sábado, 5 de março de 2016

GAZETA DA BD #55 – NA GAZETA DAS CALDAS – CARICATURA E CARTOON – A PROPÓSITO DA EXPOSIÇÃO DE BRUNO PRATES

GAZETA DA BD #55 
NA GAZETA DAS CALDAS 

A Propósito da Exposição “Caldastoon” 
de Bruno Prates
Falemos um pouco de Caricatura e de Cartoon

Gazeta da BD #55 - Na Gazeta das Caldas - 26 de Fevereiro de 2016
Jorge Machado-Dias

Correspondendo ao convite de Bruno Prates para falar sobre caricatura e cartoon, na inauguração da sua exposição “Caldastoon” no passado dia 17 de Fevereiro – com os cartoons que publicou na Gazeta das Caldas em 2015 – escrevi um texto sobre o tema. Contudo, uma vez na inauguração e verificando o número de convidados preparados para falar na ocasião, resolvi não ler o texto previamente escrito, mas improvisar sobre o tema, reduzindo o tempo de intervenção, para não dar cabo da paciência do público. Decidi então publicar aqui na Gazeta da BD um resumo do referido texto (para caber neste espaço) e acrescentando ilustrações a propósito. Aqui fica o resultado.

A verdadeira caricatura, no sentido mais moderno, é dificilmente reconhecível antes do final do século XVI, quando surgiu principalmente através de Annibale Carracci (1560-1609), nos esboços que fazia dos seus amigos. A palavra caricatura só surge como tal durante o século XVII, em Itália, aparecendo escrita pela primeira vez na colectânea Diverse Figure (1646) de Mosini. O termo deriva do verbo italiano caricare, ou seja carregar, indicando que o desenho caricatural sobrecarregava os traços particulares de uma pessoa. No entanto este tipo de desenhos já eram utilizados pelos antigos egípcios, havendo notícia de que por volta de 1200 a.C., circulavam em papiros criticando os costumes da época, aparecendo mais tarde igualmente em certas tabulae romanas, no primeiro século a.C. Alguns manuscritos medievais continham representações de caras grotescas e cenas exageradas da vida quotidiana. Mas a caricatura puramente gráfica desenvolveu-se particularmente em Itália (daí a sua designação) com obras de pintores como Leonardo da Vinci, e também outros países tiveram os seus cultores – Albrecht Dürer, ou mais tarde o flamengo Pieter Brueghel o Velho assim como o seu contemporâneo Hieronymus Bosch.

A locução caricature foi introduzida em França pelo escultor e arquitecto italiano Giovanni Lorenzo Bernini, na viagem que realizou a esse país em 1665. O rei francês Louis XIV foi alvo da primeira campanha moderna realizada em larga escala através de cartoons, com gravuras de baixo preço, executadas na Holanda por um grupo de artistas plásticos liderados por Romeyn de Hooghe.

O cartoon surge como um sucedâneo da caricatura, sendo uma cena satírica, política ou humorística, completa e auto-suficiente, quase sempre desenhada num só quadro, muitas vezes acompanhada de uma legenda – distinguindo-se por isso da caricatura. O termo inglês referia inicialmente um desenho preparatório para a pintura, tal como era prática tradicional desde a Renascença.

Em 15 Julho de 1843, a revista britânica Punch publicou no seu nº 105 o primeiro de uma série de seis “Punch’s Cartoons” assinados por John Leech, expondo publicamente ao ridículo a pobreza dos resultados de um concurso de pintura para decorar o novo Palácio de Westminster, tendo os projectos sido apresentados em suportes de cartão. Assim, o cartoon (carton em francês, derivando do original italiano cartone) surge na sequência dos esboços em cartões, como já referimos, que os artistas plásticos utilizavam para esboçar os desenhos do que iriam pintar ou esculpir.

O sucesso do cartoon deve-se sobretudo à sua publicação em jornais e revistas desde que estes meios de comunicação apareceram no século XVIII. Por vezes os cartoons surgem em três ou quatro vinhetas e não apenas numa única imagem como é mais tradicional. Estes cartoons que comportam várias cenas com os mesmos personagens ou uma única temática, apresentando portanto alguma sequência narrativa, mas que não chegam a contar uma história, designam-se cartoons desdobrados. Certas folhas de A Berlinda (1870-71), de Raphael Bordallo Pinheiro, possuíam uma ténue continuidade sequencial, aproximando-se portanto das histórias aos quadradinhos, mas tratava-se na realidade de meros cartoons desdobrados.

Em Portugal realizam-se actualmente dois Salões de Cartoon. O Portocartoon, no Museu da Imprensa e o World Press Cartoon, sedeado tradicionalmente em Sintra até 2014 e que a partir deste ano se realiza na Cidadela de Cascais.

Depois do dia 7 de Janeiro de 2015, quando jihadistas muçulmanos entraram nas instalações do jornal satírico Charlie Hebdo em Paris, matando a tiro doze pessoas e ferindo cinco, ou seja, atingindo quase todo o conselho redactorial do jornal, o cartoon voltou a estar sob os holofotes do mundo inteiro, tendo-se mesmo usado profusamente a frase provocatória “je suis Charlie” como retaliação figurada.

Fonte principal: Dicionário Universal da Banda Desenhada de Leonardo De Sá, edição Pedranocharco, 2010.

Cartoons de Leal da Câmara 1899

Cartoon de  André Carrilho sobre o Ébola - Prémio World Press Cartoon 2015

"Cinderela" de André Carrilho, Editorial Cartoon de André Carrilho, Outubro de 2015

Rodrigo de Matos (sobre futebol e a crise económica portuguesa), Expresso, Novembro de 2013.

INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO DE BRUNO PRATES CALDASTOON, NO CENTRO CULTURAL DAS CALDAS - 17 DE FEVEREIRO DE 2016


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