A "Torre Velha" - assinalada pelo círculo a vermelho - vista da Torre de Belém ...
A "Torre Velha" - o que se vê do Rio Tejo...
A (ABANDONADA)
TORRE DE S.SEBASTIÃO DE CAPARICA
A TORRE VELHA...
É, para mim, completamente incompreensível que a Câmara Municipal de Almada não tome em mãos a reconstrução da Torre de S. Sebastião de Caparica (também conhecida por Fortaleza da Torre Velha – em contraponto com a Torre Nova, a de Belém, mesmo em frente, do outro lado do Rio), ali no morro entre o Porto Brandão e a Praia agora ocupada por depósitos de combustível – ao lado do antigo Lazareto do Porto Brandão (chamado depois Asilo 28 de Maio).
Esta fortaleza é um dos mais importantes exemplares da arquitectura militar renascentista no país, uma vez que foi dos primeiros sistemas de artilharia integrando a defesa da barra do rio Tejo, juntamente com a Torre de Santo António de Cascais e a Torre de São Vicente de Belém. Foi mandada edificar pelo Rei D. João II, por volta de 1481, tendo já programada a edificação de outra fortaleza do outro lado do Tejo, para com ela fazer “fogo cruzado” sobre navios que pretendessem atacar a cidade de Lisboa. Essa outra fortaleza só seria mandada construir (em 1514) pelo Rei D. Manuel I – a famosa Torre (de S. Vicente) de Belém. No local da Torre de S. Sebastião terá existido anteriormente uma bateria de artilharia mandada erguer por D, João I.
Nos trinta anos em que vivi em Almada, sempre me interessei pela localização da “Torre Velha”, mas nunca, nem com as conversas que tive com Raul Pereira de Sousa (funcionário da Câmara de Almada e estudioso das fortificações militares do Concelho), consegui localizar o raio da Torre. Só desde há uns dois ou três anos, com o livro de mestrado em História de Arte do arquitecto Pedro Aboim Inglês Cid – A Torre de S. Sebastião de Caparica e a Arquitectura Militar do tempo de D. João II – prefaciado pelo Prof. Rafael Moreira, é que (recuperando o meu velho interesse pela fortaleza) consegui identificar onde está localizada a Torre de S. Sebastião e... o estado em que está.
Não fui ainda visitar o sítio pessoalmente, mas o que vejo por fotografias (o estado de abandono é lamentável!!!) e mesmo pelo Google Maps, faz-me pensar que a Câmara de Almada está completamente alheada do património histórico que o Concelho possui. Aquela Torre (e mesmo o Lazareto) depois de desmatada a sua periferia (e o seu interior) reconstruída e promovida, seria um local de grande interesse turístico a contrapor à Torre de Belém – mesmo em frente, na margem Norte do Rio.
Mesmo no Google Maps é difícil, com todo este matagal, perceber onde fica a Torre de S. Sebastião de Caparica (a "Torre Velha") - a construção arruinada em forma de ferradura à direita, nas duas fotos iniciais, é o antigo Lazareto...
EXCERTO DO PREFÁCIO DO PROF. RAFAEL MOREIRA
“(...) Uma obra-prima ao abandono...
A primeira vez que visitei a Torre Velha de Porto Brandão, como é vulgarmente conhecida, foi em 1975 pela mão amiga do sr. Raul Pereira de Sousa, funcionário da Câmara Municipal de Almada e amante da arquitectura militar do seu concelho. Lembro-me como se fosse hoje. Deixada a estrada de Porto Brandão, subimos um caminho de terra atravessando, não sem medo, a mole semi-derruída do Lazareto (construido em 1867) então ocupada por retornados [das ex-colónias]; passámos grades e galgámos muros; atravessámos uma vasta zona de mata quase amazónica (sinal da humidade retida no fosso aquático que rodeava por terra a fortaleza...); passámos pela frente abaluartada feita em 1571 por Áfonso Alvares – como eu sabia por textos, mas que nunca vira – com o seu belo portal de pedra almofadada e ponte levadiça, entrando no pátio onde estão os restos setecentistas do Palácio do Governador e as ruínas da capela de São Sebastião; para então, ao fim de uma larga esplanada tendo Lisboa como pano de fundo, vê-la erguer-se: a Torre.
O "Portal" da frente abaluartada do séc. XVI (1571) envolto no matagal - parece que estamos perante ruínas na Amazónia, de facto...
A primeira impressão é, devo confessá-lo, de alguma decepção. A torre é um edifício simples, rectangular sobre o alto, sem traço de decoração: arquitectura em estado puro. Mas depois de rodeá-la e examinar as suas paredes nuas, de descobrir nos cantos ao pé do chão seteiras cruzetadas de belo traçado quatrocentista, outras no andar de cima para tiro vertical; de ver a porta de origem – no piso superior como nas torres medievais, mas de verga recta – com um brasão liso (de D. João II gasto pelo tempo ou dos Távoras, senhores de Caparica, picado por ordem de Pombal?); de galgar a larga escadaria barroca até ao enorme vazio interno, a que falta grande parte do piso em madeira; de observar a magnífica abóbada de berço sem uma fissura apesar dos seus 530 anos de idade – pois uma das conclusões deste trabalho foi datá-la sem erro de 1481 – e de subir a escada a um canto na parede, com frestas para iluminação, vigia e tiro, que conduz sem falha ao amplo terraço do alto, de onde se goza de uma vista soberba sobre a foz do Tejo, o efeito muda por completo. É numa grande obra de arquitectura militar – e da arquitectura tout court – do último quartel do século XV que nos encontramos, realçado pela euforia de "fazer uma descoberta". (...)”
Nota: O Prof. Rafael Moreira, foi o orientador da tese de Mestrado em História de Arte do Arq. Pedro Aboim Inglez Cid, em 1998.
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