domingo, 27 de agosto de 2017

Gazeta da BD #79 Heróis da BD Portuguesa - 9 Porto Bomvento – de José Ruy


Gazeta da BD #79 - 18 Agosto 2017
Heróis da BD Portuguesa - 9
Porto Bomvento – de José Ruy


A personagem Porto Bomvento, que José Ruy criou em 1988 e do qual foi publicada nesse ano a história Homens sem Alma, pela Editorial Notícias, foi imaginada quando Telmo Protásio, editor da Meribérica, regressou de uma feira do livro em Frankfurt, onde fora apresentar outra obra do autor, A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto. A partir do segundo volume, Bomvento no Castelo da Mina, ainda em 1988, a colecção, de oito álbuns, passou a ser publicada pelas Edições Asa e assim continuou até final. Em 2005 seria reeditada toda a colecção, em dois volumes, num formato mais pequeno.

Mas José Ruy (nascido em 1930) conta, aos 87 anos, com uma obra de extensão invejável em banda desenhada. São nada menos que 96 histórias publicadas ao longo dos anos, desde 1945. Um dos livros de José Rui é precisamente Nascida das águas - História da cidade de Caldas da Rainha em BD, editado em 1999 e que será reeditado em breve, contendo agora a história do 16 de Março de 1974 – a tentativa de golpe, que partiu do quartel de Caldas, cerca de um mês antes do 25 de Abril.

Voltando a Porto Bomvento, transcrevo aqui o prefácio do jornalista Carlos Pessoa, pela curiosidade, no primeiro livro da colectânea, que republica as quatro primeiras histórias de Porto Bomvento (Asa, 2005):

“A demolição de um velho prédio na zona histórica da Baixa lisboeta, há muito tempo devoluto e ameaçando ruir a qualquer momento, permitiu trazer à luz do dia um documento inédito: o diário de um marinheiro português que participou em diversas viagens dos Descobrimentos nos séculos XV e XVI. O manuscrito estava em razoável estado de conservação devido ao facto de ter sido guardado numa caixa de madeira exótica que, por sua vez, se encontrava num recipiente metálico escondido dentro de uma parede.

O achado foi entregue pelo responsável da obra às autoridades municipais que o transportaram para o arquivo da Torre do Tombo. Especialistas daquele período da História de Portugal procederam às primeiras análises preliminares, que permitiram já confirmar a autenticidade do documento. Tudo leva a crer que se trata do testemunho, registado por um cronista cujo nome não ficou registado, de um homem que participou em várias viagens ao longo da costa de África, durante o período dos Descobrimentos.

Uma fonte ligada à Torre do Tombo revelou que o protagonista se chamava Porto Bomvento, possivelmente um simples marinheiro ao serviço da Armada Real portuguesa cujo nome não estava até agora referenciado em nenhum outro documento histórico conhecido.

Uma coincidência perturbadora está a intrigar os estudiosos: Bomvento é o nome de uma personagem de banda desenhada, criado pelo desenhador e argumentista José Ruy, herói de um ciclo de aventuras em vários álbuns, publicadas nos anos 80 e 90 pelas Edições ASA. O autor manifestou a sua "enorme surpresa" com esta "singularidade". Porto Bomvento, acrescentou, "foi uma personagem que surgiu um dia na minha cabeça" e não se inspirou em "nenhuma figura encontrada em documentos de época".”

Ora, em 1480 uma caravela vê-se em dificuldades para entrar na barra do Porto, devido a uma tempestade. Mas graças à perícia do seu piloto, Porto (por ter nascido naquela cidade) Bomvento, consegue vencer o mar encarpelado e os recifes, ancorando depois em segurança. É assim que começa a saga do piloto Bomvento, na história Homens sem Alma. O piloto assiste à construção da caravela de nome “Gaivota”, de três mastros – com a inovação de que o de vante envergava uma vela redonda – e sob o comando do capitão Batávias, parte nessa caravela em direcção ao Golfo da Guiné.

Existe talvez uma pequena dessincronia nesta história, uma vez que a caravela “redonda”, isto é, com velas latinas originais, mas a que se juntou uma redonda no mastro de vante, partiu de uma proposta de Bartolomeu Dias, depois de ter dobrado o cabo da Boa Esperança em 1488. Mas José Ruy teve sempre apoio técnico, especialmente do comandante António Cardoso, especialista em marinharia antiga, e portanto terá tido bases para este desenvolvimento.

Seguem-se mais sete histórias do piloto Bomvento, a última das quais será até costas da Austrália. A Austrália seria descoberta pelos portugueses, eventualmente entre 1520 e 1525.

Esta saga em banda desenhada, baseada nas navegações portuguesas dos séculos XV/XVI é, de que eu tenha conhecimento, a abordagem mais consistente e continuada dessa época, havendo talvez apenas mais meia dúzia de álbuns, se tanto, que a abordam, por outros autores, embora tivessem sido publicadas muitas histórias curtas em revistas e jornais.

Homens sem alma, Editorial Notícias, 1988
Bomvento no Castelo da Mina, Edições ASA, 1988
Bomvento no Cabo da Boa Esperança, Edições ASA, 1989
Bomvento no Brasil, Edições ASA, 1990
Bomvento em Terras do Lavrador, Edições ASA, 1991
Bomvento no Cataio, Edições ASA, 1991
Bomvento na Austrália, Edições ASA, 1991
Bomvento Recorda a Infância, Edições ASA, 1992.


Páginas de Homens Sem Alma e Bomvento no Cabo da Boa Esperança 

 Capas dos dois volumes da colectânea
As Viagens de Porto Bomvento 
Aventuras Marítimas dos Sécs. XV e XVI


Páginas de As Viagens de Porto Bomvento



Imagens da maqueta da caravela construída por José Ruy, 
como modelo para as Aventuras de Porto Bomvento.



Imagens da caravela "Bartolomeu Dias" a navegar no Tejo. 
Esta caravela foi construída em 1987/88, e que em 1988, para comemorar o 5° centenário do Descobrimento do Cabo da Boa Esperança, realizou a viagem de Lisboa a Mossel Bay, na África do Sul. Esta caravela ficou integrada no Museu que aquele país decidiu edificar, para comemorar os Descobrimentos Portugueses, sob a égide do navegador Bartolomeu Dias.
Fotos de Jorge Machado-Dias, salvo erro em Maio de 1988.

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