domingo, 28 de setembro de 2014

GAZETA DA BD #32 (NA GAZETA DAS CALDAS) – DESENHADORES PORTUGUESES NOS COMICS AMERICANOS (1) – JORGE COELHO


GAZETA DA BD #32 (NA GAZETA DAS CALDAS)
DESENHADORES PORTUGUESES 
NOS COMICS AMERICANOS (1)
JORGE COELHO

26 de Setembro de 2014

Jorge Machado-Dias

Para qualquer autor, viver da Banda Desenhada em Portugal é praticamente impossível, salvo casos muito específicos – e estou a lembrar-me apenas de José Ruy e Nuno Saraiva, actualmente. Isto porque o incipiente mercado português não consegue gerar meios suficientes para pagar aos autores, devido aos sempre escassos volumes de vendas. Portanto a quem quisesse dedicar-se profissionalmente a esta disciplina no século passado, só restava um caminho: emigrar. Foi mesmo esse o destino de alguns (ainda assim poucos) dos melhores autores portugueses da altura. Contudo, depois do advento da internet, as coisas mudaram e agora já é possível trabalhar para mercados estrangeiros, mais apelativos, sem sair de casa. Foi o que fizeram, no início da década de 2000, Eliseu Gouveia, Miguel Montenegro e Ana Freitas, que conseguiram publicar alguns trabalhos no mercado americano.

A partir de certa altura e muito devido à prospecção de Chester Cebulski, argumentista e “caçador de talentos”, vice-presidente da Marvel desde 2011 que, tendo vindo a Portugal – ao Festival da Amadora – no intuito de procurar desenhadores para a editora, mais uma mão-cheia de autores portugueses passaram a publicar trabalhos seus nos EUA. Primeiro Ricardo Tércio, seguido por João Lemos, Nuno Plati, Filipe Andrade, Jorge Coelho e até Nuno Nobre, um arquitecto que vive em Madrid e se estreou na BD com a biografia de Angelina Jolie, publicada pela Editora americana Blue Water.


Comecemos então por falar de Jorge Coelho, um dos mais talentosos ilustradores de BD deste país e que trabalhou para as editoras Image Comics, BOOM! Studios e agora para a Marvel – desenhando “Loki, Agent of Asgard”. Coelho nasceu em Lisboa em 1977 e decidiu cedo tornar-se desenhador de BD. Ingressou na Escola de Artes e Ofícios António Arroio onde, em conjunto com Rui Gamito e Paulo Amorim, veio a editar o fanzine Vertigens.

Em 1996 terminou o Curso Técnico Profissional de Artes Gráficas e Comunicação e iniciou-se no mundo profissional, envolvendo-se simultaneamente, cada vez mais, com uma outra paixão antiga, a música – tocando baixo eléctrico e viajando com o conjunto Honeydope, em concertos por todo o país. Durante este periodo trabalhou como paginador. Por volta de 2000 não largou mais os lápis, o photoshop e os Macs. Executou cenários para a Animanostra, ilustrações e storyboards para produtoras de publicidade. Em 2004 juntou-se com três amigos formando um atelier em Alfama. Hoje partilha um outro atelier com 17 autores, o "The Lisbon Studio" – do qual falaremos na próxima edição desta rubrica –, onde continua a desenvolver vários projectos na área da BD e Ilustração para Portugal (Elegy Iberica), Itália (Passenger Press) e EUA (para as editoras que já referimos).

Mas Jorge Coelho não descura o exíguo mercado potuguês e tem colaborado em diversas publicações, como Virgin's Trip (com Pepdelrey, Rui Lacas e Rui Gamito; edições El Pep, 2005), Mesinha de Cabeceira Popular #200 (edições Chili Com Carne [CCC]; 2006) e Seitan Seitan Scum (MdC #22, El Pep e CCC; 2010).
Algumas das suas recentes publicações nos comics americanos incluem: Polarity para a BOOM! Studios, o #8 de Zero para a Image Comics, os #40 a #42 de Venom para a Marvel, os #6 e #7 de Loki, Agent of Asgard, também da Marvel (Setembro 2014) e Sleepy Hollow, para a BOOM! Studios (Outubro 2014).

Jorge Coelho foi também o primeiro ilustrador/autor de BD português a deslocar-se propositadamente aos Estados Unidos, a fim de frequentar um workshop de banda desenhada com o autor americano Sean Gordon Murphy, em Portland/Maine. Segundo uma entrevista do autor com Geraldes Lino, o curso (ou workshop) dividiu-se em duas vertentes principais; a primeira semana com um cariz mais teórico, storytelling, perspectiva, elipses, estratégia, leitura de script, desenvolvimento de personagens e layout; a segunda semana tratou de trabalho concreto, a execução das pranchas em si.

“A meio do curso tivemos a honra e privilégio de ter a presença de um autor convidado, neste caso Klaus Janson, arte-finalista de Frank Miller nos lendários Demolidor e Batmam – O Cavaleiro das Trevas.”

“E no final editaremos o livro "Café Racer" com as nossas histórias de 5 pranchas cada, 10 pranchas de história de Sean Murphy mais 5 pranchas de história de um autor convidado, neste caso Joe Dellagatta, com textos de Sean Murphy e da sua esposa Coleen Katana.”

Pena, para nós portugueses, que Jorge Coelho não tenha hipótese de editar o seu trabalho em Portugal, excepto nas escassas publicações que atrás referimos.

Pranchas de Venon #42 - Cullen Bunn (argumento) e Jorge Coelho (desenhos)

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