sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

BANDA DESENHADA - PORQUÊ "NONA ARTE"? (2)

A minha intenção, com o post sobre o porquê de se chamar à banda desenhada a “nona arte”, era meramente elucidativo. No entanto, nos comentários que fez (ver comentários no final do post de ontem), o Álvaro, ao contestar a “classificação das artes”, leva a coisa para outro plano. Mas ele não entende o contexto do “Manifesto das Sete Artes”, para isso bastava ler o texto de Ricciotto Canudo (que era crítico de cinema), para perceber que tudo aquilo tinha apenas a intenção de definir o cinema como a “sétima arte”, por isso nem sequer lá colocou a fotografia (sem ela não haveria cinema e até a própria banda desenhada é anterior à fotografia) e fez desaparecer da classificação a arquitectura. Se seguisse a lógica que começou a definir esta “classificação das artes”, em meados do século XIX, o cinema seria a 9ª ou 10ª arte e não a detentora do “mágico” número 7. Claro que estas classificações não tinham qualquer intenção crítica, nem grande lógica. Canudo queria apenas que o cinema fosse elevado ao estatuto de arte e não de mera indústria, como era (e ainda é) considerado.

Mas esta “fúria” classificativa das artes, no séc. XIX, tem a ver com a emergência do estatuto de artista, que sempre foi muito diluído ao longo dos tempos. Basta perceber que na Grécia antiga, as artes plásticas tinham, basicamente, duas funções: decorar a arquitectura e pedir ou agradecer aos deuses. A pintura e a escultura eram executadas por artesãos, não por “artistas”. E a palavra “artesão” significava técnica, habilidade, uma espécie de conhecimento técnico e estava associado ao trabalho, à profissão. E a mesma palavra era utilizada para o trabalho na olaria e na joalharia. Além disso, muitas esculturas tinham finalidades meramente religiosas. Não eram vistas como obras de arte. Os relevos eram utilizados para decorar templos e altares com o objectivo de narrar mitos. O mesmo valia para as ânforas (jarras ou vasos), que poderiam trazer nas suas pinturas cenas mitológicas ou do quotidiano.

Para os gregos antigos, a música e a poesia eram classificados noutra categoria de actividades, com uma definição mais próxima do que consideramos hoje em dia como arte. Tratavam-se de actividades que não resultavam apenas de uma habilidade aprendida, mas de talento pessoal.

Aliás, tudo isto está muito melhor explicado no DICIONÁRIO UNIVERSAL DA BANDA DESENHADA – pequeno léxico disléxico, de Leonardo De Sá, embora eu não concorde com algumas coisas que ele escreve na entrada sobre “Nona Arte”, nomeadamente no que os gregos antigos “pensavam” sobre estas coisas…

Mas por outro lado, o Álvaro está enganado quanto à definição do Erotismo como forma de arte. É preciso explicar, para não armar confusão, que o Erotismo/Pornografia é um tema transversal a todas as formas de arte e não é, ele próprio, uma forma de arte.

Quanto ao Design, aconselho o Álvaro a dizer aos discípulos de Bruno Munari, que o Design é uma forma de arte e verá a roda que leva…

A escultura, na antiguidade, era coisa de artesãos (bem alimentados ou não)…


A ilustração serve só para dar cor ao alerta do Facebook…

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1 comentário:

  1. Machado, eu não entendo mas é @ &$#%"$"$%! O Erotismo e a pornografia são coisas perfeitamente distintas. A pornografia é fabricada, é realizada e é comercializável. Tem como objectivo excitar. Esta sim é transversal a todos os formatos de manifestação artística.

    O Erotismo, consulta um dicionário médico (as definições nos de língua portuguesa são vagas e não são minimamente elucidativas), é a procura da excitação. O Erotismo é o estado de excitação. O Erotismo é um processo mental consciente com o objectivo de excitar e manter a excitação.

    A Pornografia é um produto fabricado com o objectivo de excitar terceiros que não conhecemos de lado nenhum. Pode existir num desenho, numa foto, num filme, num romance, num poema, numa peça de teatro, numa dança, numa BD, etc...

    Acho estranho que as pessoas tenham tanta dificuldade em compreender esta distinção. Parece-me óbvio.

    O Canudo

    Parece-me que não será necessário ler o texto do crítico de Cinema Canudo que, como disseste, queria elevar o cinema na altura tão menosprezado ao nível de uma "arte" (Também não vou ler textos de vítimas de rapto por ETs. Só por motivos lúdicos). O Canudo espalha-se ao comprido logo no objectivo da sua cruzada. No fundo não passará de uma luta contra os moínhos.

    Compartimentar a "arte" em caixinhas não tem qualquer utilidade para além de os funcionários da FNAC poderem arquivar facilmente nas estantes os respectivos livros geralmente a preços exorbitantes.

    Também poderá dar algum jeito aos professores do secundário e da faculdade.

    Depois os resultados são um pouco pobres porque há por aí muitos licenciados de escolas de Belas Artes que acham que um objecto artístico tem de levar muitas horas de martelada ou a massacrar telas. Estes, por exemplo, não compreendem, num determinado contexto e época, a genialidade patente no gesto de expor um urinol invertido e chamar-lhe fonte, numa exposição de iluminados e histéricos artistas.

    É a "arte" que é transversal a qualquer forma de comunicação. Incluindo no processo de excitação de outro, o tal erotismo.

    Há também quem confunda o objecto artístico com a "arte".
    A "arte" encontra-se no fazer/comunicar.

    Uns comunicam melhor outros comunicam pior.
    Só isso.

    O resto serve para encher egos e vender obras assinadas a preços altos.

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