Prancha de Álvaro publicada no "Mundo Universitário", 6 de Dezembro 2004
DESEJAMOS UM BOM NATAL
A TODOS OS NOSSOS AMIGOS E LEITORES
Dada a temática abordada por João Reboredo na sua crónica de 21 de Dezembro, remetendo para a popularmente designada “quadra natalícia” à mesa, optámos por republicar esta e deixar para depois as duas crónicas (de 23 de Novembro e de 7 de Dezembro) que ainda nos faltam publicar aqui no Kuentro para “acertar o passo”.
À MESA NO NATAL
Gazeta das Caldas, 21 de Dezembro de 2012
Se a previsão maya se confirmar esta é a minha última crónica!
Ainda assim…
Dada a “regularidade” temporal dos meus escritos, questionei-me sobre a data em que o que escrevo seria publicado perto do Natal. Tudo por causa do receituário tradicional!
Primeiro, veio-me à memória o bacalhau, bem antes das carnes e dos doces!
No Alto Minho, onde ainda é rei, os costumes e práticas de Natal , como já referi, associam-se à evocação dos defuntos e à crença de que os “mos maiorum” vão estar em espírito durante a ceia; “daí o lugar vago na mesa a recordar o falecido mais recente, assim como o deixar a mesa de consoada noite dentro com todas as iguarias, para que as alminhas tivessem uma ceia melhorada em dia de Natal”.
Além do bacalhau há outros ingredientes, igualmente importantes. No interior transmontano domina o polvo. O bacalhau é posto um pouco em segundo plano e dá-se privilégio ao polvo, ainda acompanhado com batatas cozidas e legumes.
A razão da preferência pelo polvo naquela zona não a conheço com segurança absoluta, mas penso que se deve à sua disponibilidade, em tempos, naquele interior, onde chegaria em estado de meia cura.
Hoje, com a congelação, o polvo está mais acessível e de cozedura com melhores resultados.
Hoje, com a congelação, o polvo está mais acessível e de cozedura com melhores resultados.
E no sul, na zona de Olhão, reina o litão, um pequeno tubarão parecido com a patarroxa que habita o Mediterrâneo, e o Atlântico, desde as ilhas Faroe ao Sul do Senegal; pesca-se por arrasto do fundo ou com aparelhos de anzol, entre os 200 e os 500 ou mais metros.
Depois de apanhado é aberto, passado por um pouco de sal e posto a secar ao Sol por quatro ou mais dias. É guardado alguns meses até ser consumido. A pele seca já foi utilizada para lixa.
Seca do litão...
Antes de consumido tem de ser demolhado durante cerca de um dia.
Como pode ser conservado para consumo posterior, os olhanenses mais pobres começaram a utilizá-lo para os momentos de escassez, geralmente no Inverno, e sobretudo na consoada, em substituição do bacalhau.
Actualmente, é mais caro que o bacalhau, chega a atingir os 60 €/Kg.. Também é consumido em Tavira e em algumas zonas de Espanha, onde é conhecido como pintarroja bocanegra.
Serve-se guisado (litão à moda de Olhão).
É a receita que lhes deixo com votos de Feliz Natal e do melhor 2013 possível!
Lava-se o litão e deixa-se demolhar durante 1 dia com algum sal.
Num tacho, dispõe-se em várias camadas: começa-se com um pouco de azeite, cebola, dentes de alho picados, salsa, pimento cortado aos quadrados, tomates sem peles nem sementes, um pouco de folha de louro; a seguir dispõem-se asbatatas cortadas às rodelas; por último o litão. Repete-se esta sequência 2-3 vezes.
Tempera-se com sal e pimenta, acrescenta-se muito pouca água, tapa-se o tacho e deixa-se cozer.
Ingredientes para 8 pessoas: meia dúzia de litão seco (cerca de 250 gr./ cada ); 3-4 cebolas; 4 tomates maduros; 500 g de batatas; 0,5 dl de azeite; 4 dentes de alho; 2 pimentos verdes; 1 folha de louro; salsa; sal e pimenta qb.
Litão à moda de Olhão ...
A mesa de Natal, há pouco tempo, estaria incompleta. Em tempos mais idos seria farta!
Sinais dos tempos.
João Reboredo
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