sábado, 20 de junho de 2015

BDpress #462: CASULO (de André Oliveira e outros) + TUNGSTÉNIO (de Marcello Quintanilha) – na REVISTA DO EXPRESSO de 13 de Junho de 2015


BDpress #462
CASULO 
(de André Oliveira com vários ilustradores)
TUNGSTÉNIO 
(de Marcello Quintanilha)
na REVISTA DO EXPRESSO de 13 de Junho de 2015 


CASULO
Curtas de BD de André Oliveira com vários ilustradores
Kingpin Books, 2015, 64 págs., €16,50 Banda desenhada

A linguagem da banda desenhada desenvolve-se a partir da relação entre texto (verbalizado ou não) e imagem, mas na primeira abordagem da leitura é a imagem que tende a sobressair. Não espanta, por isso, que os desenhadores sejam referências mais imediatas na maioria dos casos em que argumento e desenho não são assinados pela mesma pessoa. Como acontece com tantos outros argumentistas, André Olivei­ra não será o nome imediatamente reconhecido quando se olha para uma prancha da sua autoria, mesmo que muitas pranchas feitas em Portugal nos últimos tempos tenham a sua assinatu­ra impressa. "Casulo" vem repor alguma justiça nesse processo, reunindo nar­rativas onde o argumento é sempre de André Oliveira e o desenho se reparte por mais de uma vintena de artistas. Coligindo trabalhos que foram origi­nalmente publicados na revista "Cais", histórias curtas de duas ou quatro pran­chas, "Casulo" não é um livro equilibra­do. Há histórias desenhadas num traço abonecado e simplista ao lado de ou­tras onde a riqueza semântica da ima­gem e a sua qualidade de execução são notórias. Onde o grande mérito deste livro se revela é no destaque dado a um argumentista, gesto raro no panorama da BD, e a um argumentista de primeira água, tão capaz de criar narrativas de grande fôlego (caso de 'Hawk', com Osvaldo Medina e Inês Falcão Ferreira, ou 'Living Wiir, com Joana Afonso) como de cumprir o ritmo editorial exigi­do por uma rubrica como a que deu ori­gem a este livro, construindo histórias onde sobressai a versatilidade temática e o domínio da caracterização psico­lógica. O desequilíbrio não é, portanto, um empecilho à leitura, acabando por configurar um modo de conhecer o trabalho de desenhadores consagrados e principiantes ao mesmo tempo que dá a ler um autor que confirma a cada passo a importância do seu contributo para a BD contemporânea.

Sara Figueiredo Costa

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TUNGSTÉNIO
Marcello Quintanilha
Polvo, 2015,184 págs., €14,99 Banda desenhada

Depois de apresentar obras marcan­tes da BD que se produz atualmente no Brasil, como "Copacabana" (de Lobo e Odyr), "Cachalote" (de Daniel Galera e Rafael Coutinho), "O Diabo e Eu" (de Alcimar Frazão) ou "Cumbe" (de Marcelo D'Salete), a editora Polvo introduz-nos agora no mundo de Marcello Quintanilha (n. 1971), autor de traço limpo e expressivo, ao serviço de histórias que se interpenetram, numa montagem paralela de cariz cinemato­gráfico. Em "Tungsténio", tudo se passa à sombra do Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat, em Salvador (Bahia), onde dois homens decidem fazer uma pescaria com explosivos e desenca­deiam uma cascata de acontecimentos que acabarão por juntar, num clímax dramático muito bem urdido, as perso­nagens centrais do livro: um traficante menor, elo mais fraco de várias cadeias de poder; um sargento aposenta­do, com nostalgia dos seus tempos de atividade militar; um polícia com historial de bravura debaixo de fogo; e a sua amante desiludida, em vias de concretizar uma separação que nunca passou de ameaça. Na nota de abertu­ra, Quintanilha explica que o tungsténio "é o metal com o ponto de fusão mais alto que se conhece", como quem admite ser a natureza misteriosamente inquebrável das vidas comuns o tema central deste livro, em que se sucedem as situações e peripécias que colocam à prova "a capacidade dos personagens de forçar a dureza do metal do dia a dia a ponto de rompê-lo". No choque com a dita "dureza do metal", há quem saia maltratado, há quem maltrate, há quem sobreviva. Além de ser um vigoroso re­trato da violência urbana, "Tungsténio" consegue captar fielmente o falar das ruas, cheio de corruptelas e solecismos. As pranchas são dinâmicas, com es­paço para a interioridade das persona­gens (sobretudo a de Keira, a amante). Lamenta-se apenas que o desenlace, algo frouxo, não esteja à altura da es­pantosa energia que atravessa todo o álbum.

J.M.S.


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