domingo, 14 de setembro de 2014

GAZETA DA BD #31 – NA GAZETA DAS CALDAS - BD e Cinema: Sin City – Mulher Fatal


GAZETA DA BD #31 
NA GAZETA DAS CALDAS

BD e Cinema: Sin City – Mulher Fatal
Novo filme baseado na obra de Frank Miller

Gazeta das Caldas, 12/09/2014
Jorge Machado-Dias

Sin City, de Frank Miller, é uma série de banda desenhada constituída até agora por sete livros, editados em Portugal pela Devir. Dada a sua estrutura e o volume de cada livro, tem sido designada como “graphic 'noir' novel”, apesar de o termo não agradar ao autor. Vem agora a propósito falar desta série, devido a ter-se estreado, no passado dia 28 de Agosto, o segundo filme – nove anos depois do primeiro (Sin City – A Cidade do Pecado) – intitulado Sin City – Mulher Fatal (em inglês Sin City: A Dame To Kill For).

Comecemos pelo autor. Frank Miller nasceu em 1957 em Olney, Estado de Maryland, EUA. Começou a desenhar cedo, colaborando para muitos fanzines, seguindo-se o trabalho mais profissional, como “freelancer” para uma série de editoras, entre as quais a DC e a Marvel. O seu aperfeiçoamento fez-se nos super-heróis, com mes­tres como Neal Adams, destacan­do-se, da sua vasta obra, a participação em séries como Daredevil/Demolidor e Elektra, Wolverine, Ronin, obras de ficção po­lítica como Give me Liberty ou Hard Boiled, a sua visão da Ba­talha das Termópilas em 300 – que deu igualmente um filme, realizado por Zack Snyder –, etc, isto sem esquecer a sua colabora­ção para "Batman", em especial o referencial e influente The Dark Knight Returns (O Cava­leiro das Trevas Renasce), de 1986 – que também foi levado ao cinema, por Christopher Nolan –, bem como, no ano seguinte, agora apenas como argumentista e Da­vid Mazzucchelli no desenho, Batman: Year One.

Diz o autor que "com Sin City, de certa maneira houve um círculo que se fechou. Regressei ao tipo de material que mais desejava fa­zer quando comecei a trabalhar como profissional dos comics. Quando tinha 14 anos achava que as histórias do Mickey Spillane podiam dar 'fantásticas' bandas desenhadas. Apesar de ter demo­rado 21 anos para voltar ao ponto de partida, sentia que ainda não o tinha conseguido."

Em Sin City (abreviatura de Basin City), segundo a análise do crítico de BD J. Paiva Boléo, tratam-se temas como “Vingança. Corrupção, identi­ficada com a mentira. Acertos de contas. Confrontos entre grupos rivais. Máfia. Um mundo 'pós-ético' que está para lá do imoral e tudo empapado de amoralidade. Sa­dismo e perversão prepotentes. Prostituição. Injustiça que gera uma violência que é apenas um grito de revolta sem fé em qual­quer redenção social. Desespero. Desamparo. Um mundo sufocan­te. Mas também alguma amizade e solidariedade. E sempre a ilu­são, a necessidade, a esperança mitificada do amor”. Escrevendo também o crítico que "Sin City: Mulher Fatal" é uma obra bastante mais entro­sada do que a anterior, com duas histórias paralelas que não se dividem na narrativa tal como se dividiam no primeiro filme. Pa­rece-nos que a essência 'thrillesca' ganha bastante com isso”.

Os ambientes e a estética desta obra, enraizam-se na tradição do “film noir” (dos anos 1930/40) e do roman­ce policial “hard boiled” (anos de 1920). Segundo os críticos cinéfilos, sobre esta adaptação ao cinema “Se a fórmula “noir” com apontamentos de cor nos espantava em 2005, quase uma década se passou e agora isso não impressiona. Pode saber bem enfiarmo-nos no ambiente escuro e pouco saudável de Basin City, com strippers, prostitutas, sangue, murros, álcool e fumo, mas para isso também temos o velho Cais do Sodré”. Quanto ao enredo do filme, a que Frank Miller acrescentou algumas personagens – há quem diga que “para encher chouriços” – que não existiam no livro, é dominado por três mulheres:

A stripper Nancy Callahan, cada vez mais bêbeda e perturbada, interpretada de novo por Jessica Alba; Gail, a amante de Dwight, agora “madame” de um gangue de prostitutas, interpretada – também de novo – por Rosario Dawson e Ava Lord (interpretada por Eva Green), a “femme fatale” a quem Dwight não consegue resistir, mesmo depois de tê-lo abandonado há quatro anos para casar com um homem rico. Com os olhos verdes mais manipuladores de sempre, destrói a vida de todos os homens que se interessam por ela. Dwight McCarthy é um ex-repórter fotográfico para quem a honestidade e a honra sempre foram valores pelos quais valia a pena viver. Mas depois de ser abandonado por Ava, a única mulher que alguma vez amou, ele apenas pensa em vingança. E com isso há tiros, sangue, perseguições de carro e olhos arrancados. Depois, há outras histórias como a de Johnny (personagem que Miller escreveu de propósito para o filme), um sortudo no poker que desafia a pessoa errada, e, claro, há sobretudo o gigante Marv, ou seja, Mickey Rourke.

A estreia do filme nos EUA foi também, como muitas vezes acontece por lá, antecedida de uma daquelas pequenas guerras persecutórias, de censura a um dos cartazes, aquele que apresenta a actriz Eva Green – que interpreta a personagem de Eva Lord (a Mulher Fatal) –fotografada com um robe demasiado transparente, exibindo os seios em contraluz. O cartaz teve que ser refeito, desta vez com um robe menos transparente. “Mamas nunca mataram ninguém”, foi a resposta da actriz.

Sin City – a dança de Nancy Callahan

Imagens que não couberam no espaço:

Frank Miller


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