domingo, 18 de agosto de 2019

VERÕES FELIZES 1 RUMO AO SUL e A CALHETA de Zidrou e Jordi Lafebre

VERÕES FELIZES 1
RUMO AO SUL e A CALHETA
de Zidrou e Jordi Lafebre
Ed. Arte de Autor 

Bdpress #507 – Texto de João Ramalho Santos sobre banda desenhada no JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias, de 14 Ago 2019 

BANDA DESENHADA
João Ramalho Santos

VERÃO

Há lançamentos apropriados em qualquer altura do ano, mas apresentar a excelente série "Verões Felizes" na estação que lhe diz respeito é uma excelente aposta da Arte de Autor, lançando num único volume os dois primeiros episódios, "Cap au Sud" (2015) e "La Calanque" (2016). A série resulta de uma colaboração entre o prolífico argumentista belga Zidrou (Benoit Drousie, n. 1962), que vive em Espanha, e o desenhador catalão Jordi Lafebre (n. 1979). E recomendá-la é dizer pouco. "Verões Felizes" é daquelas séries que nos reconcilia (se era preciso) com o potencial da BD franco-belga (neste caso hispano-belga); no sentido em que há um excelente ponto de partida, e histórias bem contadas com vários níveis de leitura ("dos 7 aos 77 anos"), mas que evitam maniqueísmos e a tentação de explicar tudo até ao mais ínfimo pormenor, prevalente noutros estilos e formatos. Há angústias profundas (pessoais, profissionais, familiares), mas também um humor que aligeira sem branquear. E os momentos de descoberta e crescimento não se assumem com dramatismo exagerado, mesmo quando parecem dramáticos.


O pretexto para "Verões Felizes", como o próprio nome indica, são viagens de férias de Verão, em que uma família belga (mas com ligação a exilados espanhóis fugidos a Franco) ruma ao sol, em busca de repouso, mas carregando toda a bagagem que qualquer família transporta consigo, e que não se cansa de constantemente (tentar) arrumar.

De forma muito inteligente as viagens não são consecutivas, e, apesar de haver alguns sinais (ténues) daquilo que eventualmente será "o presente" das personagens, cada história corresponde às férias de um ano, 1973 para o primeiro volume, 1969 para o segundo. Ou seja, o leitor vai descobrindo a família em momentos distintos, e os saltos temporais ajudam a contextualizar "a posteriori" aquilo que se passa entre anos e nas "outras estações", uma narrativa maior emergindo de cada episódio auto conclusivo.

Por outro lado, o uso da iconografia específica de cada ano (canções, modas, política, filmes, eventos), ajuda a criar uma atmosfera muito própria, a seriedade da vida vista pelo, apesar de tudo mais "róseo",prisma das férias. A mãe, alguém ainda em busca de rumo, e o pai, autor de banda desenhada algo frustrado com a sua carreira, são personagens muito interessantes, como são os três filhos (apenas dois no segundo volume ... ), em plena descoberta, de tudo. Com estes elementos Zidrou constrói argumentos que parecem simples e óbvios, mas que são ricos na sua complexidade (veja-se como são abordados temas como o racismo ou a exclusão, por exemplo), tornando a história um pouco diferente de cada vez que se lê. E dificilmente poderia ter escolhido melhor do que o excelente traço, realista, mas com um toque de exagero caricatural, de Lafebre, que faz as páginas vibrar com o genuíno entusiasmo que apenas os melhores autores conseguem transmitir.

Há ainda duas decisões editoriais importantes que, no fundo, aproximam o livro daquilo do formato que genericamente se pode considerar de "romance gráfico". Se se pode discutir a mudança de tamanho (um pouco mais pequeno do que o original), o juntar de duas histórias num só volume ajuda na imersão do universo, já que algo frustrante no formato dos clássicos álbuns franco-belgas era descobrir uma série magnífica, e depois ter de esperar muito tempo para a reencontrar.

"Verões Felizes" é para descobrir, já, por todos os tipos de leitores. JL

Argumento de Zidrou, desenhos de Jordi Lafebre
VERÕES FELIZES
1: RUMO AO SUL / A CALHETA

Ed. Arte de Autor. 112 pp.,
21,5€







Zidrou (Benoît Drousie) nasceu em 1962 em Bruxelas. Primeiro como professor, começou no início de 1990 a escrever livros e canções infantis. Em 1991, conheceu o desenhador Godi, também belga, com quem criou L'Élève Ducobu. A sua carreira como escritor de histórias em banda desenhada estava lançada! Assinou numerosas séries para crianças e adolescentes, de Crannibales a Tamara, de Scott Zombi Satchel, assume a continuação de La Ribambelle. Também é o de A Pele do UrsoLydieFolies BergèresA MondaineThe 3 Fruits. Em 2015, Zidrou volta à BD com três novos álbuns: em agosto Le Bouffon, com Francis Porcel, em setembro, com uma nova série familiar, Les Beaux Etes, com Jordi e em outubro, em dueto com P. Berthet, uma história passada nas regiões remotas da Austrália, "Crime que é seu". Em 2016, o autor continuou a escrever memórias de férias da família Faldéraut em "Les Beaux Étés" e proclama o fim de Veneza em "Marina". Em 2017, Zidrou começa um ano movimentado, com a nova série "Shi", projetada por Homs. Em março, escreveu "Nature Mortes" para o cartunista Oriol. Em junho, foi o retorno de "Belo Verão" com Jordi Lafebre para uma terceira lembrança das férias. Em setembro, Zidrou narra as aventuras do "Chevalier Brayard", em estilo Monthy Python, projetado por Francis Porcel.

Em 2018, trabalhou para a Dargaud com dois volumes de Fine Summer (incluindo um inverno de surpresa), o terceiro volume de Shi e também a “Obsolescência planeada dos nossos sentimentos” com o desenho de Aimee de Jongh.


Jordi Lafebre é um ilustrador de banda desenhada catalão, nascido em Barcelona em 1979. Depois de estudar desenho na Escola de Belas Artes da Universidade de Barcelona, ​​e banda desenhada na Escola Joso (Centre de Còmic i Arts Visuals) em Barcelona, ​​trabalhou em ilustração desde 2001 para publicidade, bem como para várias revistas (especialmente Nobanda, Penthouse Comix e Wet Comix ). Na revista para jovens Mister K, publicou El mundo de Judy com argumento de Toni Font. O seu encontro com o argumentista belga Zidrou, que também vive na Catalunha, foi decisivo: com Zidrou, Jordi Lafebre realizou primeiro alguns contos publicados no Journal de Spirou, que foram incluídos em dois álbuns coletivos: A velhinha que nunca tinha jogado ténis e outras boas notícias e Boas notícias para adultos pequenos e crianças crescidas, depois de se lançar a solo com Lydie e La Mondaine, tudo isto antes de começar a série Les Beaux été. Além de sua carreira como autor, Jordi Lafebre é professor da Escola Joso de Barcelona.





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