BLUEBERRY
CHEGA
A FORTE NAVAJO
NO PRIMEIRO ÁLBUM DA NOVA COLECÇÃO DE BD
TEXTO DE CARLOS PESSOA
BDpress #520, recorte sobre BD, do jornal
Público de 23 de Novembro de 2019
FORTE NAVAJO
Colecção Blueberry Quinta-feira, 28 de Novembro
Com o jornal Público por + 7,90€
Texto de Carlos Pessoa
O tenente Blueberry é colocado em Forte Navajo, situado em território apache. Durante a viagem conhece o tenente Graig, cujo destino é o mesmo. Ao passarem pelo rancho dos Stantons, encontram-no calcinado e carregado de cadáveres. Os indícios apontam para um ataque dos índios e o tenente Graig decide seguir no seu encalço para libertar o filho dos Stantons, que aqueles terão raptado. A situação, já de si complicada, vai exigir de Blueberry um grande jogo de cintura, pois terá de lidar tanto com a inconsciência e imaturidade de Graig como com o ódio pelos índios de Bascom, braço direito do coronel Dickson no forte. Assim começa Forte Navajo (texto de Jean-Michel Charlier e desenho de Jean Giraud), aventura inicial da colecção Blueberry, que será distribuída com o Público na próxima semana.
Dois anos depois da sua estreia nas páginas da revista Pilote (1963), a história de arranque é publicada em França em álbum, permitindo a um público mais alargado aperceber-se de que esta criação não é apenas mais um western a acrescentar à diversificada lista de obras do género. Blueberry está longe de ser o herói perfeito e sem mácula que enfrenta todos os perigos e ameaças para salvar donzelas ou crianças indefesas em risco de vida, e essa é uma das características que, desde as primeiras pranchas, tomam esta banda desenhada tão interessante e envolvente.
Os dados ficam lançados, e embora Forte Navajo não seja mais do que uma introdução ao tema mais alargado da série, apresenta já uma densidade e intensidade que não passam despercebidas. A responsabilidade maior é de Charlier, exímio (e exigente) argumentista que se entrega totalmente à feitura de um enredo clássico (onde não faltam as figuras identificadoras do género, como as personagens de Graig ou o major Bascom), mas portador em si de todo o potencial que o desenvolvimento da série iria amplamente demonstrar nas décadas seguintes.
Durante as próximas semanas, os apreciadores de boa banda desenhada terão oportunidade de estabelecer contacto (ou reencontrar) uma das mais fascinantes criações europeias de western. Os dez álbuns que integram esta segunda colecção Blueberry, a distribuir semanalmente (à quinta-feira) com o Público, têm a particularidade de dar a conhecer dois ciclos extremados da série – o Ciclo das Guerras Índias (os cinco primeiros episódios da obra, em que o estilo gráfico de Giraud começa a despontar e afirmar-se) e o Ciclo Mister Blueberry (já apenas com a assinatura de Giraud e onde ele leva mais longe a exploração temática e gráfica das suas inovadoras propostas), ambos há muito tempo ausentes do mercado português.
Como já ficou sublinhado atrás, o herói de Forte Navajo não é uma figura linearmente positiva, mas um outsider – um renegado, em muitos momentos da aventura – que tem por companheiros fiéis e incondicionais um alcoólico e um ex-vaqueiro de duvidosa reputação. Muito por força do seu comportamento ao longo das histórias, o que ressalta em cada aventura é a luta permanente do homem com os elementos, e também consigo mesmo e os seus semelhantes, num esforço continuo de sobrevivência e, porque não dizê-lo, de transcendência.
Notável fresco sobre o espírito da fronteira, Blueberry é um hino ao espírito empreendedor do homem e à aspiração de justiça, assim como um apelo ao respeito das diferentes culturas, desafiando a valorizar o que une e a desprezar o que divide os seres humanos.
Os leitores do Público que acompanharem as personagens desta BD pelos caminhos da aventura não darão o seu tempo por perdido.
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