RORSCHACH E O DR. MANHATTAN
OS PROTAGONISTAS DESTE VOLUME 2
Watchmen – Doomsday Clock
Vol 2 – Watchmen: Temível Simetria
Argumento – Alan Moore
Desenhos – Dave Gibbons
Sábado, 22 de Fevereiro
Por+9,90€
Texto de João Miguel Lameiras
Depois de
no primeiro volume desta colecção termos acompanhado a investigação de Rorschach para descobrir quem matou o
Comediante e conhecido o passado dos Homens Minuto, bem como de alguns dos membros
que constituíram o primeiro grupo de super-heróis da América, neste segundo
volume da série premiada de Alan Moore e Dave Gibbon o foco é outro, mais
centrado em duas personagens principais.
Essas
personagens que sobem agora à ribalta e assumem o protagonismo são Rorschach, o
temível vigilante que assumiu a tarefa de desvendar o homicídio do Comediante e
pôr a nu as contradições e hipocrisias dos super-heróis da sua América natal, e
Jonathan Osterman, o estranho e poderoso homem de pele azul agora conhecido
pelo nome de Dr. Manhattan. Duas personagens que não podiam ser mais distantes,
mas que encarnam a lucidez fria e implacável deste universo criado por Alan Moore
a partir das personagens da editora Charlton.
Inspirado
em Questão, um dos heróis da Charlton Comics comprados pela DC, Walter Kovacs, Rorschach
é um indivíduo claramente perturbado, vítima de uma inlancia traumática, que
procura fazer justiça pelas próprias mãos. Alguém que é profundamente humano
nos seus traumas e neuroses, mas que, apesar de não ser alguém minimamente recomendável,
se tornou a mais popular personagem dos Watchmen, algo que deixou Alan Moore
entre o divertido e o preocupado.
Já Jon
Osterman, o Dr. Manhattan, apesar de ser inspirado no Capitão Átomo, da
Charlton, é mais um arquétipo do Super-Homem nietzschiano que Moore volta a
explorar depois de Miracleman. Alguém mais do que humano, liberto das
limitações da humanidade e que, por isso mesmo, se vai distanciando
gradualmente dessa mesma humanidade, que para ele é cada vez mais um simples objecto
de estudo.
Essa
dicotomia é apenas um dos aspectos que a história explora, pois Watchmen é uma
história cativante, muitíssimo bem contada e com personagens muito bem
construídas.
Mas o
ponto mais alto de Watchmen, e que é bastante evidente neste volume, é a forma
como explora as imensas possibilidades narrativas da banda desenhada de forma
extremamente inovadora e eficaz. Veja-se a utilização da história dentro da
história nos Contos do Cargueiro Negro, a sangrenta história de piratas
que um jovem negro está a ler no quiosque e cuja narrativa pontua e dialoga com
a história principal. Contos do Cargueiro Negro que servem a Alan Moore
para homenagear uma das mais importantes editoras da história dos comics americanos,
a E.C. Comics, e um dos seus principais criadores, Joe Orlando, cujo estilo Dave
Gibbons mimetiza na perfeição, muito ajudado pelas cores ácidas de John
Higgins. A escolha de uma história de piratas, em vez de super-heróis, também
tem toda a lógica, pois a E.C. nunca publicou super-heróis e, num mundo em que
os super-heróis existem e foram ilegalizados, é natural que outros géneros de
banda desenhada, como as histórias de piratas,
sejam bem
mais populares.
Mas, em
termos narrativos, um dos momentos mais espantosos de toda a série é o capítulo
V, "Temível simetria", que como alude o título extraído do poema de
William Blake, citado no final, é construído de forma simétrica.
Deste
modo, a estrutura da primeira página funciona como espelho da última e assim
sucessivamente até culminar naquela que é a única página dupla de toda a série,
em que Adrian Veidt ataca e neutraliza o homem que o tentou matar. Um de muitos
exemplos de como, também em termos narrativos, Watchmen é a mais importante
novela gráfica de sempre.
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