terça-feira, 31 de agosto de 2010

LANÇAMENTOS DA ASA PARA SETEMBRO

Sem qualquer pretensão crítica, aos títulos ou à oportunidade das edições – deixo essa discussão para quem quiser começá-la nos comentários deste blogue –, aqui ficam os press release enviados pela ASA dos títulos que estarão à venda em Setembro, com a chancela da editora, as imagens das capas e algumas pranchas…

Título: HAPPY SEX

Autor: ZEP
PVP - € 17,11

Com um humor cúmplice e irónico, este álbum evoca o nosso tempo, com pranchas muito divertidas, especialmente aquelas que dizem respeito às situações do dia-a-dia que, sem caírem na vulgaridade, abordam temas como as imperfeições do corpo, as obsessões e a gestão da vida sexual… sem nos esconder absolutamente nada!

O grafismo de Zep juntamente com as cores pastel que utilizou, permitem mostrar o corpo humano com humor, pondo a nu as excentricidades e os comportamentos sexuais mais hilariantes!





Título: ADÈLE BLANC-SEC – vol. 1
Este volume inclui os álbuns:
- Adèle e o Monstro
- O Demónio da Torre Eiffel

Autor: JACQUES TARDI
PVP : € 21,70

Esta série decorre nos inícios do séc. XX. Uma época de grandes feitos tecnológicos e avanços científicos, onde tudo é possível. Uma época na qual ciência e misticismo andam de mãos dadas, em busca de um futuro melhor para a humanidade…
É neste contexto que têm lugar as extraordinárias aventuras de Adèle Blanc-sec; no primeiro volume, assistimos à eclosão de um ovo de pterodáctilo que levará à revelação de seitas diabólicas que ameaçam Paris…

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Nota do Kuentro: o filme LES AVENTURES EXTRAORDINAIRES D'ADÈLE BLANC-SEC, realizado por Luc Besson, com Louise Bourgoin como Adèle, Gilles Lellouche como o inspector Caponi, etc… foi apresentado no Festival International du Film Fantastique de Bruxelas a 9 Abril de 2010 e estreado em 14 de Abril de 2010 em França. Ficam abaixo algumas imagens do filme:



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SPIROU E FANTÁSIO Nº 51 – A INVASÃO DOS ZORCONS

Edição com capa exclusiva para a FNAC disponível a partir de 3 de Setembro

Desenhos : Yoann e Argumento: Vehlmann

P.V.P.: € 12,90

O célebre sábio Pacómio passa tranquilamente os dias no seu Castelo… Enquanto se dedica às suas experiências, o nosso amigo micólogo recebe a intrigante visita de um Zorglub que se apresenta mais altivo do que nunca… Mas o que pensar do comportamento do Conde que confunde o seu famoso rival com um simples canalizador? Será que Zorglub preparou minuciosamente todas as catástrofes que estão prestes a ocorrer?
Com a edição deste álbum, assistimos ao regresso de um mítico duo da banda desenhada humorística a uma selva insólita, infestada de criaturas inquietantes…



AS AVENTURAS DE TINTIN, DE HERGÉ
6 TÍTULOS A COMERCIALIZAR EM SETEMBRO

NOVA TRADUÇÃO – NOVO FORMATO: 16 x 22
PVP: € 8,90

TINTIN NO PAÍS DOS SOVIETES

Tintin vai à Rússia fazer uma reportagem para o jornal, mas vários homens tentam impedi-lo para que não revele a verdadeira realidade russa.

Originalmente publicado num suplemento juvenil, esta história foi retirada de circulação por Hergé a partir dos anos 30 e só em 1973 voltou a ser publicada, tornando-se num “best-seller”.

Livro onde o regime comunista e os comunistas são retratados como vilões, o que gerou controvérsia.

É o único livro de Tintin a preto e branco

TINTIN NO CONGO

Tintin é enviado para o Congo, colónia belga na época. Por uma série de peripécias acaba por entrar em confronto com um bando de gangsters que controlam a produção de diamantes…

Esta história foi publicada inicialmente no suplemento juvenil e depois em álbum a preto e branco.
Em 1946, Hergé redesenhou a história alterando a ideologia colonialista do álbum, deu-lhe cor e alterou os diálogos.

TINTIN NA AMÉRICA

Tintin parte para a América durante o período da lei seca. Em Chicago é raptado por gangsters, cujo chefe é Al Capone, que o consideram perigoso. Após escapar e ser de novo perseguido, acaba por encontrar os peles-vermelhas…

Este álbum é considerado um dos mais fantasistas e infantis. Hérge quis centralizar a história nos índios da América, que o fascinavam.

OS CHARUTOS DO FARAÓ

Tintin está a fazer um cruzeiro com destino ao Extremo Oriente, quando encontra um egiptólogo extravagante que procura a tumba de um faraó. Ao decidir acompanhá-lo é capturado e após várias peripécias chega à Índia, onde desmonta uma organização de traficantes de ópio…

Álbum inicialmente publicado a preto e branco, foi o último a ser colorido, em 1955. Este álbum surgiu 12 anos após a descoberta do túmulo de Tutankhamon.

O LÓTUS AZUL

Um mensageiro da China, que se iria encontrar com Tintin, é atingido por uma flecha envenenada com o veneno da loucura, dando-lhe apenas tempo para pronunciar o nome Mitsuhirato. Tintin parte em busca deste individuo desconhecido, o que o leva até à Índia e à China…

Publicado em álbum a preto e branco em 1936, só 10 anos depois foi colorido.

Este livro, onde Hergé defende a causa chinesa, nunca foi bem visto pelos japoneses.

A ORELHA QUEBRADA

Tintin investiga o roubo no Museu Etnográfico de um fetiche pertencente a uma tribo – Os Arumbaias. As pistas levam-no até à América do Sul, onde existe uma revolução em curso. Perseguido por todos, refugia-se na tribo dos Arumbaias onde descobre o segredo do fetiche…

Álbum editado em 1937, foi reeditado a cores em 1943.

Mais uma vez são feitas alusões à actualidade mundial - a guerra do Chaco, entre o Paraguai e a Bolívia. No livro Hergé denomina o conflito por “guerra do Chapo”.




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domingo, 29 de agosto de 2010

XXI FESTIVAL INTERNACIONAL DE BANDA DESENHADA - NORMAS DE PARTICIPAÇÃO DOS PRÉMIOS NACIONAIS DE BANDA DESENHADA

XXI FESTIVAL INTERNACIONAL DE BANDA DESENHADA

Normas de Participação dos PRÉMIOS NACIONAIS DE BANDA DESENHADA

No âmbito do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, a Câmara Municipal da Amadora atribui desde 1990 os Troféus Zé Pacóvio e Grilinho (TZPG) em homenagem a António Cardoso Lopes Júnior, ou, simplesmente, Tiotónio. Nascido na Amadora em 1907, Tiotónio foi director do Mosquito, entre outras publicações. E foi o autor das personagens Zé Pacóvio e Grilinho, as quais emprestaram o nome nos últimos anos àqueles que se assumiam como os PRÉMIOS NACIONAIS DE BANDA DESENHADA.


Neste contexto, a Câmara Municipal da Amadora coloca a concurso a atribuição dos Prémios Nacionais de Banda Desenhada 2010, distinguindo e consagrando edições e personalidades nacionais e estrangeiras cuja actividade se desenvolve no circuito da 9ª arte.

A atribuição dos PNBD é feita em três fases: Candidatura, Nomeação e Votação.

Considera-se como Candidatura, a fase em que as editoras e autores nacionais enviam uma relação de livros a concurso com identificação das categorias a que concorrem, acompanhada de 6 exemplares de cada álbum/Iivro para serem distribuídos pelos elementos do júri.

A fase de Nomeação, tem como propósito a selecção pelo Júri de 5 álbuns finalistas, que serão colocados à votação final.

A última etapa dos Prémios Nacionais de Banda Desenhada, será a Votação feita pelos agentes que desempenham uma actividade profissional reconhecida por todos no meio da ga arte nacional e constam ou tenham requerido inscrição na base de dados do FIBDA/CNBDI.

CANDIDATURA

Podem concorrer aos Prémios Nacionais de Banda Desenhada, todos os álbuns /livros de BD publicados em português por uma editora portuguesa entre setembro de 2009 e Julho de 2010 (inclusive).

Serão consideradas as datas de depósito legal, sendo desejável que os livros já se encontrem distribuídos no mercado livreiro.
Cabe às editoras e/ou autores o envio de todos os álbuns, livros e fanzines (seis exemplares de cada que serão distribuídos pelo Júri), devidamente acompanhados por uma listagem que defina a que prémios cada publicação concorre e se são novidades ou reedições.
Os álbuns entregues pelas editoras/autores ficarão na posse dos elementos do Júri, caso assim o entendam, com excepção das do director do FIBDA, cujos álbuns integrarão a biblioteca do CNBDI. O sexto exemplar será para exposição e consulta pelo público no FIBDA.

A data limite para entrega/envio das candidaturas (listagens e 6 exemplares de cada livro) é até às 17:00 horas do dia 6 de Setembro de 2010, devendo estas ser feitas para:

Festival Internacional de Banda Desenhada
CMA/CNBDI, Av. do Brasil, nº 52-A
2700-134 Amadora - Portugal
AlC Eduardo Conceição (Tel: 214998910)

NOMEAÇÃO

Tendo em conta a grande quantidade e qualidade das publicações apresentadas a concurso é determinante que todos os membros do Júri conheçam os álbuns.
Cabe ao Júri convidado pela CMA analisar e pré-seleccionar as obras a concurso. Esse júri será constituído pelo director do FIBDA, o autor de BD premiado FIBDA'2009, um jornalista/especialista bedéfilo; o comissário da exposição central do FIBDA'2010 e um coleccionador/amante da 9ª arte.
A organização entregará a cada elemento do Júri um exemplar das publicações a concurso que cheguem atempadamente ao FIBDA.
Cada elemento do júri poderá pré-seleccionar até 10 álbuns para cada categoria que apresentará na Reunião de Júri.

Os membros do júri poderão nomear outros álbuns que não constem da listagem, devendo para tal comunicar antecipadamente os dados e apresentar à organização a publicação em causa.
A Reunião de Júri terá lugar na segunda quinzena de Setembro de 2010. Nessa Reunião o Júri terá que definir quais os 5 álbuns finalistas de cada categoria que nomeia, constantes da respectiva acta da Reunião a entregar ao Comissariado do FIBDA.
Reserva-se ao Júri o direito de não nomear nenhum álbum para uma dada categoria, não sendo esta colocada a votação.
Das decisões do júri não haverá recurso.

VOTAÇÃO

Os 5 álbuns nomeados de cada categoria serão colocados à votação entre todos os profissionais de BD (especialistas, investigadores, críticos e jornalistas especializados, assim como autores e editores) acreditados na base de dados do FIBDA/CNBDI.
Para tal, a organização enviará para os referidos profissionais uma ficha de voto onde constam todos os álbuns nomeados a cada categoria.
Cada votante só poderá votar num álbum de cada categoria. As fichas de voto só serão válidas se o votante se identificar correctamente e assinar a mesma.
Cada casa de edição, só terá direito a um voto e caso queira apresentar esse voto não poderá votar em nenhum álbum por si publicado.
Os autores, [entendido como qualquer pessoa a quem se deve a criação de uma dada obra artística, não poderão votar em álbuns em que tenham participado.

A data limite para entrega das fichas de votação é:
- Até 15 de Outubro de 2010, podendo ser entregues por carta, via fax, e-mail ou pessoalmente;
- Para as fichas enviadas via correio, será considerada a data do carimbo dos correios.

A organização não se responsabiliza por qualquer atraso ou erro de comunicação nos meios utilizados para envio das fichas.
Não serão publicadas as votações de cada pessoa.
Será apenas tornada pública a listagem de votantes.
O anúncio público dos resultados e a entrega dos prémios aos autores ou editores será feito durante a Cerimónia de Entrega de Prémios do 21 0 Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, no Sábado, dia 30 de Outubro de 2010, em local a definir.

ACREDITAÇÃO

Todos os profissionais acreditados na Base de Dados do FIBDA, terão direito de voto.
O Comissariado, enviará um convite de participação e uma ficha de voto a todos os credenciados. Após o seu preenchimento, esta poderá ser remetida para o Comissariado do FIBDA, via correio, fax, correio electrónico ou pessoalmente, até às datas acima referidas.
Caso, haja algum profissional de BD que nunca tenha pedido a acreditação junto do FIBDA, o mesmo ou terceiro poderá fazê-lo junto do Comissariado até 30 de Setembro de 2010. Para tal, deverá juntar aos seus contactos um breve currículo da sua actividade bedéfila.

Os Prémios Nacionais de Banda Desenhada são:

TROFÉU DE HONRA

Atribuído a entidade ou personalidade que, pelo seu trabalho e dedicação se tenha destacado na área da Banda Desenhada. Este prémio é atribuído por deliberação de Câmara mediante proposta da direcção do Festival.

PRÉMIOS NACIONAIS DE BANDA DESENHADA

Como referido anteriormente, para todos os álbuns das categorias abaixo indicadas publicados em Portugal e em língua portuguesa, entre Setembro de 2009 e Julho de 2010 e tragam novidade artística ao meio editorial português.

BD PORTUGUESA:

Melhor Álbum - Atribuído ao melhor álbum de autor(es) português(es) editado em Portugal.

Melhor Argumento - Atribuído ao melhor argumento de autor português editado num livro de BD em Portugal.

Melhor Desenho - Atribuído ao melhor desenhador português editado num livro de BD em Portugal.

MELHOR ÁLBUM PORTUGUÊS EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

Atribuído ao melhor álbum inédito de BD de autor português editado em língua estrangeira.

MELHOR ÁLBUM ESTRANGEIRO DE AUTOR PORTUGUÊS

Atribuído ao melhor álbum de BD de autor e/ou edição lusófona não portuguesa.

MELHOR ÁLBUM ESTRANGEIRO

Atribuído ao melhor álbum de BD de autor estrangeiro editado num livro de BD em Portugal.

MELHOR ÁLBUM DE TIRAS HUMORÍSTICAS

Atribuído ao melhor álbum de tiras humorísticas editado em Portugal.

MELHOR ILUSTRAÇÃO DE LIVRO INFANTIL

Atribuído ao melhor ilustrador de um livro dedicada à infância editado em Portugal.

PRÉMIO CLÁSSICOS DA 9ª ARTE

Dado que têm sido editados muitos autores e séries antigas classificados como "clássicos da 9ª arte" e que os mesmos não deverão rivalizar com as novas produções bedéfilas. Este prémio é atribuído à editora que tenha publicado como novidade uma tradução ou recolha em álbum e da melhor forma o melhor clássico, entendido como uma banda desenhada que tenha sido originalmente editada há mais de 10 anos. Este troféu só será atribuído se o júri considerar que o mesmo se justifica.

PRÉMIO FANZINE

Atribuído ao melhor Fanzine português editado em Portugal.

PRÉMIO JUVENTUDE

Atribuído ao autor do melhor álbum BD juvenil editado em Portugal. A avaliação destes trabalhos é feita por um grupo de alunos do agrupamento de artes de uma escola da Amadora. com idades entre os 16 e os 18 anos.

NOTAS FINAIS

A apresentação de listagens e de publicações representa a aceitação plena das presentes normas de participação por parte dos candidatos a este concurso.
Os casos omissos nas presentes normas serão de resolução por parte da entidade organizadora.

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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

BDpress #169: MAIS BRASIL – SOBRE O FIQ’2009 (PARA COMEÇARMOS A PERCEBER ALGUMAS COISAS SOBRE HQs) E O QUE HÁ DE HQs COM CONTEÚDO “ADULTO”

O FIQ – Festival Internacional de Quadrinhos, de Belo Horizonte, é visto como um dos maiores eventos de Banda Desenhada (Histórias em Quadrinhos) do Brasil - esclareçamos que o FIQ é bienal, o próximo será em Outubro de 2011. Vejamos o que foi publicado no site da Universidade de Quadrinhos do Quadrilátero DF, em 20 de Agosto 2010 e depois, o “Blogue Interferências Inefáveis & Incendiárias”, no mesmo dia, publicou matéria sobre livros em HQ com conteúdo “adulto”. Entretanto, o Luanda Cartoon fecha hoje e já há mais algumas fotos – chegam a conta gotas – no blogue do Lindomar de Sousa.


sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Para o público que curte HQs nacionais

ESPECIAL FIQ UMA VITRINE PARA OS INDEPENDENTES

por Milena Azevedo

Tema: Especiais, HQs

Quem vai ao FIQ já sabe que encontrará a turma dos quadrinhos independentes em peso por lá. E esse ano parece que triplicou o número de estandes do pessoal que arregaça as mangas e produz suas HQs com garra, estilo e personalidade. Vamos contar comigo os estandes: 10 Pãezinhos, Quarto Mundo + Graffiti 76% Quadrinhos, Café Nanquim, Aurora Comics, A.T.U.M e um mistão de independentes, intitulado “Quadrinhos Dependentes”, que reunia quadrinistas do RJ, ES, GO e Brasília (Beleléu + Quase Nada + Prego + Tarja Preta + Samba + QuebraQueixo + Macacos + uma porção de outras revistas).

O mais concorrido desses estandes já dá pra saber qual foi, não? O dos 10 Pãezinhos, é claro. Fábio Moon e Gabriel Bá trouxeram seus amigos gringos prá lá (Becky Cloonan, Vasilis Lolos, Ivan Brandon), além dos amigos brazucas (Rafael Grampá, Gustavo Duarte, Rafael Albuquerque, Eduardo Medeiros, Mateus Santolouco e a Priscila). Praticamente todo dia tinha lançamento, às vezes até dois títulos diferentes por dia. Pra melhorar ainda mais o que estava bom, os gêmeos lançaram Pixu e The Umbrella Academy, cansando as mãos de tanto autógrafo que deram (fora o Igor “Bone” que trouxe de casa tudo o que tinha dos gêmeos para eles autografarem). Aliás, tenho que registrar a maturidade do Moon e do Bá, que são humildes, sem estrelismo algum, legais pra caramba e ainda ajudam seus amigos menos “famosos”, como foi o caso da Priscila (Pri Perca), que estava lá com seumodesto fanzine Lapso e o Gabriel aconselhando a gente a comprá-lo. Eu comprei e não me arrependi. Tirinhas e HQs muito massa, com estilos diversos, passeando pelos traços anarco-infantil e moderninho (esses dois termos eu criei agora, mas quando vocês lerem Lapso, irão entender). Eu comprei muitos quadrinhos que estavam à venda no estande dos 10 Pãezinhos, embora quisesse ter trazido pra casa mais outros, como a série Vikings, do Ivan Brandon.

Na frente do estande dos 10 Pãezinhos sempre havia uma rodinha boa, com assuntos legais. Foi numa dessas conversas que o Sidney Gusman (Universo HQ e MSP) me disse que no MSP 50 volume 2 (coletânea de diversos artistas que homenagearam o Mauricio de Sousa pelos seus cinquenta anos de carreira) alguém de Natal será convidado a participar. “É alguém do GRUPEHQ”, perguntei? E o Sidney, “Por enquanto ainda é segredo.” Antes do próximo FIQ a gente deve saber quem é.

Também encontrei o Eduardo Felipe, que trazia um boneco da sua graphic novel A balada de Johnny Furacão, esperando que alguma editora se interessasse em publicá-la. Torço para que ele consiga, porque me pareceu interessante.

O outro estande bastante movimentado foi o do coletivo Quarto Mundo, que contou com uma galeria ímpar: Graffiti 76% Quadrinhos, Nanquim Descartável, Pieces, Avenida, Grande Clã, Café Espacial, Peiote, Camino di Rato, Menino Caranguejo, Ato 5, Solar, Cogumelo, Subterrâneo, Homem-Grilo, Garagem Hermética, Bagaça, Zine Royale, Quadrinhópole, Gorjeta, Macaco Albino, Breganejo Blues e uma porção de títulos bons e baratos. Além disso, havia uma promoção imperdível. Nas compras a partir de R$ 20,00 a gente ganhava uma caricatura na hora. Eu ganhei duas, uma feita pelo Victor e outra feita pelo Marcus, e a terceira me será enviada pelo Bira Dantas, por e-mail (porque ele não tinha papel e queria fazer a minha caricatura no meu exemplar de Retalhos, o que não convinha). Nem precisa dizer que eu enchi o cofrinho desse pessoal, não é?

Quem também passou pelo estande do coletivo Quarto Mundo foi o professor e quadrinista Gazy Andraus, bem como o homem que mais sabe notícias de Alan Moore em todo o planeta, o José Carlos, responsável pelo site Senhor do Caos.

Rever Fabiano Barroso, Daniel Esteves, Will, Jozz, Jaum, e conhecer o Mário Cau, o Bira Dantas (que descobri que é parente meu), o Victor, o Marcus e o Guilherme foi demais!
Agora vamos falar um pouco sobre o estande mais agitado e “presepento” do FIQ, o dos Quadrinhos Dependentes, que juntou quadrinistas cariocas, capixabas, goianos e brasilienses, e que passou a vender de tudo um pouco, como os produtos do Supermercado Ferraile, action figures (eu namorei as das Tartarugas Ninjas), camisetas, e “otras cositas más”, além de organizarem pocket shows e promoções no grito. E teve até um mico meu, confundindo o Márcio Jr., da Monstro Discos e da revista Macacos, com o Rafael Grampá.

A melhor surpresa desse FIQ veio desse estande. A revista Beleléu, dos cariocas Daniel Lafayette, Eduardo Arruda, Elcerdo, Stêvz + convidados, é simplesmente candidata a melhor quadrinho independente de 2009.

Os independentes fizeram a festa total nessa sexta edição do FIQ, com direito a bolo, velinhas e bexigas coloridas. O espírito de um evento como o FIQ é esse mesmo. Você ter contato direto com a vasta produção dos quadrinistas nacionais (umas excelentes, outras nem tanto), poder trocar ideias com eles e pegar seus exemplares autografados.

Eu comprei tanta HQ pra mim que a mala ficou pequena (e nem comprei tudo o que queria) e acabei não trazendo nada pra revender na Garagem Hermética Quadrinhos (GHQ), minha comic shop, que desde meados do ano passado está funcionando apenas pela internet.

Porém, em breve, quase todos esses títulos que comprei (e que ainda estou lendo) estarão à venda .

Agradeço a todos os que estão lendo esses artigos especiais sobre a sexta edição do FIQ e espero que em 2011 mais potiguares (?) apareçam por lá.

Postado por Mauro César Bandeira






As caricaturas de todos os participantes - uma ideia interessante para os Festivais portugueses, hem?
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Blogue Interferências Inefáveis & Incendiárias, sexta-feira, 20 de agosto de 2010

ADULTO TAMBÉM COMPRA HISTÓRIA EM QUADRINHOS [recorte de jornal]

Histórias em quadrinhos deixaram de ser coisa de criança há muito tempo. Nos últimos anos, parece que o mercado editorial brasileiro vem acordando para essa realidade. Cada vez mais estão sendo disponibilizados, em livrarias e lojas especializadas, títulos de quadrinhos voltados para o público adulto.

Nesse caso, conteúdo "adulto" não representa necessariamente histórias recheadas de sexo e violência (embora muitas contenham esses elementos), mas sim tramas mais complexas, que vão além da atmosfera juvenil que muitos atribuem às HQs. "Umbigo Sem Fundo", de Dash Shaw, e "Jimmy Corrigan, o Menino Mais Esperto do Mundo", de Chris Ware, abordam temas difíceis, como conflitos familiares e revisão do passado, com uma profundidade que se aproxima da melhor literatura.

"Está havendo mais interesse por parte das editoras em lançar títulos voltados para um público mais maduro", explica Mitie Taketani, gerente da loja curitibana Itiban, especializada em HQs. "Os quadrinhos deixaram de ser uma forma de arte marginal e não existe mais aquele preconceito, de que HQ é coisa para criança. Existem, nesse formato, grandes autores e grandes artistas."

Liber Eugenio Paz, professor do curso de Design da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e fã de quadrinhos, explica que os títulos voltados para o público adulto muitas vezes têm como grande diferencial o preço, que ultrapassa os R$ 40. Isso porque esses livros têm muitas páginas e acabamento melhor.

"Mas o que define esses títulos não é exatamente o preço. Existem opções, como '100 Balas' e 'Ex-Machina', que são mais econômicas, com um preço inferior a R$ 20. O que define (esse mercado) é o conteúdo voltado para um público mais maduro", explica o professor.

Mitie Taketani cita que já há algum tempo editoras de médio e pequeno porte vinham lançando quadrinhos adultos. Um indicativo de que há uma demanda crescente é que a gigante Companhia das Letras criou recentemente um selo especializado em HQs, a Quadrinhos na Cia.

"A respeito de lançamentos de quadrinhos estrangeiros no Brasil, a (editora) Panini tem se dado bem com os títulos da Vertigo (selo adulto da editora DC Comics), e também sincronizando lançamentos com o mercado de cinema. A Quadrinhos na Cia também fez isso recentemente, lançando 'Scott Pilgrim'(do canadense Bryan Lee O´Malley) No Brasil para aproveitar o lançamento do filme", explica a gerente.

Mesmo em lojas não especializadas, nota-se um aumento da procura por quadrinhos adultos. A Livrarias Curitiba informou que, entre 2008 e o ano passado, as vendas desse tipo de títulos aumentaram quase 200% nas lojas da rede.

[ GALÃO, Fábio. Adulto também compra história em quadrinhos. Folha Economia, pg1. Folha de Londrina, 19/08/2010 ]

Postado por Vagner Morais (Londrina-PR)

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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

JÁ HÁ ALGUMAS FOTOS DO VII LUANDA CARTOON’2010, PUBLICADAS POR LINDOMAR DE SOUSA LINDOX NO FACEBOOK + UM DOCUMENTO DO GOVERNO BRASILEIRO A PROPÓSITO DO… LUANDA CARTOON


Lindomar de Sousa Lindox lê (com alguma dificuldade) a lista de convidados...

Foto também publicada no blogue do "Menino Triste" (ver na coluna aqui à direita).

João Mascarenhas, Olímpio de Sousa Sousa e Lindomar de Sousa Lindox

João Mascarenhas e Olimpio de Sousa Sousa

João Mascarenhas, Olímpio de Sousa Sousa, Justino Pinto de Andrade e Lindomar deSousa Lindox

DOCUMENTO DO GOVERNO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
para ver se o governo da República Portuguesa aprende alguma coisa (do que duvido):

Síntese do Projeto

Evento: O 7º Festival Internacional de Banda Desenhada e Animação - Luanda Cartoon 2010 é o principal evento de histórias em quadrinhos de Angola. O Luanda Cartoon surgiu de uma iniciativa de jovens que realizaram nos finais da década 90 várias exposições de banda desenhada nas galerias de Luanda. Depois de alguns anos, decidiram organizar-se e fazer os seus encontros. O festival passou a ser anual a partir de 2006, pois era inicialmente trimestral. As três primeiras edições aconteceram em 2005 (1ª edição de 17 a 25 de Março; 2ª edição de 1 a 8 de Julho e 3ª edição em Dezembro), tendo criado condições para melhorar a qualidade do evento e atingir maior dimensão e recursos. A parceria entre o Instituto Camões e o Estúdio Olindomar teve início em 2004. Sobre a média dos quadrinhos, devido a sua forte influência sobre os jovens, ele é um forte componente educativo para as novas gerações. Além disso, por ser um país de língua portuguesa, é importante para nós, brasileiros, fortalecer os laços com as nações de mesmo idioma. Para além de aproximarem os artistas e especialistas aos amadores dessa arte, o evento é uma forma prática de estimular, desenvolver e promover a banda desenhada e os profissionais do ramo. Sinopse: Participarei de eventos, da exposição de quadrinhos e de mesas sobre quadrinhos no Brasil. Contrapartida: WORKSHOP de 08 (oito) horas/aula sobre a prática de criação de histórias em quadrinhos. Nosso interesse será propiciar uma experiência capaz de gerar idéias e conteúdos para se pensar em histórias em quadrinhos no mundo contemporâneo. Assim, inicialmente, proporemos uma discussão a respeito de temas e problemas do nosso cotidiano em sociedade. Esse debate inicial será, posteriormente, material importante para alicerçar as bases para construção de histórias e de experiências gráficas. Em linhas gerais, o direcionamento adotado no workshop seguirá o cronograma abaixo: 1. Apresentação da média histórias em quadrinhos - Breve história das histórias em quadrinhos - Apresentação de publicações e géneros - Apresentação das técnicas de roteiro - Apresentação de técnicas gráficas, materiais 2. Definir preocupações do grupo - definir tema para realizar HQs 3. Produção de esboço da história - métodos para a construção de HQs - roteiro, desenho - como desenvolver a história - execução de 1 página 4. Crítica dos resultados - desenvolvimento do roteiro e tema - a da execução gráfica - caminhos escolhidos, possibilidades * As informações acima foram fornecidas pelo candidato.

Programa de Intercâmbio e Difusão Cultural. Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura – Governo da República Federativa do Brasil.

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terça-feira, 24 de agosto de 2010

BDpress #168: GRANDE ENTREVISTA COM JOE SACCO POR ALEXANDRA LUCAS COELHO, A PROPÓSITO DE FOOTNOTES IN GAZA, NO SUPLEMENTO ÍPSILON DO PÚBLICO, DE 20 DE AGOSTO 2010.



Público – suplemento Ípsilon, 20 Agosto 2010

Alexandra Lucas Coelho

Joe Sacco - NO BURACO NEGRO DE GAZA

Dois massacres que a história israelo-árabe ia esquecer investigados, desenhados e escritos pelo repórter Joe Sacco. Não há nada semelhante. Um grande livro.

Costuma dizer-se que Joe Sacco (nascido em Malta, em 1960, e há muito residente em Portland, Oregon, EUA) inventou a reportagem de guerra em BD. Foi o que fez, por exemplo, em "Palestina" (publicado em Portugal), ou em "Safe Area Gorazde" (ainda por publicar em Portugal, mas com uma edição brasileira, "Área de Segurança Gorazde – A Guerra da Bósnia Oriental 1992-1995", pela Conrad do Brasil).

No seu mais recente trabalho, "Footnotes in Gaza" (2009), Sacco vai mais fundo, em direcção a um buraco negro da História: dois massacres acontecidos em 1956 na Faixa de Gaza, que iam ser esquecidos como notas de rodapé. No primeiro, Khan Yunís, o exército israelita terá morto 275 palestinianos de forma rápida. No segundo, Rafah, mais de 100 palestinianos terão ficado sem vida ao longo de um dia em que muitas outras pessoas foram espancadas e maltratadas. Joe Sacco entrevistou dezenas de sobreviventes e testemunhas, cruzou fontes documentais e orais, e depois passou seis anos a desenhar e a escrever.

"Footnotes in Gaza" é não apenas reportagem de guerra, mas também jornalismo de investigação. Um grande livro: para quem não entende como os palestinianos vêem os israelitas; para quem quer saber o que vai na cabeça dos que estão vivos; para quem se interessa pela memória humana.

Sem nunca se fechar ao presente, Sacco mostra como o passado é o futuro. Entrevista por telefone, a partir de Portland.

Porque escolheu esta história, especificamente? Porque não era tão conhecida?

Em 2001 fui a Gaza com um amigo jornalista, Chrís Edges, para a revista "Harper". E se esta parte da história tivesse ficado na reportagem que foi publicada talvez eu não tivesse feito o livro. Pensaria: "Bem, pelo menos isto foi contado." Mas, fosse por que razão fosse, a revista deixou cair a parte do relato histórico em favor do que se estava a passar em Gaza. Eu detesto ver a História perder-se. Havia gente viva que ainda se lembrava destes episódios e praticamente nada tinha sido escrito. Pensei: "Isto não pode ficar perdido. Há muita história sobre este conflito, lemos tanto sobre ele, porque é que estes dois massacres não existem no registo geral?" Então achei que era um desafio jornalístico realmente bom, que valia mesmo a pena. Incidentes como estes constroem a História do conflito. Afectam a forma como gerações inteiras o vêem, o que as pessoas que viveram estes incidentes pensam dos israelitas, como educam as crianças, o que lhes dizem.

Os palestinianos que encontra vão-lhe perguntando: porque é que está preocupado com 1956 quando a minha casa está a ser demolida ou o meu marido está a ser morto? É uma tensão que também reflecte a do leitor. Mas o incrível do livro é como 1956 volta à vida, e ao mesmo tempo se abre a todas as histórias do presente.

Sim, houve pessoas que continuaram a pôr em causa eu estar a focar-me em episódios históricos. Mas como eu disse a uma delas: um dia a sua história também será esquecida. O interessante sobre a experiência palestiniana é que são camadas de história, incidentes uns em cima dos outros. O que se passa no presente importa mais às pessoas que estão a viver as coisas agora, claro, do que o que aconteceu no passado, mas é um "continuum" de acontecimentos.

O que faz neste trabalho é congelar um momento, e ao mesmo tempo isso é um pretexto para tudo vir ao de cima.

Sim, quis mostrar que, ao mesmo tempo, muitas coisas estavam a ser atiradas para cima de mim. Muitas coisas vêm ao de cima, é quase esmagador.

O momento no passado é uma porta para o presente e para o futuro. De certa forma, um buraco negro.

É exactamente isso. Estou a tentar ver o que foi específico num momento, mas reconheço que até para os palestinianos... não é que seja irrelevante, simplesmente há demasiadas coisas com que têm de lidar no presente. Os palestinianos ainda não tiveram uma pausa para olhar a História.

Mesmo que as pessoas não estejam interessadas no caso palestiniano, podemos ver este livro como um trabalho sobre a memória. O que aprendeu sobre a forma como as pessoas se lembram das coisas, e sobre o tipo de coisas de que se lembram?

Ao falar com estas pessoas mais velhas, o que ficou claro é que geralmente são os momentos mais agudos que recordam. É mais fácil lembrarem-se de dois segundos dolorosos do que, por exemplo, de dez horas de espera, sentadas no chão, com a cabeça dobrada. Por isso tenho toda a sequência dos homens a serem espancados com paus [pelos soldados israelitas] ao passarem o portão, porque quase toda a gente com quem falei se lembra disso. Aconteceu a todos. E é isso que sobresssai. Frequentemente, era a primeira coisa de que me falavam. E depois era preciso voltar atrás e dizer-lhes que gostava de ouvir a história desde o princípio.

A sequência das pauladas é muito forte, com muitos testemunhos. É quase inacreditável, em função do que sabemos sobre o conflito. Porque é que aquilo estava a acontecer? Não achou bizarro?

Achei bizarro, e tentei mostrar o contexto. Que havia guerrilheiros de Gaza a entrar [em Israel] e que os israelitas estavam a retaliar. Havia muita tensão e claramente os israelitas estavam frustrados com [a sua incapacidade para neutralizar] a guerrilha. Mas é sempre difícil para mim perceber a psicologia de espancar as pessoas ou de as matar desta forma. Consigo explicar muito do "background", mas não a psicologia.

Sim, a tensão é muito clara, não me refiro ao que levou ao massacre. Mas é estranho ver aquela longa sequência de pauladas. Aqueles soldados não parecem israelitas. Parece um tal desperdício de energia e de força sem que aparentemente haja um objectivo racional.

Talvez. Mas hoje podemos dizer exactamente o mesmo. Há algum motivo racional para manter o bloqueio a Gaza quando o Hamas é poderoso exactamente por causa do bloqueio, e pode trazer dinheiro e o que precisa com os túneis? Se o objectivo de Israel é danificar o Hamas, não há lógica para o bloqueio. Se olharmos para a História, vemos que há muitos actos irracionais. Quando desumanizamos outras pessoas, podemos realmente tratá-las muito mal. Conhecendo a história entre israelitas e palestinianos, surpreende-me a escala do que aconteceu em Khan Yunis e Rafah em 1956, mas em1948 houve outros massacres, aldeias inteiras limpas do mapa, como Deir Yassin.

O que é brutal neste trabalho é os detalhes serem tão esmagadores. Como não vimos muito do que aconteceu no passado, estas imagens surreais, irracionais, tornam a história incrível.

Eu acho que esta é uma história extraordinária. Quando comecei a compreender o que se passou, foi uma surpresa [verificar que] nenhum outro repórter ou historiador tinha olhado para aquilo. O documento da ONU que dedica alguns parágrafos a estes casos torna claro que havia largo número de civis mortos. E quando estava a ouvir as histórias, a primeira vez que percebi que as pessoas estavam a levar pauladas no portão... De alguma forma, alvejar pessoas na rua é mais compreensível. Dar-lhes pauladas na cabeça parece um passo além do que estou habituado a ler.

Quanto tempo ficou lá?

Foram quatro viagens a Gaza. A primeira com Chris, da qual sobra muito pouco no livro, talvez um capítulo. Depois, a primeira viagem grande de duas semanas, para ter a certeza de que conseguia fazer a história, para encontrar o meu guia, Abed, que se tornou meu amigo. Fiquei em Khan Yunis essas duas semanas, e a maior parte da história de Khan Yunis reunia então. Depois.parti, e voltei mais dois meses para Rafah.

Estamos a falar de que ano?

As viagens principais foram de Novembro de 2002 a Março de 2003.

Abed é extraordinário. Ficou tão envolvido na história como você? São como companheiros.

E fomos. Foi muito mais do que alguém que traduzia palavras. Ele é um tipo muito esperto, teve uma boa educação, e muito rapidamente se tomou tão... não quero dizer obcecado, mas concentrado no que estávamos a fazer. Compreendeu que eu realmente queria a história a sério, não queria tretas. Portanto, começou a dizer-me quando desconfiava de uma história, ou se uma pessoa se contradizia. Era muito bom nisso, como um barómetro. Porque eu não compreendo a língua, ele era aquele que podia olhar para as pequenas subtilezas do que as pessoas estão a dizer, e perceber se estavam só a tentar agradar-nos. Foi um filtro importante.

Quanto tempo passou depois a escrever e desenhar?

Seis anos. Mas pelo meio fiz algumas peças jornalísticas que me roubaram um mês aqui e ali, estive no Iraque. Nos últimos quatro anos não fiz mais nada se não trabalhar no livro.

Quantas horas de gravação trouxe?

Uh! Não sei. Há muitas gravações, 70 ou 80. Levei seis semanas a desgravar tudo. Não quis entregar isso a ninguém. É importante ouvir outra vez, é uma forma de rememorar. Porque sabia que era uma matéria muito sensível, gravei quase todas as conversas.

E quantas fotos para depois desenhar tudo? Estamos a falar de centenas de pessoas.

Algumas centenas, não sei quantas.

Comparado com tudo isso, escrever um livro parece fácil.

Fui aos arquivos da UNRWA [a agência da ONU para os refugiados palestinianos] em Gaza, e eles têm um arquivo fotográfico e passaram-me todas as imagens de como eram os campos de refugiados nos anos 50. Especificamente Khan Yunis e Rafah.

Mas há também todas as caras das pessoas que entrevistou.

Pareceu-me importante que, quando alguém aparece a falar outra vez, aparecesse a cara. Porque quando estou a ler um livro com nomes árabes, ou quaisquer outros nomes, às vezes esqueço qual foi a pessoa que disse aquilo há dez páginas, especialmente num livro com muita gente. É mais fácil reconhecer uma cara do que um nome árabe.

Tudo isso implicou grande quantidade de trabalho manual, num tempo em que tudo é digital, rápido. Tomou-lhe seis anos de vida, com tudo feito à mão. É raro.

Obrigado. Mas ainda agora li um livro sobre Miguel Ângelo, e ele só demorou quatro anos a fazer a Capela Sistina! [risos].

Hoje, é quase subversivo.

É a única forma que conheço de fazer as coisas. Por princípio, não gosto de atalhos. Desenho tudo à mão, gosto do cheiro a tinta, gosto do som da caneta no papel.

Faz à mão todas as palavras do texto, também?

Sim.

Nos agradecimentos, diz que a sua agente o ajudou na crise de meio-livro, quando não sabia se tinha de vender as suas coisas no e-bay. Como se sobrevive quando se passa seis anos a fazer um álbum destes?

Houve tempos dificeis, mas esta não foi a vez mais difícil. Com os trabalhos que fiz pelo meio ganhei uma boa quantidade de dinheiro. No livro sobre a Bósnia ["Safe Area Gorazde", 2000] não tinha mesmo dinheiro, não sabia como ia pagar a renda do mês seguinte. Este não foi nem de longe tão difícil, porque já tenho um pouco de reputação, e, a meio, se precisava de trabalho, podia ir ter com a minha agente, dizer-lhe: "Tenho esta ideia, podes encontrar-me uma revista que esteja interessada?". E ela tratava de tudo. Há 15 anos isso não era sequer uma opção. Ninguém estava interessado.

A certa altura, no livro, define-se como "um homem dos jornais" por natureza. E "Footnotes in Gaza" revela uma fantástica fé no jornalismo.

Estudei jornalismo na universidade, e realmente queria escrever notícias, era a minha motivação. Não era escrever "features", ou críticas.

Perante a actual desconfiança em relação aos jornalistas, é muito revitalizante.

É o que sinto. Acho que há espaço para jornalismo de investigação. E no fim de contas é o que isto é. E acho que as pessoas querem este tipo de coisas. Não quero saber o que dizem os "focus groups". Podem pensar que as pessoas só conseguem ter atenção a 150 palavras sobre qualquer assunto. Não acredito realmente nisso. Há um público para isto. Temos de pôr algum esforço na forma como contamos a história, para manter o leitor interessado, mas acho que há um desejo de ler estas coisas.

Como nos livros anteriores, o autor está sempre dentro da história, o que permite aos leitores projectarem-se na sua honestidade. Quase no fim, pensa com vergonha, ao olhar para um homem que acaba de lhe contar coisas terríveis, que se "perde alguma coisa ao longo do caminho", ao reunir e dissecar todas aquelas provas. O que é que se perde?

Entramos na história porque realmente estamos interessados nela e nas pessoas, acreditamos que aquilo realmente importa. Mas qualquer jornalista, ao tentar reunir os elementos o melhor possível, acaba por não ter espaço para pessoas que não se lembram, que se perdem; está a tentar ter factos, a confrontá-las, e há algo quase impiedoso nisso.

É necessário. Às vezes sentimos que temos uma grande história, estamos quase eufóricos, mas a grande história é sobre algo horrível.

Exacto. É a essência das dúvidas que os jornalistas têm no terreno.

Há planos para traduzir "Footnotes in Gaza" em árabe ou hebraico?

Há um editor árabe que o vai publicar, no Líbano. A minha agente conseguiu isso. Em hebraico não creio, mas claro que estaríamos interessados.

Acha que este livro seria bem vindo em Israel?

Sinto que em Israel há mais debate, mais consciência deste tipo de coisas do que, por exemplo, nos EUA. Tive boa atenção crítica nos EUA, mas em geral as pessoas são muito cautelosas quanto ao que dizem sobre Israel, enquanto em Israel são mais livres. Acho que o público israelita estaria disposto a receber isto. Eles sabem que estas coisas estão a acontecer. É uma guerra brutal, e eles percebem isso. Não é que não estejam conscientes da sua história. Mas foi muito difícil fazer pesquisa da perspectiva israelita. Tive Mordechai Bar-On [um antigo braço direito do então ministro israelita da Defesa, Moshe Dayan] a explicar a posição israelita, contratei dois investigadores para trabalharem nos arquivos israelitas, falei com muita gente que esteve no comando em 1956.

Porque foi dificil?

No fim de contas, trata-se de um massacre. E é difícil pôr as pessoas a falar disso. Não estou sequer a sugerir que as pessoas com quem falei sabiam do que aconteceu, porque podem acontecer muitas coisas numa guerra que se move rapidamente. Acontecem e afastamo-las do espírito. Mordechai Bar-On diz: "Sírn, ouvi falar de uns 100 palestinianos civis mortos, mas não sei bem onde. Há tanta coisa a acontecer".

É uma abstracção.

É. Estamos a falar de um conflito com décadas, em que aconteceram muitas coisas destas. E quando contratamos investigadores... Se for eu, sei que posso ir até ao limite; se contrato alguém tenho de confiar, não sei quanto trabalho vai fazer. Mas gostaria que este livro chegasse a um público israelita, e que alguns historiadores israelitas decidissem fazer mais investigação.

Teve leitores israelitas a escrever-lhe?

Não tive muita reacção de leitores em Israel. Tive de leitores judeus na América. Fiz algumas apresentações do livro, e em três ou quatro ocasiões aconteceu haver gente a levantar-se e a falar de outras coisas. Até citavam o Holocausto. Não se referiam aos factos que trago ao de cima. Acho que os motivos eram sinceros, mas basicamente estavam a mudar de assunto. Mas também tive boas reacções de judeus.

Sente alguma mudança na visão "mainstream" sobre este conflito? Porque desde 2003 muitas coisas mudaram, mesmo na América. Diria que a visão "mainstream" está um pouco mais à esquerda?

Acho que sim, um pouco. Os americanos ainda questionam muitos motivos palestinianos, até certo ponto ainda associam os palestinianos a terrorismo, mas acho que estão um pouco mais desconfortáveis em relação a Israel, especialmente desde o ataque a Gaza em 2008-09, e este ataque recente à frota [turca]. A minha sensação é que muitos americanos estão mais cautelosos em relação a Israel e não tão dispostos a acreditar na posição israelita. Onde as coisas não mudaram foi ao nível da política americana. No Senado, no Congresso. Os políticos parecem sempre estar presos à posição israelita.

Obama está a fazer alguma diferença?

[Pausa] Quase qualquer posição será melhor do que a de Bush, mas acho que Obama tem sido muito decepcionante. Não podemos só olhar para os anos Bush, que parecem perversos comparados com a tendência geral americana, que tem sido realmente de apoiar a política israelita e proteger Israel das sanções da ONU. O relatório Goldstone, por exemplo [sobre a guerra em Gaza 2008-2009]: a administração Obama veio muito rapidamente dizer que não era um relatório equilibrado. Isto é a administração Obama. Acho que nisso revelaram a habitual cobardia americana.

A Gaza do livro de certa forma já não existe. Desde 2007, a luta entre o Hamas e a Fatah é muito forte. Voltou?

Não, tento manter-me a par com as pessoas de lá, vou lendo. É outra parte do problema: a luta entre Hamas e Fatah realmente complica tudo. Se temos os palestinianos divididos, ainda temos menos chances de chegar a algum lado.

Desde que lá esteve houve a retirada dos soldados e dos colonos do interior de Gaza, e a divisão Fatah-Hamas. É incrível como as coisas se movem tão rápido e ao mesmo tempo não mudam de todo.

É a ironia da situação. Posso ler este livro e pensar: tantas coisas mudaram. Mas este conflito parece interminável.

"Não há dúvida sobre quem está a vencer, a questão é quão longe levarão os israelitas a sua vitória, e quanto podem os palestinianos aguentar a sua derrota", escreve no livro. Podia escrever isto hoje, e ainda mais.

Sim, ainda mais! Talvez as coisas mudem. Quem pensaria que a URSS coolapsaria que o "apartheid" acabaria? Mas este conflito parece ser realmente difícil.

Ficou pior e pior?

Pior e pior. Há a divisão de que falámos. E, claro, o projecto de colonatos [em Jerusalém e na Cisjordânia] continua. Não haverá paz enquanto os colonos continuarem a tomar terra.

Quando volta de um Investimento de tempo tão grande naquele lugar, sente que é muito difícil falar com os seus amigos americanos sobre o que se passa lá?

É difícil explicar porque provavelmente não sou bom a explicar. Quando volto, as pessoas perguntam que tal foi, eu começo a contar, e ao fim de uns minutos elas distraem-se. Porque falo com toda a paixão, e para quem ouve é um pouco excessivo. É melhor comunicar com o meu trabalho. Tenho suficiente experiência para manter o leitor comigo. É mais difícil manter comigo um amigo.

No livro há todos estes momentos de descompressão, como a matança do touro, as festas, o riso. Mas porque é nunca vemos os seus olhos, só os óculos, opacos?

[Hesitação] Soa um pouco pateta, mas uma das razões por que comecei a fazer BD autobiográfica foi querer mostrar alguns aspectos meus, mas não todos. Não mostro os meus sentimentos pessoais, a não ser que isso seja importante para a história.







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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

BDpress #167: UM GRANDE LIVRO - FOOTNOTES IN GAZA, de Joe Sacco, por Alexandra Lucas Coelho no suplemento Ípsilon do Público, de 20 de Agosto 2010.

Alexandra Lucas Coelho escreve sobre FOOTNOTES IN GAZA, de Joe Sacco, no suplemento Ípsilon do Público, complementada com uma grande entrevista que, pela sua extensão, só amanhã postaremos aqui no Kuentro. Entretanto, também Pedro Vieira Moura, no seu blogue LerBD escreveu sobre este livro, assim como Sara Figueiredo Costa no BecoDasImagens. Podem ler AQUI e AQUI, para comparar opiniões. No fim do post mostro algumas capas de livros de Joe Sacco, dos quais apenas PALESTINA, tem edição portuguesa, de 2003 pela Mundo Fantasma. Alguns outros livros têm edição em português, mas do Brasil.

 

Banda Desenhada

GAZA REENCONTRADA

Alexandra Lucas Coelho

Havia uma parte do futuro de Gaza que estava oculta até Joe Sacco desenterrar o que aconteceu em 1956. É uma revelação.

Footnotes ln Gaza
Joe Sacco
Ed. Jonathan Cape


Joe Sacco criou a sua própria categoria: faz reportagem de guerra em banda desenhada.
Em "Footnotes in Gaza", o seu trabalho mais recente, leva essa categoria mais longe: reportagem de guerra e jornalismo de investigação em banda desenhada.

Mas, além de extravasar categorias, há pelo menos mais sete razões, digamos sete, para considerar esta obra desmedida, e por isso mesmo falar dela sem haver tradução disponível em Portugal.

Primeira razão: o trabalho manual. "Footnotes in Gaza" são 400 páginas a preto-e-branco escritas e minuciosamente desenhadas à mão. Ou seja, paciência, dedicação, labor, artesanía, tudo o que está fora do nosso tempo. Ou à frente dele.

Segunda razão: a dinâmica das páginas. Há páginas de quadradinhos clássicos e páginas de "zoom in" progressivo. Há panorâmicas de página inteira e de dupla página. Há panorâmicas rectilíneas e panorâmicas convulsas. Há caras por cima de panorâmicas, panorâmicas ruidosas, silenciosas ou mudas. Há cacofonias, sobreposições, imagens entrelaçadas, quadrados negros, claro-escuro, penumbra, luz cega. Cada página procura a sua própria dinâmica narrativa.

Terceira razão: a reconstituição de um lugar. A Faixa de Gaza pode ter sido vista em milhares de fotografias ou na televisão, mas nunca foi vista assim. Quem conhece a Gaza dos anos 2000, saberá como este retrato das ruas, das casas, das pessoas, do horizonte é exacto nos pormenores e atmosférico em geral. Mas o que Sacco faz é uma reconstituição de Gaza ao longo de todo o conflito, os refugiados de 1948 ainda sem tendas, depois ainda sem casas, depois as primeiras construções, e todas essas Gazas vão acrescentando densidade ao retrato do presente.

Quarta razão: humor e rigor. Sacco é um brilhante "clown". A forma como se põe dentro da história permite ao leitor projectar-se nele, nos seus ridículos, nas suas impaciências, nas suas epifanias. Ele está lá para podermos descomprimir, esticar as pernas na cama depois de um longo dia a ouvir testemunhas, acender um cigarro, ir beber um copo, comer em frente à televisão, pasmar com a alegre carnificina que é a matança do touro, ou rir nervosamente depois de mais um tiroteio nos passar por cima da cabeça. Tudo, em suma, para vermos, ouvirmos e sentirmos o que, em última análise, importa: a revelação rigorosa de uma realidade.

Quinta razão: fazer História. Além de ser testemunha do presente ou passado recente (as demolições das casas coladas à fronteira com o Egipto ocupam várias páginas, mas também os "checkpoints", a falta de espaço, a claustrofobia, o desemprego, a morte), Sacco desenterra dois massacres em que centenas de palestinianos morreram e faz deles narrativas vivas, através de dezenas de testemunhas. Neste momento, não deve haver ninguém que saiba mais do que ele sobre o que se passou num certo dia de 1956 em Khan Yunis, e noutro certo dia em Rafah. A partir daqui, os historiadores poderão trabalhar, mas o que Sacco fez foi pôr dentro da História dois massacres apenas referidos num velho relatório da ONU. Sim, a História tende a ir largando as notas de rodapé, mas isso já não poderá acontecer com estas ex-notas de rodapé.

Sexta razão: exército vs civis. Esses dois massacres foram cometidos pelo exército israelita.
Uma das sensações mais "estranhas neste livro, para quem viu soldados israelitas actuar em conflito, é como o exército do livro, é irreconhecível. É verdade que as fardas e os capacetes que os soldados de 1956 usam não têm nada a ver com os actuais, mas, para além disso, parece haver no desenho de Sacco um apagamento voluntário de identidade. As caras dos homens que abrem a cabeça dos palestinianos com bastões de madeira são opacas, sem expressão, sem características. Podiam ser quaisquer soldados em qualquer lugar a violentarem civis. E o efeito é o leitor concentrar-se no horror inverosímil de todos aqueles bastões a abrirem cabeças, sistematicamente confirmado por muitos depoimentos. Em suma, há um plano recuado, racional, em que o leitor sabe quem são aqueles soldados, mas no momento da violência eles podem ser qualquer soldado. São o horror inverosímil da guerra.

Sétima razão: a memória. É o grande tema, aquele que contém passado, presente e futuro. 1948 moldou 1956, que moldou 1967, que moldou 1973, que moldou as intifadas, que moldou a última guerra de Gaza, e cada um destes acontecimentos, em cada morte, em cada luto, continua a trabalhar por dentro, a fabricar o que o futuro vai ser. Havia uma parte desse futuro que estava oculta, porque não tínhamos visto o que aconteceu em 1956. Mas agora está aqui, para quem quiser ver.


LIVROS DE JOE SACCO:





 

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