domingo, 29 de outubro de 2017

Gazeta da BD #84 - na Gazeta das Caldas 27Out2017


Gazeta da BD #84 - 27/10/2017

Heróis da BD Portuguesa – 12

ARNALDO O PÓS CATALÉPTICO 
DE JÚLIO PINTO E NUNO SARAIVA

Nada mais apropriado do que apresentar Arnaldo, o Pós Cataléptico, de Júlio Pinto (1949-2000) no argumento e Nuno Saraiva no desenho, quando este último será o autor em destaque no Amadora BD deste ano – de 27 de Outubro a 12 de Novembro – por ter conquistado o prémio de melhor álbum no Festival do ano passado, com Tudo Isto é Fado, sobre o qual escrevemos aqui na Gazeta da BD #64.

Temos, evidentemente que fazer uma referência ao argumentista, Júlio Pinto, falecido em 2000, com apenas 51 anos e que escreveu os textos para três dos livros mais emblemáticos de Saraiva, Filosofia de Ponta (1995-99), Arnaldo... (1999) e A Guarda Abília (2000).

Ora Júlio Pinto Iniciou a actividade política em finais dos anos 60 do século XX, vindo a aderir ao PCP, de que foi funcionário na clandestinidade. Desertor da guerra colonial, viria a ser preso e enviado para o forte da Trafaria, de onde fugiu durante uma saída precária. Após o 25 de Abril, fez parte do gabinete de Correia Jesuíno (ministro da Comunicação Social) durante os governos provisórios de Vasco Gonçalves. Em 1981 foi expulso do PCP devido a uma crónica de solidariedade com os ex-dirigentes do PRP, Carlos Antunes e Isabel do Carmo que se encontravam presos e em greve de fome. Colaborou entretanto com uma série de jornais e fundou e dirigiu o semanário satírico O Inimigo (1993-1994). Júlio Pinto era um homem corrosivo, falava muito e uma vez definiu-se como sendo “sem paciência para a esquerda mansinha, toda cheia de pruridos e de boas maneiras burguesas. Sou um simples liberal de extrema-esquerda. Não se pode ser de meia esquerda. Chateiam-me um bocado os gajos que são de esquerda moderada". Pronto, era assim e morreu no ano seguinte, sempre a afirmar coisas deste género...

Júlio Pinto, durante o Salão Lisboa de Ilustração e Banda Desenhada, na Standard Eléctrica...

Já Nuno Saraiva, frequentou os cursos de Design do IADE e das Belas Artes. Na década de 80 iniciou a sua actividade como ilustrador de livros de BD e extensa colaboração como ilustrador e autor de BD para a imprensa. Venceu o Prémio Navegadores Portugueses em 1988, com a história Os Dias de Bartolomeu. Obteve vários troféus para melhor livro e melhor desenhador atribuídos no Amadora BD. E é docente de BD e ilustração do Ar.Co desde 2000. Tem doze álbuns de BD publicados e numerosas histórias dispersas por quase todos os jornais portugueses e participações em várias edições colectivas.

Nuno Saraiva

Quanto a Arnaldo, o Pós Cataléptico, do grego kataleptikós – aquele que sofre de catalepsia – um estado mórbido, ligado à auto-hipnose ou à histeria, caracterizado pela suspensão, de duração variável, da inteligência e dos movimentos voluntários, com tensão e contração muscular, insensibilidade total e respiração superficial, quase imperceptível. A dada altura, em Lisboa, Outubro de 1997, quando o PS está no governo, Vale e Azevedo foi eleito para a presidência do Benfica e Pedro Abrunhosa canta "Se eu fosse um dia o teu olhar", Arnaldo F. acorda do estado cataléptico onde permaneceu durante 22 anos (após ter sido lançado ao Tejo no "Verão Quente" de 1975). O que este maoista vai encontrar só poderia levá-lo a confundir a realidade: fragmentos de tempos que se modificaram, mas acima de tudo, um mundo em que acordou e que não compreende, e onde vai descobrir que antigos camaradas do partido estão no governo ou que as únicas bandeiras vermelhas erguidas são as do Benfica.

É assim o início de Arnaldo, o Pós-Cataléptico, série que para os seus autores se tornava uma vez mais a hipótese de jogar com os desajustes de linguagens. Ou seja, continuando o que havia sido em anteriores obras, uma veia irónica para histórias que eram quase sempre um decalque paródico da realidade portuguesa. Ao transpor essa realidade aquando da sua pré-publicação no semanário O Independente, Arnaldo, permitia mostrar o traço elegante e modernista mas algo retorcido de Nuno Saraiva e um olhar para além das convenções.

Nuno Saraiva diria em entrevista que "hoje em dia é tudo cheio de artifícios de sedução e claro que isso passa pelas palavras que cada um usa. É tudo mais maquiavélico – já não temos somente corpo mas também uma imagem".

É sempre uma questão de corpo, a mesma que também volta a subsistir em Arnaldo... É depois de ressuscitar do seu sono cataléptico que descobre que a sua irmã tem um PC em casa; afinal, tratava-se de um computador pessoal, e não de um membro do Partido Comunista Português, como a príncipio pensou. Quando sai para as ruas de Lisboa, para seu espanto, vê a sede do partido transformada num banco. Desiludido, entre outras situações não menos caricatas decide lançar-se ao mar. Só que é salvo por Cláudia de Calcutá, esposa de um agente do SIS viciado em escutas telefónicas.

Mas as revoluções já não existem em lado nenhum e a nostalgia acaba por torná-lo "num herói equivocado", salienta Júlio Pinto. "Porque perdeu um mundo, por impossibilidade de comparência, o que o torna um herói kitsch e desfazado da realidade". Contudo outras e mais extraordinárias situações vão desenrolar-se a um ritmo verdadeiramente caótico: desde o rapto do sociólogo João Carlos Espada até uma passagem por Timor, com Arnaldo a juntar-se à guerrilha de libertação...

ATENÇÃO

A DIRECÇÃO DA GAZETA DAS CALDAS DISPONIBILIZOU 15 EXEMPLARES DESTE NÚMERO DO JORNAL, PARA SER OFERECIDO NO 28º AMADORABD 2017.
ESTARÃO À DISPOSIÇÃO DE EVENTUAIS INTERESSADOS, PARTIR DE DIA 1 DE NOVEMBRO, NA RECEPÇÃO DO FESTIVAL!!!

VÃO ESTAR TAMBÉM À VENDA EXEMPLARES DO BDjornal #30 (e último) DEDICADO A NUNO SARAIVA, NO STAND DA POLVO EDITORA!!!

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sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Programa do 28º Amadora BD - 2017


O 28º AMADORA BD – 2017 
INICIA-SE HOJE

TODO O PROGRAMA

EXPOSIÇÕES DO 28º AMADORA BD 2017

FÓRUM LUÍS DE CAMÕES
GALERIA MUNICIPAL ARTUR BUAL – CASA APRÍGIO GOMES
FIAT MOTOR VILLAGE
FNAC ALFRAGIDE
RECREIOS DA AMADORA
BEDETECA DA AMADORA
CASA ROQUE GAMEIRO

EXPOSIÇÃO CENTRAL – CONTAR O MUNDO 

A reportagem em banda desenhada 

Gabriel García Márquez chamou ao jornalismo a melhor profissão do mundo. O ofício de analisar, questionar e decifrar a realidade continua a ser um trabalho essencial em qualquer sociedade e a reportagem persiste como o género onde esse trabalho pode fazer-se com um fôlego mais largo, um olhar com múltiplos ângulos, uma procura dedicada das histórias e dos momentos que definem uma história maior. A linguagem da banda desenhada é uma das ferramentas possíveis para esse trabalho. Não será o mais reconhecido, ou o mais óbvio, mas as últimas décadas têm mostrado uma vitalidade assinalável desta relação. Nesta exposição pretendemos mostrar como a banda desenhada responde de modos diversos e com soluções criativas às necessidades de um género jornalístico concreto (mesmo quando lhe empurra os limites em direcções menos canónicas).

Colaboração Museu de BD de Angoulême e Museu de Cartoon Israelita
Comissariado: Sara Figueiredo Costa
Projeto e execução de cenografia: Catarina Pé-Curto, Alice Prestes e Filipa Sabala

EXPOSIÇÕES - TUDO ISTO É FADO, DE NUNO SARAIVA


Autor Português em Destaque
Prémio Nacional de BD 2016 – Melhor Álbum Português

Vencedor do Prémio Melhor Álbum Português de Banda Desenhada de 2016, com Tudo Isto é Fado, Nuno Saraiva é o autor português em destaque nesta edição.
Tudo Isto é Fado, edição conjunta da EGEAC/Museu do Fado e Semanário Sol, consiste num conjunto de curtas histórias, escritas e desenhadas pelo autor, que prestam homenagem ao universo do fado e às suas personalidades mais marcantes. Exposição dedicada não só ao processo criativo deste álbum mas também aos 30 anos de carreira do autor.

Projeto e execução de cenografia: Carlos Farinha

EXPOSIÇÕES - REVISÃO – BANDAS DESENHADAS DOS ANOS 70, DE COLECTIVO DE AUTORES


Prémio Nacional de BD 2016 : Prémio Clássicos da 9ª Arte

“Visão” foi uma revista improvável que fez rutura com a banda desenhada tradicional portuguesa e que se apresentava nas bancas com cores brilhantes e temáticas políticas. Para comemorar os seus 40 anos de história, surge “Revisão” que, não tendo como objetivo ser um compêndio de tudo, recupera um conjunto de bandas desenhadas esquecidas dos anos 70. Esta exposição não pretende ser uma mostra de todos os autores da década de 70, ela resulta da colaboração de alguns autores que cederam as obras.

Colaboração de Marcos Farrajota (Chili com Carne)
Projeto e execução de cenografia: Sara de la Féria

EXPOSIÇÕES - TETO DA BIBLIOTECA, DE RUI PIMENTEL


Rui Pimentel é arquitecto de formação mas cedo começou a colaborar em diversas publicações, ficando conhecido do grande público através do trabalho feito n’O Jornal e na Revista Visão. Pimentel expõe regularmente nacional e internacionalmente, tendo já recebido diversos prémios pelo seu trabalho, incluindo pela Amadora BD.

A exposição surge da vontade do próprio autor em mostrar ao público o trabalho que realizou propositadamente para decorar o teto em caixotão da sua biblioteca particular.

Algumas personagens fazem-se acompanhar das suas obras mais relevantes mas, no caso particular da BD, Rui Pimentel optou pela representação das personagens mais marcantes em vez de representar os seus autores

Design Gráfico: V-A

EXPOSIÇÕES - O RIO SALGADO, DE JAN BAUER


Jan Bauer (Preetz, Alemanha, 1976) cursou Ilustração na Universidade de Ciências Aplicadas de Hamburgo e Animação no Queensland College of Art, em Brisbane. Durante os seus estudos especializou-se como pintor de paisagens, voltando-se depois para o cinema de animação. A partir de 2002 começa a trabalhar como ilustrador freelancer, designer, argumentista e realizador e aparece ligado à produção de numerosos filmes publicitários em animação, curtas e longas-metragens, e séries. Foi também professor. Bauer apresenta-se como um fã de desportos de exterior, sempre pronto a afrontar os desafios da natureza. A sua paixão por viagens é tratada em “O rio salgado” (Polvo, 2017), romance gráfico de estreia, que conta uma história de amor terno e inesperado, magnificamente enquadrada por espetaculares paisagens, que transportam o leitor ao fim do mundo, num périplo de quatrocentos e cinquenta quilómetros a pé através do coração escaldante da Austrália. Vive em Hamburgo.

Colaboração de Rui Brito (Polvo)
Projeto e execução de cenografia: Cristiana Fernandes

EXPOSIÇÕES - O ESPÍRITO DE WILL EISNER


O legado duradouro de Will Eisner (1917-2005) não está a ser sobrestimado, sendo ele conhecido como o “arauto da novela gráfica”. A sua forma inovadora de contar histórias, o traço e o desenho na série lendária The Spirit (1940-1952) inspirou nos jornais toda uma geração de cartoonistas. A sua série, aclamada de mais de vinte e cinco livros e novelas gráficas que começou em 1978 com A Contract with God, ajudaram a estabelecer o género.

Esta exposição contém desenhos originais de Eisner, selecionados especialmente para o Festival AmadoraBD pelos curadores Denis Kitchen e John Lind, a partir das exposições paralelas da emblemática Will Eisner Centennial Celebration no Museu de Banda Desenhada de Angoulême e da exposição da Society of Illustrations ocorrida em Nova Iorque no início de 2017.

Co-comissariado: Denis Kitchen e John Lind
Projeto e execução de cenografia: Rui Horta Pereira

EXPOSIÇÕES - JACK KIRBY – 100 ANOS DE UM VISIONÁRIO


Apelidado de “The King” por Stan Lee, o autoproclamado “Pai da Marvel”, Jack Kirby viveu demasiado tempo na sombra do seu famoso e quase omnipresente ex-editor. Agora, no centenário do nascimento de Kirby, o Amadora BD presta a sua homenagem ao maior criador de universos da história da BD americana. O homem que, ao longo de quatro décadas, foi revolucionando a forma de contar histórias, criando ou cocriando milhares de personagens, muitas das quais povoam na atualidade o imaginário popular e mediático graças a múltiplas adaptações ao cinema, com destaque para o universo cinemático da Marvel.

Comissariado: Mário Freitas
Projeto e execução de cenografia: Susana Vicente

EXPOSIÇÕES - MARIA!…, DE HENRIQUE MAGALHÃES


Prémio Nacional de BD 2016 : Melhor Álbum de Tiras Humorísticas

Henrique Magalhães nasceu na Paraíba, estado do Nordeste do Brasil, em 1957. Em 1975 criou a personagem de Banda Desenhada “Maria”, que foi publicada durante vários anos em tiras diárias nos jornais locais, além de revistas e álbuns. “Maria” notabilizou-se pela crítica aos desmandos do poder autoritário que se instalou no Brasil entre as décadas de 1960 e 1980. Se inicialmente era uma solteirona em busca de companhia, a pouco e pouco foi-se posicionando contra a ditadura militar, o cerceamento das liberdades políticas, a censura e os costumes arcaicos que estruturavam uma sociedade machista, racista, homofóbica e conservadora. Em 2016, com “Seu nome próprio… Maria! Seu apelido Lisboa” (Polvo), vence o Prémio Nacional de Banda Desenhada, na categoria de “Melhor Álbum de Tiras Humorísticas”.

Colaboração de Rui Brito (Polvo)
Projeto e execução de cenografia: Rui Mecha

EXPOSIÇÕES - FÓSSEIS DAS ALMAS BELAS, DE MÁRIO FREITAS

Ilustração de Sérgio Marques

Prémio Nacional de BD 2016: Melhor Argumento Para Álbum Português

Mário Freitas é um multi-nomeado argumentista e editor de banda desenhada, com um cunho irreverente e iconoclasta, que gosta de revisitar figuras e acontecimentos históricos. Com desenhos de Sérgio Marques, “Fósseis das Almas Belas” tem a capacidade de mitificar a história portuguesa na época dos descobrimentos, através da relação que se estabelece entre um pai e os seus dois filhos.

Projeto e execução de cenografia: Susana Lanceiro e Joana Bartolomeu

EXPOSIÇÕES - TRAÇOS E INSPIRAÇÃO: 
A PRESENÇA PORTUGUESA NO MERCADO NORTE-AMERICANO DE BD

Vennon de Jorge Coelho, sob argumento de Cullen Bunn

Foram muitos os que cresceram a ler “comics” em Portugal nos anos 80 e 90, os ditos “formatinhos” que inundavam o nosso mercado vindos do Brasil. Alguns até sonhavam em um dia poder escrever ou desenhar histórias com algumas destas imortais personagens. Se na altura a ideia parecia impossível de concretizar, hoje em dia, graças ao árduo percurso de alguns dos mais talentosos e trabalhadores ilustradores portugueses que desbravaram caminho, essa “impossibilidade” foi ultrapassada de forma significativa. Enaltecemos nesta exposição o trabalho destes incansáveis que levam a nossa arte a todo o mundo de forma tão virtuosa.

Comissariado: Bruno Caetano
Projeto e execução de cenografia: Susana Vicente

EXPOSIÇÕES - O CRONISTA MARCELLO QUINTANILHA


Nascido em Niterói, Brasil, em 1971, Marcello Quintanilha mostra-nos nesta exposição alguns dos seus trabalhos mais representativos. “Fealdade de Fabiano Gorila” (Polvo, 2016) conta-nos uma história baseada na vida do seu pai, que foi jogador de futebol de várias equipes da sua cidade natal na década de 1950. Foi com este livro que se tornou conhecido no seu país. “O ateneu” (Polvo, 2017), mostra-nos a sua faceta de adaptador, com a magistral passagem a Banda Desenhada do romance do escritor Raul Pompeia (séc. XIX). “Tungsténio” (Polvo, 2015) é o seu trabalho mais conhecido, premiado e traduzido. Relata-nos uma história que cruza os destinos de um sargento reformado do exército, de um jovem traficante, de um polícia sem escrúpulos e da sua mulher. Um filme está a ser feito no Brasil, baseado no livro. “Talco de vidro” (Polvo, 2015) é brutal na forma como nos exibe a saga de Rosângela e vem apenas confirmar Quintanilha como um dos grandes autores mundiais da actualidade. Finalmente, “Hinário Nacional” (Polvo, 2016) é uma colectânea de histórias curtas que representam aspirações e desejos humanos.

Colaboração de Rui Brito (Polvo)
Projeto e execução de cenografia: Rui Mecha

EXPOSIÇÕES - TORMENTA, DE JOÃO SEQUEIRA


Prémio Nacional de BD 2016 : Melhor Desenho Para Álbum Português

“Tormenta” é um álbum de banda desenhada que pretende ser um ensaio sobre o tempo, o silêncio e a aceitação. É um livro sem legendas mas com muito para ler, ao qual temos vontade de voltar regularmente. A mestria de João Sequeira com o pincel volta a ser evidenciada através dos contrastes absolutos e da exploração de sombras e texturas. O trabalho do autor contribui assim para acentuar o impacto emocional desejado.

Projeto e execução de cenografia: Teresa Cardoso e João Nogueira

EXPOSIÇÕES - MADGERMANES, DE BIRGIT WEYHE


Prémio “Max and Moritz” no Festival de Erlangen

“O que constitui a fonte das memórias?” É esta a pergunta que serve de ponto de partida para o livro de Birgit Weyhe’s, Madgermanes, galardoado com o prémio “Max und Moritz” no Erlangen International Comic Salon 2016. As três histórias que fazem parte do livro de Birgit Weyhe são de natureza ficcional, contudo, apresentam momentos da vida real provenientes de memórias que a autora registou num estilo de diário, documental, parecendo cartas enviadas para uma casa distante. O prémio “Max und Moritz” apresentado pela cidade de Erlangen, é o prémio mais importante para a literatura gráfica no universo alemão. É entregue bianualmente em diferentes categorias por um júri de profissionais independentes durante a Erlangen International Comic Salon e, desempenha uma função fundamental no reconhecimento da banda de desenhada como arte.

Projeto e execução de cenografia: Teresa Cardoso e João Nogueira

EXPOSIÇÕES - MANA, DE JOANA ESTRELA


Prémio Nacional de BD 2016: Melhor Desenhador Português de Livro de Ilustração

Inspirado na relação que Joana Estrela tem com a irmã três anos mais nova, “Mana” surge como uma carta que uma irmã mais velha escreve à sua irmã mais nova, cheia de queixas e lamúrias sobre o comportamento desta. Visualmente cheia de detalhes que remetem para a infância, a história relata episódios com os quais todos os irmãos se podem facilmente identificar – livros riscados e brinquedos partidos – que no decorrer da narrativa dão lugar à partilha carinhosa do dia-a-dia, dos objetos e dos sentimentos.

Projeto e execução de cenografia: Catarina Pé-Curto, Claudia Gaudêncio

EXPOSIÇÕES - O MEU IRMÃO INVISÍVEL, DE ANA PEZ


Prémio Nacional de BD 2016: Melhor Desenhador Estrangeiro de Livro de Ilustração

Ana Pez gosta de experimentar diversas técnicas e formatos nos seus livros e “O meu Irmão Invisível” não é exceção. Escolhendo entre usar ou não os óculos que acompanham o livro, este conta-nos duas histórias diferentes: o mundo como o conhecemos e uma realidade paralela. Um exercício de genuína criatividade premiado internacionalmente.

Projeto e execução de cenografia: Teresa Cortez

EXPOSIÇÕES - ANO EDITORIAL PORTUGUÊS 2016-2017

A leitura é um espaço privilegiado em que se nutre o caminho para uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva. Celebremos por isso os espaços em que ela tem lugar, refletindo a cada vez maior variedade da oferta.

Na banda desenhada há sobretudo um aumento dos públicos-alvo, englobando áreas de interesses que haviam sido relativamente negligenciados até recente. Há mais livros para o público mais jovem, o público mais maduro, o público feminino.

O escopo temático dos álbuns ilustrados para a infância também tem aumentado de forma corajosa, enfrentando-se questões necessárias de debater com os cidadãos do futuro.

Co-comissariado: Sandy Gageiro e Pedro Moura
Design gráfico: V-A

FERNANDO RELVAS: RETROSPETIVA/OUTRA PERSPETIVA
Galeria Municpal Artur Bual


Exposição retrospetiva do autor Fernando Relvas, com pranchas originais, esboços e estudos de personagens e impressões dos trabalhos digitais mais recentes, integrada no 28º Amadora BD – Festival Internacional de Banda Desenhada. A exposição é comissariada por João Miguel Lameiras.

28 Out. a 12 Nov.
3ª a domingo: 10h00 às 18h00
Incluindo feriado

EXPOSIÇÕES - CIDADES, THE LISBON STUDIO


“É lícito dizer que as histórias são feitas da mesma substância que as cidades: há uma arquitetura de memórias trazidas para o papel, estruturas de fundações mais profundas que as dos prédios. A cidade está em constante mutação, e as memórias, aparentemente fixas em tinta, mudam de acordo com quem as lê, quem as interpreta. Uma história passada numa cidade muda tantas vezes quantas as que é contada, sendo que é contada de cada vez que é lida…” – do prefácio de Filipe Homem Fonseca.

3ª a 6ª feira – 10h00 às 18h00
Sábado – 10h00 às 12h30 e 13h30 às 18h00

EDITORES E LIVREIROS PRESENTES

Planeta DeAgostini - Goody - Comic Heart - Arte de Autor - Âncora - Polvo - KingPin Books - Levoir - Chili com Carne - G Floy - Devir - Dr. Kartoon - Leya

VER TAMBÉM AQUI OUTROS PORMENORES DA PROGRAMAÇÃO 
POR GERALDES LINO: 


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terça-feira, 24 de outubro de 2017

Anexo do post Gazeta da BD #83 na Gazeta das Caldas – Os Descobrimentos na Banda Desenhada – Algarve 1640 de Sergio Toppi

Anexo do post Gazeta da BD #83 na Gazeta das Caldas
Os Descobrimentos na Banda Desenhada
a extraordinária obra de Sergio Toppi, (sobre a morte do Infante D. Henrique), 
revista Selecções BD #8 – 2ª série – em 1999.

ALGARVE 1640
Sergio Toppi





 

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Gazeta da BD #83 na Gazeta das Caldas – Os Descobrimentos na Banda Desenhada


Gazeta da BD #83 – na Gazeta das Caldas 20-Outubro-2017

Os Descobrimentos na Banda Desenhada
Cerca de 50 histórias em 70 anos

Ilustração de Tiago da Silva

Penso que foi a Exposição do Mundo Português de 1940, organizada pelo Estado Novo, que despoletou o “vício” das histórias sobre os descobrimentos na banda desenhada portuguesa. Isto porque foi logo em 1946 que começou a aparecer n’O Mosquito a obra de Eduardo Teixeira Coelho, sobre textos de Raul Correia, O Caminho do Oriente, que foi, segundo me parece, a história inicial desta saga bedéfila “descobrimentística”, publicada depois em seis álbuns da editorial Futura em 1983.

Devo acrecentar que a minha selecção de histórias dos Descobrimentos Portugueses na BD, para este texto, inclui algumas histórias paralelas, de aventuras de navegadores portugueses, que se afasta da temática descobridora em si própria, como Porto Bomvento de José Ruy, ou Nau Negra de Fernando Relvas. Aliás a inclusão de uma página desta história, pretende ser também uma pequena homenagem a Relvas, por ser muito provavelmente, a sua última obra.

Seguiram-se mais quase cinquenta histórias sobre o tema, muitas delas dedicadas aos mesmos protagonistas, com o recorde a pertencer ao Infante D. Henrique, com nove histórias biográficas ao longo deste tempo, sendo a última que conheço do italiano Sergio Toppi, Algarve 1460 (sobre a morte do Infante), publicada na revista Selecções BD #8 – 2ª série – em 1999. É uma história graficamente espectacular em 15 páginas, sem comparação com tudo o resto que se publicou.

Mas pelas minhas contas, foi José Ruy quem bateu o recorde de publicações sobre este tema, com mais de dez histórias publicadas, entre as quais Os Lusíadas, de Camões, ou a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto – sendo esta primeiro publicada no Cavaleiro Andante em 1957. Isto para além das histórias ficcionais de As Aventuras de Porto Bomvento, de que foram publicados oito álbuns, depois condensadas em dois volumes.

A par com José Ruy, surge-nos Baptista Mendes, também com quase uma dezena de histórias publicadas. Outros autores, desde José Garcês a Fernando Relvas, passando por Vítor Péon, José Pires, Carlos Alberto, Nuno Saraiva, o belga Albert Weinberg, ou o italiano Sergio Toppi, que já referi, produziram histórias, algumas curtas, outras mais longas, sobre a saga dos Descobrimentos.

No entanto, penso que, a par da já referida Exposição do Mundo Português de 1940, o aparecimento d’O Mosquito em 1936, que chegou a atingir tiragens de 30 mil exemplares, teve alguma coisa a ver com o autêntico boom na produção de BD em Portugal, especialmente destinada a pré-adolescentes e adolescentes, começando a abrir as suas páginas aos autores portugueses, que irromperam em força no mercado, com a BD de aventuras, de acentuada influência castelhana, inglesa e americana. Refira-se também que me parece que foi esta revista que inaugurou a famosa frase “continua no próximo número...” no final de cada episódio publicado, em histórias de maior fôlego. E a grande figura d’O Mosquito seria, de facto, Eduardo Teixeira Coelho, tendo sido a sua história O Caminho do Oriente um êxito absoluto. Talvez daí se tenha iniciado a saga das histórias sobre os Descobrimentos, criadas por diversos autores, em que a sua temática seria, em certos casos, repetida quase até à exaustão. Daí existirem diversas histórias de “Vascos da Gama”, “Pedros Álvares Cabral”, “Bartolomeus Dias”, etc...

Mas, como referem Marie Manuelle Silva e Rui Malheiro, no estudo A Banda Desenhada Portuguesa – autores, temas e tendências, publicado em 2006 no Boletin Galego de Literatura: “observamos nas estantes das livrarias generalistas ou nos catálogos das editoras, o denso apelo da história. Será o nosso saudosismo que está na origem desta importante subcategoria narrativo-didáctica? Em parte, talvez. Mas, é no aspecto financeiro que devemos procurar a resposta mais provável. Com efeito, num mundo editorial em permanente crise, a produção histórica representa poucos riscos...”

“(...) No entanto, quatro pontos se destacam nesta sub-categoria da História. A primeira é a façanha dos Descobrimentos. É um momento chave que motiva particularmente os nossos autores. De todos os álbuns queremos destacar o trabalho de José Ruy. Através da personagem que criou – Bomvento e dos dois amigos inseparáveis – o capitão Batávias e o armador Dias Gaia –, assistimos às aventuras marítimas de gerações sucessivas de portugueses anónimos.

E é neste pormenor que reside a originalidade da série proposta por José Ruy. As suas personagens são capazes de praticar feitos heróicos, mas com as virtudes e imperfeições dos homens comuns (...)”

Para conclusão, devo referir que desde a “obra inaugural” do tema, de Eduardo Teixeira Coelho, em 1946, até Nau Negra, de Fernando Relvas, em 2015, decorreram 64 anos e, dividindo as cerca de 50 histórias sobre Descobrimentos publicadas em todos esses anos, temos a módica quantia de duas histórias publicadas por ano – é uma quantidade incrível em relação a todos os outros temas publicados em banda desenhada neste país! Isto sem contar com todas as outras histórias dedicadas à História de Portugal, sem serem os Descobrimentos. É obra, não haja dúvidas, apesar de as coisas não serem assim tão lineares, mas quase.

Tenho que agradecer aos meus amigos José Ruy e Geraldes Lino, a paciência com que me ajudaram a elencar os cerca de 50 títulos de BD sobre este tema. Sem eles não o teria conseguido!

O Caminho do Oriente, de Eduardo Teixeira Coelho

Nau Negra, de Fernando Relvas
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Anexo do post Gazeta da BD #83 na Gazeta das Caldas – Os Descobrimentos na Banda Desenhada – Algarve 1640, a extraordinária obra de Sergio Toppi, (sobre a morte do Infante D. Henrique), publicada na revista Selecções BD #8 – 2ª série – em 1999. 

NO SEGUINTE POST:

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segunda-feira, 23 de outubro de 2017

BDpress #483 – Revista E do Expresso, 21 Outubro 2017 O universo da reportagem em destaque no 28º Amadora BD


BDpress #483 – Revista E do Expresso, 21 Outubro 2017
O universo da reportagem em destaque no 28º Amadora BD

Revista E do Expresso, 21 Outubro 2017

Rubrica – PLANETÁRIO – NO CAMINHO DAS ESTRELAS
Por Nuno Galopim

FESTIVAL

O universo da reportagem 
em destaque no Amadora BD

Um espaço de relação entre o jornalismo e a banda desenhada será o tema da exposição central da edição deste ano do Amadora BD que decorrerá entre 27 de outubro e 12 de novembro e que terá uma vez mais como espaço central o Fórum Luís de Camões. "Contar o Mundo: A Reportagem em Banda Desenhada" surge num tempo em que começam a surgir com cada vez mais frequência trabalhos jornalísticos ou olhares sobre experiências reais ocorridas rias mais diversas geografias que usam a banda desenhada como forma de expressão. Comissariada por Sara Figueiredo Costa, a exposição procura explorar situações "nas fronteiras do jornalismo e da reportagem", tais como "a questão da objetividade, da imparcialidade e do apagamento do repórter no trabalho", mostrando como a opção pelas linguagens da BD pode ajudar a levantar estas questões.

Um dos nomes em maior evidência no Amadora BD deste ano será o de Nuno Saraiva que há um ano venceu o prémio de Melhor Álbum Português de Banda Desenhada com "Tudo Isto é Fado". A exposição que lhe será dedicada vai apresentar uma retrospetiva sobre a sua obra, incluindo a sua primeira BD, criada há precisamente 30 anos. Estará em evidência o seu trabalho com as Festas de Lisboa e haverá espaço ainda para mostrar trabalhos inéditos.

Entre a lista de lançamentos, além de dois títulos novos e de uma reedição de Nuno Saraiva, surgem ainda livros como "Nem Todos os Cactos têm Picos" , de Henrique Magalhães, "O Rio Salgado", de Jan Bauer, "A Última Nota", de Filipe Duarte e André Mateus ou "Living Will, nº 6", de Pedro Serpa e André Oliveira. Esta 28ª edição do Festival assinala ainda dois centenários. Um deles é o de Jack Kirby (1917-1994), nome de referência dos comics e autor da figura do Capitão América. O outro é Will Eisner (1917 - 2005), considerado como o pai da novela gráfica americana.

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sábado, 21 de outubro de 2017

BDpress #482 - NO PÚBLICO, 19 Outubro 2017-10-20
A CORRIDA MAIS LOUCA DE ASTÉRIX


NO PÚBLICO, 19 Outubro 2017-10-20
Nos 40 anos depois da morte de René Goscinny (5 de Novembro de 1977)

A CORRIDA MAIS LOUCA DE ASTÉRIX
ASTÉRIX E A TRANSITÁLICA 
de JEAN-YVES FERRI e DIDIER CONRAD 

É o 37º volume das aventuras de Astérix, Obélix e os restantes gauleses. Falámos com o argumentista e o desenhador que tomam conta da saga desde 2013

Entrevista - Rodrigo Nogueira

Depois de Astérix entre os Pictos, de 2013, e O Papiro de César, saído dois anos depois, o argumentista Jean-Yves Ferri e o desenhador Didier Conrad voltam à carga com uma aventura de Astérix, o gaulês, criado por René Goscinny e Albert Uderzo em 1959. Desta feita, em Astérix e a Transitálica, que sai hoje em Portugal editado pela Asa/LeYa ao mesmo tempo que no resto do mundo, Astérix, Obélix e Ideiafix embarcam numa corrida que atravessa Itália (de onde a família de Uderzo era originária), num plano aprovado por César para atestar a superioridade das vias romanas. É, dizem os próprios autores, um regresso paródico ao ambiente de filmes dos anos 1970 e 1980 como A Corrida Mais Louca do Mundo e Mad Max. Ferri e Conrad estiveram em Lisboa na segunda-feira para promover o lançamento do álbum.

Ambos começaram a trabalhar em livros originais, agora continuam o trabalho de outras pessoas. Como é que isso funciona?

Jean-Yves Ferri – Bem, é preciso dizer que lemos o Astérix em jovens e portanto esse estilo não nos era desconhecido. E passou um bocado para os nossos genes.

Mas como é a adaptação de um modo para o outro?

Didier Conrad – Nós os dois não temos a mesma experiência.

O Didier já tinha feito o Lucky Luke antes do Astérix, o JeanYves não tinha trabalhado neste registo antes de 2013 ...

D.C. – Sim, o Lucky Luke, o Marsupilami ... e, por prazer, fiz uma série de álbuns num estilo muito hergéniano. Mudei de estilo como quem muda de língua, pode-se exprimir coisas diferentes. E o estilo do Uderzo permite muito o que é emocional, que envolve acção, de uma maneira particular. E põe alguém a pensar de uma forma diferente.

Jean-Yves Ferri (sentado) e Didier Conrad (em pé) na livraria Buchholz em Lisboa

J.-Y.R. – Isto acaba por ser um exercício criativo. Se julgamos estar a fazer algo menos criativo do que nos nossos próprios livros? Não, porque é preciso reinventar, não é copiar. É recriar uma história que seja realmente nova a partir de material antigo. É um trabalho de criação que tem constrangimentos, mas é criativo por si só.

D.C. – E os constrangimentos, sobretudo, envolvem ser-se avaliado por toda a gente em comparação com o original. Se tu fazes algo com o teu estilo pessoal, podes acabar e dizer que está bem como está - porque foste tu quem criou, quem delimitou, quem sabe o que se podia fazer de melhor. A zona de conforto não é a mesma.

Sempre houve, e continua a haver, referências actuais nas histórias. Como é que se actualiza, enquanto se continua, um estilo com quase 60 anos?
J.-Y.R. – O que Goscinny criou foi uma aldeia gaulesa, intemporal, que pode servir de suporte a temas bastante modernos. Não está datada no tempo. É possível falar do espírito do tempo, da época de hoje, servindo-nos destas pequenas personagens, todas tipos bem definidos, o chefe, o músico que canta, o religioso.

D.C. – É um estilo de banda desenhada em que todas as formas são feitas pelo criador, não pelas pessoas que a praticam. É feita para ser acessível a qualquer leitor.

Qual é o limite?

J.-Y.R. – O limite é não falar da actualidade ainda quente. No terrorismo, por exemplo; se um dia quisermos abordar esse tema no Astérix, será através de piratas, por exemplo, mas de uma maneira que não se possa ligar a um facto específico, porque é preciso ter em atenção que isso torna-se antiquado bastante rapidamente. É preciso que seja engraçado de ler, mesmo que não se percebam as referências.

Albert Uderzo aprova o que vocês fazem?

J.-Y.R. – Ele encoraja-nos e não intervém nos álbuns. Só fez um comentário, que foi pôr um ponto num i. E achámos que ele exagerou. É a ditadura. (risos)

Há elementos nos livros originais que não seriam tão bem recebidos hoje – por exemplo, as personagens de origem africana, que continuam a existir, são estereótipos que o mundo não reconhece da maneira que o fazia há 60 anos.

D.C. –
No desenho não podemos mudar - por exemplo, não podemos pôr o Astérix com lábios grandes. As ideias é que as podemos apresentar de uma maneira diferente. Se virmos como é que as mulheres são tratadas nos livros originais, têm uma imagem próxima das donas de casa dos anos 1960. Não as podemos tratar da mesma maneira, seria bizarro.

J.-Y.R. – O olhar sobre a diferença mudou. É verdade que na época do Goscinny se usavam os lábios grossos e não havia problemas. Hoje, vive-se uma época em que há uma crítica que provavelmente não conhece os livros e aproveita a ocasião para apontar e dizer: "Ah, a imagem dos negros!" É rebuscado, porque o Astérix é muito conhecido, é um símbolo e estão a tentar aproveitar-se disso.

D.C. – [Em O Papiro de César] As pessoas tiveram um problema com o Babá [vigia dos piratas], que não sabe ler e dizem que é um estereótipo dos negros que não sabem ler. E, de facto, há escritores- fantasma negros no livro. O leitor que fez essa reflexão não leu, viu um detalhe e apontou. São estereótipos. E é o estilo da série. Se um certo estereótipo fosse usado e outro não, seria um pouco bizarro.

J.-Y.R. – Goscinny ria-se sobretudo dos gauleses. São os primeiros a serem caricaturados.

Goscinny era alguém com um enorme amor pelo cinema, que era uma influência grande na obra dele, e depois uma arte que ele perseguiu. Que influências de filmes tiveram para fazer este livro?
J.-Y.R. – Pensei nos filmes dos anos 1970 e 1980, de ralis e rotas, um tipo de cinema como a A Corrida Mais Louca do Mundo ou Mad Max. Este livro é um bocado uma caricatura disso.

D.C. – A mim o cinema não me influencia particularmente, o máximo foi o Ben-Hur, por causa dos carros.


 
Desenhos preparatórios e prancha publicados por Pedro Cleto no seu blogue http://asleiturasdopedro.blogspot.pt/2017/10/leitura-nova-asterix-e-transitalica_14.html


 
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