JORGE COELHO
DESENHADOR DE VILÕES
24 de Junho de 2014
Por Pedro Cleto
No site da Mundo Fantasma, aqui:
Se já não é novidade haver desenhadores portugueses a desenhar para a Marvel, continua a ser notícia de cada vez que preparam um novo trabalho. O caso mais recente é Jorge Coelho, que está a desenhar uma história de Loki, Agent of Asgard.
Por isso, em entrevista para a preparação deste texto, Jorge Coelho revelou que anda “a mostrar portfólios há já uns anos” até que, “finalmente em Novembro de 2012, no Festival de Lucca, Itália, C.B. Cebulski”, caça-talentos da casa das Ideias o viu e achou que o seu traço “estava no ponto para trabalhar para a Marvel”. “Passaram-se alguns meses” de expectativa, entretanto desenhou “Polarity, para a BOOM! Studios,” e, por fim, foi-lhe proposto “o projecto Venom” que aceitou “sem piscar os olhos”.
Venom #40
Venom #40
“O projecto Venon” era Mania, um arco em três partes escrito por Cullen Bunn, que foi publicado na revista do simbionte, entre os números #40 e #42. Nele foi introduzido o simbionte feminino Mania, que deu nome à história.
Apesar de declarar que não está “completamente satisfeito” com o seu trabalho em Venon, em parte devido a “alguma pressão auto-imposta que deve ter contribuído para tal”, acredita que o resultado influenciou o actual convite para participar em Loki, Agent of Asgard.
Será, então, Jorge Coelho um desenhador com queda para vilões ou será simples coincidência? É o próprio que diz que Loki a seguir a Venon talvez se deva ao facto de “gostar de carregar em negros expressivos” com os quais consegue “transmitir uma atmosfera escura”.
A estes dois projectos, de que tem “gostado bastante”, aponta apenas um senão: “pecam por pequeninos”. E confessa que gostaria, “no futuro, de ter projectos maiores, de habitar títulos e personagens durante mais tempo”.
Sobre aquele que agora o ocupa, menciona que “Loki, Agent of Asgard é uma volta gira ao personagem Loki, depois do Ragnarok, o Apocalipse da mitologia nórdica. Loki morreu e reincarnou no seu próprio corpo, pós-adolescente, em busca de redenção… ou então é apenas mais um dos seus esquemas, quem sabe?”
A história em que está a trabalhar, é “uma espécie de intervalo dentro do principal arco narrativo do título”, e será publicada “em Setembro”, nos números #6 e #7 da revista.
Ainda não pode adiantar muito sobre a narrativa em si, pois apenas recebeu “metade do script”. Neste momento, está a “procurar referências e a tirar as dúvidas normais que surgem durante o processo”. Depois, vai “apresentar layouts que serão comentados” e de seguida ocupar-se-á da arte-final. O processo conclui-se com a “digitalização, uns toques finais em computador e o envio dos ficheiros”. Em suma: “é um processo trabalhoso, mas simples”.
Como sempre que trabalha “tanto em banda desenhada como em ilustração editorial e publicitária, durante a produção” tem sempre de “apresentar esboços e receber de volta alterações. Serem muitas ou poucas depende da equipa e das particularidades do projecto e é mais ou menos imprevisível”.
Se trabalhar para a Marvel dá sempre outra visibilidade, esta é apenas mais uma etapa de um percurso já com alguns anos que, segundo Jorge Coelho “tem sido natural, como desenrolar um novelo. Um trabalho puxa outro, reforça o portfólio e irá trazer melhor trabalho”.
Membro do The Lisbon Studio, costuma comentar com os seus colegas que “publicar não é difícil. Ser pago para tal é onde a porca torce o rabo”. E, no seu trajecto internacional, também tem tido experiências dessas.
O primeiro projecto de maior visibilidade em que participou foi Forgetless, para a Image Comics, uma mini-série em cinco números. Tudo começou com “um repto de Nick Spencer para um conceito de três histórias diferentes que se fundem no último episódio, numa festa” que deu nome à narrativa. “Como a Image Comics, trabalha apenas com percentagem de royalties e o projecto não foi um sucesso de vendas, não rendeu monetariamente”. Mas, neste meio, não é apenas o dinheiro que conta e Coelho assume que Forgetless, já compilado num TPB, “foi o primeiro projecto a dar exposição geral” ao seu trabalho, “o que versus o nada anterior foi um progresso”.
Polarity #1
Apesar disso, seguiu-se “um hiato, não caiu nenhum trabalho” e acabou por aceitar o convite “para participar no colectivo online Brand New Nostalgia” para o qual teve de executar “cerca de 40 ilustrações em desafios semanais”, que serviu para renovar o seu portfólio e lhe proporcionou uma exposição acrescida, da qual, “certamente, nasceu o contacto de Eric Harburn, da BOOM! Studios”. Dos sucessivos contactos e com pranchas de teste acabou “por conquistar Polarity”, um argumento de Max Bemis, desenvolvido ao longo de quatro comics entre Fevereiro e Maio de 2013, entretanto reunidos num único volume.
Sobre Polarity, Jorge Coelho assegura que “A ideia era muito interessante: Tim um hipster desconsolado descobre que as suas crises bipolares despertaram super-poderes; depois, tudo o que se sucede é estranho”. Algo que lhe agradou, pois gosta “de estranho”. E continua: “o escritor, vocalista da banda Say Anything, trouxe também algum do seu público musical para a banda desenhada, o que contribuiu também para ser um projecto diferente e a todos os níveis bem-sucedido”. Em termos pessoais acredita que conseguiu explorar o seu trabalho “em direcções diferentes do que estava habituado”, o que foi decisivo para “fazer a ponte entre o registo mais europeu e o americano”.
Zero #8
Entre Venon, datado de Novembro 2013/Janeiro de 2014, e o actual Loki, Agent de Asgard, “do qual ainda não há autorização para revelar imagens” ainda desenhou “o número #10 de Suicide Risk”, escrito por Mike Carey, de novo para a BOOM! Studios – série da qual Filipe Andrade desenhou recentemente o número #14 – e o oitavo Zero, num regresso à Image, um argumento de Ales Kot que considera, “em termos criativos, talvez o projecto mais recompensador até à data…”
E termina, reforçando uma ideia: “Tudo natural, como desenrolar um novelo”.
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