de José Ruy e de Pedro Mota, não respondem nunca a questões primordiais que já coloquei aqui há uns tempos: qual é o objectivo do CPBD neste seu ressurgimento (ou seja, para que serve o Clube?) e quais as estratégias para atingir esse objectivo, se é que existe objectivo.
Não quero, contudo, prosseguir na linha das opiniões que tenho aqui deixado, porque já entendi que não vale a pena prosseguir por aí. Outros ventos virão, ou não.
Deixo só duas ou três “coisinhas”:
Só para dar um pequeno exemplo, porque é que não se coloca um cartaz à entrada da sede a anunciar que existe lá dentro uma exposição a visitar? Era basicamente o que o CNBDI já fazia.
Uma coisa deste género seria muito chamativa e nem era preciso mudar a tela (à direita) com o logotipo do CPBD (onde o CNBDI colocava os seus cartazes), uma vez que do modo que mostro seria mais barato e reutilizável.
Quanto à crítica de José Ruy sobre o meu comentário à foto da sede, eu referia-me à responsabilidade da Câmara da Amadora em ter os espaços públicos limpos, não ao CPBD. Mas se calhar expliquei-me mal.
Já a resposta do Pedro Mota (
O CPBD e a BD para Malta Jovem, em
http://www.acalopsia.com/bd-para-malta-jovem/), não refere nada daquilo que considero necessário. Portanto não vou comentar, não por desconsideração para com o Pedro Mota, mas porque ele escreve quase o mesmo que José Ruy.
Contudo devo referir que este “debate”, que envolve José Ruy e Pedro Mota, de uma forma retórica e civilizada, não belisca minimamente a nossa amizade. Só que, cada um diz o que pensa sobre determinadas matérias (neste caso o CPBD) e a mais não é obrigado. Portanto, as minhas saudações cordiais a ambos, agradecendo o contributo para o debate sobre o tema neste espaço.
Em breve estarão aqui também as opiniões de Santos Costa e respectiva resposta de Geraldes Lino.
AS FOTOS DA EXPOSIÇÃO NA BIBLIOTECA NACIONAL
(Fotos de Dâmaso Afonso)
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A RESPOSTA DE JOSÉ RUY AOS ÚLTIMOS POSTS
NO KUENTRO SOBRE O CPBD
Meu caro amigo Machado Dias
Abraço.
Eu entendo a amizade como um sentimento que vai para além dos «com-licenças» e de estarmos sempre de acordo com tudo, «ratando» por vezes nas costas, para evitar confrontar o amigo para que ele não se ofenda.
É dever dos Amigos verdadeiros chamar a atenção do que achamos estar mal, mas olhos nos olhos, sem ser preciso usar o megafone para que todo o mundo oiça; o «Kuentro» ouve-se em todo o mundo, tenho prova disso.
[Devo, neste aspecto chamar a atenção de José Ruy que este assunto não é uma questão particular – se o fosse eu nunca a publicaria no Kuentro – mas sim um "debate" público, uma vez que considero o CPBD como um Clube de eventual utilidade pública, digamos assim. Os posts sobre o CPBD no Kuentro têm tido afluências de mais de quinhentos visualizadores e só não deixam lá os seus comentários porque tenho uma qualquer avaria no Blogger, que ainda não consegui corrigir e que não deixa publicar comentários (nem os meus). Contudo, como coloco sempre uma entrada no Facebook com chamadas aos posts do Kuentro, essas entradas no Facebook (https://www.facebook.com/jorgemachadodias) têm tido algumas discussões públicas sobre o CPBD, o que revela o interesse geral pelo Clube.]
E depois deste preâmbulo vamos ao assunto:
A sua última crítica ao CPBD e ao modo como apresenta as suas exposições na nova sede na Amadora.
Começa o meu amigo por chamar a atenção para umas réguas tortas por sobre a fachada, que se encontram assim há anos, responsabilidade do condomínio (a CMA só é proprietária da instalação térrea) e da relva a nascer entre as pedras da calçada. Faltou destacar o mau aspeto de algum papel que ande pelo chão, levado pelo vento de algum caixote do lixo mal tapado.
Já agora, talvez o pó acumulado sobre os automóveis estacionados em frente da porta dê má aparência e os voluntários do CPBD tenham de lhe puxar o lustro para não serem criticados.
[Há aqui, talvez, um lapso de interpretação e exagero de José Ruy: eu chamei a atenção para o que a Câmara deveria fazer, como proprietária. Não critiquei o CPBD por esses aspectos, dos quais não tem culpa alguma, a não ser chamar a atenção da Câmara para o facto.]
Depois dá a sua opinião de que é degradante mostrar reproduções e que só deveriam ser expostos originais mesmo, se o CPBD quer aliciar os «jovens» a irem ver as suas exposições.
Fiz uma exposição dos meus originais do livro «Aristides de Sousa Mendes» no Consolado Geral de Portugal em Paris, em 2014, montados em cartolinas pretas e protegidos com acetato, onde foi inaugurado com a presença de um dos netos do Cônsul que vive em França e do corpo diplomático do Consulado, e depois de duas semanas passou para outros organismos em França e não houve um único queixume pelo facto de não ter molduras «dignas» com vidro verdadeiro. Eu e um membro da direção do «Círculo Artístico e Cultural Artur Bual», promotor do evento, levámos esse material no avião connosco, sem o perigo de estilhaçar os vidros, mesmo se fossem em acrílico, dentro do peso estipulado para a bagagem e sem mais essas despesas.
E a exposição foi visitada por muitos jovens, e até numa das itinerâncias, esteve num colégio.
O meu amigo divulgou com imagens este evento.
A Bedeteca da Amadora tem exposto originais meus e de outros autores montados da mesma maneira, e não tem havido reclamações, pelo facto de estarem «indignamente» apresentados.
Os visitantes de todas as idades não deixaram de ir por não terem molduras.
No dia 17 de fevereiro de 2016 inaugurou-se uma exposição sobre a edição, agora em livro, da história de ETCoelho, «Os Doze de Inglaterra» na Bedeteca da Amadora, e foram expostos originais deste artista, muito pouco conhecidos, o que foi previamente anunciado.
Como poderá ver pelas fotos que oportunamente lhe enviarei, não estiveram presentes jovens.
Porque talvez não se interessem por este tipo de trabalho, e isso levar-nos-á para outro debate.
Portanto não é pelo facto de se mostrarem originais verdadeiros que alicia os iniciados (nesta arte) a interromperem os seus jogos nas tabletes para se deslocarem às exposições que não tenham trabalhos seus.
O facto do fotógrafo ocasional ter tirado fotos ao material exposto (reproduções) sem o cuidado de escolher o ângulo para não receber reflexos, não é culpa dos expositores.
[A máquina fotográfica capta exactamente o mesmo que o olho humano vê, portanto o público tem que andar a “escolher o ângulo” certo?...]
As boas reproduções expostas, foi a maneira possível de mostrar esse material sem o CPBD ter de pagar um seguro proibitivo e montar um sistema de alta segurança durante o período de exposição, exigido (e muito bem) por quem detém esse precioso material.
[Aqui estou de acordo com o que José Ruy refere!]
O CPBD está a renascer de um longo letargo e não tem ainda posses para essas fantasias. Será que para começar temos de primeiro fazer um investimento principesco para que a crítica fique satisfeita?
Lembro-me de um rapaz, até familiar, que mostrava alguma habilidade e gostava de ser pintor e desenhador. Compraram-lhe um belo estirador de sala, caixas com tintas aguarela e a óleo, papeis «qb», pinceis e todo o material de qualidade.
Esqueceram-se de lhe comprar outra coisa indispensável: o talento. Todo esse equipamento de nada lhe serviu.
O Coelho começou a trabalhar numa prancheta sobre os joelhos, no quarto que partilhava com o seu irmão.
Os jovens de que fala, se forem à sede do CPBD podem aprender como com materiais baratos e simples, se pode começar a apresentar os trabalhos.
Mas só se quiserem, pois ninguém pode obrigar seja quem for a participar nestes eventos.
Além disso, o que é exposto é para ser visto ao vivo, e o facto de serem reproduções, boas reproduções de provas originais, torna-se secundário.
E o que está exposto foi fruto de muitas horas de trabalho exemplar, voluntário e gracioso, de membros da direção do CPBD.
Temos, todos nós, a responsabilidade de dar a conhecer aos jovens, que para conseguirmos crescer precisamos de construir, sem esperar que tudo ou quase tudo apareça feito e pronto a usar.
Para o público que não pode ir à Amadora, as fotografias de conjunto podem mostrar todos os reflexos (como em tantas exposições de gabarito) mas para verem em pormenor, basta que os órgãos de informação e divulgação peçam os ficheiros digitalizados para serem reproduzidos nos seus blogues ou edições em papel em boas condições.
Esse público que se remedeia em ver as imagens no monitor, tanto lhes faz serem originais ou não, o que precisa é de ver essas imagens com qualidade.
Esta é a minha opinião, pois sempre me atirei para a frente para fazer coisas com apenas as condições possíveis no momento, ultrapassando os escolhos, e só ao longo de décadas fui melhorando essas condições de trabalho. Se estivesse à espera do ótimo para começar, ainda não tinha feito nada.
Além disso, o único responsável pelo processo que o CPBD adotou para realizar as suas exposições na nova sede, sou eu. Fui eu quem propus esse material, pois tenho experiência de o usar, sem grandes despesas e problemas de conservação e deslocação.
Quem não tem cão caça com gato. O que interessa é caçar.
[Caçar o quê, amigo José Ruy?]
Não dei esta resposta no próprio Kuentro, por ser longa e para lhe dar a oportunidade de recusar publica-la. Numa altura em que a coesão é primordial, qualquer polémica pode dar a impressão a quem passa ao largo, que estamos desunidos e em guerras de alecrim e manjerona.
Por isso aqui vai desta forma.
No entanto vou dar conhecimento à família CPBD.
O mesmo abraço
De admiração e a mesma amizade
José Ruy
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TEXTO DE PEDRO MAGALHÃES MOTA (PRESIDENTE DO CPBD) SOBRE O MESMO ASSUNTO
AELIPSE,
DESTAQUE Fevereiro 20, 2016
BD Para Malta Jovem
Num
“post” no blogue Kuentro, Machado-Dias critica as mais recentes exposições que têm sido promovidas pelo Clube Português de Banda Desenhada (CPBD) nos seguintes termos: “Não é com “exposições deste género – mesmo com originais ou reproduções impressas, mas muitas vezes e o pior de tudo com fotocópias, afixados em cartolinas pretas e com um acetato por cima – que atrai novas gerações. A malta nova está habituada a exposições montadas profissionalmente (ou não) com outro requinte, seja de emolduramento ou outros enquadramentos expositivos. Enquanto o CPBD não perceber isto, o resultado será sempre a “excelente afluência de jovens” nas suas iniciativas.”
Tenho tantos reparos a este comentário, que resolvi escrever uma crónica só sobre o assunto.
Em primeiro lugar, há a afirmação sobre o requinte com que se tem habituado a “malta nova”. Julgava eu que o requinte é o mesmo com que se tem habituado a malta menos nova, mas falta a indicação de qualquer fonte ou razão de ciência que sustente a afirmação crítica. Partindo da minha experiência pessoal, há dois eventos que têm promovido uma nova forma (mais profissional ou requintada) de apresentar uma exposição de banda desenhada: o AmadoraBD e o Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja (sem esquecer a experiência do CNBDI). Mas são eventos cujos meios, por disponibilidade orçamental ou por competência em áreas como a carpintaria, permite outro tipo de aposta. De qualquer forma, são eventos criticados por pessoas como Machado-Dias pela sua incapacidade para… renovar o seu público e trazerem a tal malta nova.
No entanto, em segundo lugar, Machado-Dias faz notar que esta é a questão, e que o que falta ao CPBD não é o orçamento do AmadoraBD ou os carpinteiros e outros trabalhadores da Câmara Municipal de Beja, mas apenas “perceber isto”.
Em terceiro lugar, afirma que o resultado de o CPBD não perceber isto é a falta de malta jovem nas iniciativas do Clube.
Tenho muito respeito pelo Machado-Dias e pela sua (nem sempre fundamentada) voz crítica, mas não me parece que a questão seja tão simples como está enunciada. De resto, da forma como a questão está colocada, até parece que a malta nova só se move pela forma e nunca pelo conteúdo, o que não me parece ser o caso. E isto, partindo do princípio de que a crítica é pertinente. Fará sentido criticar a falta de malta menos jovem numa iniciativa como o Anicomics? Não me parece.
A verdade é que as exposições de banda desenhada não contribuem muito para a afluência da malta nova, que se move mais por outro tipo de coisas (mesmo nos eventos de BD, move-se sobretudo pela presença de autores, ou pelos desfiles e concursos de cosplay, por exemplo).
De resto, não me parece que uma exposição sobre os 80 anos d’O Mosquito, apresentada na sede do CPBD tivesse mais malta nova, se fosse apresentada com maior requinte (e igual dignidade e dedicação). Será uma questão a avaliar quando o Clube desenvolver uma iniciativa especialmente vocacionada para os mais novos, mas não agora.
Para já, aquilo que me parece que justificava ser destacado (e não foi), é a enorme afluência da malta menos jovem (que se interessa por um bom conteúdo independentemente da forma), e o interesse manifestado pela comunicação social. E se queremos ser críticos em relação aos meios (mesmo no caso de desconhecermos as limitações expositivas da nova sede do CPBD), podemos sempre desejar que o Clube disponha de maior orçamento ou apoio na sua atividade.
O Clube deve procurar sempre ter um cada vez maior número de associados, e renovar o seu público numa perspetiva de continuidade da sua atividade, mas o fator que se procura atrair não está ligado à idade. Liga-se antes ao interesse, retorno e participação. Só faz falta quem está. E, contrariando a crítica de Machado-Dias, o Clube Português de Banda Desenhada vai continuar a dar prioridade ao conteúdo sobre a forma.
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