QUOCIENTE DE INTELIGÊNCIA
Ano 1. Numero 46. Sábado, 21 de julho de 2012
'Q:' é um caderno cultural semanalmente publicado aos sábados com o 'Diário de Noticias'. Os títulos, pós-títulos, legendas, notas de rodapé e destaques dos textos publicados são da exclusiva responsabilidade da Redação do DN. Em 2012 recebeu o prémio de excelência do European Newspaper Award.
Edição: Pedro Tadeu, Nuno Galopim e Ricardo Simões Ferreira
BLAKE E MORTIMER DO AVESSO
Mais histórias na História das personagens de Tintin
Depois do sucesso do primeiro volume, lançado há um ano e que vendeu 250 mil exemplares, as revistas francesas Le Point e Historia voltaram a associar-se para publicar o volume dois de Les Personnages de Tintin Dans L’Histoie. O primeiro álbum analisava as dez principais personagens do universo de Tintin em tantos outros álbuns, e os acontecimentos que os inspiraram. Este segundo álbum foca uma série de personagens secundárias emblemáticas de Tintin (incluindo o "nosso" Oliveira da Figueira) noutra série de álbuns assinados por Hergé e os momentos históricos com que estão relacionadas, desde a era dos gangsters em Chicago ate à conquista do espaço, passando pela Guerra Fria e pela revolução cubana. Todos os textos são, mais uma vez, assinados por historiadores, por especialistas em história, em banda desenhada e em Tintin e na obra de Hergé.
Vários Autores
'Les Personnages de Tintin Dans L'Histoire, Vol. 2'
Le Point/Historia
PVP 10,90 euros
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BLAKE E MORTIMER VIRADOS DO AVESSO
Por Eurico de Barros
A banda desenhada está cheia de 'pastiches', que costumam ser uma forma de homenagem entre autores. Blake e Mortimer, as magistrais criações de Edgar E Jacobs, são alvo da paródia de Nicolas Barral e Pierre Veys em dois álbuns de as 'As Aventuras de Philip e Francis'
Se, como se costuma dizer, a paródia é a forma suprema da homenagem, então o desenhador Nicolas Barral e o argumentista Pierre Veys, autores da série de banda desenhada (BD) As Aventuras de Philip e Francis, que parodia as aventuras dos "monstros sagrados" Blake e Mortimer, criação de Edgar P. Jacobs (retomada por outras equipas após a morte deste, em 1987), podem desde já subir ao panteão dos grandes parodiadores da Nona Arte. Os dois álbuns de Philip e Francis publicados até agora, Ameaças ao Império e A Armadilha Maquiavélica, trazem em epígrafe a seguinte nota dos autores: "as personagens Philip e Francis inspiram-se muito livremente em Philip Mortimer e Francis Blake, os inesquecíveis heróis criados pelo genial Edgar P. Jacobs, a quem muito respeitosamente dedicamos este álbum."
E da leitura dos dois álbuns deduzimos que, longe de serem dois pobres toscos, Barral e Veys são uma dupla talentosa e profundos conhecedores e apreciadores da genial obra de um dos maiores autores da história da BD, contemporâneo, amigo e colaborador de Hergé, e expoente da "linha clara", estando totalmente familiarizados com o universo, o estilo, a estética, a identidade, os ambientes, a ideologia e os códigos narrativos das aventuras de' Blake e Mortimer, com a personalidade e o traço de Edgar P. Jacobs, e com as características e a psicologia dos dois heróis de clássicos como A Marca Amarela, O Enigma da Atlântida ou S.O.S. Meteoros. Só assim eles poderiam tê-los virado do avesso e passado ao fino crivo da paródia com tanta pertinência e competência, tanto sentido de humor (entre burlesco e nonsense) e prazer.
Os puristas poderão ranger os dentes, bufar, esbracejar e alegar sacrilégio, porque não têm razão. Seria legítimo fazerem-no se a paródia não fosse conseguida. Mas é-o, total, desopilante e jubilatoriamente, quer em Ameaças ao Império quer em A Armadilha Maquiavélica. (Esta dupla de autores é também responsável por outro pastiche de muita qualidade, Baker Street, em que a "vitima" é Sherlock Holmes, e cuja conceito e tipo de humor transportaram para As Aventuras de Philip e Francis).
Philip é inteligente mas infantil e desastrado, e tem um problema de peso. Francis ainda vive com a mãe, tem fantasias heroicas e é um mulherengo inveterado. Olrik é um vilão ridículo e muito pouco eficaz, cujos incompetentíssimos capangas são a vergonha do mundo do crime, e todos evoluem por uma Inglaterra semelhante às dos verdadeiros Blake e Mortimer, mas cujos tiques, idiossincrasias, atmosferas e manias nacionais são igualmente parodiadas sem dó nem piedade e voltadas de pernas para o ar sem qualquer cerimónia.
Ameaças ao Império
por Pierre Veys e Nicolas Barral.
Gradiva, 13,63 euros
Gradiva, 13,63 euros
por Pierre Veys e Nicolas Barral
ASA, 13,95 euros
Além de brincarem com a série original, muitos dos gags, das piadas visuais, das piscadelas de olho e das cotoveladas que encontramos nas duas histórias de Philip e Francis remetem para o cinema, desde os filmes de Brigitte Bardot aos de Louis de Funés (1), passando pelos clássicos franceses dos anos 30 e 40 e até pelas fitas de artes marciais. E o elemento de ficção científica, fulcral em quase todas as aventuras de Blake e Mortimer, encontra-se também presente e ativo nas de Philip e Francis, embora num registo cómico consistente e bem loufoque. Está já anunciado um terceiro tomo desta paródia "oficial" (porque autorizada pela editora e pelos detentores dos direitos das aventuras dos dois heróis de Edgar P. Jacobs). O título promete, desde já: La Marque Jaune Contre Godzilla.
ASA, 13,95 euros
No primeiro álbum, Ameaças ao Império, Philip e Francis enfrentam uma tão súbita quanto estranha e inexplicável revolta do mundo feminino, que, de tão chocante, abala a ordem e os fundamentos da sociedade inglesa. E no segundo volume, A Armadilha Maquiavélica, os dois amigos veem-se transportados para uma Inglaterra paralela (por exemplo, a Marks & Spencer virou Spencer & Marks) onde travam conhecimento com os seus duplos e na qual Olrik é o primeiro-ministro e vai casar-se com a rainha, e Winston Churchill é um super-herói (com uniforme, identidade secreta e tudo) que combate o malvado coronel.
Além de brincarem com a série original, muitos dos gags, das piadas visuais, das piscadelas de olho e das cotoveladas que encontramos nas duas histórias de Philip e Francis remetem para o cinema, desde os filmes de Brigitte Bardot aos de Louis de Funés (1), passando pelos clássicos franceses dos anos 30 e 40 e até pelas fitas de artes marciais. E o elemento de ficção científica, fulcral em quase todas as aventuras de Blake e Mortimer, encontra-se também presente e ativo nas de Philip e Francis, embora num registo cómico consistente e bem loufoque. Está já anunciado um terceiro tomo desta paródia "oficial" (porque autorizada pela editora e pelos detentores dos direitos das aventuras dos dois heróis de Edgar P. Jacobs). O título promete, desde já: La Marque Jaune Contre Godzilla.
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