MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (167-168)
O Louletano, 16 de Março ou 30 de Abril de 2009 (a página que temos não está datada)
Blasco também gostava de desenterrar civilizações desaparecidas, como ilustra "O Mundo Perdido", aventura em que Cuto, na companhia do egiptólogo Santiago Sanz (Pedro de Lencastre, na versão portuguesa), visita algumas ruínas do velho Egipto, sem saber que está à beira de um encontro fantástico com o passado.
"O Mundo Perdido" (Mosquito n°s 576 a 633) é a primeira história da época de ouro de Jesus Blasco. Encontram-se já nela recursos narrativos e gráficos apreciáveis, que anunciam a evolução para um estilo muito pessoal, como, por exemplo, a cena em que a mão de Pedro de Lencastre emerge das areias movediças, agitando-se num espasmo de agonia antes de desaparecer, tragada pelo horrível sorvedouro.
O mesmo destino está reservado a Cuto, mas tanto este como o seu companheiro "ressuscitam" miraculosamente num mundo subterrâneo, onde vivem os últimos descendentes de uma dinastia egípcia governada pelo cruel Faraó Sefuris. Com a ajuda de Pedro de Lencastre e dos escravos revoltados, Cuto combate a tirania do Faraó, trazendo a justiça e a liberdade àquele reino escondido.
Apartir desta aventura, Cuto nunca está sozinho: além dos maus, dos vilões — cuja tipificação é cada vez mais perfeita, num estilo realista que, tal como o das outras personagens, contrasta com o aspecto caricatural do nosso herói —, há sempre ao seu lado um parceiro e uma parceira simpáticos, que partilham com ele as honras do vencedor. Em "O Mundo Perdido", esse par romântico é formado por Pedro de Lencastre e pela filha de Sefuris, os quais, apesar de pertencerem a épocas e a civilizações diferentes, acabam por casar, como é da praxe, tornando-se os herdeiros do Faraó.
Mas, antes de regressar ao seu mundo, Cuto tem ainda de atravessar o deserto, torturado pelo calor, pela fome e pela sede e perseguido por um bando de salteadores árabes.
A aventura seguinte, "O Rapto de Juanita", publicada após um longo intervalo, do n° 674 ao n° 679, mostra Cuto num cenário bem diferente: o rancho de um milionário argentino, onde goza umas merecidas férias. Com a ajuda do seu cavalo "Campeche", o valente rapaz vai salvar a filha do milionário, a bela Juanita, das mãos dos seus raptores e de um incêndio que devasta a floresta.
Encerra-se, assim, o primeiro ciclo das aventuras de Cuto, coincidindo com a mudança de formato d'O Mosquito, a partir de Janeiro de 1946. Daqui em diante, começam a brotar as obras-primas que tornaram Jesús Blasco, a par de Emilio Freixas, o maior desenhador espanhol da sua geração. »»
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O Louletano, 13 | Abril | 2009
A luta de Cuto contra os seus perigosos adversários, de envergadura muito superior à dos habituais vilões das histórias aos quadradinhos, assemelha-se a um novo combate entre David e Golias, combate que assume proporções épicas em "Tragédia no Oriente", sem sombra de dúvida uma das maiores criações de Jesús Blasco, que nela combina uma técnica perfeita com uma acção primorosamente encadeada, em que avultam as reminiscências da 2a Guerra Mundial e dos campos de concentração nazis.
Na pele de um jovem repórter de um diário de São Francisco, nos EUA, Cuto tenta descobrir o paradeiro de alguns aviadores misteriosamente desaparecidos, entre os quais figura o irmão da sua amiga Mary. É nesta grande aventura, publicada entre os n°s 692 e 765 d'O Mosquito, que Cuto consolida definitivamente a sua reputação, pois não hesita em recorrer aos meios mais radicais — como apoderar-se de um avião de caça, cujos comandos manobra
como um piloto experimentado — para seguir a pista dos raptores. Quase por acaso, C u t o e Mary chegam a Tok Saloung, ignota região do Tibete, cercada por altas montanhas, onde descobrem a fortaleza do Mago Branco, um tirano megalómano que se veste como um general de opereta e usa o pomposo título de Imperador. Arrogante, cruel, vaidoso, ciumento e sem escrúpulos, o Mago Branco, casado com a bela e erótica Grande Senhora, é uma daquelas figuras arquetípicas e metonímicas (como Ming, o figadal inimigo de Flash Gordon) cuja perversidade exerce um estranho fascínio.
Aprisionados pelos ocupantes da fortaleza — soldados asiáticos que usam uniformes e símbolos de inspiração nazi —, os dois jovens são obrigados a servir o tirano e a sua esposa, mas Cuto não desiste de destruir os poderosos canhões com que o Mago Branco sonha dominar o mundo e nessa tentativa vive os momentos mais emotivos e dramáticos de toda a sua carreira.
Desafiando a censura do governo fascista do Generalíssimo Franco, Blasco compôs em "Tragédia no Oriente" uma autêntica sinfonia da morte, cujo pano de fundo é a sinistra fortaleza de Tok-Saloung, ambiente concentracionário onde parece reviver o pesadelo de Auschwitz: torturas, fuzilamentos, genocídios, fornos crematórios, são lugares comuns nesta saga fúnebre e sangrenta em que a obsessão de Blasco pelo horror e a crueldade, a violência e a morte — como forma de exorcismo contra a ditadura —, está bem patente. »»
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Cuto em O Lago da Morte, Almanaque O Mosquito, 1985
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CUTO EM NÁPOLES (Final)
CUTO em O LAGO DA MORTE (1)
(Continua...)
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