domingo, 28 de março de 2010

MORREU JOSÉ ANTUNES (1937/2010) – IN MEMORIAM


Quando morre um autor português de banda desenhada – ainda para mais, também designer gráfico – não podemos ficar indiferentes, não só porque desaparece uma pessoa que estimamos, como, no caso de José Antunes, a banda desenhada que se faz neste país, perde mais um dos seus veteranos. Portanto a única coisa que podemos fazer é recordar o seu trabalho, a sua obra, a sua vida. É o que faremos neste post:

José Antunes nasceu em 1937, e frequentou a Escola António Arroio onde teve como mestres João Rodrigues Alves, Estrela Faria, Júlio Santos e Abel Manta, entre outros.

Teve uma primeira colaboração com a Agência Portuguesa de Revistas no Outono de 1954 por indicação de Mestre Rodrigues Alves, seu professor na Escola António Arroio. O seu primeiro trabalho foi um anúncio ao semanário Dez Minutos.


Em Maio de 1955 estreia-se na banda desenhada com as duas últimas pranchas da história "Os planos do submarino atómico" publicadas nos nºs 300 e 301 do Mundo de Aventuras. Realiza posteriormente diversas capas para essa revista e desenha mais algumas histórias em BD: "Geraldo Sem Pavor" e "Martim de Freitas" em 1956; "Trinca-Fortes" (uma biografia romanceada de Camões) e "As Lições do Tonecas" constituída por histórias curtas segundo guiões de José de Oliveira Cosme, em 1957; e Tony Tormenta, em que narra as aventuras de um novo personagem que ele próprio imaginou, em 1958.

Durante os últimos anos da década foi, com Carlos Alberto Santos, José Manuel Soares e José Batista, um dos quatro artistas principais da Agência Portuguesa de Revistas.



No campo das colecções de cromos desenhou, durante este período, originais para História Universal, que foi completada em parceria com Carlos Alberto Santos. Apesar de anunciada em 1959 e de novo em 1962 esta colecção não chegou a ser publicada.

Também desenhou alguns cromos para Álbum de Adivinhas, que não chegou a completar. Uma colecção equivalente desenhada por Júlio Amaro foi publicada em Outubro de 1968 sob o nome Figuras e Monumentos Nacionais.

Num dos episódios mais curiosos da sua carreira protagonizou, em finais de 1959, "Casamento por Anúncio", a primeira fotonovela realizada em Portugal, mas pouco tempo depois abandonou a Agência Portuguesa de Revistas para trabalhar como freelancer. Um dos seus últimos trabalhos para a editora foi a ilustração de um livro infantil da Colecção Era Uma Vez ("Era uma vez uma cabrinha" de Alice Ogando) publicado em 1960.




Em 1968 ilustrou para o Journal Tintin de Bruxelas a história “Maître Biber”. Uma segunda história, encomendada pela mesma revista, ficou inacabada devido às insuficiências da documentação fornecida pela redacção.

Também em Espanha, Jugoslávia e Angola foram publicados trabalhos seus. Como ilustrador e cartoonista colaborou em publicações como Colecção Salgari, Sempre-Fixe, Diário de Lisboa, Cara Alegre, A Chucha, O Cágado, Parada da Parodia, Antena, Plateia, Pisca-Pisca, Fungága da Bicharada, etc...

Foi responsável pelo grafismo de algumas destas revistas, bem como das editoras Verbo, Pública e Circulo de Leitores (onde foi, durante vários anos director artístico). Colaborou como ilustrador e designer gráfico com agências de publicidade como Sonarte, Thibaud, Insignia, Grafidec e McCann Erickson.
É autor de capas de discos, cartazes, catálogos, folhetos e ilustrações para livros.
A sua actividade principal tem sido, ao longo dos anos, a criação de centenas de capas de livros e ilustrações para as editoras Verbo, Bertrand, Ática, Romano Torres, Didática, Ulisseia, Pórtico, Sel, Publica, Zenite, Temas da Actualidade, Temas e Debates, Estampa, Círculo de Leitores e Texto Editores.

Foi homenageado no 14º Salão Moura BD, em 2004, tendo sido nessa altura compiladas algumas bandas desenhadas suas e publicadas no nº 5 da Colecção Cadernos Moura BD, cujo grafismo reformulou.




Recordar AQUI no arquivo do Kuentro, o nosso post de 25 de Novembro de 2004: José Antunes no 14º Salão Moura BD.
A seguir à sessão de entrega dos prémios desse Salão, o grupo "invasor" ido de Lisboa, foi jantar, com Carlos Rico (organizador do Salão), ao restaurante A CAVE. Aqui ficam duas fotos desse jantar, onde se podem ver José Antunes e família, e a foto de "quase" conjunto para o brinde final:



O seu último trabalho em banda desenhada terá sido “A Lenda da Moura Salúquia” publicado no livro colectivo “Salúquia – A Lenda de Moura em Banda Desenhada”, editado em Junho de 2009 pela Câmara Municipal de Moura.




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sábado, 27 de março de 2010

AÍ ESTÁ O PROGRAMA DO VI FESTIVAL INTERNACIONAL DE BANDA DESENHADA DE BEJA 2010


VI FESTIVAL INTERNACIONAL DE BANDA DESENHADA DE BEJA

De 29 de Maio a 13 de Junho

Entre os dias 29 de Maio e 13 de Junho o Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja volta a fazer da cidade a capital da banda desenhada no nosso país, juntando autores consagrados e talentos emergentes.


Para além das exposições haverá ainda lugar para a apresentação de projectos, conferências, espectáculos, lançamento de livros, sessões de autógrafos, sessões de cinema, workshops, etc.

Um Festival eclético, virado para todos os públicos, que mostra muitas das orientações que se fazem sentir no campo da banda desenhada contemporânea…

21 EXPOSIÇÕES
Individuais: Dame Darcy; Fabio Civitelli; Hippolyte; Igor Hofbauer; JCoelho; João Fazenda; João Vaz de Carvalho (ilustração); Jorge Miguel; Miguel Rocha; Niko Henrichon; Regina Pessoa; e Rufus Dayglo.

Colectivas: Aldeia das Amoreiras; Avenida Marginal; Fábio Moon & Gabriel Bá; Greetings from Cartoonia; Kingpin Books; NCreatures; The Lisbon Studio; Toupeira; e Zona.

14 PAÍSES REPRESENTADOS

Bélgica, Brasil, Canadá, Croácia, Eslovénia, Estados Unidos da América, Finlândia, França, Itália, Noruega, Polónia, Portugal, Reino Unido e Roménia.

MAIS DE 70 AUTORES EM EXPOSIÇÃO

15 DIAS DE PROGRAMAÇÃO PARALELA DIÁRIA

6 NÚCLEOS EXPOSITIVOS
Casa da Cultura (o núcleo principal), Galeria do Desassossego, Galeria dos Escudeiros, Instituto Politécnico de Beja, Museu Jorge Vieira - Casa das Artes e Museu Regional de Beja.

3 NÚCLEOS PARA A PROGRAMAÇÃO PARALELA DIÁRIA
Bedeteca de Beja (Casa da Cultura), Galeria do Desassossego e Pax Julia – Teatro Municipal.

56 EDITORES REPRESENTADOS NO MERCADO DO LIVRO


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sexta-feira, 26 de março de 2010

BDpress #120 – J.M.LAMEIRAS SOBRE ALIX. MARIANO CHINELLI SOBRE OESTERHELD. PEDRO CLETO SOBRE ALGUNS LIVROS…


Diário As Beiras, 20 de Março de 2010

ASA E PÚBLICO RECUPERAM AS PRIMEIRAS AVENTURAS DE ALIX

João Miguel Lameiras

Depois de "Os Passageiros do Vento" a Asa e o jornal "Público recuperam mais um clássico da Banda Desenhada franco belga, a série "Alix" de Jacques Martin. Uma série de que a Asa já tinha publicado 4 álbuns, mas que, só agora, passados quase vinte anos depois da publicação pelas Edições 70, que, durante os anos 80, lançaram 19 títulos da série, volta a ter os primeiros volumes novamente disponíveis em português.

E são precisamente os álbuns já editados pelas Edições 70, alguns dos quais já tinham saído antes na versão portuguesa da revista “Tintin”, que vão ser distribuídos com o jornal “Público”. Ou seja, com a excepção de “O Príncipe do Nilo” e “O Filho de Espártaco”, já editados pela Asa de forma autónoma, estão nesta colecção todos os álbuns escritos e desenhados por Jacques Martin entre 1948 e 1988, antes deste, afectado por graves problemas de visão, passar inteiramente o desenho da série para as mãos dos seus assistentes, como Rafael Morales, ou Cristophe Simon.
Publicado originalmente no "Tintin" belga, em 1949, "Alix, o Intrépido" mostra um Jacques Martin ainda a apalpar terreno, à medida que vai estabelecendo as bases da série. Não só em termos gráficos, com a estrutura demasiado carregada de 4 tiras por página a dar lugar nos álbuns posteriores a uma planificação mais arejada, mas sobretudo em termos do argumento, que Martin confessa que foi inventando à medida que a história ia sendo publicada.

Uma das influências perceptíveis (e assumida por Martin) é a do livro "Ben Hur", de Lewis Wallace, onde Martin foi buscar a cena inicial em que Alix, ao apoiar-se num muro faz cair um pedra sobre um general romano, cujo nome "Marsalla" evoca imediatamente o de "Messala", um dos personagens principais de Ben Hur... Se a isso juntarmos a cena da corrida de quadrigas, também decalcada de Ben Hur, percebemos o peso que o romance de Wallace, que o filme de 1959 com Charlton Heston imortalizou, teve nesta primeira aventura de Alix.

Outro aspecto interessante deste álbum, em que Enak, o eterno companheiro de Alix, não está ainda presente, é a personagem ambígua de Arbacés, um indivíduo tão pérfido como inteligente, que não esconde o seu fascínio por Alix e que vai adquirir uma tal popularidade junto dos leitores que o próprio Martin, se vê obrigado a matá-lo no final de “A Ilha Maldita”, 3º álbum da série, para que ele não roubasse o protagonismo a Alix.

Paradigma da BD histórica bem escrita e desenhada e melhor documentada, a série “Alix” merece ser descoberta por quem se interessa pela história da Antiguidade, tanto mais que alguns destes álbuns, como “As Legiões Perdidas”, O Espectro de Cartago”, ou “Iorix, o Grande”, são excelentes. Só resta saber se, para além dos leitores que cresceram com a revista “Tintin” e que provavelmente já terão a edição anterior das Edições 70, haverá, entre as novas gerações, leitores suficientes para garantir o sucesso desta nova colecção Público/Asa…

("Alix, o Intrépido”, de Jacques Martin, Edições Asa/Público, 64 pags, 4,95 € Todas as quartas-feiras, de 17 de Março a 30 de Junho de 2010, em venda conjunta com o jornal "Público")
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Voz de Ermesinde, 15 de Março de 2010

HECTOR GÉRMAN OESTERHELD - O HOMEM COMO UNIDADE DE MEDIDA

Mariano Chinelli*

O Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem – CNBDI - levou a cabo a realização de um encontro que teve lugar no passado dia 6 de Março, para assinalar o encerramento da exposição Hector Gérman Oesterheld, O Homem como Unidade de Medida, mostra que abordou a vida e obra de um dos maiores argumentistas de banda desenhada de sempre, desaparecido em 1978, em Buenos Aires, às mãos da ditadura militar argentina.
Pretendeu-se nesse Encontro – que através de videoconferência contou com a participação dos comissários da exposição que se encontram nas cidades de Buenos Aires e Milão – abordar um conjunto de questões no âmbito da banda desenhada, designadamente, o argumento na BD, a relação entre escritores e desenhadores, a arte de narrar de HGO, a sua importância na historieta argentina e a influência que teve em sucessivas gerações de artistas em todo o mundo, mas não ficar apenas por aí.
Tendo em conta também a vida de HGO, o seu empenhamento cívico e político, durante a ditadura nos anos 70, e o trágico desfecho do seu desaparecimento, o convite foi alargado à participação de outras pessoas e entidades como, por exemplo, a Casa da América Latina e a Amnistia Internacional, que enriqueceram o debate trazendo um conjunto de outros temas à discussão, no âmbito da história da Argentina e dos direitos humanos, que permitiram um melhor conhecimento das múltiplas dimensões da obra de Herman Germán Oesterheld.
Sob moderação de Pedro Mota, intervieram no encontro Melina Gatto (Milão), Mariano Chinelli, Fernando Ariel Garcia, Hernán Ostuni e Martin Mortola Oesterheld, este último neto do grande cenarista (todos de Buenos Aires), David Soares, António Amaral, João Miguel Lameiras, Domingos Isabelinho, Nuno Franco e Pedro Moura, e ainda os autores José Ruy, José Garcês,Baptista Mendes e José Pires.

BIOGRAFIA DE HECTOR GÉRMAN OESTERHELD

Nasceu a 23 de Julho de 1919 em Buenos Aires, de mãe de ascendência basca e pai de ascendência alemã. A leitura é a sua primeira paixão, e intercala a carreira universitária em geologia - pesquisas na Patagónia - com o estudo de outras ciências. A antropologia, a história e a agronomia rapidamente se misturam com os romances clássicos de aventuras e ficção científica - FC.
Com 23 anos, publica no diário La Prensa o seu primeiro conto “Truila y Miltar”, uma fábula onde já se distinguem os traços característicos da sua obra. A partir daí começa a trabalhar nas Editoras Abril e Códex, em publicações infantis e de divulgação científica.
No início dos anos 50, a Editora Abril, de Cesare Civita, convida-o a escrever guiões de BD. Sem experiência nesta área, aceita o desafio e surgem “Bull Rockett”, “Sargento Kirk” e “El Indio Suárez”, nas revistas Rayo Rojo e Misterix.
Na lendária revista de FC Más Allá, publicou os contos “Cuidado con el Perro” e “Inocente Maquiavelo Reforzado”.
Em 1956, Oesterheld, com o seu irmão Jorge, cria a Editora Frontera e publica romances como Sargento Kirk e Bull Rockett. Um ano mais tarde, lança-se no mercado da BD com guiões próprios e desenhos de Solano López, Arturo Del Castillo, Hugo Pratt, Alberto Breccia e Carlos Roume, entre outros, que dão vida a: Rolo, Ticonderoga, Randall, Ernie Pike, Patria Vieja e El Eternauta. O êxito é tão grande que um ano depois conseguem publicar: Frontera Extra e Hora Cero Extra e venderiam ainda as revistas infantis Mamita Me Cuenta e Papito Me Cuenta.
Mas, a inexperiência empresarial dos Oesterheld leva à falência da empresa.
Alguns títulos continuam em outras editoras, onde Héctor se mantém como guionista, e em alguns casos como director das revistas. São disso exemplo Coleción Batallas Inolvidables, o Libro de Hierro e a primeira compilação de El Eternauta em 1961.
Oesterheld regressa a Misterix e Supermisterix, revistas da Editora Yago. Ali nascem Mort Cinder, Marcianeros e Watami, e dirige ainda El Eternauta e Geminis, ambas semi-científicas, idênticas à revista Más Allá. Nesta época renova-se a sua faceta literária, com os episódios romanceados de El Eternauta e contos como “El Árbol de la Buena Muerte”. Em 1965, é anunciado o romance de El Eternauta, que nunca chegou a concretizar-se.

Publica, ainda, BD na Editora Dayca e também no Chile. Esta é uma das épocas mais prolixas. Oesterheld não recusa nenhum tema, pois tem de trabalhar para viver, e no final dos anos 60, o seu sucesso é grande. Em 1968, publica os contos Sondas, com Mujica Láinez, Pablo Capanna e Alfredo Grassi na antologia Los Argentinos en la Luna e uma outra selecção de contos, Ficção Científica - Novos Contos Argentinos.
Motivado pelas dificuldades do país, assume uma militância política que influencia a sua obra e publica a Vida del Che e Evita e La Guerra de los Antartes, e a nova versão de El Eternauta desenhada por Alberto Breccia.
Héctor continuou com os seus contos e BD nas revistas Gente, Top, El Tony, Fantasia, Skorpio, Pif Paf, Corto Maltés, Patoruzito Escolar, Billinken, e a sua obra militante era publicada nas revistas como El Descamisado, Evita Montonera e o diário Noticias. As últimas criações mais populares foram Roland El Corsario e Brigada Madeleine na Editora Columba e Nekrodamus e Loco Sexton em Edições Record.
Em plena ditadura militar, meados de 1976, é reimpressa em fascículos a versão original de El Eternauta, e sai na revista Skorpio, a sua ansiada sequela. Escrita por Oesterheld na clandestinidade, e desenhada por Solano López, esta continuação é mais directa e controversa que a original. Os ideais do guionista reflectem-se na história, já não há lugar para metáforas subtis, Oesterheld não é o mesmo e Juan Salvo também não.
Héctor foi sequestrado em 1977, no fim de Abril, em La Plata. O seu nome, o das suas filhas Estela, Diana e Marina, o dos dois genros e dos dois netos, fazem parte da lista de desaparecidos durante a última ditadura militar. O corpo de Beatriz, a terceira das suas quatro filhas, foi entregue à esposa do escritor, e dois outros netos foram recuperados com vida.
Nos anos seguintes foram publicadas algumas histórias de BD de Héctor, sem que muitos leitores conhecessem o trágico destino do autor e da sua família.
Héctor Germán Oesterheld é um dos maiores e mais prolíxos guionistas mundiais e um dos mais célebres da Argentina. As suas histórias humanas, calorosas e realistas, não só entretinham, como também ensinavam.

(*) Investigador e coleccionista. Organizou em 2007 a Exposição: 50/30: 50 anos com El Eternauta, 30 anos sin Oesterheld. Texto do catálogo da exposição.
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Jornal de Notícias (suplemento IN), 13 Março 2010

ZONA FANTÁSTICA

Vários Autores, Zona

Pedro Cleto


Terceiro tomo de um projecto alternativo nacional, desenvolvido especialmente através da internet, que pretende promover e divulgar o trabalho de novos autores, é desta vez dedicado à temática fantástica, explorada em banda desenhada ou ilustração, com diversas técnicas, formas e estilos, por quase quatro dezenas de novos talentos.
Disponível em lojas especializadas ou em http://zonabd.blogspot.com/.


INCAL FINAL - 1. OS QUATRO JOHN DIFOOL

Alejandro Jodorowski e José Ladrónn, VITAMINA BD


Pedro Cleto

Se os seis volumes da saga do Incal, com que Jodorowsky e Moebius revolucionaram a BD de ficção científica nos anos 1980, tiveram várias sequelas, esta é uma continuação directa, pois começa exactamente no ponto em que aquela terminou. Previsto em dois volumes, explora quatro estádios paralelos do desenvolvimento espiritual de John Difool e deverá pôr um ponto final na trilogia do Incal.


KRAZY + IGNATZ + PUPP – UMA KOLECÇÃO DE PRANCHAS A KORES KOMPLETAMENTE RESTAURADAS

George Herriman(argumento e desenho, LIBRIIMPRESSI

Pedro Cleto


Este é um dos grandes lançamentos deste ano, por vários motivos.
Desde logo, embora razão menor, porque a «marca» Libri Impressi/Manuel Caldas é sinónimo de qualidade e excelência, patente nesta edição cuidada e esmerada, que conta com uma competente tradução de João Ramalho Santos - e quão difícil traduzir pode ser, como se pode comprovar pelos diálogos originais incluídos na edição...
Depois, principalmente, porque Krazy Kat, publicada entre 1913 e 1944, é um clássico dos quadradinhos absolutamente incontornável, de uma modernidade surpreendente.
Apesar de as personagens se limitarem praticam.ente aos três vértices de um estranho triângulo de amor/ódio composto por uma gata (às vezes gato?!) - Krazy Kat apaixonada por um rato - Ignatz -, que só deseja atirar-lhe tijolos à cabeça, o que faz que seja preso pelo cão guarda - Pupp - que por sua vez suspira por Krazy. E apesar de a sua trama se reduzir (?) à exploração das várias formas como um tijolo pode ser lançado e das várias maneiras como pode atingir o(s) seu(s) alvo(s) - um belo tratado de relações pessoais, diriam alguns -, sendo que no final de cada prancha autoconclusiva Ignatz acaba (quase, quase) sempre na cadeia.
E tudo (ou só) isto decorre no cenário surreal de Coconino County, cuja paisagem muda de aspecto e configuração a cada vinheta.
Literalmente. Pelo meio, o autor consegue jogar com os códigos da própria banda desenhada, pondo as personagens a desenharem-se a si mesmas ou à própria história, dando o protagonismo a. um capacho onde se lê «Bem Vindo», usar pirilampos para iluminar a acção durante um eclipse ou não ser capaz de concluir a numeração das vinhetas... Um belo exemplo de surrealismo aos quadradinhos, servido por um humor desconcertante e irresistível.
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IMAGENS DA RESPONSABILIDADE DO KUENTRO.
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domingo, 21 de março de 2010

BDpress #119 (recortes de imprensa sobre BD) – ARMANDO CORRÊA ESCREVE SOBRE VASSALO MIRANDA NO ALENTEJO POPULAR.

Começámos a receber semanalmente o Alentejo Popular, já à algumas semanas, por iniciativa de Luiz Beira (ou seja, Armando Corrêa). Neste periódico de Beja, Armando Corrêa mantém uma página sobre Banda Desenhada, tal como no Diário do Alentejo (mas assinando este como Luiz Beira), que recebemos também durante alguns tempos mas que, a certa altura, deixou de nos ser enviado. Ora as duas colaborações de Luiz Beira (preferimos tratá-lo pelo pseudónimo, pelo qual é conhecido das gentes bedéfilas) são substancialmente diferentes em cada jornal. Enquanto no Diário do Alentejo, o “Espaço BD” é de apenas meia página (duas colunas) e trata sobretudo de livros que lhe vão chegando às mãos – quase sempre de editoras belgas –, no Alentejo Popular, com o espaço “Através da Banda Desenhada” a ocupar uma página inteira, são os autores o tema tratado. A particularidade deste espaço é a apresentação de bandas desenhadas – uma página por semana – recuperadas do arquivo pessoal do escriba.


Alentejo Popular – 11 de Março de 2010

através da banda desenhada

Coordenação de Armando Corrêa

APRESENTANDO UM ARTISTA PORTUGUÊS – Vassalo de Miranda

Na saudosa revista «Mundo de Aventuras», nº 494 de 31 de Março de 1983, a narrativa «O Último Combate», sob autoria de Vassalo de Miranda, foi dada ao público... Uma breve gesta heróica e bem sacrificadamente portuguesa. É essa narrativa que a partir de hoje e mais nove semanas aqui se vai reproduzir, com a gentil autorização do autor.

Vassalo de Miranda, ou seja, António Manuel Constantino, nasceu em Vila Franca de Xira a 21 de Novembro de 1941. Pintor, ilustrador e banda desenhista, tem já uma carreira longa e marcada, sendo estranhamente pouco reconhecido na «nossa aldeia de invejosos e maldizentes». São os rezingões por mero e inútil vício de... rezingar.

É um português vertical e de sete costados, ou seja, não voga sobre as «porcarias de ocasião de não importa que politiquice». Quando foi homenageado ao vivo no salão internacional «Sobreda-BD/2001», em palavras de agradecimento após ter recebido o Troféu Sobredão e perante a presidência (na mesa de honra) de Maria Emília Sousa (a presidente da Câmara Municipal de Almada), fez uma apologia em «carne viva» dos artistas portugueses, sempre subalternizados em Portugal pelas obras dos artistas estrangeiros.

E isso foi muito bem entendido pela presidente da Câmara Municipal de Almada, que de imediato o elogiou publicamente por ter Vassalo de Miranda «posto o dedo na ferida». Mais: nessa edição da Sobreda-BD, o país convidado era a Espanha, então representada ao vivo por Juan Espallardo (o homenageado estrangeiro), Felicisimo Coria e Xabel Areces. Vassalo não os quis ofender, apenas defendeu a honra portuguesa e até, depois, estiveram todos no mais belo coleguismo, em plena confraternização.

Marcando-se bem em aspectos históricos, é perito (a par de seus colegas José Antunes e José Garcês, por exemplo) a reproduzir, ao pormenor, as nossas heróicas naus. É também, até hoje, o único que tem a coragem de fazer banda desenhada localizada na «guerra colonial» (vista por um certo ângulo português, mas não salazarista). Os outros seus colegas, neste aspecto, mantém-se frouxos. Aliás, Vassalo teve vivências na Guiné-Bissau, em Moçambique (onde «explodiu» como banda desenhista) e, fugazmente, na Rodésia (hoje Zimbabue).

Algumas obras suas (nem todas em álbum): «Corrida de Loucos», «O Traidor», «a Epopeia de Forte Laramie», «A Carga», «Amor e Ódio», «Sete de Setembro», «Mamassumá», «Bayete!», «A Loba das Ardenas», «George Guynemer, o Imortal», «O Último Combate», «O Cabo das Tormentas», etc.. E ainda, uma obra de honra e muito especial, o historial da «Fragata D. Fernando II e Glória».


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quinta-feira, 18 de março de 2010

LANÇAMENTO DO “CELACANTO” #2 – ECOZINE SOBRE O LOBO, DA QUALALBATROZ. HOJE (18 DE MARÇO) ÀS 18:00h NO MUSEU NACIONAL DE HISTÓRIA NATURAL


Depois do “Celacanto” #1 – sobre o Albatroz, a QualAlbatroz lança o #2, desta vez dedicado ao lobo. O lançamento terá lugar hoje à tarde no Museu Nacional de História Natural, na Rua da Escola Politécnica, 58, Lisboa.

Aqui ficam o Convite e os textos de apresentação que a QualAlbatroz nos enviou:




Celacanto n.º 2 - Ecozine sobre o Lobo
uma publicação da Editora Qual Albatroz

Lançamento do livro
&
Inauguração da exposição Lobos para Todos

18 de Março, 18 horas, debaixo da barriga da Baleia Azul,
Museu Nacional de História Natural
Rua da Escola Politécnica, 58
Lisboa

UM LIVRO PARA AJUDAR A SALVAR O LOBO

No ano passado a Qual Albatroz largou o seu primeiro Celacanto e dedicou-o, como
não podia deixar de ser, ao Albatroz. Foi assim que começou a série de Ecozines
dedicada a ajudar espécies em perigo e baptizada em homenagem ao peixe préhistórico
que regressou da extinção.

Para este número 2 do Celacanto, o animal escolhido foi o Lobo e a Editora Qual
Albatroz colaborou com o Grupo Lobo com o fim de alertar para as ameaças que
este animal enfrenta, nomeadamente o lobo ibérico, e angariar fundos para a sua
conservação. Actualmente, pensa-se que na Península Ibérica existam cerca de
2500 lobos, dos quais 300 em território português (Pimenta et al., 2005).

A participação no projecto excedeu as expectativas e os organizadores estão muitíssimo satisfeitos com o resultado final. Marc Parchow, da Qual Albatroz, refere que “Para nós, o primeiro número já tinha sido um sucesso quando 37 pessoas aceitaram participar. Relembro que participa quem quer, quem acha que vale a pena. Este novo Celacanto sobre o lobo soma ao todo 80 participações na sua maioria oriundas de Portugal, mas também algumas do Brasil. É o dobro dos participantes do
ano passado, o que nos alegra muito e nos mostra como há muita gente disposta a
participar neste tipo de causas, só precisam de uma boa ideia para as fazer agir. Para nós é também um sinal de que é necessário prosseguir com o Celacanto e, por isso, já temos o próximo animal escolhido, que será revelado na sessão de lançamento
do livro no dia 18 de Março.”

O conjunto de trabalhos apresenta uma grande diversidade de motivos e géneros
- poesia, banda desenhada, conto, desenho, pintura, fotografia - todos eles em
defesa desta espécie ameaçada e que, no seu conjunto, acabam por criar uma graciosa
rapsódia artística. A capa é um trabalho original de Miguel Rocha desenhada
especialmente para esta edição.

Para o representante do Grupo Lobo, “a proposta de colaboração na edição do
segundo número do ecozine Celacanto é mais uma oportunidade de contribuirmos
para a divulgação da nossa visão deste carnívoro. É nossa convicção que este é mais
um contributo válido para a conservação do lobo ibérico e que as diversas expressões
da percepção deste animal reflectem a importância e a riqueza do mesmo na
nossa cultura.”

Este ano, o Celacanto apresenta ainda uma novidade face ao número anterior. No
mesmo dia da apresentação do livro, será inaugurada a exposição “Lobos para
Todos” que incluirá vários dos trabalhos dos participantes. A exposição terá um
carácter itinerante, podendo ser exibida em escolas, bibliotecas e centros culturais.
“É uma forma de dar a conhecer este projecto a mais pessoas e aumentar o seu
valor formativo, especialmente entre os mais jovens”, comenta Marc Parchow da
Editora Qual Albatroz.

Da experiência do número anterior, a Editora e os seus parceiros aprenderam que o
Celacanto permite criar amizades, aproximando pessoas com sensibilidades e ideais
semelhantes, e ainda que as parcerias criadas não se encerram uma vez terminado
o projecto. A editora Qual Albatroz continua a colaborar com a sua primeira parceira,
a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, e “certamente continuaremos
a trabalhar com o Grupo Lobo no futuro, porque temos ideais em comum”, afirma
Marc Parchow.

O ecozine Celacanto pretende ser, acima de tudo, um projecto inspirador, uma ideia
que faça as pessoas acreditarem que a sua contribuição para o nosso planeta é
fundamental. Uma ideia que pode parecer banal e gasta mas que o Celacanto quer
revitalizar.

SOBRE O PROJECTO ECOZINE CELACANTO

O Celacanto antes de ser livro, foi peixe, foi considerado extinto e regressou da
extinção. Veio dar-nos uma segunda hipótese e, assim, passou a ser a nossa inspiração
e o nosso Ecozine. O Celacanto é um livro, mas é também um desafio à nossa
participação numa das importantes causas do nosso tempo - a responsabilidade
ecológica perante o nosso planeta. Todos nós irradiamos quotidianamente uma
energia que nos dá vontade de fazer alguma coisa para ajudar mas que acaba por
desaparecer com a “resposta” apaziguadora “mas o que é que eu posso fazer? Tenho
aqui estas peúgas para lavar e os miúdos para mudar...” Ora, há aqui uma perda
energética que reduz a eficiência do sistema humano. O que o projecto Celacanto
faz é reparar esta fuga, reenviando esta energia vivencial, antes que ela se perca, e
colocando-a na justa forma de um livro onde se torna um contributo na luta contra
o empobrecimento do planeta. O Celacanto é, portanto, um íman de energia, um
desafio à criatividade e um convite para exercermos a nossa cidadania de uma
forma mais activa.

Funciona da seguinte maneira: todos os anos, escolhemos uma espécie em perigo e
largamos a ideia. Depois, na verdade, o livro vai-se fazendo sozinho da colaboração
voluntária de quem acredita que a sua participação pode fazer a diferença, ou regressando à nossa ideia de partida, daqueles a quem o Celacanto chegou a tempo
de resgatar a tal energia criadora. E este resgate tem a vantagem de ser altamente
contagioso, porque das 37 participações do primeiro número, passámos para 80.
Portanto, garantimos que vai haver mais Celacantos e mais pessoas a participar.

Mais informações:

Qual Albatroz – Nasce em Setembro de 2007 porque o desejo de fazer livros
foi incontornável. Fazê-lo sob a bandeira da Qual Albatroz é destino. Temos o poder
e a oportunidade de criar objectos belos com a capacidade de mudar uma vida e
moldar uma imaginação, de esboçar um sorriso na cara do nosso leitor.
Página oficial - www.qualalbatroz.pt
Contactos - marc@qualalbatroz.pt

Grupo Lobo – Associação não governamental de defesa do ambiente, independente
e sem fins lucrativos, fundado em 1985 para trabalhar a favor da conservação
do lobo ibérico e do seu ecossistema em Portugal.
Página oficial - http://lobo.fc.ul.pt
Contactos - globo@fc.ul.pt | Telefone: 217 500 073

Apoios:

Ordem dos Biólogos – É uma associação pública representativa dos licenciados
no domínio das ciências biológicas ou equiparados que exercem a profissão de
biólogos. Desenvolve a sua actividade no sentido de assegurar a defesa e promoção
da profissão de biólogo, a melhoria e o progresso da Biologia nos domínios científico,
pedagógico, técnico e profissional.
Página oficial - www.ordembiologos.pt

Grupo Entropia – Associação informal, composta por vários artistas, que tem
como principal objectivo a promoção e evolução das Artes em Portugal, através da
realização de diversas actividades.
Página oficial - www.grupoentropia.net

museu nacional de história natural - O Museu Nacional de História Natural
é um organismo da Universidade de Lisboa, vocacionado para a investigação
científica e actividades de extensão cultural.
Página oficial - http://www.mnhn.ul.pt

Ficha técnica:
autores

A. Cardoso Maguire, Adelina Menaia, Agusti Miquel Martinez Mussons, Alexandre
Soares, anabela g & bruno c, Ana Cardoso, Ana Saúde, Ana Teixeira, André Oliveira,
António Orta, António Ribeiro, baptiste, Bel Isa, Bernardo Dias, Bismarcke, Bruno Balegas, Bruno Barão da Cunha, Cibelli Barone, Constança Lucas, Diogo Carvalho, Edite
G., Eric Ricardo, Fátima éffe, Fernando Wintermantel, FIL, Francisco Fonseca, Gastão
Travado, GEvan.., Gordo, Hugo Soares, Hugo Schepens de Melo, Inês Costa Lopes,
Inês Amaral da Cunha , Irina Seves, Ivone Silva, Jhion, Joana Estrela, João Drumond,
João Figueiredo, João Raz, José Abrantes, José Carlos Dias, Kris, Louie, Luís Diogo,
Luís Lourenço Lopes, Lupi, Mafalda Paiva, Marc, Margarida Lopes Fernandes, Maria
Mar, Mariana Pita, Maribel Sobreira, Marta Lebre, Mary John, Miguel Martins, Mima,
Nadi, Nádia Cardoso, Neca, Ocsav, Olívia Lima, Paulo Marques, Paulu Mayyahk, Pedro
Carvalho, Pedro Rodrigo Costa, Phermad, Raquel Correia, Ribeiro, Rita Cardoso,
RoyZac, Rui Alex, Sara Diogo, Sir J. Mascarenhas, Sofia da Palma Nogueira, S.Simões,
Sylviane Angèle Rigolet, Vanessa Oliveira, zlê.
Edição
Qual Albatroz
parceiro
Grupo lobo
Apoios
Ordem dos Biólogos, Grupo Entropia, Museu Natural de História Natural de Lisboa,
Centro de Biologia Ambiental.
Apoios à exposição
Ideias e Truques Design, Acrilac, Quinta da Ribeirinha, Montes de Encanto.
Características do livro
115 páginas, capa a cores em papel Rives de 250 grs, miolo a preto e branco em
papel Munken de 100 grs. Formato A5. Tiragem de 750 exemplares.
PVP
5 euros, dos quais 1,5 € reverterão a favor do Grupo Lobo.

Algumas imagens:




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terça-feira, 16 de março de 2010

“ESTRANHOS”, DE ALEX GOZBLAU EM LEIRIA E MIKE DIANA NA ARTSIDE, LISBOA…


Região de Leiria, 16 Março 2010
ESTRANHOS RETRATOS DE “ESTRANHOS” NA BIBLIOTECA DE LEIRIA

Até ao final do mês a exposição “Estranhos” mostra onze estranhos retratos da autoria de Alex Gozblau. Retratos que sugerem estórias para ver na Biblioteca Municipal de Leiria.

Gozblau, um ilustrador, autor e designer gráfico italiano radicado em Lisboa, regressa assim a Leiria, depois de 2m 2009 ter sido o artista convidado para criar a imagem gráfica da VÍRUS – Mostra de Banda Desenhada, Ilustração e Cinema de Animação de Leiria.

A exposição patente na Biblioteca de Leiria é composta por um conjunto de ilustrações originais criadas precisamente para a VÍRUS, iniciativa da ECO, associação cultural de Leiria.

“Estranhos” pode ser visitada até 31 de Março, no horário 14-20 horas (segunda-feira), 10-20 horas (de terça a sexta-feira) e 10h30-18 horas (sábado).
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MIKE DIANA NA ARTSIDE, LISBOA


Em Dezembro de 2008, o polémico autor norte-americano Mike Diana visitou Lisboa durante o evento Furacão Mitra (na Interpress). Inaugurou não uma mas duas exposições! Ou seja, devido a problemas com a sua bagagem perdida, houve uma exposição improvisada e passados alguns dias houve a exposição “oficial”, a segunda versão da Super Fang!

O que apresentamos nesta exposição a inaugurar dia 20 de Março, na Artside, às 17h, são os "restos mortais" que Diana deixou porque foi tão cheio de bonecos de bebés e livros/zines portugueses de volta para Nova Iorque que teve de deixar os seus trabalhos cá. São desenhos, pinturas e umas cabeças diabólicas que estarão em exposição pública até dia 10 de Abril.

Entretanto, o livro Sourball Prodigy esgotou – deixando a editora MMMNNNRRRG a comemorar os seus 10 anos com mais um triunfo entre muitos outros a acontecer este ano – mas ainda há muitas antologias da Chili Com Carne (Mutate & Survive, CriCas Ilustradas, Chili Bean) com bd’s de Diana.

Aproveitando o facto de que no próximo e quarto volume será publicada uma entrevista a Diana, aproveitamos para lançar o presente e terceiro volume de Antibothis (quinto volume da colecção THISCOvery CCChannel).

Após a excelente receptividade que a antologia literária Antibothis obteve a nivel global e a sua aceitação e interesse por parte de colectivos, escritores e musicos, não restava outra saida à Thisco e à Chili Com Carne que a de voltar ao ataque com o terceiro volume,desta feita com textos de John Zerzan, Adi Newton e Jane Radion Newton, Randall Pyke, Franck Rynne, SocialFiction, Nygel Ayers, Joe Ambrose, Iona Miller, Thomas Lyttle, Ewen Chardronnet, Earth First e Chad Hensley. Como sempre com uma capa ilustrada por André Lemos e design de João Cunha. O CD que acompanha o livro conta com as participações de The Master Musicians of Joujouka, Phillipe Petit, Lydia Lunch, Checkpint 303, Kal Cahoone, Gintas k, Orbit Service, Anla Courtis, Stpo, Jane Radion Newton/Adi Newton, Zeitkratzer, Gjoll e Pietro Riparbelli.
...
Ainda sobre Diana: «Foi numa carta (privada) à minha pessoa, enquanto editor do livro Sourball Prodigy, que o autor de bd Janus (O Macaco Tozé) comentou que Diana só é um autor polémico porque «habita num país de imbecis». Provavelmente se habitasse na velha Europa não teria nem a metade das chatices. Mas não, no estado da Florida vive-se a "tolerância zero" - ou seja, nem uma sex-shop pode se instalar por aquelas bandas. E por isso mesmo que Diana nos anos 90, puto na altura, editor do zine Boiled Angel, teve dois azares terríveis com a Justiça norte americana, azares esses que o tornaram mundialmente famoso.

Diana nasceu em 1969 em Geneva, Nova Iorque, mas a sua família mudou-se para a Florida em 1979. Desde criança gostava de desenhar, na juventude teve acesso às reedições de bd’s de horror EC Comics e às ultra-violentas e escatológicas de S. Clay Wilson. Inspirações directas para Diana que começou a fazer zines de bd e sobre cultura “serial killer” em 1988. O primeiro chamava-se Angelfuck (inspirado pelos Misfits?), recebeu boas críticas no importante meta-zine Fact Sheet 5. Um ano mais tarde começa Boiled Angele no número seis deste título começam os seus problemas. Tudo começou quando foi considerado suspeito de ser o "serial-killer" de Gainesville por causa da capa desse número - e à americana, era um dos 10 000 suspeitos que submeteram-se a testes de sangue,... mas mesmo "à americana", foi o que lhe aconteceu a seguir, entre 1993 e 1994, é acusado de produzir e distribuir “material” obsceno por causa dos números 7 e 8 do zine. As consequências foram várias: foi preso durante 48h numa cela de segurança máxima (no fim-de-semana para o segundo julgamento), teve uma sentença de 3 anos em liberdade condicional, não se podia aproximar de menores, teve de pagar multas, trabalhar em serviços comunitários, tirar uma carteira profissional em jornalismo, ser avaliado psicologicamente (às suas próprias custas!), não podia ter em casa material "obsceno" nem... poder desenhar mais!
A notícia espalhou-se pelo mundo fora, tendo chocado a comunidade internacional. Foi assim que conheci o caso, já em 1995, e escrevi a dar apoio ao autor. Comecei a publicar os seus trabalhos em Portugal, primeiro no zine Mesinha de Cabeceira (...).» - Marcos Farrajota in Umbigo

Ainda sobre ANTIBOTHIS: são antologias literárias occulturais periódicas, apresentado textos e entrevistas de autores tanto desconhecidos como já com créditos firmados, na dissidência e disseminação alternativa de informação e propaganda literária, uma revolta em nome da imaginação em oposição a uma existência tóxica de baixo teor cognitivo.
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domingo, 14 de março de 2010

BDpress #118 – MANUEL CALDAS EDITA “O CORVO” DE EDGAR ALAN POE ILUSTRADO POR GUSTAVE DORÉ E TRADUZIDO POR FERNANDO PESSOA…

João Miguel Lameiras (no Diário “As Beiras” de 13 de Março) e João Ramalho Santos (no JL de 11 de Fevereiro) escrevem sobre mais uma iniciativa de Manuel Caldas: O CORVO (Tha Raven) de Edgar Alan Poe, ilustrado por Gustave Doré e traduzido por Fernando Pessoa. Fico à espera da habitual newsletter de M. Caldas para vos dar a conhecer mais alguns pormenores sobre este livro.

Capa original do livro (1884)...

Diário “As Beiras”, 13 de Março 2010

João Miguel Lameiras

Manuel Caldas junta Poe e Doré em “O Corvo”

Ao contrário do que é habitual neste espaço, dedicado à banda desenhada (BD), o livro que motiva este texto, embora publicado por uma editora que se tem dedicado a recuperar clássicos da BD, a Librimpressi, de Manuel Caldas, não é BD. É um poema de um grande escritor americano, trazido por um dos nossos melhores poetas, ilustrado por um mestre da gravura.

O grande escritor é o mestre do fantástico e do macabro, Edgar Alan Poe, a tradução é de Fernando Pessoa e as gravuras são de Gustave Doré. Três grandes nomes, reunidos numa cuidada edição, com o rigor a que Manuel Caldas nos habituou.

Se os contos de Poe já têm sido adaptados aos mais diversos suportes, do cinema à BD, no caso concreto do poema “The Raven”, encontramos adaptações ao teatro, ao cinema, à música, à animação e à BD. Do filme homónimo de Roger Corman (muito vagamente inspirado pelo poema), a músicas de Lou Reed e dos Alan Parsons Project, passando por séries de televisão como os Simpsons, a “Vincent”, o primeiro filme de Tim Burton, com narração de Vincent Price, que recita parte do poema, até à adaptação à BD feita por Richard Corben, na mini-série “Haunt of Horror: Edgar Alan Poe”, são inúmeras as homenagens ao poema de Poe, mas nenhuma ultrapassa a força do texto original, acompanhado pelas ilustrações de Gustave Doré, notável pintor e ilustrador francês, cujas ilustrações acompanharam alguns dos maiores textos da literatura mundial, da Bíblia, à “Divina Comédia” de Dante, passando pelo “Dom Quixote” de Cervantes, até “The Rime of the Ancient Mariner”, de Samuel Taylor Coleridge, ou “Paradise Lost”, de Milton.

Último trabalho de Doré, que morreu antes de ser publicada a edição de “O Corvo” com as suas ilustrações, esta obra revela um Doré com um traço mais expressionista e perfeitamente adequado ao ambiente opressivo do poema, que devia ser bastante próprio do estado de espírito do próprio Doré, a braços com uma depressão que se viria a revelar fatal.

Publicada simultaneamente em Portugal e Espanha, numa versão trilingue, em que o texto original em inglês, surge acompanhado pela tradução portuguesa de Fernando Pessoa e pela tradução castelhana de Juan António Pérez Bonalde, esta edição de Manuel Caldas, tendo em conta a qualidade da impressão, o prestígio dos autores e o preço acessível, tem tudo para ser um sucesso.

Esperemos que assim seja e que o sucesso comercial de “O Corvo” permita a Manuel Caldas continuar com o seu trabalho na recuperação dos clássicos da BD.

(“O Corvo”, de Edgar Alan Poe e Gustave Doré, Librimpressi, 64 pags, 13,00 euros)

Os textos de João Miguel Lameiras podem ser lidos no seu blogue POR UM PUNHADO DE IMAGENS


JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias, Quinta-feira, 11 de Fev de 2010

João Ramalho-Santos

AFINAL DE CONTAS...

Antes de mais, e por "sugestão" de diversas entidades responsáveis e reguladoras, venho por este meio clarificar que, independentemente de outras considerações (eventualmente feitas sob o efeito de substâncias que me aconselharam a não discutir publicamente) considero a minha gratificação como crítico de banda desenhada no JL mais do que adequada à função que desempenho. Faço-o por missão, pelo prazer infinito de iluminar as massas e converter hereges. Esta questão está pois encerrada. Já agora, se me deixassem ir embora para casa ou, pelo menos, afastassem um pouco a pistola da minha nuca ficaríamos todos um nadinha mais felizes. Obrigado. O quê? Só depois de por uma posta? Está bem, que remédio.

O JL tem sido um vício por diferentes motivos.

Primeiro porque o leio. E aprendo. Com a Leonor Nunes ou a Maria João Martins, com o Manuel Halpern ou o Rodrigues da Silva. Sobretudo aprendi muito sobre cinema com este último, e por um motivo muito simples: estava quase sempre em profundo desacordo com ele. É a melhor maneira.

Segundo, porque de vez em quando encontro nos sítios mais inesperados do mundo alguém que lê o JL, geralmente através de uma assinatura institucional. Acho isso profundo, como encontrar um monumento a um "cowboy" português no meio do nada dos EUA. Ou um vestido minhoto no Museu Etnográfico de Honululu. O único outro periódico que descobri em circunstâncias similares foi "A Bola" (sem desprimor, apesar de não consumir jornalismo desportivo, como todos os maus intelectuais adoro futebol).

Terceiro, porque no JL, ao contrário daquilo que sucede em muitos outros locais, não prego (espero eu...) só a convertidos. E tenho oportunidade de falar sobre Banda Desenhada a um público que, desconfiando/desprezando (sim, sei bem como é...) até pode ser que arrisque alguma coisa num ou outro livro discutido. Na mistura profundamente subtil de códigos, de palavras e imagens. Ou às vezes só de imagens.

A propósito, seguem-se dois textos sobre livros que vale a pena descobrir. Dois textos sobre livros sem texto. Um deles, Caminhando com Samuel, foi mesmo um dos mais surpreendentes do ano passado.
Antes que me esqueça: há-de aparecer nas Livrarias (da Libri Impressi de Manuel Caldas) O Corvo. Poema de Edgar Allan Poe, com ilustrações de Gustave Doré. E traduzido para português por um tal de Fernando Pessoa. Não é BD, é um livro ilustrado. Isto é apenas uma constatação de formato, não de qualidade. Seja ou não BD é Bom.

Os textos de João Ramalho Santos podem ser lidos também no seu blogue AS SEQUÊNCIAS REBELDES


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sexta-feira, 12 de março de 2010

BDpress #117 - CARTUNISTA GLAUCO, CRIADOR DO 'GERALDÃO' É ASSASSINADO EM SÃO PAULO




Publicada em 12/03/2010 às 13h18m

Cleide Carvalho, Anderson Hartmann, Márcia Abos, O Globo

SÃO PAULO, RIO - O cartunista Glauco Villas-Boas, 53 anos, - o criador do personagem "Geraldão" - e o filho dele, Raoni, de 25 anos, foram mortos na madrugada desta sexta-feira dentro da comunidade Céu de Maria, que reúne adeptos de Santo Daime. O acusado pelo crime é o estudante Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, de 24 anos, que seria um ex-adepto. O rapaz, que já tem passagem pela polícia por porte de drogas, seria filho de um homem acusado de tráfico de entorpecentes e foi reconhecido por testemunhas. Ele está sendo procurado pela polícia. A polícia desmentiu a versão apresentada pelo advogado da família, Ricardo Hambro, de que pai e filho tinham sido vítimas de latrocínio - roubo seguido de morte.

O estudante teria chegado à comunidade, uma das 10 representantes do Santo Daime em São Paulo, ao fim de um culto, por volta de 0h30m. Há duas versões. Numa delas, o rapaz teria iniciado uma discussão com Raoni. Glauco teria chegado e o estudante atirou nos dois. A outra é que a discussão começou com Glauco, num terreno ao lado da residência da família, e que Raoni, que acabava de chegar da faculdade, viu o pai ser ameaçado e interveio. Pai e filho foram mortos com quatro tiros cada um. Dez tiros foram disparados e apenas dois não acertaram os dois.

O assassinato ocorreu dentro da comunidade Céu de Maria, da qual Glauco era integrante, fundador e coordenador do grupo. O conjunto de aproximadamente 10 casas fica numa área de mata na Estrada Alpina, perto do Pico do Jaraguá, na Zona Oeste da capital paulista. Para chegar até o local, é preciso percorrer cerca de 1 km de estrada de terra, em desnível.






Entretanto já foi criada uma página na net em que cartoonistas de todo o mundo homenageiam Glauco: AQUI
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CÂMARA MUNICIPAL DE PORTIMÃO EDITA BANDA DESENHADA


Recebemos da Câmara Municipal de Portimão dois interessantes livros de BD (encadernados e em formato 17,5 x 24,7 cm):

PORTIMÃO – COMO SE FAZ UMA CIDADE, de 152 páginas a cores, desenhado por Alex Gosblau, Daniel Lima, Filipe Abranches, Jorge Mateus, Pedro Brito, Ricardo Cabral, Susa Monteiro e Zé Manel, (tudo malta da pesada, como se vê) não sei se sob textos de João Paulo Cotrim, ou talvez não, porque neste volume não vem indicação nenhuma sobre o autor dos mesmos, ou se cada desenhador escreveu o seu, mas que pode talvez subentender-se pela leitura do texto de abertura de Manuel da Luz, Presidente da C.M.P. – no agradecimento a J.P.C. pela “forma inteligente e sedutora como concebeu e concretizou esta obra”.

João Paulo Cotrim realça, no texto final do livro, a colaboração de Pedro Brito, que trabalhou com duas escolas de Portimão “aproveitando a boa vontade de dois dos seus professores, de modo a suscitar vontades de contar, ao mesmo tempo que apresentava a linguagem da Banda Desenhada”.

Sublinho ainda que uma das histórias “Como se vive esta Cidade”, foi criada por uma vasta equipa – 19 autores: Alfredo Gomes, Adriano Correia, Marina Lysenkova, Marta Cabeça, Bogdan Tumanovsk, Ana Félix, Richard Reis, José Mendes, Andreia Mateus, Bruno Serra, João Martins, André Santana, Marta Rosário, Tiago Fernandes, Inês Catarino, Andreia Ventura, Catarina Cabrita, Liah Starmann e Márcia Vicente. Todos eles com uma prancha cada e, dadas as características dessas pranchas, algumas revelando muita falta de experiência no desenho (embora sete dos autores tenha optado pelo registo fotográfico – banda fotográfica, fotonovela, enfim, ao que saiba não existe designação específica para este tipo de registo, embora cada vez haja mais gente a ir por aí) executadas talvez por alunos de escolas de Portimão, embora a sua proveniência também não seja indicada no livro.

Pranchas de Ricardo Cabral em PORTIMÃO – COMO SE FAZ UMA CIDADE.

O outro livro A NOIVA QUE O RIO DISPUTA AO MAR, com texto de João Paulo Cotrim, e desenho de Miguel Rocha, 124 páginas a cores, mostra um registo muito semelhante ao que M.R. utilizou em A VIDA NUMA COLHER (BETERRABA) e mesmo em SALAZAR – AGORA E NA HORA DA SUA MORTE, apesar deste ser a preto e branco.

Prancha dupla de Miguel Rocha em A NOIVA QUE O RIO DISPUTA AO MAR.

Os livros foram produzidos por JP Cotrim – Comunicação e Edição, Lda. o que poderá querer dizer que JPC se lançou na edição de BD?

Estes livros podem ser adquiridos, ao preço de € 21,00 cada, directa e pessoalmente na Casa Manuel Teixeira Gomes, Rua Judice Biker, 8500 Portimão, ou pedidos via net para os emails cultura@cm-portimao.pt ou gabinete.patrimonio@cm-portimao.pt, com os dados do comprador – nome, morada completa e número de contribuinte. Neste caso, o pagamento será feito por transferência bancária para o NIB a indicar pela entidade contactada e os livros serão enviados após recepção do comprovativo da dita transferência.

NOTA: Sobre estes livros, Pedro Cleto escreveu 6 de Março de 2010, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias e no seu blogue As Leituras do Pedro.
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quarta-feira, 10 de março de 2010

BDpress # 116 – E DE NOVO O PÚBLICO E A BANDA DESENHADA, EM COLABORAÇÃO COM A ASA – A VEZ DE ALIX, DE JACQUES MARTIN.

Carlos Pessoa, no Público de hoje anuncia a já esperada reedição dos álbuns de ALIX, de Jacques Martin (falecido em Janeiro passado), a partir da próxima quarta-feira, 17, ao preço de € 6,40 – sendo que os dois primeiros custarão apenas € 4,95 cada…




Público, 10 de Março, 2010

Carlos Pessoa

ALIX, O HERÓI DA ANTIGUIDADE

O galo-romano criado por Jacques Martin é um dos grandes clássicos da banda desenhada europeia, prosseguindo hoje uma saga que o faz percorrer todo o mundo conhecido da Antiguidade. A série é uma soberba reconstituição de época, inigualável na precisão e no rigor dos ambientes e das atmosferas

Estamos no ano 53 a. C. Alix, um jovem escravo dos romanos, fica a saber quais são as suas origens. O amo, o patrício romano Honorus Galla, revela-lhe antes de morrer que os seus pais eram mercenários gauleses de uma tribo que combateu na Assíria ao lado dos romanos. E que, por essa razão, tinha decidido protegê-lo.

Estes são os factos, traduzidos em quadradinhos na primeira aventura da banda desenhada Alix, surgida em 16 de Setembro de 1948 na edição belga da revista Tintin. Porém, antes de ser história e aventura, o herói foi uma ideia, surgida e desenvolvida no espírito de Jacques Martin, o seu criador. Como nasceu? Em 1973, Jacques Glénat e François Riviêre fizeram-lhe essa pergunta, inevitável em qualquer entrevista. Respondeu o autor: "Alix é o fruto do meu amor pela Grécia e pela Antiguidade. Estava em mim... Porque se é verdade que conheci naquela época Hergé, conheci também Flaubert. E Flaubert foi um dos grandes choques da minha vida. Abriu-me as portas de Platão, Sócrates, de toda a Antiguidade, de todo o mundo romano.
Desde o final da Segunda Guerra Mundial que o francês Jacques decidido a trocar uma formação académica em engenharia pelo desenho e pela banda desenhada. Mas é a sua entrada na equipa de Tintin, em 1948, que lhe permite realizar esse sonho. Apesar das críticas ao seu desenho e das reservas iniciais de Hergé, na altura director artístico da revista, Martin não se deixou intirrúdar. Ainda bem que assim foi.

A Colecção Alix, que o PÚBLICO começará a distribuir no próximo dia 17 de Março, é formada por 16 álbuns deJacques Martin há muito ausentes do mercado - ficam apenas de fora três histórias do autor com edição recente. Os leitores poderão, assim, verificar (ou reconfirmar) que esta é, porventura, a mais completa e exigente série de matriz histórica produzida pela BD de expressão franco-belga. Antes de mais, há nas aventuras deste herói galo romano uma incontestável preocupação - pode dizer-se mesmo que isso era uma obsessão em Martin, que possuía na sua biblioteca vários milhares de volumes sobre a Antiguidade – com a documentação histórica, que se exprime tanto nos espaços arquitectónicos como no vestuário, no armamento ou nos ambientes e cenários de cada história.

É neste pano de fundo que se inscrevem as aventuras de Alix e do seu inseparável companheiro Enak, dois ou três anos mais novo. Inicialmente votado a uma efémera aparição, Enak acabaria por se transformar no segundo elemento, na sequência de uma avalanche de cartas dos leitores que obrigaram Martin reintroduzi-lo na série. Veio para ficar, e de uma forma tão estreitamente ligada a Alix, que essa intimidade não afastou a consideração de uma pelo menos insólita ambiguidade nas relações entre os dois personagens.

Para reforçar essa ideia contribui por outro lado, o papel relativamente
pouco relevante das mulheres numa obra onde só a espaços conquistam alguma notoriedade.

Seria demasiado simplista ver nesta obra a expressão típica do género de aventuras históricas. Sem enjeitar para os personagens um papel determinante no desenrolar da acção de cada aventura, Jacques Martin impregna a sua obra de uma dimensão trágica que permanece, para além do evidente classicismo do desenho e da dimensão pedagógica da obra, um elemento maior da narrativa.

As aventuras de Alix são, deste modo, o palco por excelência do choque de interesses, vontades, desejos e percursos individuais que, não raras vezes, se resolve de forma simultaneamente violenta e dramática, quase sempre injusta. Em muitos casos, aliás, chega mesmo a ser hipotecado o efectivo poder do herói como motor da acção e agente das transformações que dele se esperam. Ou seja, Alix apresenta-se, na melhor tradição clássica, como um agente de desígnios que em muito o transcendem, pondo em evidência uma dimensão humana que só muito parcial e limitadamente é senhora do seu próprio destino.

Nada disto retira a Alix a condição de um herói integrado na História, lutando corajosamente e de forma desinteressada, tolerante, generosa e sensível contra todos os que ameaçam a paz romana. São estes atributos que fazem dele um herói claramente positivo e explicam o grande sucesso da série, agora publicada de novo em Portugal numa parceria PÚBLICO/Edições Asa.

ALIX EM PORTUGAL DESDE 1971

Foi com OTúmulo Etrusco, publicado na revista Tintin, que Jacques Martin entrou pela primeira vez na vida dos leitores portugueses de banda desenhada. A história começou a sair no nº 34, 3º ano (16 de Janeiro de 1971), concluindo-se no nº 16, 40 ano. Até 1982, data em que acabou a edição portuguesa daquela publicação, seguiram-se mais oito histórias (Iorix, OGrande, O Príncipe do Nilo, O Filho de Espártaco, O Espectro de Cartago, As Presas do Vulcão, A Criança Grega, Alix. O Intrépido e A Torre de Babel).
O percurso da série em álbum é mais tardio. Ficou a dever-se às Edições 70 a publicação de 19 histórias da série entre 1981 (Alix, o Intrépido) e 1990 (O Imperador da China e O Cavalo de Tróia). Depois disso, saíram apenas cinco álbuns, todos publicados pelas Edições Asa: O Príncipe do Nilo, Ó Alexandria (ambos em 2002), O Filho de Espártaco, O Rio de Jade (ambos em 2004) e O Imperador da China (2006).
A presente colecção, publicada em parceria PÚBLICO-Asa, relança todos os títulos que têm argumento e desenho de Jacques Martin, com exclusão dos três saídos desde 2002 (O Príncipe do Nilo, O Filho de Espártaco e O Imperador da China) com a chancela das Edições Asa.

Jacques Martin, ALIX e o último álbum desenhado por Martin - AS VIAGENS DE ALIX, PERSÉPOLIS...

Em baixo, homenagem de Jacques Martin a Hergé: O encontro anacrónico de Alix e Rastapopoulos. Estas pranchas em forma de homenagem foram publicadas em (A Suivre) “Especial Hergé”, em Abril de 1983 e foram “sacadas” pelo Kuentro do site castelhano “Mis Comics Y Mas”, daí estarem legendadas em castelhano.





Esta última imagem, inserida no blog BD75011, de MANUEL F. PICAUD, num texto intitulado ALIX ET LES GAYS, aborda a sexualidade de Alix e também de Tintin!!! Muito interessante!
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