WATCHMEN CHEGA AO UNIVERSO DC
ESTA SEMANA COM O PÚBLICO
Watchmen Vol.1 – Quem Guarda os Guardiões?
Argumento – Alan Moore
Desenhos – Dave Glbbons
Sábado, 15 de Fevereiro
Por+9,90€
BDpress #533 Recorte do artigo publicado no Público de 08/02/2020
Texto de João Miguel Lameiras
Depois da publicação em livraria num volume único, Watchmen, a seminal série de Alan Moore e Dave Gibbons regressa agora nas bancas, numa colecção de 10 volumes, que incluí também Doomsday Clock, a história que integra as personagens de Watchmen no mesmo universo onde estão os principais heróis da DC, como o Batman e o Super-Homem, reescrevendo de forma brilhante a história desse mesmo universo e Renascimento, volume que reúne as histórias que fazem "a ponte" entre essas duas sagas épicas.
Publicada originalmente em 1986 - um ano ímpar para a história da BD, onde surgiu também Dylan Dog - como uma mini-série de 12 números, Watchmen, a par de O Regresso do Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller e Maus, de Art Spiegelman, também de 1986, veio mudar a forma como a Banda Desenhada era encarada pelo público americano, provando que é possível contar histórias adultas e complexas através da BD. No caso, Moore reflecte sobre as consequências da existência de super-heróis no mundo real, numa história em que o assassinato do Comediante, um antigo super-herói, leva um dos seus antigos colegas a investigar as causas dessa morte, para concluir que todos não passavam de peões de uma conspiração muito mais vasta.
Passada em 1985, mas numa realidade paralela, em que os primeiros vigilantes mascarados surgem na década de 40, influenciados pela leitura dos Comics, Watchmen analisa de forma metódica o modo como o aparecimento de alguém com verdadeiros superpoderes vai influenciar a evolução da própria História. Nesta ucronia, os EUA venceram a guerra do Vietname – graças ao contributo do Dr. Manhattan, um verdadeiro super-homem nascido de uma experiência nuclear falhada - Nixon continua no poder, o confronto nuclear com a URSS está eminente e os vigilantes mascarados foram ilegalizados, com excepção daqueles que trabalham para o governo americano, como o Dr. Manhattan, ou o Comediante. Apresentando-se como uma história de super-heróis, Watchmen é muito mais do que isso: é uma história extremamente complexa e cheia de informação, construída com a precisão de um mecanismo de relojoaria.
Uma imagem que não podia ser mais apropriada, pois os relógios têm uma importância primordial em Watchmen, desde os relógios que Jon Osterman, o futuro Dr. Manhattan, aprendeu a desmontar, até ao Relógio do Apocalipse, que mede a proximidade de um possível conflito nuclear e que, na época em que Moore escreveu a história, no auge da Guerra Fria, estava tão perto da Meia-noite como actualmente, com Trump na Casa Branca.
Fruto do talento de Alan Moore, um escritor em estado de graça, que domina como poucos os mecanismos narrativos da Banda Desenhada e ilustrado com rigor e competência inexcedíveis por Dave Gibbons, um excelente desenhador inglês que já tinha colaborado com o seu compatriota Alan Moore em histórias curtas para a revista britânica 2000AD, Watchmen é um marco incontornável na história da BD ... e não só, tendo sido a única obra de banda desenhada incluída na lista Os 100 Melhores Livros de Todos os Tempos, publicada em 2005 pela revista Time.
Tão importante como irrepetivel, este livro manteve-se durante muito tempo sem continuação, até porque Moore tinha cortado relações com a Editora DC, afastando-se das histórias de super-heróis, depois de ter criado clássicos como V de Vingança, Batman: Piada Mortal (já editados em Portugal pelo Público e pela Levoir) e Saga of the Swamp Thing, o seu titulo de estreia no mercado americano. Mas com o sucesso da versão cinematográfica do livro realizada de forma tão respeitosa como conseguida por Zack Snyder em 2009 e do motion Comic que deu movimento à arte de Gibbons, tornou-se claro que seria uma questão de tempo até a DC voltar a explorar o universo criado pela dupla britânica.
Isso aconteceu precisamente em 2012 com o projecto Before Watchmen, um conjunto de miniséries assinadas por alguns dos maiores nomes dos Comics, como Darwyn Cooke (DC, the New Frontier) Brian Azzarello e Lee Bermejo (Joker), Jae Lee e Joe Kubert, entre outros, que, apesar de renegada por Moore, corresponde ao desejo expresso por ele numa entrevista ao Comics Journal de, caso Watchmen tivesse sucesso, escrever uma prequela centrada no passado dos Minutemen.
Finalmente, em 2016, no final da revista que apresenta a reformulação do Universo DC iniciada em DC Rebirth vemos o Batman a descobrir na Batcaverna, o crachá do smiley manchado com o sangue do comediante, abrindo assim a porta para a integração dos Watchmen no universo DC, aspecto desenvolvido na minisérie The Button, que reúne o Batman e o Flash, numa história escrita a duas mãos por Tom King e Joshua Williamson e que culmina com Doomsday Clock, a série em doze partes de Geoff Johns e Gary Frank em que descobrimos que o Dr. Manhattan é o Deus exmachina responsável pelo estado actual do universo DC, um universo que tem o Super-Homem como maior constante.
É essa sequência de histórias, que parte de um clássico incontornável, republicado num novo formato, com uma série de extras inexistentes na edição para livraria, para culminar na sequela, que é simultaneamente uma homenagem, continuação e reinvenção do Watchmen original, que os leitores poderão acompanhar nas próximas dez semanas num quiosque perto de si.
Watchmen - o filme
Alan Moore
Dave Gibbons
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