quinta-feira, 21 de novembro de 2019

A MALTA É JOVEM - SOBRE "CONVERSAS COM OS PUTOS E COM OS PROFESSORES DELES" DE ÁLVARO


BDpress #520 do jornal i de 18 de Novembro de 2019

A MALTA É JOVEM

Por Ricardo António Alves, no jornal i de 18 de Novembro de 2019

Um cínico diria que o magistério seria uma profissão extraordinária, não fora a existência dos alunos.

Discorda-se do cínico: o problema não está nos discentes, mas na circunstância de alguns trazerem como bónus alguns pais muito pouco recomendáveis à saúde. Também há os simulacros de professores, cuja verdadeira missão é a de ganhar o ordenado enquanto sonham com uma reforma por invalidez. No princípio de tudo, porém, estão burocratas do ministério, entretidos com as suas carreiras e progressões nas ditas, trabalhando para as estatísticas que lhes são impostas pelos políticos de turno.

Destes, uns são comissários do partido e, outros, tipos bem intencionados, com ideias completamente diferentes dos antecessores no cargo, que as porão em prática até chegar quem lhes suceda. Por isso, os estudantes costumam ser as primeiras vítimas deste carnaval, seguindo-se os bons professores e os pais conscientes, espécie ameaçada.

Feito o exórdio, comece-se por dizer que o professor Álvaro é um baril e, houvesse necessidade de filho nosso precisar de explicações de geometria descritiva, Já saberíamos a que porta bater. Mas o professor Álvaro é também autor de BD e cartunista (além de arquiteto de formação) e teve a boa ideia de se inspirar no seu ganha-pão para aplicar o talento que lhe assiste na recriação da sua circunstância profissional – embora tal esteja longe de ser o exclusivo da matéria-prima a que recorre para o trabalho bedéfilo.

Conversas com Putos e com os Professores Deles é o terceiro livro desta série. Deixamos os docentes em paz – os muito bons dificilmente são parodiáveis, os maus são paródia triste – e vamos à maralha de 15, 16, 17 anos e às suas lindezas: do acne, terror das miúdas, à javardolice flatulenta dos rapazes; dos futebóis aos jogos e consolas (ou as gajas); da seca da matéria e da cabulice – as cenas com os alunos passam-se normalmente em contexto de explicação – a temas mais sérios de política e sociedade, sempre com o enviesamento da autossuficiência das opiniões fortes e supostamente definitivas, pois os putos é que sabem ...

Álvaro (Parede,1970) é particularmente feliz na captação das expressões que resultam de diálogos que atingem o mirabolante (por vezes nem se trata de diálogo mas de resmungos, quando não grunhidos): do surpreendido ao irritado, do faccioso ao conformado, do enfadado ao malicioso. Não se pense, porém, que o autor comete a feia ação de fazer nome e fortuna (pelo menos critica) à custa daqueles infelizes. Não, ali há empatia e pundonor profissional, ambos especialmente necessários quando aos professores de hoje (aos bons e até aos maus) é cometida pela sociedade não apenas a importante função de ensinar, mas também, quantas vezes, a ingrata tarefa de educar, competência que mingua a muitos paizinhos, sempre prontos a exigir dos docentes o suprimento do que a eles lhes falha.

VER AQUI: https://kuentro.blogspot.com/2019/09/novo-livro-de-alvaro-conversas-com-os.html o post de apresentação do livro, em 28 Set. 2019




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