Ilustração de Eduardo Teixeira Coelho
9ª ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA
(LX - LXI)
O Louletano, 24 Maio 2005
JOSÉ PIRES: DESDE MUITO NOVO
O INTERESSE PELA BD – 4
Sente-se muito bem na sua condição de alentejano - detalhe que faz sempre questão de vincar, aqui ou no estrangeiro - não se chateia com as anedotas que se contam sobre os alentejanos (acha mesmo que elas são estúpidas apenas para os não alentejanos as perceberem) e adora a cozinha, a paisagem, os costumes e as gentes do Alentejo.
E completamente isento de peneiras e não sofre de narcisismo de nenhuma espécie, tendo-lhe custado imenso ter sido homenageado (é de opinião de quem não publicou pelo menos mil pranchas não merece homenagem nenhuma - ele só publicou trezentas) na 15" Jornada Internacional de Banda Desenhada - Sobreda BD 96, no dia 16 de Março de 1996 no qual foi agraciado com o troféu Sobredão.
Entre as várias pranchas originais expostas, José Pires apresentou uma história de duas páginas feita especialmente para este festival, baseada num tema sobre Timor, O Massacre de Santa Cruz.
Ultimamente, de parceria com Jorge Magalhães, tem editado vários franzines, como o Fandaventuras, o Fandwestern e A Máquina do Tempo, reeditando histórias de antigos heróis, algumas delas nunca antes publicadas em Portugal.
Com vista a publicação futura, está elaborando uma história Nos Tempos de Viriato e uma série de BD para adultos destinada ao mercado franco-belga.
Profissional credenciado na área da BD, damos seguidamente a palavra ao autor, cujas considerações, fruto da sua larga experiência, serão sem dúvida úteis aos possíveis candidatos a uma arte tão cativante, mas tão árdua, como o são as histórias aos quadradinhos. José Batista
JOSÉ PIRES E A BD
Deixem que me apresente. O meu nome completo é José Augusto Direitinho Pires e sou alentejano, de Elvas 10/10/1935. Faço BD desde que me conheço e, neste campo, consegui obter algum consolador sucesso.
O meu curriculum vitae já foi várias vezes publicado, pelo que penso não valha a pena repeti-lo. Não tenho nenhum balofo auto convencimento ou orgulho especial no que já fiz, mas também não me envergonho do meu passado nem sinto que tenha algo a renegar.
Tenho alguma reconfortante tranquilidade naquilo que sou e no que fiz, e embora não me considere génio algum, tenho a convicção, perdoem-me a imodéstia, de me situar a uma distância mais ou menos equivalente da de ser uma completa nulidade. Portanto, as minhas preocupações concentram-se muito mais naquilo que vou ainda fazer embora as minhas perspectivas no futuro não sejam já muito amplas, pois a hora em que vou ter de encerrar a carreira não vem muito longe. Mas enquanto dura, vida doçura!
Assim, em vez de falar de mim e do que já fiz ou pretendo fazer, gostaria de enviar algumas palavras de incentivo a todos aqueles que também desejam enveredar pela carreira da BD. E também alguns conselhos, permitam-me o desplante, pois já me sobra alguma experiência e isso pode ter utilidade a quem tem mais tempo de actividade pela frente do que aquele que ainda me resta. Em primeiro lugar, nunca se esqueçam que BD é uma forma de linguagem para contar qualquer coisa por imagens. Paradas. Se tivessem movimento, estaríamos a falar de cinema. Também não confundam BD com ilustração, pois são linguagens diferentes. Na ilustração não se pretende contar história alguma mas sim visualizar um conceito, fazendo dele uma síntese figurada, tudo numa única imagem. Ora a BD não é nada disso.
Osvaldo Macedo de Sousa, Carlos Almeida
(GICAV), José Pires, José Garcez
José Pires, Luís Diferr, José Ruy e João Amaral (foto no almoço do 80º aniversário de José Ruy)
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O Louletano, 7 a 13 de Junho 2005
MORREU E.T. COELHO
No passado dia 1 faleceu em Florença o decano e mestre da ilustração e BD portuguesas, Eduardo Teixeira Coelho. Nada fazia esperar tal desenlace, mas a morte de sua esposa – Gilda Teixeira Coelho poucos meses antes, deve ter abalado o coração daquele bom gigante de 83 anos.
Conheci-os a ambos, em Florença, nos anos oitenta. Foi graças à intercessão de Gilda que ETC, tímido como todos o reconheciam, acedeu a encontrar-se com o patrício que de tão longe o fora visitar. Poucos ilustradores influenciaram como ele, nas décadas de 40/50, os candidatos a desenhadores de BD que se maravilhavam coma sua obra publicada no bissemanario "O Mosquito". A banda desenhada portuguesa, embora moribunda, está de luto com o seu desaparecimento. Aqueles milhares – que, como eu – conheceram e acompanharam a publicação das suas magníficas iliustrações, sentem a sua perda de um modo muito especial, como se fora um chegado familiar, tal a lembrança em nós impressa nos melhores anos da nossa meninice, semana após semana, nos quase 10 anos em que a sua produção foi mais notória e intensa, nas páginas desse jornal.
Com o fim de "O Mosquito", em Fevereiro de 1953, não foi fácil em Portugal a sua vida como ilustrador. Após colaborar com algumas editoras inglesas, o grosso da sua obra internacional foi publicada em França, através do jornal "Vaillant". Há bastantes anos radicado em Itália, aí desenvolveu um notório trabalho de pesquisa referente a trajos, navios, armas e armaduras, da época medieval e renascença.
Embora acostumados que estávamos, à sua ausência nesse país, a inesperada partida de ETC certamente chocará os muitos admiradores da sua obra, Todavia, a sua arte, aquela que embalou as melhores ilusões da nossa longínqua infância, continuará perene, perpetuando a sua recordação através da graciosidade e beleza das suas ilustrações.
Após a publicação da presente série de José Pires (O “Perro Negro”), daremos à estampa um trabalho do grande mestre agora desaparecido.
Da esquerda para a direita: Dâmaso Afonso, Alberto Teixeira Coelho (que não sabíamos quem era e foi identificado por José Ruy) a ouvir atentamente o que dizia o irmão Eduardo Teixeira Coelho. Atrás, em pé, José Ruy e José Garcês. Em primeiro plano, Baptista Mendes. Esta foto, obtida na velha Fábrica da Cultura, durante o XI Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora’2000, pode considerar-se histórica, uma vez que foi a última vez que ETC esteve no Festival da Amadora e em Portugal – viria a falecer em Florença em Maio de 2005. Refira-se que esta foi também a última edição do FIBDA na Fábrica da Cultura, passando no ano seguinte para a Escola Intercultural da Amadora. Foto Arquivo Pedranocharco.
Pedro Massano, José Ruy e Eduardo Teixeira Coelho.
Festival de BD da Amadora de 2000,
durante o lançamento do livro A Arte de Bem Navegar, de Teixeira Coelho,
no Monumento aos Descobrimentos, em Belém.
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