O ESTRANHO MUNDO DE DANIEL CLOWES
Novela Gráfica V-vol. 9
COMO UMA LUVA DE VELUDO
FORJADA EM FERRO
Argumento o Desenhos – Daniel Clowes
Quinta-feira, 29 de Agosto
Por+10,90€
Bdpress #510 – Recorte de imprensa sobre Banda Desenhada - Texto de João Miguel Lameiras sobre banda desenhada no Público
Nascido em Chicago em 1961, Clowes cresceu no meio de uma família ecléctica, que incluía um avô professor de História Medieval; um pai carpinteiro e construtor de móveis; um irmão hippie; um padrasto, dono de uma oficina de automóveis e corredor de stock cars, que morreu num acidente de carros quando Clowes tinha apenas cinco anos; e uma mãe, dona de casa, que se viu obrigada a tomar conta da oficina, após a morte do seu segundo marido.
Leitor de comics desde a infância, com gosto e jeito para o desenho, o jovem Daniel decidiu seguir uma carreira artística, tendo-se matriculado no Pratt Institute em Brooklyn, Nova Iorque, quando acabou o liceu em 1979. Foi no Pratt que conheceu e se tornou amigo do desenhador Rick Altergott, com quem criou a pequena editora independente Look Mood Comics. É aí que Clowes se vai estrear como autor de BD, no nº 1 da revista Psycho Comics, em 1981. Os seus primeiros trabalhos profissionais para a revista Cracked ajudaram-no a ganhar experiência e a tornar-se conhecido, abrindo-lhe caminho para editoras com outro peso, como a Fantagraphics, de Garry Groth e Kim Thompson, que se tornaria a editora de Clowes, depois de este enviar a Groth a primeira história que fez com a personagem Lloyd Llewellyn. Após a estreia no nº 13 da revista Lave and Rockets, dos irmãos Hernandez, a Fantagraphics publicou entre 1986 e 1987 os seis números da revista Lloyd Llewellyn, a que se seguiu em 1988 The All-New Lloyd Llewellyn, a revista que encerra a história da personagem.
É no ano seguinte que a Fantagraphics começa a publicar o título fundamental da carreira de Clowes, a revista Eightball, que com diferentes formatos e periodicidades, entre 1989 e 2004, serviu para pré- publicar em capítulos alguns dos mais importantes trabalhos do autor de Chicago, como Ghost World/Mundo Fantasma, a sua obra de estreia em Portugal, adaptada ao cinema em 2001 por Terry Zwigoff, e que lançou a carreira de uma Scarlett Johansson adolescente, e este Como Uma Luva de Veludo Forjada em Ferro, cujos dez capítulos saíram nos primeiros dez números da Eightball, tendo sido posteriormente recolhidos em livro em 1993.
Se os títulos de Clowes têm sido frequentemente adaptados ao cinema, como aconteceu com Ghost World, Art School Confidential e Wilson e deverá acontecer com Patience, a sua mais recente novela gráfica, isso não sucedeu com Como Uma Luva de Veludo Forjada em Ferro, cujo universo está bastante próximo do de cineastas como David Lynch e David Cronenberg. Mas se isso não aconteceu até agora, é pouco provável que numa Hollywood cada vez mais infantilizada e refém do politicamente correcto haja espaço para uma história tão perturbadora e surreal como a que Clowes criou. Uma história com personagens tão estranhas como um bruxo que dá consultas na casa de banho de um cinema de filmes pornográficos; um homem com crustáceos enfiados nos globos oculares para limpar uma infecção; um culto religioso liderado por um aspirante a Charles Manson; um peludo cão (ou será cadela) sem quaisquer orifícios, que se alimenta de injecções de água; uma adolescente que fuma cachimbo; ou uma rapariga sem braços e pernas, fruto de uma noite de amor entre a mãe e uma criatura aquática de forma humana. Personagens surreais e delirantes, que Clay Loudermilk, o protagonista de Como Uma Luva de Veludo Forjada em Ferro encontra na sua viagem em busca dos produtores de um filme pornográfico, em que lhe pareceu reconhecer a sua esposa, desaparecida alguns anos antes.
Com esta simples premissa como ponto de partida, Daniel Clowes pegou em dois ou três sonhos seus e da ex-mulher, para construir um road movie cerebral, que elimina qualquer fronteira entre o pesadelo e a realidade.
Estranho, divertido e inquietante, Como Uma Luva de Veludo Forjada em Ferro é um dos mais importantes e perturbadores livros de um dos maiores nomes dos comics alternativos americanos.
João Miguel Lameiras
Daniel Gillespie Clowes (Chicago, 14 de abril de 1961) é um autor de banda desenhada norte-americano. Também realizou ilustrações para um grande número de revistas, como The New Yorker, Details, Esquire e Village Art, entre outras; cartazes para o cinema (entre eles o do filme de Todd Solondz Happiness; e inclusive desenhos animados (o vídeoclip de "I don't wanna grow up" de The Ramones).
Clowes estudou desenho e outras artes plásticas no Pratt Institute do Brooklyn, Nova York. Ao terminar os seus estudos tentou infrutiferamente conseguir trabalho como ilustrador em Nova York. Entre 1985 e 1989 colaborou com textos e desenhos para a revista Cracked, onde desenvolveu sobretudo uma secção intitulada "The Uggly Family". Em 1985 estreou se nas histórias em banda desenhada publicando em Love & Rockets, a revista dos "Hernandez Bros" (Gilbert e Jaime Hernández), uma história protagonizada pela personagem Lloyd Llewellyn. Posteriormente publicou-se uma série de seis comic-books a preto e branco consagrados à personagem, bem como um especial, The All-New Lloyd Llewellyn Special (1988).
Em 1989 é publicado o primeiro número de um novo comic-book realizado por Clowes, Eightball. Além de várias historias curtas autoconclusivas, Clowes desenvolveu nesta publicação vários relatos de maior extensão: a surrealista e sinistra Como uma luva de veludo moldada em ferro ("Like A Velvet Glove Cast In Iron", nos números 1-10); Ghost World (números 11-18), que foi levada ao cinema por Terry Zwigoff; e David Boring (19-21). Todos estes títulos foram posteriormente publicados como romances gráficos. Clowes aproveitou para se estrear no mundo do cinema, adaptando os seus próprios argumentos de BD para o cinema (é o caso do filme Ghost World, pelo qual recebeu uma indicação para os Óscares). Também colaborou nos anos 90 com a Coca-Cola ao ceder os seus desenhos para promover a frustrada OK Soda, um refrigerante cujo púbico alvo era a Geração X.
As últimas edições de Eightball são os números 22 ("Ice Haven", 2001) e 23 ("The Death-Ray", 2004), concebidos como narrativas independentes e publicados a cores e em formato de grande tamanho. Para a primeira delas, inventou o termo "comic-strip novel" para evitar o de graphic novel, então em voga.
OBRAS
Revistas em Banda Desenhada
Lloyd Llewelyn #1- #6 e um especial. O último número publicou-se em dezembro de 1988
Eightball #1- #23. O número 23 publicou-se em junho de 2004.
Colectâneas
Like a Velvet Glove Cast in Iron (Eightball #1- #10)
Tradução em português brasileiro: Como uma luva de veludo moldada em ferro. Ed.Conrad, 2003.
Orgy Bound
Lout Rampage 9
Ghost World (Eightball #11- #18) – Tradução em português brasileiro: Mundo fantasma. Gal Editora, 2013.
Caricature – Colectânea de várias historietas curtas aparecidas em Eightball e outra publicada na Esquire.
David Boring (Eightball #19- #21) – Tradução em português brasileiro: David Boring. Ed. Nemo, 2019.
Twentieth Century Eightball. Colectânea de várias histórias curtas publicadas na Eightball.
Ice Haven. Edição corrigida e ampliada da história aparecida no número 22 de Eightball
Sem comentários:
Enviar um comentário