Jornal de Notícias, 12 de Abril de 2011
TINTIN RACISTA? - AVENTURA NO CONGO
VALE JULGAMENTO NUM TRIBUNAL BELGA
F. Cleto e Pina
Tintin, esse mesmo, o herói dos quadradinhos, vai a tribunal acusado de racismo. A razão: o retrato complacente e paternalista que o álbum “Tintin no Congo”, transmite dos habitantes locais negros.
Esta é, pelo menos, a óptica do cidadão congolês Bienvenu Mbutu Mondondo, que à custa deste caso já teve (bem) mais do que os 15 minutos de fama a que (teoricamente) todos temos direito. Isto porque foi ele o responsável pela queixa contra a editora Casterman e a Fundação Moulinsart, apresentada em tribunal em 2007, e que na semana passada, depois de muitos avanços e recuos, foi finalmente aceite pelo Tribunal de Primeira Instância de Bruxelas, contra a opinião do Procurador Real belga.
Baseado numa lei de 1981 que “proíbe propósitos racistas ou atentados contra uma franja da população”, o cidadão congolês deseja que a venda do segundo álbum das aventuras de Tintin seja interdita a não ser que passe a incluir um prefácio que “explique o contexto colonial e histórico da época da concepção do álbum” e também “um alerta para o facto de algumas das suas personagens terem propósitos racistas”.
Relembre-se que na senda do sucesso de “Tintin no País dos Sovietes”, Hergé, nesta história, decidiu enviar o seu repórter para o Congo, então uma província belga, tendo a história sido publicada a preto e branco no jornal “Le Petit Vingtième” entre 5 de Junho de 1930 e 11 de Junho de 1931, seguindo-se de imediato uma edição em álbum.
Desenvolvida semana após semana, ao sabor da inspiração do autor e sem um guião prévio, “Tintin no Congo” é caracterizado por uma grande ingenuidade, ou não estivesse Hergé – e a própria banda desenhada – a dar os primeiros passos à procura da sua identidade. O autor, ao longo dos anos, em diversas entrevistas, explicou que “se baseou nos preconceitos existentes no meio burguês em que estava inserido”, tendo desenhado os africanos “de acordo com os critérios da sua época”. Talvez por isso, tal como “No país dos Sovietes”, este álbum nunca foi adaptado em desenhos animados.
Curiosamente, esta obra já foi alvo de outros ataques, nomeadamente de associações de defesas dos animais “escandalizadas” pelo grande número de bichos que o herói abate ao longo do álbum.
Agora, resta esperar pelos próximos capítulos, o primeiro dos quais já no dia 18 de Abril, quando o tribunal definirá o calendário dos trâmites que se seguem no processo.
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OUTRAS POLÉMICAS AOS QUADRADINHOS
Por outro lado, o crescendo de violência e erotismo nas bandas desenhadas da Marvel e da DC Comics tem provocado alguns problemas que, geralmente começam nas capas, pelos atributos generosos ou exagerados que os super-heróis (dos dois sexos) revelam, mas que também se estendem aos conteúdos. Há poucas semanas, a revista “Batman Confidential” #18, levantada por uma mãe numa biblioteca, na Carolina do Norte, para ser lida pelo filho de 12 anos, valeu acusações de pornografia, pois numa das histórias a Batgirl e a Cat Woman vão ao Clube Hedonista de Gotham, onde ficam vestidas apenas com as suas máscaras. Apesar de não haver nus nem sexo explícito, algumas cenas (relativamente) mais ousadas chocaram a senhora, que iniciou uma cruzada contra a nudez dos super-heróis, sem reparar que a editora aconselha a revista para maiores de 16 anos...
Situações similares tiveram lugar no Brasil, onde diversos títulos aos quadradinhos, entre os quais obras de Will Eisner, direccionadas para adultos devido à sua temática e a algumas cenas mais fortes, foram incluídas no lote de leituras aconselhadas aos alunos mais novos e compradas por bibliotecas, com as consequências que facilmente se adivinham.
Claro que, na prática, na base destes casos, está a ideia (cada vez mais em desuso) de que (toda) a banda desenhada é para crianças, ficando a sensação de que os responsáveis pelas escolhas nem sequer se deram ao trabalho de as ler previamente.
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Imagens da responsabilidade do Kuentro
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