GAZETA DA BD #31
NA GAZETA DAS CALDAS
BD e Cinema: Sin City – Mulher Fatal
Novo filme baseado na obra de Frank Miller
Gazeta das Caldas, 12/09/2014
Jorge Machado-Dias
Comecemos pelo autor. Frank Miller nasceu em 1957 em Olney, Estado de Maryland, EUA. Começou a desenhar cedo, colaborando para muitos fanzines, seguindo-se o trabalho mais profissional, como “freelancer” para uma série de editoras, entre as quais a DC e a Marvel. O seu aperfeiçoamento fez-se nos super-heróis, com mestres como Neal Adams, destacando-se, da sua vasta obra, a participação em séries como Daredevil/Demolidor e Elektra, Wolverine, Ronin, obras de ficção política como Give me Liberty ou Hard Boiled, a sua visão da Batalha das Termópilas em 300 – que deu igualmente um filme, realizado por Zack Snyder –, etc, isto sem esquecer a sua colaboração para "Batman", em especial o referencial e influente The Dark Knight Returns (O Cavaleiro das Trevas Renasce), de 1986 – que também foi levado ao cinema, por Christopher Nolan –, bem como, no ano seguinte, agora apenas como argumentista e David Mazzucchelli no desenho, Batman: Year One.
Diz o autor que "com Sin City, de certa maneira houve um círculo que se fechou. Regressei ao tipo de material que mais desejava fazer quando comecei a trabalhar como profissional dos comics. Quando tinha 14 anos achava que as histórias do Mickey Spillane podiam dar 'fantásticas' bandas desenhadas. Apesar de ter demorado 21 anos para voltar ao ponto de partida, sentia que ainda não o tinha conseguido."
Em Sin City (abreviatura de Basin City), segundo a análise do crítico de BD J. Paiva Boléo, tratam-se temas como “Vingança. Corrupção, identificada com a mentira. Acertos de contas. Confrontos entre grupos rivais. Máfia. Um mundo 'pós-ético' que está para lá do imoral e tudo empapado de amoralidade. Sadismo e perversão prepotentes. Prostituição. Injustiça que gera uma violência que é apenas um grito de revolta sem fé em qualquer redenção social. Desespero. Desamparo. Um mundo sufocante. Mas também alguma amizade e solidariedade. E sempre a ilusão, a necessidade, a esperança mitificada do amor”. Escrevendo também o crítico que "Sin City: Mulher Fatal" é uma obra bastante mais entrosada do que a anterior, com duas histórias paralelas que não se dividem na narrativa tal como se dividiam no primeiro filme. Parece-nos que a essência 'thrillesca' ganha bastante com isso”.
Os ambientes e a estética desta obra, enraizam-se na tradição do “film noir” (dos anos 1930/40) e do romance policial “hard boiled” (anos de 1920). Segundo os críticos cinéfilos, sobre esta adaptação ao cinema “Se a fórmula “noir” com apontamentos de cor nos espantava em 2005, quase uma década se passou e agora isso não impressiona. Pode saber bem enfiarmo-nos no ambiente escuro e pouco saudável de Basin City, com strippers, prostitutas, sangue, murros, álcool e fumo, mas para isso também temos o velho Cais do Sodré”. Quanto ao enredo do filme, a que Frank Miller acrescentou algumas personagens – há quem diga que “para encher chouriços” – que não existiam no livro, é dominado por três mulheres:
A stripper Nancy Callahan, cada vez mais bêbeda e perturbada, interpretada de novo por Jessica Alba; Gail, a amante de Dwight, agora “madame” de um gangue de prostitutas, interpretada – também de novo – por Rosario Dawson e Ava Lord (interpretada por Eva Green), a “femme fatale” a quem Dwight não consegue resistir, mesmo depois de tê-lo abandonado há quatro anos para casar com um homem rico. Com os olhos verdes mais manipuladores de sempre, destrói a vida de todos os homens que se interessam por ela. Dwight McCarthy é um ex-repórter fotográfico para quem a honestidade e a honra sempre foram valores pelos quais valia a pena viver. Mas depois de ser abandonado por Ava, a única mulher que alguma vez amou, ele apenas pensa em vingança. E com isso há tiros, sangue, perseguições de carro e olhos arrancados. Depois, há outras histórias como a de Johnny (personagem que Miller escreveu de propósito para o filme), um sortudo no poker que desafia a pessoa errada, e, claro, há sobretudo o gigante Marv, ou seja, Mickey Rourke.
A estreia do filme nos EUA foi também, como muitas vezes acontece por lá, antecedida de uma daquelas pequenas guerras persecutórias, de censura a um dos cartazes, aquele que apresenta a actriz Eva Green – que interpreta a personagem de Eva Lord (a Mulher Fatal) –fotografada com um robe demasiado transparente, exibindo os seios em contraluz. O cartaz teve que ser refeito, desta vez com um robe menos transparente. “Mamas nunca mataram ninguém”, foi a resposta da actriz.
Sin City – a dança de Nancy Callahan
Imagens que não couberam no espaço:
Frank Miller
____________________________________________________
Sem comentários:
Enviar um comentário