sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

DE WATCHMEN A DOOMSDAY CLOCK – COM O JORNAL PÚBLICO – A PARTIR DE 15 DE FEV. 2020

DE WATCHMEN A DOOMSDAY CLOCK
AMANHÃ COM O JORNAL PÚBLICO




Textos de João Miguel Lameiras sobre esta nova série da Levoir com o Público

BDpress #534 Recorte do artigo publicado no Público de 13/02/2020

Há obras que marcam profundamente um género, tomando-se um marco incontornável da sua história. É indiscutivelmente o caso de Watchmen, a obra-prima de Alan Moore e Dave Gibbons, não por acaso, a única BD incluída pela revista Time na sua lista dos 100 Melhores Livros de Todos os Tempos. Watchmen é o centro desta nova colecção do Público e da Levoir, que inclui ainda Renascer e Doomsday Clock, de Geoffjohns e Gary Frank, saga que revisita o mundo de Watchmen integrando-o no resto do universo DC.

Nascido em Northampton em 1953, Alan Moore é uma lenda viva da BD, até pela excentricidade da imagem que cultiva e pelo afastamento total das grandes manifestações públicas, como os Festivais e as Convenções de BD, trocados pelo exílio voluntário da sua casa de Northampton, uma pequena cidade do interior de Inglaterra. A sua longa carreira, recheada de prémios e sucessos comerciais, iniciou-se em Inglaterra, nas páginas das revistas 2000 AD e Warrior (onde começou a ser publicado o notável V de Vingança) mas seria em 1984, ao passar a trabalhar para o mercado americano, que o mundo pôde finalmente apreciar todo o talento de Moore e a sua capacidade de insuflar uma nova vida a personagens cansados, provando que a BD também pode ser literatura. Como refere Barbara Kessel, editora da DC na altura em que Watchmen foi publicado, "Alan mudou o papel do argumentista nos comics. Os seus argumentos contêm mais do que uma história completa. Pode-se ler um argumento dele e ter o mesmo impacto de um comic completo. Com a maioria dos escritores, o argumento é uma mera descrição para o desenhador. No caso de Alan Moore ele descreve cada porção da cena com um detalhe tal que acabamos por visualizá-la de uma forma tão completa que ler o comic é como ver Shakespeare outra vez".

A dar vida aos argumentos incrivelmente densos e detalhados de Moore, está Dave Gibbons.
Desenhador inglês nascido em 1949 com uma carreira iniciada em Inglaterra na série Dan Dare e na revista 2000 AD, Gibbons estreou-se nos EUA trabalhando nas revistas Green Lantern e Flash e, além de Moore, colaboraria ainda com Frank Miller na série Martha Washingtort e com Mark Millar em Kingsman, para além de escrever argumentos para Mike Mignola, Steve Rude (Batman e Super-Homem: Os Melhores do Mundo,já editado pelo Público e Levoir) e Adam e Andy Kubert, entre outros.

Pegando num grupo original de super-heróis inspirados em personagens da editora Charlton, cujos direitos a DC tinha adquirido, Moore constrói uma obra complexa que, além de fazer a autópsia do universo de super-heróis, explora de uma forma nunca antes vista as extraordinárias potencialidades narrativas da linguagem da BD.

Como o próprio refere: "É muito fácil deduzir as nossas intenções quando nos sentámos para produzir o primeiro número de Watchmen: queríamos fazer uma banda desenhada de super-heróis nova e inusitada, que nos desse a oportunidade de experimentar algumas ideias  narrativas novas pelo caminho. Mas acabámos por obter algo stubstancialmente maior do que isso.

Nalgum ponto ao longo desse caminho, entre o material com o qual estávamos a trabalhar e as novas técnicas narrativas que estávamos a experimentar, começou a acontecer uma coisa que não tinhamos antecipado.

Quanto mais olhávamos para a história, mais profundidade ela mostrava ter. Quanto maior a nossa compreensão dos detalhes subliminares que serviam de pano de fundo que estávamos a usar, mais esses detalhes se tomavam parte integrante da linha da história, agindo como uma
espécie de mera continuidade que acabou por igualar-se ao guião em termos de importância para a obra acabada."

Tentar dar continuidade a uma obra com esta complexidade e importância é algo a que poucos se atreveriam, mas Geoff Johns, um dos principais arquitectos do actual Universo DC, cujo trabalho os leitores portugueses têm podido apreciar nas colecções que o Público dedicou à editora do Batman e Super-Homem, saiu-se com distinção de tão espinhosa missão, muito bem secundado pelo belíssimo traço de Gary Frank.

Pegando em muitos dos elementos narrativos de Watchmen, desde a grelha de nove quadrados por página, a narração em voz off e os dossiers no final do capítulo, Johns cria uma história excitante e original, que homenageia a obra de Moore e Gibbons e a história da DC, sem se sentir aprisionada por elas.


SABIA QUE?

Todas as pranchas originais de Watchmen foram vendidas ainda antes de serem publicadas. O desenhador Dave Gibbons tinha, à época, um acordo com uma livraria especializada inglesa que lhe deu um adiantamento pelas pranchas originais em troca de ficar com todas as páginas dos doze números para venda à medida que o desenhador as fosse desenhando. Um acordo que, face à popularidade que a série acabou por adquirir, se revelou muito mais vantajoso para o comprador do que para o autor.

Entre o inúmero merchandising a que Watchmen deu origem, está uma torradeira que faz torradas com as manchas de Rorschach. Esse processo passa por uma placa de metal com as manchas de Rorschach recortadas colocada entre a resistência e o espaço onde entram as fatias de pão de modo a que o calor passe pelos espaços recortados, deixando a marca nas torradas.

A primeira presença dos personagens de Watchmen no Universo DC não aconteceu apenas com o especial de DC Rebirth, incluído nesta colecção. Muito antes, em 1988, Rorschach faz uma participação especial no n° 17 da revista Question, numa história intitulada A Dream of Rorschach em que o herói adormece a ler o Watchmen num avião e sonha com o Rorschach.

Uma homenagem, feita com o conhecimento e aprovação de Moore e Gibbons, que têm direito a um agradecimento especial na ficha técnica e que tem uma dimensão simbólica pois Alan Moore inspirou-se precisamente no Questão para criar Rorschach.

Os àutores tinham um acordo com a DC que lhes permitia recuperar para si todos os direitos de Watchmen um ano depois de a série estar esgotada. Algo que a DC contornou facilmente, reimprimindo Watchmen de ca da vez que estava perto de esgotar, mantendo-a sempre disponível no mercado. Essa impossibilidade de conseguir os direitos da série que tinha criado, foi um dos motivos que levou Alan Moore a cortar relações com a DC e a exigir que o seu nome não aparecesse nas adaptações cinematográficas das obras que escreveu para a editora americana.

Alan Moore tevé um a participação especial na série de animação The Simpsons. No sétimo episódio da temporada 19, Husbands and Knives, Moore, que dá voz à sua própria personagem, participa numa sessão de autógrafos em Coolsville, a nova livraria de BD de Springfield juntamente com Art Spiegelman e Daniel Clowes, em que Millhouse lhe pede para autografar um livro dos Watchmen Babies chamado V for Vacation, numa paródia aos dois mais populares títulos que Moore fez para a DC, Watchmen e V de Vingança.



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