Desenho de Vitor Péon (1923-1991)
Jornal de Notícias, 17 de Julho de 2011
O WESTERN NA BD PORTUGUESA
PRIMEIRA HISTÓRIA REALISTA DE COWBOYS ESTREOU-SE HÁ 70 ANOS
NO PIM-PAM-PUM
F. Cleto e Pina
Há 70 anos, era publicado no Pim-Pam-Pum, “O cavaleiro Misterioso”, que alguns consideram o primeiro autêntico western português, pelo tom realista da sua narrativa, apesar do traço ainda semi-caricatural do seu autor, Fernando Bento.
Não que antes, não tivesse havido outras incursões neste género, mas eram todas de carácter humorístico. Entre elas, João Paiva Boléo, estudioso da BD portuguesa, destaca “A grande fita americana” (ABC, 1920, de Cottinelli Telmo), “As estupendas façanhas do Cow-boy façanhudo” (ABC-zinho, 1926, de António Cristino) ou “Aventuras de Tom Migas e do seu cavalo Caralinda” (Senhor Doutor, 1934, de Oskar Pinto Lobo). A estes, Jorge Magalhães, possivelmente o maior especialista do género em Portugal, autor de “O Western na BD portuguesa” e “Vítor Péon e o Western” (edição da C.M. Moura, no âmbito do Salão de BD local), dois estudos profusamente ilustrados, acrescenta “Aventuras do Cow-Boy Jim Boy” (ABC-zinho, 1927, de Carlos Botelho) e, já mais tarde, “Arrepiado e Freitas cow-boys” (Papagaio, 1942), uma das muitas incursões na BD do mestre Júlio Resende.
O género teve grande importância entre nós nas décadas de 40 e 50 – acompanhando a relevância que também teve no cinema – para depois, aos poucos ir perdendo popularidade. Não surpreende por isso que os grandes títulos do jornalismo infanto-juvenil português – Papagaio, Mosquito, Diabrete, Camarada, Cavaleiro Andante, Mundo de Aventuras – e os grandes autores da época tenham dado (pelo menos) uma voltinha… a cavalo!
Por isso, dessa época, ficaram títulos que fizeram sonhar gerações de leitores: “Falsa Acusação”, “O Juramento de Dick Storm”, “Três balas”, “A vingança do jaguar” (todos de Vítor Péon), “O rei da Campina” (António Barata), “Falcão Negro, o filho de Jim West”, “Lobo Cinzento”, “O Grande Rifle Branco” (de E.T. Coelho), “O Vale da Morte” (Jayme Cortez), “O segredo das águas do rio” (José Garcês) ou “Os Cavaleiros do Vale Negro” (José Ruy).
Dos autores citados, dois – Coelho e Péon - destacaram-se pela qualidade e quantidade da sua produção, sendo também responsáveis pelos dois maiores heróis regulares que os westerns portugueses nos legaram: Coelho, com Falcão Negro, protagonista de quatro aventuras, publicado também em Espanha e no Brasil, e Tomahawk Tom, que viveu treze histórias, depois de saltar (literalmente) da prancha de Péon, em 1950, no Mundo de Aventuras. Com um visual marcante assente no poncho franjado, faca à cintura e mocassins índios nos pés, teve versão francesa com o nome invertido (Tom Tomahawk) e uma tentativa frustrada de venda ao King Features Syndicate, distribuidor das principais bandas desenhadas norte-americanas. Péon, depois de longo período emigrado em França e Inglaterra, após o 25 de Abril regressou a Portugal, tendo auto-editado um álbum – “O regresso de Tomahawk Tom” – e 3 números do “Vítor Péon Magazine”. Nessa mesma década de 70, o seu herói seria recuperado pelo Jornal do Cuto e o Mundo de Aventuras, sendo justamente consagrado em 2004 numa emissão filatélica dos CTT, dedicada aos “Heróis Portugueses da BD”.
Entretanto, os anos 70 e 80 assistiram ao recrudescer do género, destacando-se Augusto Trigo, com “A sombra do gavião” e “Wakantanka”, centrado na vida e crenças dos índios, e José Pires, com “Homens do Oeste”, “Will Shanon” ou “Irigo”, este último com sete aventuras publicadas no Tintin belga e holandês, inéditas em português.
Agora, tantos anos depois, se muitos cowboys “portugueses” ficaram por relembrar, a quem com eles viveu grandes aventuras em pradarias ensolaradas, desertos tórridos ou canyons profundos, defendendo belas mulheres, perseguindo bandidos ou fugindo dos índios, aconselha-se a (re)leitura dos quadradinhos que há décadas os fizeram sonhar, se bem que a maior parte deles não seja fácil de encontrar…
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WESTERNS EM PORTUGAL
Nesta evocação do western, duas obras aos quadradinhos merecem uma referência à parte, uma vez que a sua acção se situa em Portugal.
A primeira é “A lei do trabuco e do punhal - Mataram-no duas vezes”, de Luís Avelar e Pedro Massano, primeiro (e único) tomo de uma biografia (incompleta) do Zé do Telhado, que Paiva Boléo considera “um western bem português”.
O segundo, publicado originalmente na revista Selecções BD, é “O Fim da Linha”, “uma homenagem a O Comboio Apitou Três Vezes, de Fred Zinneman”, revela João Amaral, o seu autor, que acrescenta “que a acção se passa numa aldeia portuguesa, no último dia do ano 2000, mas em tudo é um western, apesar da época ser a actual”.
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Ver também no blogue As Leituras do Pedro: O Western na BD portuguesa (1) - O Western na BD portuguesa (2) e O Western na BD portuguesa (3), Depoimentos
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Já agora, ver também este post no blogue Tex Willer, de José Carlos Francisco, já tem uns anitos, mas não perde pelo interesse:
Fanzine “A Conquista do Oeste” – Maio/Novembro 2001 – Páginas 3 a 8
janeiro 2, 2008
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Imagens da responsabilidade do Kuentro
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