segunda-feira, 30 de julho de 2012

JOBAT NO LOULETANO – 9ª ARTE – MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (LX e LXI) –JOSÉ PIRES, DESDE MUITO NOVO, O INTERESSE PELA BD (4), por Jobat + MORREU E.T. COELHO...


Ilustração de Eduardo Teixeira Coelho


9ª ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA
(LX - LXI)

O Louletano, 24  Maio 2005 

JOSÉ PIRES: DESDE MUITO NOVO
O INTERESSE PELA BD – 4 

Sente-se muito bem na sua condição de alentejano - detalhe que faz sempre questão de vincar, aqui ou no estrangeiro - não se chateia com as anedotas que se contam sobre os alentejanos (acha mesmo que elas são estúpidas apenas para os não alentejanos as perceberem) e adora a cozinha, a paisagem, os costumes e as gentes do Alentejo.

E completamente isento de peneiras e não sofre de narcisismo de nenhuma espécie, tendo-lhe custado imenso ter sido homenageado (é de opinião de quem não publicou pelo menos mil pranchas não merece homenagem nenhuma - ele só publicou trezentas) na 15" Jornada Internacional de Banda Desenhada - Sobreda BD 96, no dia 16 de Março de 1996 no qual foi agraciado com o troféu Sobredão.

Entre as várias pranchas originais expostas, José Pires apresen­tou uma história de duas páginas feita especialmente para este fes­tival, baseada num tema sobre Timor, O Massacre de Santa Cruz.

Ultimamente, de parceria com Jorge Magalhães, tem editado vários franzines, como o Fandaventuras, o Fandwestern e A Má­quina do Tempo, reeditando histórias de antigos heróis, algumas delas nunca antes publicadas em Portugal.

Com vista a publicação futura, está elaborando uma história Nos Tempos de Viriato e uma série de BD para adultos destinada ao mercado franco-belga.

Profissional credenciado na área da BD, damos seguida­mente a palavra ao autor, cujas considerações, fruto da sua larga experiência, serão sem dúvida úteis aos possíveis can­didatos a uma arte tão cativante, mas tão árdua, como o são as histórias aos quadradinhos. José Batista

JOSÉ PIRES E A BD

Deixem que me apresente. O meu nome completo é José Augusto Direitinho Pires e sou alentejano, de Elvas 10/10/1935. Faço BD desde que me conheço e, neste campo, consegui obter algum conso­lador sucesso.

O meu curriculum vitae já foi várias vezes publicado, pelo que penso não valha a pena repeti-lo. Não tenho nenhum balofo auto convencimento ou orgulho especial no que já fiz, mas também não me envergonho do meu passado nem sinto que tenha algo a renegar.

Tenho alguma recon­fortante tranquilida­de naquilo que sou e no que fiz, e embora não me considere génio algum, tenho a convicção, perdo­em-me a imodéstia, de me situar a uma distância mais ou menos equivalente da de ser uma com­pleta nulidade. Portanto, as mi­nhas preocupações concentram-se muito mais naquilo que vou ainda fazer embora as minhas perspectivas no futuro não sejam já muito amplas, pois a hora em que vou ter de encerrar a carreira não vem muito longe. Mas enquanto dura, vida doçura!

Assim, em vez de falar de mim e do que já fiz ou pretendo fazer, gostaria de enviar algumas palavras de incentivo a todos aqueles que também desejam enveredar pela carreira da BD. E também alguns conselhos, permitam-me o desplante, pois já me sobra alguma experiência e isso pode ter utilidade a quem tem mais tempo de actividade pela frente do que aquele que ainda me resta. Em primeiro lugar, nunca se esqueçam que BD é uma forma de linguagem para contar qualquer coisa por imagens. Paradas. Se tivessem movi­mento, estaría­mos a falar de ci­nema. Também não confundam BD com ilustra­ção, pois são lin­guagens diferen­tes. Na ilustração não se pretende contar história al­guma mas sim vi­sualizar um con­ceito, fazendo dele uma síntese figu­rada, tudo numa única imagem. Ora a BD não é nada disso.

 Osvaldo Macedo de Sousa, Carlos Almeida (GICAV), José Pires, José Garcez

José Pires, Luís Diferr, José Ruy e João Amaral (foto no almoço do 80º aniversário de José Ruy)

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O Louletano, 7 a 13 de Junho 2005 

MORREU E.T. COELHO 

No passado dia 1 faleceu em Florença o decano e mestre da ilustração e BD portuguesas, Eduardo Teixeira Coelho. Nada fazia esperar tal desenlace, mas a morte de sua esposa – Gilda Teixeira Coelho poucos meses antes, deve ter abalado o coração daquele bom gigante de 83 anos.

Conheci-os a ambos, em Florença, nos anos oitenta. Foi graças à intercessão de Gilda que ETC, tímido como todos o reconheciam, acedeu a encontrar-se com o patrício que de tão longe o fora visitar. Poucos ilustradores influenciaram como ele, nas décadas de 40/50, os candidatos a desenhadores de BD que se maravilhavam coma sua obra publicada no bissemanario "O Mosquito". A banda desenhada portuguesa, embora moribunda, está de luto com o seu desaparecimento. Aqueles milhares – que, como eu – conheceram e acompanharam a publicação das suas magníficas iliustrações, sentem a sua perda de um modo muito especial, como se fora um chegado familiar, tal a lembrança em nós impressa nos melhores anos da nossa meninice, semana após sema­na, nos qua­se 10 anos em que a sua produção foi mais no­tória e inten­sa, nas pági­nas desse jornal.

Com o fim de "O Mosquito", em Feverei­ro de 1953, não foi fácil em Portugal a sua vida como ilustrador. Após colaborar com algumas editoras inglesas, o grosso da sua obra internacional foi publicada em França, através do jornal "Vaillant". Há bastantes anos radicado em Itália, aí desenvolveu um notório trabalho de pesquisa referente a trajos, navios, armas e armaduras, da época medieval e renascença.

Embora acostumados que estávamos, à sua ausência nesse país, a inesperada partida de ETC certamente chocará os muitos admira­dores da sua obra, Todavia, a sua arte, aquela que embalou as melhores ilusões da nossa longínqua infância, continuará perene, perpetuando a sua recordação através da graciosidade e beleza das suas ilustrações.

Após a publicação da presente série de José Pires (O “Perro Negro”), daremos à estampa um trabalho do grande mestre agora desaparecido.



Da esquerda para a direita: Dâmaso Afonso, Alberto Teixeira Coelho (que não sabíamos quem era e foi identificado por José Ruy) a ouvir atentamente o que dizia o irmão Eduardo Teixeira Coelho. Atrás, em pé, José Ruy e José Garcês. Em primeiro plano, Baptista Mendes. Esta foto, obtida na velha Fábrica da Cultura, durante o XI Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora’2000, pode considerar-se histórica, uma vez que foi a última vez que ETC esteve no Festival da Amadora e em Portugal – viria a falecer em Florença em Maio de 2005. Refira-se que esta foi também a última edição do FIBDA na Fábrica da Cultura, passando no ano seguinte para a Escola Intercultural da Amadora. Foto Arquivo Pedranocharco.

Pedro Massano, José Ruy e Eduardo Teixeira Coelho. 
Festival de BD da Amadora de 2000, 
durante o lançamento do livro A Arte de Bem Navegar, de Teixeira Coelho, 
no Monumento aos Descobrimentos, em Belém.

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PERRO NEGRO
Benoit Despas (arg), José Pires (des)


 


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