E OS NOMEADOS DE ANGOULÊME SÃO... UMA ALDEIA GLOBAL
Público, suplemento Ípsilon, 1 dez. 2012
Todos os anos é a mesma coisa: assim que são conhecidos os nomeados para o prémio de melhor álbum do ano do Festival de Angoulême (que abre as portas no próximo dia 31 de Janeiro), o mundo da banda desenhada experimenta uma rara agitação. Este ano, o debate não se restringe à velha dicotomia BD de autor/experimental versus BD comercial, mas à forte presença de obras de autores não-francófonos. Dos 32 álbuns, 12 distribuem-se por um contingente multinacional que inclui japoneses, americanos, ingleses, brasileiros, um italiano e um finlandês. Angoulême e o mercado editorial também não resistem à globalização. Dos EUA, os nomeados são quase todos "estrelas" da banda desenhada alternativa: Charles Burns (com o novo livro, The Hivé), Anders Nilsen (Big Questions) e Chester Brown (Paying For It). Já a presença da manga é menos consensual: destaque para as violentas séries de culto Soil, de Atsushi Kaneko, e I'm a Hero, de Kengo Hanazawa, e pesar pela ausência de BillyBat, do fabuloso Naoki Urasawa (guardem este nome, por favor). Noutras latitudes geográficas e artísticas, aplauda-se a nomeação de Nessuno mi fará del male, de Giacomo Monti (que inspirou o filme L'Ultimo Terrestre, de Gipi), e um dos mais fascinantes livros do ano: Ovnis à Lahti, do finlandês Marko Turunen. E os favoritos? Neste campo, apesar da clara abertura ao mundo de Angoulême, as apostas vão para obras francesas: L'Enfance d'Alan, de Emmanuel Guibert, e Moi, René Tardi, prisonnier du StalagHB, obra realizada a partir dos diários que o pai de Jacques Tardi escreveu, durante toda a Segunda Guerra Mundial, num campo de prisioneiros alemão.
José Marmeleira
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